Jermaine O’Neal é mais um a desafiar os poderes de cura do estafe do Suns
Giancarlo Giampietro
Ao perambular pelo deserto norte-americano, segundo o que se aprende nos filmes, séries televisivas e histórias em quadrinhos – educação das mais invejadas, hein? –, se você estiver em busca de paz de espírito, basta dar um Google no celular e procurar bem, que vai ter um Xamã em algum lugar pronto para atendimento.
Nessa breve pesquisa, podem tentar te despistar e citar os caras como sacerdotes ou feiticeiros de tribos asiáticas desde os tempos mais primórdios – e, sim, essa foi uma citação infame a Hermes & Renato. Mas voltando: segundo a educação refinada do QG 21 e, por consequência, de toda a civilização ocidental, xamãs só valem quando tratamos de integrantes especiais de tribos indígenas nas Américas, sejam do Sul ou do Norte. Mas mais os do Norte.
Pois bem.
Agora nos concentremos no Arizona, mais especificamente o Vale do Sol, onde uma onda de calor recente não deixava o termômetro baixar dos 40ºC.
É nesta área quente-pelando que eles praticam o que hoje há de mais moderno e eficaz em termos de curandeirismo. Só pode. Só assim para justificar a contratação de Jermaine O’Neal pelo Phoenix Suns.
(Tá vendo? Demorou, mas chegamos ao ponto).
O quebradiço pivô, que um dia já foi um All-Star, é mais um a desafiar a habilidade dos preparadores físicos que já deram um jeito em Steve Nash, Grant Hill, Shaquille O’Neal e, por último, Michael Redd.
Comecemos por Redd, aliás. O gatilho de três pontos, entre 29 e 31 anos, disputou apenas 61 partidas de 246 disponíveis em suas últimas três temporadas pelo Milwaukee Bucks, abalado por lesões e cirurgias no joelho. No último campeonato, uma vez tratado pelo estafe do Suns, participou de 51 jogos – e só não foram mais porque o calendário era menor (66) e ele chegou ao time mais tarde. Suportou 15,1 minutos por noite e anotou 8,2 pontos vindo do banco. Não era o Redd de antes, claro, mas voltava a ser um jogador respeitável, que precisava ser marcado, criando até mesmo algumas cestas por conta própria, sem depender exclusivamente de seus armadores para executar o serviço.
E o Shaq? Em sua única temporada completa pelo clube do Arizona, o superpivô teve médias de 17,8 pontos e 8,4 rebotes, em 75 partidas, número que havia sido batido pela última vez pelo gigante apenas em 1999-2000 (79), quando era oito anos mais jovem. Na verdade, em toda a sua carreira, ele só superou essas 75 também nas três primeiras campanhas de sua carreira, de 1992 a 95, ainda pelo Orlando Magic, quando arrebentava tabelas com seu corpanzil e explosão.
O caso mais dramático, no entanto, pode ser o de Grant Hill, que muita gente já dava como aposentado em 2002 e agora chegou ao campeonato 2012-2013 disputado a tapa por clubes candidatos ao título, assinando contrato com o Los Angeles Clippers. Sofrendo com gravíssimos problemas no pé e tornozelo, ele perdeu 292 jogos em seis temporadas pelo Orlando Magic (média de 48 por ano, de 82 possíveis). Pelo Phoenix, ficou fora em apenas 32 em cinco temporadas (média de 6 por ano), sendo que 17 dessas aconteceram em 2011-2012.
Os jogadores não só tomam nota da evolução destes veteranos, como também conversam muito nos vestiários, em reuniões fora da temporada etc. A palavra corre. E chegou a Jermaine O’Neal, que poderia assinar com o Lakers, mas preferiu o Suns para tentar um último suspiro e reviver a carreira.
Seus problemas não chegam a ser tão graves como os de Hill, mas vai dar trabalho. Joelho, tornozelo, costas, escolha a sua. Nos últimos dois anos, ele disputou somente 49 partidas somadas pelo Boston Celtics, falhando em acompanhar o ritmo de Kevin Garnett, Paul Pierce e Ray Allen, não necessariamente os atletas mais vigorosos da NBA nestes tempos, né? E, nos poucos minutos em que esteve em quadra, teve uma produção paupérrima, com médias de 5,0 pontos 4,5 rebotes e pouca mobilidade, embora ainda conseguisse proteger o aro como nos velhos tempos.
Em sua apresentação, o pivô, que já foi o jogador mais jovem da história da liga, quando draftado pelo Blazers vindo do High School, garantiu que se sente bem como não acontecia há anos. Antes mesmo de entrar em contato com estafe de Phoenix. Assim como Hill, ele seguiu os passos de Kobe para fazer um tratamento especial na Alemanha (“orthokine” – clique para ler um texto em espanhol).
Jermaine O’Neal, então, primeiro optou pela ciência. Agora ele confia sua evolução às técnicas milagrosas do departamento chefiado por Aaron Nelson.
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Em sua passagem revigorada pelo Suns, Shaquille O’Neal qualificou o estafe do Suns como heteredoxo, que eles teriam práticas incomuns comparando com o que viu em sua carreira pelo Magic, Lakers e Heat.
Brincadeira à parte, Nelson afirmou, então, que não havia nada de anormal na condução de sua equipe. “Para nós, é apenas ciência comum: cinesiologia, fisiologia, anatomia funcional'', afirma. O grande segredo de seu programa seria cuidar do corpo todo quando um atleta apresenta uma lesão, para impedir que as dores em uma determinada parte (joelho, cotovelo, por exemplo) causem reflexos em outra região.
Além disso, os jogadores são submetidos a tratamentos de crioterapia em uma câmara de ar e exames regulares semanais, fornecendo uma grande base de informações. Quando o histórico é conhecido, os preparadores têm maior facilidade para fazer o procedimento de reabilitação adequado.
Historicamente, o Suns, mesmo com muitos jogadores de alta rodagem em seu elenco, esteve posicionado no grupo dos clubes que menos atletas perderam por lesões, ao lado dos garotos do Oklahoma City Thunder, por exemplo. “Eles são fenomenais. Eles me disseram coisas sobre meu corpo que não havia ouvido durante toda minha carreira. São especiais”, afirmou Redd.