Phoenix Suns: ser bom já não é o bastante
Giancarlo Giampietro
30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015
O Phoenix Suns 2013-2014 foi uma das histórias mais empolgantes da NBA. Um time que 99,9% da liga projetava para disputar as primeiras posições do Draft acabou se colocando na briga pelos playoffs. No final, a rapaziada de Jeff Hornacek ficou fora. O que nos leva ao outro lado dessa história, bastante difícil de se assimilar: num Oeste selvagem que só, ser um bom time já não basta mais. Você tem de ser excelente, e esse é o desafio da franquia do Vale do Sol para uma nova jornada.
Quando o Suns conseguiu 48 vitórias e, ainda assim, não conseguiu entrar nos mata-matas, esse acabou virando o dado oficial para mostrar como sua conferência é inóspita. Pensem assim: se essa equipe estivesse no Leste, não só teria se garantido com tranquilidade na fase decisiva, como ainda teria mando de quadra ao lado de Pacers, Heat e Raptors. O Suns virou o pôster do desequilíbrio que há entre o lado do Atlântico e do o Pacífico neste momento.
Se o desfecho de dois jogos apertados tivesse resultado favorável a eles, esses caras teriam passado. Neste Oeste, porém, não dá para falar de ''se'', de hipóteses. O nível de exigência é altíssimo, e os times têm de executar noite após noite. E noite após noite, mesmo, considerando a ascensão de DeMarcus Cousins e Anthony Davis para transformar Sacramento e New Orleans em escalas também indesejáveis na estrada. Hoje, só sobraram Timberwolves (mas só por causa das diversas lesões)e, gasp!, Lakers como oponentes que não despertem tanta preocupação assim. Até mesmo a jovem equipe de Utah exige respeito, até porque jogar em Salt Lake City nunca foi fácil.
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Para Phoenix, resta saber de onde tirar forças para elevar seu padrão de jogo e atingir a excelência. Um fator óbvio já pesa contra eles: ninguém vai mais ser pego de surpresa pela correria promovida por Hornacek. Toda a liga já teve uma temporada para se acostumar com seu sistema que põe dois armadores em quadra ao mesmo tempo, incentiva a definição individual de jogadas e enfatiza o combo da moda: infiltrações/tiros de três pontos.
Entre os reforços, se for julgar apenas por sua produção numérica, o baixinho Isaiah Thomas foi uma pechincha. Um dos jogadores mais eficientes da temporada passada fechou por menos de US$ 8 milhões anuais? Isso só se explica pela baixa estatura do armador, mesmo. Agora ficou aquela pergunta para todo mundo: e o clube realmente precisava dele?
Está certo que a negociação de Eric Bledsoe se arrastava de modo perigoso. Que Goran Dragic vai virar agente livre ao final da temporada. Então poderia ser um bom plano de precaução?
Acontece que, depois de tantos blefes e cartadas de ambos os lados, a diretoria comandada por Lon Babby e o matador gerente geral Ryan McDonough cedeu em praticamente tudo na hora h para renovar com Bledsoe. Thomas ficaria no banco, uma situação sobre a qual sempre reclamou em Sacramento. Haveria, então, uma disputa intensa por minutos, e Hornacek teria de controlar bem as coisas.
Há uma sensação de desconforto geral para aqueles que acompanham o time mais de perto – Dragic, por exemplo, não lembra em nada o jogador que foi eleito para o terceiro melhor time da liga. Thomas segue extremamente produtivo – é o jogador mais eficiente da equipe e aparece novamente no top 15 da liga. Vem fazendo uma dupla explosiva com Gerald Green e já foram vários os casos em que os dois terminaram a partida jogando, enquanto Bledsoe e Dragic, os xodós do ano passado, só assistiam.
Ah, mas que jogue quem estiver melhor, não? É o que Hornacek vem dizendo. Mas todo mundo sabe que um vestiário não funciona de modo tão simples. E que o basquete não se explica só por números. Thomas é o atleta que mais dá assistências no time, por exemplo, mas isso se explica também pelo fato de que ele em quadra, a bola tem um dono apenas.
A temporada é longa, lesões vão acontecer eventualmente, e o técnico e diretoria vão ter de realmente monitorar o desenrolar dessa história. Qualquer fragmentação que atrapalhe a incrível química que a equipe desenvolveu na última campanha seria mortal. Afinal, como as 48 vitórias vão sempre lembrar, com o time inteiro já era muito difícil.
O time: o Phoenix Suns é um time que joga duro, corre demais e exige preparo físico de seu adversário. Tudo começa com o ataque constante de Bledsoe, Dragic e Thomas. Esses caras são extremamente velozes com a bola e vão, sempre que possível, agredir as defesas em transição em busca de cestas fáceis. Atrás deles vêm os alas, abrindo para o chute de três pontos. Muitos arremessos de fora, sim.
Em situação de meia quadra, porém, Hornacek ainda insiste muito em jogadas individuais. O Suns progrediu um pouco nesse sentido: depois de terminar a temporada passada em penúltimo em média de assistências por posse de bola, acima apenas do Sacramento de Thomas, hoje é o 20º. De times de ponta, abaixo deles só aparecem Raptors e Rockets, o que não é uma coincidência. São dois times que regem muitos de seus princípios ofensivos com base em planilhas estatísticas, procurando os arremessos mais eficientes em quadra. O clube do Arizona segue o mesmo princípio. É um modelo, ok. E os três seguem entre os dez melhores ataques. Aqui no meu canto, porém, ainda prefiro um time que passe mais a bola, que peça mais movimentação, como Steve Kerr está tentando com o Golden State.
O que o Suns tem de imprevisível é o cestinha da vez. Veja a pontuação em média de seu elenco: são cinco jogadores entre 14,1 pontos e 15,5, algo bem raro. O oponente nunca sabe quem vai comandar o ataque, quem vai estar com a mão quente e isso requer ajustes para o decorrer da partida. A segunda unidade, com Thomas e Gerald Green (insano-para-o-bem-e-para-o-mal), virou um terror.
Na defesa, o time vai melhor do que a fama sugere. PJ Tucker é um dos marcadores mais chatos e físicos no perímetro, Miles Plumlee protege bem o garrafão ao lado de Markieff Morris – algo que Alex Len também deve fazer –, enquanto Bledsoe e Thomas põem pressão nas linhas de passe.
A pedida: voltar aos playoffs pela primeira vez desde 2010, quando Nash e Amar'e ainda estavam em plena forma e Steve Kerr era o gerente geral. Desde 1975, a franquia nunca havia ficado fora da fase decisiva por quatro anos seguidos.
Olho nele: Alex Len. O jovem pivô, de 21 anos, mal conseguiu ficar em pé em seu primeiro ano como profissional, tendo passado por duas cirurgias nos tornozelos – uma delas, no esquerdo, antes mesmo do Draft e outra, no direito, na pré-temporada. Isso, claro, atrasou o desenvolvimento do ucraniano, que foi limitado a apenas 42 jogos e 8,6 minutos. Para a segunda temporada, a torcida se assustou quando ele sofreu duas fraturas no dedinho da mão direita – uma na liga de verão de Las Vegas e outra no training camp. Dessa vez, porém, não era tão grave, e o garoto foi liberado para acompanhar o time desde o início da campanha. Como reserva de Miles Plumlee, vem tendo seus momentos de brilho que sugerem que pode ganhar mais e mais minutos e até mesmo uma promoção. Fica bem claro o apelo que Len despertava no ano passado: estamos falando de um cara gigante, bastante espichado, mesmo, e com muita mobilidade. Um potencial incrível a ser explorado e que pode ser um diferencial para o Suns em sua batalha. Desde que ele escape da enfermaria.
Abre o jogo: ''A vontade de vencer e a intensidade do Zoran se destacam toda vez que ele entra em quadra. Ele tem sido um jogador produtivo na Euroliga, na Liga ACB e em competições Fiba. Ele vai bem defensivamente e em transição, e acho que nossos torcedores vão reconhecer rapidamente sua paixão pelo jogo'', Ryan McDonough, explicando a contratação do caçula esloveno. Obviamente a transação não teve nada a ver com uma tentativa de agrado a Goran, que vai muito provavelmente virar um agente livre ao final da temporada… A negociação por Zoran acabou se estendendo bastante e ele perdeu parte do training camp do time. Até o momento ele só fez uma partida pelo calendário oficial, ganhando dois minutos numa derrota para o Clippers.
Você não perguntou, mas… a renovação de contrato dos gêmeos Morris foi das coisas mais engraçadas e curiosas da pré-temporada. Em vez de cada um negociar seu contrato, Markieff e Marcus trataram de valores sempre lado a lado, com a assessoria do superagente Leon Rose. No final, a diretoria ofereceu um total de US$ 52 milhões para eles, por quatro anos. A divisão? Eles que se acertassem. Markieff ficou com 32 (média de US$ 8 milhões) e Marcus, com 20 (média de US$ 5 mi). Não tem confusão nenhuma, aliás, já que os irmãos garantem operar a mesma conta bancária. ''Eles queriam resolver isso e continuar juntos. E sabiam que, se entrassem no mercado, dificilmente conseguiriam. Eles são muito próximos, então foi melhor negociar a quantia total e depois deixar que eles dividissem. Eles queriam desesperadamente ficar juntos. E jogam melhor juntos também. Um motiva o outro, e tem sido divertido assistir ao amadurecimento deles'', disse o presidente do clube, Lon Babby. ''Dissemos para eles que não importava'', assegura Markieff. ''Se eles simplesmente pudessem colocar US$ 13 milhões por ano para os gêmeos Morris, já seria ótimo. Não precisava nem dizer nossos nomes. Somos jogadores de US$ 52 milhões.''
Um card do passado: Steve Nash. Na temporada 1996-97, o Phoenix também contou com três armadores de ponta em sua rotação: Jason Kidd, Kevin Johnson e o brilhante canadense. Todos eles de carreiras estelares. A diferença é que Nash, na ocasião, era apenas um calouro, vindo da modestíssima Universidade de Santa Clara, ainda sem condições de brigar para valer com tempo de quadra com os demais astros. Kidd havia acabado de chegar de Dallas depois de uma supertroca. Johnson, hoje prefeito de Sacramento, conseguiu se manter saudável por grande parte do campeonato. Os dois começavam o jogo em situação de dupla armação num time que acabou apelando de verdade ao small ball, com Rex Chapman, Wesley Person e Cedric Ceballos se revezando nas posições 3 e 4. Nash disputou 60 partidas em seu ano de novato, com média de 10,5 minutos, 2,3 pontos e 2,1 assistências, acertando já 41,8% de seus chutes de longa distância. Guiado por Danny Ainge, o Suns se recuperou durante o campeonato e conseguiu chegar aos playoffs como o 8º colocado. E aí vinha outra diferença: naquele ano, eles mais perderam (42) do que venceram (40), e ainda assim entraram nos mata-matas.