Seleção feminina agora perde para o Canadá e já não joga mais por nada em Londres
Giancarlo Giampietro
Realmente não faz muito tempo: no dia 25 de setembro de 2011, em Neiva, na Colômbia, as meninas deram um sacode no Canadá: 56 a 39, em jogo pela segunda rodada da Copa América, valendo a classificação para Londres-2012. A seleção brasileira, então com o técnico Ênio Vecchi, iria vencer o torneio sem dificuldade alguma. As canadenses tiveram de se virar contra Cuba na disputa pelo bronze e ao menos uma vaga no Pré-Olímpico Mundial deste ano.
Hoje, menos de um ano depois, as canadenses vencem esse mesmo confronto, mas dessa vez no comando do placar por quase toda a partida, até vencer por 79 a 73, garantindo seu lugar nos mata-matas e eliminado o velho adversário, que acumula quatro reveses em quatro rodadas.
Em setembro de 2011, tomamos 39 pontos no jogo todo. Em agosto de 2012, foram 39 já no primeiro tempo. O que mudou de lá para cá?
Bem, no Canadá não foi muita coisa. A simpaticíssima treinadora Allison McNeill segue orientando sua equipe, mesmo como rendimento fraco no torneio continental. Aliás, ela faz isso desde 2002. Em nota no site da federação canadense, é considerada um ''ícone nacional, um tesouro e um recurso valioso'' para o esporte.
Qual seria o paralelo hoje para Allison McNeill no mundo da CBB?
Alguém arrisca algum palpite?
De primeira assim não dá para apontar ninguém, convenhamos.
Continuidade é um príncipo de pouco prestígio por cá nos trópicos. Quando estamos falando de basquete feminino, então, vixe… Precisaríamos do auxílio de um historiador bem competente e que o sistema de busca online estivesse funcionando direitinho para recuperarmos as datas certinhas de tantas demissões executadas nos últimos anos.
Ajuda a explicar – um pouco ou muito? – por que motivo o Canadá, sem nenhum grande reforço, com a base de sempre, mas muito mais organizada, conseguiu se livrar de um antigo vantasma e, enfim, bater o Brasil. O quarto revés em quatro jogos das meninas. A segunda vitória em quatro rodadas para as canadenses.
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Essa campanha lamentável, sim, explica bastante o descontrole das jogadoras ao final do confronto, reagindo mal a provocações (com espírito de porco, ou não) dos torcedores, e desferindo frases como ''Dá um tapa na minha cara'' aos jornalistas presentes. Foi o que disse a ala-armador Joice, por exemplo, na zona mista na qual estava presente Bruno Freitas, um dos enviados do UOL a Londres, e velho companheiro. No mínimo bizarro.
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Sobre o jogo em si vamos tentar resumir de maneira breve: um primeiro tempo horroroso da seleção, apanhando feio, mesmo. Sem conseguir explorar Érika no garrafão, comendo poeira na defesa, um banho de bola das norte-americanas. No terceiro quarto, com Adrianinha e Joice bem adiantadas em uma defesa sobre pressão muito eificente, a seleção tirou toda a diferença, desestabilizou as canadenses e voltou para o jogo. Quando não conseguia bandejas no contra-ataque, tinha paciência para usar a força de Clarissa (um partidaço) e Érika (mais do mesmo, no sentido de dominante).
No quarto período, no entanto, tinha de maneirar, porque não há quem aguente também jogar pressåo tempo todo. Ok. Mas veio uma sucessão de erros: rotações difíceis de entender – em 30 segundos, mudávamos de uma formação baixíssima para uma gigante, instruída a seguir com a marcação adiantada, mesmo que fossem mais lentas que as adversárias no caso –, Adrianinha (justamente em sua melhor partida) esquecida no banco, a superpivô novamente ignorada, alguns chutes do meio da rua de Karla, e a crise do Canadá estava contornada.
E aí vemos o discurso de sempre: ''O time lutou o tempo todo, mas caiu em uma chave difícil. Pegamos uma sequência muito complicada, com três grandes times nas três primeiras rodadas. E o time chegou desgastado física e emocionalmente hoje'', afirmou Tarallo.
Vai ver que a culpa é da sorte, mesmo.