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Análise: Leandrinho tenta se reencontrar na NBA correndo com o Suns

Giancarlo Giampietro

Torcedor do Suns pode desenrolar o pôster do melhor 6º homem de 2007

Torcedor do Suns pode desenrolar o pôster do melhor 6º homem de 2007

“O Vulto Braileiro”, “Speedy Gonzalez” etc. Eram os apelidos que Leandrinho ganhou no Vale do Sol quando construiu sua reputação como um dos cestinhas mais explosivos da NBA em meados da década passada.

O sistema de jogo do Phoenix Suns o favorecia amplamente. O ala-armador não era obrigado a tomar decisões muito difíceis com a bola. O plano de jogo era simples. No seu caso, correr, procurar os pontos livres em quadra e esperar que a bola chegasse na pinta para um chute de três pontos ou que ele pudesse atacar a cesta. Foi sexto homem do ano e tal, vocês sabem.

Sem conseguirem chegar ao topo – mesmo que aqueles anos tenham sido encantadores –, não demorou para que todo esse sonho ruísse. O Suns caiu de favorito no Oeste a saco de pancada, num lamaçal que só. E Leandrinho se viu na condição de andarilho na liga norte-americana, passando batido por Toronto, Indiana e Boston, pelo qual sofreu uma ruptura de ligamentos no joelho, encerrando sua temporada 2012-13 de modo deprimente.

As partes agora se reencontram nesta semana, com a notícia de que o clube do Arizona está prestes a lhe oferecer um contrato de dez dias, dependendo apenas de sua aprovação em exames médicos.

Leandrinho, de novo um Sun

Leandrinho, de novo um Sun

O Suns perdeu um de seus principais jogadores, o armador Eric Bledsoe, por conta de uma torção no joelho. Inicialmente, a previsão é de que ele vá ficar afastado por uma semana. (A pressa no contato e contratação do brasileiro faz pensar se a coisa não pode ser mais grave… Acompanhemos.)

De toda forma, recuperando o raciocínio: se Mike D’Antoni está penando em Los Angeles para tentar repetir sua fórmula dos tempos dourados dos “Sete Segundos Ou Menos”, o Suns recuperou essa identidade velocista sob inspirador comando de Jeff Hornacek – desde já candidato a técnico do ano.

O novo treinador pede mais e mais chutes de três pontos a sua equipe e cortes em direção a cesta, acompanhando a onda “analítica” que vai se espalhando pelos escritórios da liga. Bem, era isso o que Leandrinho fazia bem há uns quatro ou seis anos pelo time – e é, na verdade, basicamente aquilo que ele sabe executar em alto nível. Em cinco contra cinco, sabemos bem das deficiências técnicas do ligerinho, que nem jogou pelo Pinheiros neste domingo, se despedindo do clube da capital.

Lembrando: é a partir desta semana que os clubes da NBA podem assinar esses contratos provisórios com qualquer jogador disponível no mercado. O prazo inicial é de dez dias, podendo ser estendido por mais dez, e sem que as datas precisem estar necessariamente emendadas. Por exemplo: Leandrinho pode ter o primeiro contrato expirado no dia 17 de janeiro e acertar outro com o Suns apenas em fevereiro. Ao final do segundo contrato, porém, o gerente geral precisa decidir se vai estendê-lo até o final da temporada ou se vai dispensá-lo.

Por falar em gerente geral, Ryan McDonough, o novo manda-chuva do Suns, trabalhou com Leandrinho na temporada passada, quando era assistente de Danny Ainge no Celtics. Ele não é, aliás, o único rosto que o jogador vai rever ao fechar com o Suns. Há outros vínculos importantes, e em quadra.

Leandrinho tem a chance de bater bola com o Goran Dragic, armador com quem se entendeu muito bem durante a temporada 2009-10, na qual o clube foi superado pelo Los Angeles Lakers na final do Oeste. Os dois faziam parte da segunda unidade de Alvin Gentry, com Channing Frye (outro reencontro), Jared Dudley e Lou Amundson, e se entrosaram deveras. Quem aí se lembra daquele quarto período histórico que fizeram em San Antonio para chocar Duncan, Pop, Ginóbili e qualquer cowboy torcedor do Spurs naqueles mata-matas? De vídeo, só achei as peripécias de Dragic. Mas Barbosa também teve sua contribuição numérica.

Então temos o seguinte: um plano tático que o favorece. Algumas figuras conhecidas dentro e fora de quadra, que devem dar o apoio necessário. Boa vontade dos torcedores.

Junta-se tudo isso, e o que dá é uma ótima oportunidade, isso se não for a melhor, para o ala-armador retomar sua carreira nos Estados Unidos. Ainda que correndo contra o tempo –com o perdão do trocadilho.

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O Phoenix Suns está na estrada. O time embarcou rumo a Chicago e vai disputar cinco partidas fora de casa nos próximos dias, contra nenhum time que tenha aproveitamento acima de 50%. A tabela é esta: Bulls (na terça-feira), Wolves (quarta), Grizzlies (sexta), Pistons (sábado) e  Knicks (na outra segunda). Bom trecho.

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De longo prazo? Difícil imaginar que o Suns pense em Leandrinho. A princípio, é muito mais fácil entender que o clube optou por uma contratação-tampão para seu elenco, enquanto Bledsoe não volta.

Vestindo o uniforme, o brasileiro tem de disputar minutos com o baixinho Ish(mael) Smith – mais um que adora correr e vem de boa partida contra o Bucks, ainda que seu currículo não seja dos mais brilhantes –, com o caçulinha Archie Goodwn, o segundo atleta mais jovem da NBA, e o veterano Dionte Christmas, constantemente elogiado, mas que não assusta ninguém.

Entre esses três, Goodwin é, de longe, o personagem mais importante: draftado pelo Suns no final do primeiro round, é visto como um jogador de muito futuro. Na temporada, tem média de 11 minutos por partida. Isto é, mesmo com o time vencendo, lutando por uma vaga nos playoffs, Hornacek ainda encontra tempo em sua rotação para colocar o garotão em quadra e desenvolvê-lo.

Leandrinho vai ter de jogar muita bola para convencer, eventualmente, o técnico e a direção de que, com Bledsoe de volta, valeria a pena mantê-lo no elenco, pensando em resultados imediatos, à custa de minutos preciosos para a revelação de 19 anos.

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Dependendo do que acontecer em Phoenix, um time que pode surgir como alternativa para o ala-armador é o Los Angeles Clippers, que acaba de perder Chris Paul por cinco semanas (ou mais) e de dispensar o jovem Maalik Wayns. Doc Rivers teve o brasileiro sob sua tutela no ano passado – e está falando abertamente em contratar ajuda de fora. Bobby Brown e Delonte West, produzindo números surreais na China, seriam as primeiras opções, mas pode dar jogo aí.

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Leandrinho trabalhou duro com o Pinheiros para se recuperar de sua lesão no joelho. A dedicação do jogador nunca pode ser questionada. Aqui e ali ele mostrou que sua explosão física ainda é acima da média. Ele disputou oito partidas no NBB, com médias de 33,3 minutos, 20,1 pontos (segundo da competição, atrás de Robert Day, do Uberlândia), 3,1 rebotes e 3,1 assistências, acertando 50% dos chutes de três pontos e apenas 46,4% de dois.