Agora veterano, Splitter ainda se admira com revelações brasileiras
Giancarlo Giampietro
Sabe quando você percebe que está ficando velho? Quando Tiago Splitter, com todo o respeito, também está passando pelo mesmo problema pela mesma experiência, tendo batido na casa dos 30 agora na virada de ano. ; )
Parece que foi ontem que ele se apresentou a Hélio Rubens aos 17 anos para fazer sua aguardadíssima estreia pela seleção brasileira adulta num Mundial de basquete. Hã… OK, 2002 nem foi tão ontem assim. Já se foram 12 anos desde aquele campeonato. E cá está o pivô catarinense, hoje uma referência para garotos não só do Brasil, como do mundo inteiro, campeão da NBA, escolhido pela organização do Basketball without Borders para fazer o discurso de encerramento da mais recente edição de um camp que vai crescendo em prestígio, em Nova York.
Sim, Splitter fala, hoje, como veterano, para garotos que em sua maioria tinham exatamente sua mesma idade naquele campeonato em Indianápolis, quando Sandro Varejão, Demétrius, Rogério e Vanderlei eram as figuras de referência. Por isso perguntei ao catarinense quando foi o momento em que ele se deu conta de que o jogo havia virado para ele. Riu e respondeu ao VinteUm: ''Foi ultimamente, mesmo. Já me sinto um dos mais velhos. Com certeza passou bastante tempo, mas é bom também, né? Mudando um pouco, passando um pouco da experiência, conversar com o pessoal mais novo. Agora mesmo tive a oportunidade de falar com o Lucas (Bebê) e o Bruno (Caboclo), que estão numa situação não tão boa, mas que é normal e que precisam estar com a cabeça no lugar, treinando, que é muito importante neste momento.''
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Depois de se encontrar com a dupla de compatriotas em Toronto durante a semana, o pivô agora cruzou em Manhattan com mais duas promessas nacionais, do Bauru: o armador Guilherme Santos e o pivô Yuri Sena, ambos de 17 anos. Com Guilherme, foi seu segundo encontro, depois de terem se conhecido em um evento de 3×3 da NBA realizado em Baureri, no ano passado. O pivô o elogiou, e posso confirmar que o jovem atleta – que jogava pelo Barueri até o ano passado, ressalte-se – deixou boa impressão entre os scouts que lotaram um pequeno, mas muito bem ajeitado ginásio do Baruch College.
O que causa admiração geral, não? O Brasil ainda encontra um jeito de produzir mão-de-obra, mesmo que as estruturas do esporte no país não sejam das mais confiáveis. Como Splitter disse a um jornalista canadense em sua interessante entrevista coletiva: ''Bem, vemos jogadores surgindo, mas não por sermos bem organizados. Eles simplesmente aparecem''.
Em 2002, Nenê havia acabado de ser selecionado pelo Denver Nuggets na sétima posição do Draft. Ali, estava aberta uma porta para a molecada brasileira. Dois anos antes, porém, aos 15, quando deixou Blumenau para se estabelecer em Vitoria-Gastez, no País Basco, Tiago também havia apontado outra direção: a Europa, especialmente a Espanha. ''No Baskonia, fui uma aposta que eles fizeram na época, junto com vários garotos. Lembro que na época eles levaram outro brasileiro – o Thiago da Luz, um grandão de 2,16 m –, um dominicano, dois espanhóis etc. Claro que não foram todos que se tornaram jogadores. Mas era uma boa estrutura. Tinha o preparador físico, nutrição, mas nada que não vá ter no Brasil num clube de ponta. A grande diferença foi a competição. Cheguei com 15 anos lá e já comecei a jogar adulto, na terceira divisão. Fui subindo, até a primeira. Foi essa competição que me fez ser um bom jogador.''
O sucesso que o pivô obteve por lá, todavia, resultou na migração de diversos talentos nacionais para a Espanha, apostando no amadurecimento e na construção de uma carreira por lá. Diversos jovens tentaram a sorte da mesma forma. Alguns vingaram, como vemos agora acontecendo com Augusto Lima e Rafael Luz. Outros ainda tiveram tempo de voltar para casa e prosperar (Luis Gruber, por exemplo). Mas muitos caíram no anonimato, no esquecimento.
E o problema, para Splitter, é justamente o fato de o país depender de um ou outro nome que desponte aqui e acolá, com a massificação da modalidade parecendo mais uma utopia – algo sobre o que já discutimos aqui após a eliminação para a Sérvia na Copa do Mundo passada. Ele só defende que as cobranças não se limitem apenas à CBB, mas que se estendam à política nacional para o esporte. Faz todo o sentido, claro – mas não exime a confederação de suas responsabilidades. ''Para mim, a gente fala muito da confederação, e eu sei que vocês gostam de colar na confederação, mas para mim é uma questão de ministério da Educação. É de botar o basquete nas escolas'', diz. ''Se não fizermos isso, não vamos ter quantidade. Se ficar só com clubes, beleza: vai ter 20 meninos aqui e ali, e só. Mas não é o suficiente. Realmente é uma coisa de política, mesmo. Se não mudar isso, não vai melhorar.''
Nem tudo são trevas na visão do pivô, de qualquer forma. Comparando com o cenário que viu há oito, nove anos, ele acredita que houve evolução. ''Na minha época, se você não fosse juvenil ou adulto, estava fora. Agora tem uma liga (em referência à LDB) para esses garotos e muito mais investimento. Uma grande diferença. Quando era bem novo, a liga era decente. De repente, virou uma m… E agora vai crescendo e está bem. A gente sabe que tem coisa para melhorar, mas vejo no caminho certo. A liga privada foi um acerto. Temos jogos quase todos os dias na TV, um escritório da NBA no Brasil e um acordo com a liga. O que quer dizer que mais pessoas vão assistir ao basquete, o que é ótimo. Espero que, num futuro próximo, possamos ser um grande país para o basquete.''
Esse processo todo ainda pode soar muito vago, em estágio prematuro – ele pode mudar drasticamente, dependendo dos resultados da parceria LNB-NBA ou de qualquer conjuntura econômica mais sufocante. Por enquanto, é como ele mesmo diz: as coisas vão acontecendo meio ao acaso. Os jogadores vão surgindo, cheios de potencial, encantando a comunidade internacional. Durante o Basketball Without Borders, fui questionado por um importante dirigente de um clube da Conferência Oeste sobre a discrepância que se nota entre o nível de potencial atlético das revelações brasileiras e os seus fundamentos básicos. Só o passar do tempo vai nos dizer, mesmo, o que sairá de tudo isso. As respostas vão aparecer apenas quando Splitter já tiver se aposentado das quadras. Até lá, resta saber aonde estarão Guilherme e Yuri.