Em movimento intrigante, Brasília contrata ala ex-NBA
Giancarlo Giampietro
É difícil redigir manchetes, sabia? Ou títulos. Elas são a mesma coisa, basicamente, mas ''manchete'' carrega muito mais peso do que ''título'', como o pai dos burros – o atencioso pai de todos nós– conta. ''Manchete é o título principal numa edição de jornal'' e pode vir ''em caracteres grandes, como título de uma notícia sensacional'', na descrição do Michaelis.
Esse aqui de cima vale como título, no qual para muita gente deve se destacar o ''ex-NBA''. Que é um tanto sacana, admito, uma vez que o ala americano Darington Hobson, contratado no final de semana pelo Brasília, disputou apenas cinco jogos pela grande liga. Cinco jogos? Ex-NBA? Sensacionalismo na certa. Pois é. Mas convido o amigo e corajoso leitor a embarcar comigo se concentrar mais na primeira parte da frase, no tal do ''movimento integrante''. Mais genérico, mas que nos ajuda a contar melhor essa história.
São dois pontos a nos intrigar, na verdade.
Primeiro que Hobson é um jogador muito talentoso, que vai completar 27 anos daqui a uma semana, e que tem tudo para causar um grande impacto em quadras brasileiras por um time de ponta;
Segundo que, mesmo que tenha ficado muito tempo em quadra pela NBA, isso ninguém vai lhe tirar de seu currículo, e ainda é muito difícil encontrar alguém com essa grife jogando por essas bandas. De qualquer forma, não é necessariamente o carimbo que importa mais nessa transação. O que pesa mais é o simples fato de os clubes do mercado brasileiro parecerem um pouco mais antenados do que o habitual. Em vez de ficar apenas com a rebarba da rebarba, temos visto algumas contratações um pouco mais relevantes em cenário internacional, que exigiram a atenção de veículos especializados lá fora.
A repatriação de Rafael Hettsheimeir pelo Bauru pode não ser a melhor notícia para os fãs do pivô brasileiro, que talvez esperassem um pouco mais dele, mas é excelente para Bauru e a liga nacional. Mais relevante ainda é a chegada de um craque como Walter Herrmann ao Flamengo – outro ex-NBA, mas que definitivamente tem muito mais em seu histórico profissional a apresentar do que a passagem de três anos pelos Estados Unidos. Campeão olímpico, MVP na Espanha, um baita jogador, ainda que em fase final de carreira. O mesmo Fla que parece ter acertado também no fim de semana a contratação de Derrick Caracter, pivô ex-Lakers (sobre a qual falaremos mais nesta semana, esperando a oficialização, já com a ressalva de que Caracter só disputaria a Copa Intercontinental contra o Maccabi e os amistosos nos Estados Unidos).
Enfim, são quatro contratações que têm muito mais representatividade no mercado da bola (ao cesto). Entre elas, falemos agora um pouco mais sobre a de Hobson, que chega para reforçar consideravelmente a rotação perimetral do Brasília. É preciso ver com qual mentalidade o americano chega ao cerrado. Se chega com perspectiva de dominar (esfomear, leia-se), se está animado, ou o quê. Nunca se sabe. Se for o mesmo Darington de sempre, deve contribuir com algumas características muito interessantes.
Vindo do modesto nível do Junior Colleges, Hobson entrou no radar da NBA durante sua temporada de junior, pela Universidade de New Mexico, em 2009-10. Os Lobos, como são conhecidos, se tornaram O Time da conferência Mountain West nos últimos anos, deixando San Diego State (de Kawhi Leonard) e BYU (Jimmer, Baby, Luiz Lemes e Tavernari) para trás. Têm presença constante nos mata-matas da NCAA, mas com pouco sucesso nacional.
Em sua campanha com a equipe, o ala se tornou o primeiro jogador da história a liderá-la em pontos (15,9), rebotes (9,3) e assistências (4,6). O que já nos conta muito sobre a versatilidade deste atleta canhoto de 2,01 m de altura e corpo lânguido. Ganhou o prêmio de destaque da MWC, um estrondo, ainda mais se considerarmos que foi sua primeira temporada em um campeonato decente, por um time de ponta.
Hobson pode pontuar de diversas maneiras – chute de fora, partindo para a cesta, ainda que de forma errática. Mas, creio, seu diferencial esteja realmente em sua visão de quadra e em seu potencial como ''homem de ligação'' num quinteto, fazendo de tudo um pouco para tornar um time uma unidade mais coesa. Mantendo esse perfil, é alguém que poderá assessorar, e muito, o armador Fúlvio na organização ofensiva – os chutadores Arthur e Giovannoni devem gostar. Segue aqui, em inglês, um scout de seus tempos de universitário, cortesia do DraftExpress.
Em 2010, Hobson foi escolhido na posição 37 do Draft, pelo Milwaukee Bucks, aos 22. Sua cotação chegou a ser mais alta, mas uma insistente lesão na virilha o atrapalhou bastante no processo de recrutamento. as mesmas dores que o impediram de disputar a liga de verão de Las Vegas pelo clube. Depois de fazer um exame detalhado, os médicos do Bucks descobriram que o jogador, na real, tinha um desalinhamento nos quadris. Acabou passando por duas cirurgias e ficou fora de toda a temporada, tendo seu contrato rescindido. Esse é um fator decisivo para entendermos sua condição de ''ex-NBA''.
A franquia do Winsconsin ainda foi leal ao jovem em que apostou. Uma vez recuperado das operações, preparou em 2011 um novo contrato, de dois anos, por US$ 1,4 milhões, mas parcialmente garantido. O ala, porém, só ficou no time até fevereiro de 2012, sem conseguir mostrar muito – foi nesse período que aconteceram suas cinco partidas pela liga, com resultados pouco satisfatórios em uma situação obviamente pouco favorável. Para constar, seus concorrentes por tempo de quadra eram Stephen Jackson, Carlos Delfino, Shaun Livingston e Tobias Harris.
Dispensado, foi batalhar na D-League. Naquela temporada, jogou pelo Fort Wayne Mad Ants – sério concorrente do Rio Grande Valley Vipers como nome mais absurdo de franquia norte-americana. Depois, em 2012-2013, foi companheiro de Scott Machado no Santa Cruz Warriors, pelo qual teve médias de 9,2 pontos, 5,7 rebotes e 4,3 assistências – de novo a versatilidade dando as caras. No ano passado, em busca de melhor pagamento, o americano topou jogar fora do país pela primeira vez, defendendo o Hapoel Migdal Haemek, da segunda divisão israelense, com médias de 15,4 pontos, 10,5 rebotes e 3,3 assistências em 12 jogos. Antes de mais nada, não riam: ''segunda divisão israelense'' não parece tão ruim quanto parece. Estamos falando de um país pequeno, mas de forte estrutura e competitividade interna bas-que-te-bo-lís-ti-ca.
Agora, aparece Brasília na vida do americano, que, em seu contrato, tem cláusulas que o liberariam para a NBA ou para a Europa, caso apareça alguma proposta que considere mais valiosa. Se no início de carreira como profissional, seus problemas físicos foram sérios o suficiente para abalar suas pretensões, no NBB, agora em forma, Hobson tem o necessário para se destacar, com um estilo que está longe de ser explosivo, mas bastante fluído. É daqueles jogadores que faz o basquete parecer fácil – como no caso de Marquinhos, por exemplo. Alguém que pode ajudar o Brasília a lutar novamente pelo títulos. Títulos que, aí, sim, renderiam manchetes.
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Curiosidade sobre o Draft de 2010 da NBA, que só reforça o quão brutal é a concorrência para ter essa sigla em seu currículo. Dos 30 atletas selecionados na segunda rodada daquele ano, apenas dois estão na liga no momento com contratos garantidos. Dois! Os felizardos são o inigualável Lance Stephenson, agora do Charlotte Hornets, e o já moribundo Landry Fields, que cumpre seu último ano de vínculo com o Toronto Raptors, quase fora do baralho, mas um cara decente, que pode dar uma força a Bruno Caboclo nos treinos.De resto, temos o pivô Jarvis Varnado no Philadelphia 76ers, sempre à mercê dos planos mirabolantes do gerente geral Sam Hinkie.
Outros dois jogadores estariam nos Estados Unidos se quisessem e seus clubes europeus permitissem: o pivô alemão Tibor Pleiss, hoje do Barcelona, cujos direitos pertencem ao Oklahoma City Thunder, e o ala-pivô sérvio Nemanja Bjelica, do Fenerbahçe, destaque pela Copa do Mundo, vinculado ao Minnesota Timberwolves. São dois caras bem pagos na Europa, mas que logo, logo devem cruzar o Atlântico. Da mesma safra de estrangeiros selecionados? Paulão Prestes, também pelo Wolves.
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Se não estou deixando passar alguém, o NBB 7 vai começar no dia 31 de outubro com quatro jogadores que com experiência na NBA, em partidas oficiais. Alex, Marquinhos e Herrmann fazem companhia a Hobson. Fica pendente uma quinta vaga para Rafael ''Baby'' Araújo, caso feche mais um contrato.
Outros atletas que já passaram por lá e cá, com uma bela ajuda da turma no Twitter: Leandrinho, o armador Jamison Brewer, ex-Pinheiros e Pacers, o pirado Rashad McCants, aposta ex-Timberwolves totalmente furada do Uberlândia, o ala-armador Jeff Trepagnier, ex-Liga Sorocabana e Nuggets, e os alas Eddie Basden, que até que se deu bem em Franca, Bernard Robinson, ex-Minas e Basquete Cearense, e Chris Jefferies, ex-Raptors e Minas.
Destes, McCants era o mais talentoso e gabaritado, sem dúvida, mas a dor-de-cabeça que ele causa fora e dentro de quadra o tornam proibitivo. Comparando com seus antecessores, Hobson seria, então, o mais promissor dos americanos importados.
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De jogadores draftados, mas que não chegaram a disputar partidas oficiais pela NBA, que tenham dado as caras por aqui, temos Paulão e o pivô DeVon Hardin, ex-Basquete Cearense.
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O caminho inverso, saindo do NBB para a NBA, apenas dois fizeram: Leandrinho, saindo do Flamengo e do Pinheiros, em curtos pit-stops, e Caboclo, esse, sim, a grande história.