Tiago Splitter e DeJuan Blair seguem batalhando minutos na rotação do Spurs. Culpa do Pop?
Giancarlo Giampietro
Nas fronteiras de Pittsburgh já foram cultivados muito mais quarterbacks do que jogadores de basquete para as ligas profissionais do país. Entre os poucos basqueteiros de expressão, ganha destaque o ala Chuck Cooper, o primeiro jogador negro a ser draftado por uma franquia da NBA – em 1950, pelo Boston Celtics. De lá para cá nem a cidade, nem sua principal universidade, que leva o mesmo nome, revelaram muitos atletas para a elite (o famigerado Charles Smith, do Knicks nos anos 90, é um deles). O mais recente dessa esporádica safra foi o pivô DeJuan Blair.
O mais baixo de seus irmãos, meio gordote, Blair aprendeu os macetes da modalidade num centro recreativo administrado por seu tio. Aos poucos, foi crescendo no jogo até se tornar uma sensação local. Pela Schenley High School, teve um retrospecto de 103 vitórias e 16 derrotas, com direito a 57 vitórias em 57 jogos na liga municipal. Levou sua equipe a um título estadual em 2007, o primeiro de uma equipe colegial da cidade desde 1978. Até que chegou a hora de partir para a universidade, uma época difícil em que, pressionado,quebrou seu celular ao atirá-lo na parede. Que raiva! Não paravam de ligar: ele recebeu proposta de 18 (!) agremiações. Enquanto os pais achavam melhor que ele mudasse de ares, pesou a opinião da vovó por parte de mãe, que teve grande influência em sua criação. Ficou em casa, mesmo.
De modo, então, que seria mais do que justificado se a reduzida fração dos amantes do bola ao cesto em Pittsburgh não for muito com a cara de um certo Gregg Popovich, aquele técnico multicampeão pelo San Antonio Spurs.
Quem ele pensa que é?
Oras, o que Blair precisa fazer mais para ganhar o tempo de quadra devido pelo clube texano? Já está em seu quarto ano na liga, pagou o que devia no banco de reservas e hoje ainda não consegue mais que 17,1 minutos de ação, a despeito das diversas batalhas em que ajudou Tim Duncan no garrafão. Quando recebe suas chances, costuma corresponder.
Aos 23 anos, ainda tem muito o que desenvolver e contribuir. Só falta o treinador duro-na-queda abrir a porteira e deixar esse touro arrebentar…
(Pausa para reflexão…)
(O café já tá quentinho…)
(Agora sim:)
Entenderam as semelhanças com Tiago Splitter?
Pode ser, na verdade, que ninguém em Pittsburgh se importe com o que se passa com Blair, desde que o Steelers continue bem-sucedido na NFL. Mas, no nicho dos basqueteiros, certamente Blair haverá de ser apreciado. Agora, se a gente inverter a linha de raciocínio, não é capaz que algum cara de lá pense o mesmo sobre os brasileiros? Que ninguém aqui vai se importar com Tiago Splitter, desde que o futebol esteja levantando Copas do Mundo? Contudo, como temos acompanhado nos últimos anos, existem, sim, aqueles que acompanham os passos do catarinense são acompanhados bem de perto, e com sangue nos olhos.
É normal que se fiscalize o trabalho do vitorioso Popovich e seu modo de gerir o Spurs, tendo em vista que isso afeta diretamente o progresso de Splitter, um dos poucos brasileiros a entrar na NBA e um dos principais jogadores do basquete nacional. É preciso entender, por outro lado, que na cabeça do técnico o pivô talvez seja só mais uma ótima peça para o time – e os dirigentes e scouts da franquia têm trabalhado regularmente para que não faltem ótimas peças para Pop escalar, vide, por exemplo, as sorrateiras contratações de Danny Green, Kawhi Leonard, Nando de Colo, Cory Joseph e Patty Mills.
Será que o fato de o catarinense estar no banco e jogar pouco é realmente fruto de uma birra pessoal? Ou tem mais a ver com o fato de ele fazer parte de uma das melhores equipes da NBA? Não se esqueçam: com Splitter em seu elenco, o Spurs não foi campeão, mas venceu 161 partidas de temporada regular e perdeu apenas 69, bom para um aproveitamento de 70%. Sete vitórias em cada dez jogos. Quer dizer: se a marcha do clube texano vai bem obrigado, por que a vida do treinador seguiria de outra forma? Considerando esses resultados, onde estão as injustiças? Splitter merece mais tempo para mostrar serviço? Talvez. E quanto a DeJuan Blair?
As médias da carreira do brutamonte são de 8,4 pontos, 6,3 rebotes e 52,6% nos chutes de quadra. Splitter tem, respectivamente, 6,9 pontos, 4,2 rebotes e 58,1%.
– Ah, mas o Tiago jogou bem menos!
Então seguem as projeções por 36 minutos de cada um: a) Blair aparece com 15,1 pontos, 11,3 rebotes; b) Splitter, com 15,9 pontos e 9,6 rebotes. Nos playoffs, as contas também são bem semelhantes: 15,1 pontos e 12,4 rebotes para o americano e 15,9 pontos e 8,3 rebotes para o brasileiro. Em termos de índice de eficiência, o catarinense leva a melhor por 0,8 (18,3 contra 17,5). É tudo muito parelho.
– Ah, mas número não quer dizer tudo!
Justamente. É preciso ver do que Popovich necessita – ou pensa necessitar – em quadra em seu esquadrão. Quem se encaixa melhor com quem? O deslocamento e a defesa de Splitter são mais qualificados? Mas o dia em que ele converter um chute a quatro ou cinco metros da cesta pode ser também o primeiro de sua breve trajetória na NBA. Vale mais, então, ter um reboteiro do porte de Blair para acompanhar Duncan? Mas o pivô de 2,01 m é bem vulnerável quando confrontado com pivôs talentosos ofensivamente (por isso Splitter começou sua única partida como titular este ano contra o Los Angeles Lakers).
Tanto um como o outro possuem qualidades valorizadas ao seu modo e seriam cobiçados no mercado, mas que não se manifestam, por enquanto, como o parceiro ideal ao complementar quem ainda é, de fato, a estrela da companhia: Tim Duncan. Enquanto nenhum deles se separar do outro, para Popovich o que resta é tirar proveito de dois ótimos jogadores da forma que achar melhor, ainda mais que seu Spurs não para de vencer
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Splitter e Blair estão ligados de outra maneira: ambos deveriam ter sido escolhidos muito antes em seus respectivos Drafts, mas acabaram despencando no dia do recrutamento. Quando caíram nos braços do Popovich, toda a concorrência exclamou ao mesmo tempo, muito bem ensaiado: ''Sempre o Spurs'', ''Que sorte!'', ''Os ricos cada vez mais ricos'' etc. Como se não tivessem deixado os caras passarem. Vai entender.
O catarinense foi escolhido na posição 28, em 2007, uma vez que as demais franquias não teriam a paciência para esperar seu contrato com o Baskonia, da Espanha, vencer – algo que só aconteceria três anos mais tarde. Detalhe: nenhum atleta que saiu entre as 15ª e 27ª escolhas segue em seu clube de origem, e quatro deles já não estão nem mais empregados na liga.
Blair caiu ainda mais longe: foi apenas a 37ª escolha de 2009, quando rumores sobre a suposta condição precária de seus joelhoes assustou boa parte dos times. Até o momento, ele ficou for de apenas quatro partidas de 238 possíveis em sua carreira. LeBron James não ficou nada contente ao ver o Cleveland Cavaliers deixar o prestigiado pivô passar na 30ª posição para apostar no ala Christian Eyenga , outro que já está sem clube.
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Falamos aqui de brasileiros e nativos de Pittsburgh. Imaginem, então, como não devem estar furiosos os moradors da pequenina cidade de Concord, no estado de New Hampshire, com o que vem acontecendo com Matt Bonner?! Ao ala-pivô, conhecido iconicamente como Foguete Ruivo, foram relegados míseros dez minutos por partida neste ano, mesmo com ele acertando 63,6% de seus arremessos de três pontos nas sete primeiras partidas (melhor marca do ano). Ele é o único – reforçando: o único! – jogador nascido em New Hampshire a ter pisado em uma quadra da NBA. Pop, então, que não ouse levar sua vara de pescar para os lagos da região.