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Os melhores da (metade) da temporada: Conferência Oeste
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Giancarlo Giampietro

Escrever uma artigo sobre prêmios de uma temporada qualquer da NBA pode ser um exercício de futilidade, certo? Por outro lado, dá ao blog, inativo por tanto tempo, a chance de recuperar o tempo perdido e abordar um ou outro protagonista da temporada. Então vamos roubar um pouco e dividir essa avaliação toda em duas listas, para cada conferência. A do Leste está aqui. Desta forma, ganhamos espaço para falar mais. E, claro, deixa a vida mais fácil na hora de fazer as escolhas:

Melhor jogador: Stephen Curry
Jura!? Afe. (Assim como Anthony Davis fez na primeira metade da temporada passada, Chef Curry no momento vai sustentando por ora o maior índice de eficiência da história da NBA, com PER de 32,94, contra os 31,82 do mítico Wilt Chamberlain em 1962-63. Será que ele vai manter o ritmo? O interessante dessa medição é que ela independe da quantidade de minutos jogados. Então não importa se o Warriors vai acabar com todas as partidas daqui para a frente em apenas três quartos. Não tem muito mais o que ser dito sobre alguém que arremessa mais de 10 bolas de três pontos por partida e converte 45,5% delas, ajudando na construção de uma média de 29,9 pontos em apenas 33,8 minutos. Aqui, porém, sou obrigado a concordar com Mark Jackson, algo raro levando em conta o discurso excessivamente religioso de seu ex-treinador: Curry é tão bom que, de certa forma, pode fazer mal ao basquete, se for visto como exemplo de jogador a ser seguido, imitado. Não é nada normal o que ele faz. Não é algo que se ensina da noite para o dia. Para alcançar este nível, requer-se talento natural, mas também muito treino. Muuuuuuuuuuito treino. E não seria bacana que a molecada de base saísse tentando imitar o ídolo máximo do momento sem ter isso em mente. Curry faz parecer fácil e correto, mas sua seleção de arremessos inclui bolas em um um nível de dificuldade absurdo de conversão. Não quer dizer que eventualmente um garoto de 12 anos hoje não possa superá-lo no futuro. Mas as chances são reduzidas.)Outros candidatos? Vindo de longe, e não por culpa deles, estão Russell Westbrook, Kawhi Leonard e Kevin Durant. Num degrau mais abaixo, mas com anos maravilhosos ainda, vêm Chris Paul, Draymond Green e o Boogie Cousins de janeiro.

Melhor treinador: Luke Walton
Santa mãe, muito difícil essa. Então vou apelar para a mais bonitinha das opções – e não em termos estéticos, que fique claro. 🙂

Mas é que não deixa de ser notável que Steve Kerr tenha ficado semiafastado de metade da temporada e que, quando retornou, tenha encontrado um time com campanha de 39 vitórias e 4 derrotas. Repetindo: 39 triunfos em 43 partidas, aproveitamento de 90,6%. Sendo o interino. O Golden State vem jogando tanta bola há muito tempo que corre-se o risco de subestimar a grandeza destes números todos que os caras apresentam, combinando novamente o melhor ataque com uma das melhores defesas da liga (a terceira mais eficiente, e, se há alguma crítica a ser feita a Walton, é a de que ele deixou a peteca flutuar um pouco para baixo nesse quesito… E blablabla). Mas a NBA nem reconhece a campanha do cara? Problema dela. Isso é só uma formalidade. Pois, se nos registros oficiais, o ex-ala do Lakers não tem currículo como treinador, a expectativa é que, pelo trabalho realizado, vá receber diversas propostas ao final do campeonato. Fora isso, vale a discussão sobre o quanto um técnico é importante para um time que tem um elenco formidável. É tentador dizer que esse conjunto joga sozinho. Até você perceber o que se passou em Cleveland nas últimas semanas e ver que não é bem assim. A gestão de egos na liga sempre exige muito.

Quem?! Eu?!

Quem?! Eu?!

Outros candidatos: que tal uma confissão, então? Optar por Walton era o caminho mais fácil, claro. Afinal, seria complicado de separar Gregg Popovich (de novo ele) e Rick Carlisle (idem!). Há um padrão aqui, que vocês vão reparar: na dúvida, ponto pro Warriors e sua temporada histórica. Merecem. E, se fosse para apontar o pior, era bem mais tranquilo: Byron Scott na cabeça!

Mas falemos sobre os veteranos professores. Enquanto a vasta maioria da liga quer jogar com mais velocidade, Pop, gradativamente, vai desacelerando o Spurs, saindo do 12º ritmo mais rápido em 2013-14 para o 9º mais lento neste ano. Creio que por duas razões: por respeitar o envelhecimento de seu eterno trio de ouro, mas também por entender que, correndo, ele jamais vai ganhar do Golden State. E aí entram em ação LaMarcus Aldridge, David West e o inigualável Boban Marjanovic. Quando o sérvio foi contratado, pensei se era realmente o melhor time para ele. Não haveria espaço algum. Vendo o Spurs jogar, porém, faz muito sentido. A equipe quer ganhar o jogo interior de qualquer jeito e estocou pivôs para isso. Boban é a apólice de seguro mais carismática e luxuosa da liga hoje. Mesmo que o gigantão sérvio pouco fique em jogo em seu ano de adaptação, esperando pelas deixas aqui e ali de Tim Duncan, a equipe é a segunda em percentual de rebotes, coletando 53,3% do que está disponível em quadra, atrás dos 53,9% da envergadura de OKC. Em rebotes ofensivos, estão na ponta. Na defesa, seu time é que o melhor contesta os arremessos nos arredores da cesta. E por aí vamos. Ao mesmo tempo, individualmente, cada jovem jogador adicionado ao sistema apresenta evolução constante. Seu desafio agora é recuperar a confiança e pontaria de Danny Green para os playoffs, enquanto regular os minutos de seus veteranos religiosamente.

Já Carlisle é aquele que mais tira leite de pedra no basquete americano – em, Boston, Brad Stevens desponta como seu sucessor nessa categoria. Quando um de seus alas está voltando de uma cirurgia de microfratura no joelho e o outro, pior, de uma no tendão de Aquiles, quando seu armador tinha, até outro dia, um dos cinco piores contratos da liga, quando é recomendável que seu principal jogador não passe dos 30 minutos por partida, quando seu pivô cabeçudo foi cedido de graça, quando o orgulhoso proprietário da equipe é humilhado por alguém que comemora quando fica em 50% nos lances livres… Bem, quando tudo isso acontece, você não espera que seu time 1) flerte com o top 10 de eficiência ofensiva, 2) tenha uma campanha vitoriosa e 3) esteja bem na luta por uma vaga nos playoffs, mesmo que sua tabela esteja entre as 12 mais duras. Se estivéssemos conversando em dezembro, Carlisle seria a escolha indiscutível, ao meu ver. Aos poucos, porém, com os adversários mais atentos e estudados, o feitiço perde um pouco de seu poder. A segunda metade da temporada promete ser desafiadora, mesmo que Chandler Parsons pareça em plena forma nesses últimos dias.

Para fechar, menção honrosa a Terry Stotts, ex-assistente de Carlisle.

Melhor defensor: Draymond Green
O melhor defensor do Oeste é o melhor defensor de toda a liga, não há dúvida, devendo ficar entre  Draymond, Kawhi Leonard e Rudy Gobert. A campanha do francês foi atrapalhada por sua lesão no joelho, que o tirou de quadra por mais de um mês.

Até Griffin sofre contra Draymond

Até Griffin sofre contra Draymond

Daí que, na minha cabeça, fica quase como se pudéssemos escolher os outros dois finalistas na moedinha. A tentação imensa é de apontar Kawhi, e tudo bem, sem se importar que ele já tenha vencido o prêmio oficial na temporada passada. Afinal, ele seria o símbolo de uma defesas mais sufocantes da história da liga. Todavia, talvez pensando por outro lado, o fato de a defesa do Spurs ser tão boa com ou sem ele, diga-se, possa enfraquecer, um tiquinho que seja, sua candidatura? Se você investiga os números do time de Pop, percebe que a máquina está realmente ajeitada de um modo em que as coisas funcionam independentemente da periculosidade do ala, ou de seus companheiros de quinteto titular. Os reservas entram e mantêm mais ou menos o mesmo padrão. Mas… coff, coff!… Claro que o sujeito é simplesmente um terror ao redor da bola, com mãos e pés muito ágeis, somando 2,1 roubos e 1,0 toco por 36 minutos, sendo uma ameaça constante ao oponente.  No ranking de Real Plus Minus do ESPN.com, ele aparece em sexto entre os marcadores, sendo o único jogador que não é escalado como pivô ou ala-pivô entre os 20 primeiros colocados. Kawhi impõe tanto medo que, em todo o mês de dezembro, ele só foi testado em 14 posses de bola por atacantes em jogadas de mano a mano, em 16 partidas. Menos de uma por jogo, e e ele sofreu a cesta em apenas três dessas tentativas. Ninguém quer encarar a fera.

Ainda assim… Hã… Vou de Draymond, devido seu papel fundamental no sempre subestimado sistema defensivo de Golden State – um sistema que dá sustentabilidade para o time atacar daquela forma avassaladora. O ala-pivô está no centro dessas atividades. Sem ele, a verdade é que provavelmente Steve Kerr teria de adotar outra abordagem (com todo o respeito a Andre Iguodala, Klay Thompson e Harrison Barnes, todos caras hoje combativos e capazes de fazer a troca e, em níveis diferentes de eficiência, incomodar o adversário com quem sobrarem, independentemente de quem).

Mas é Green aquele que dá maior versatilidade a esse tipo de cobertura, podendo fazer sombra tanto a um lateral mais explosivo como, ao mesmo tempo, exercer o papel verdadeiro xerife na proteção do aro. Consulte a seção de arremessos dos oponentes no NBA.com/Stats, filtre a turma toda por pelo menos 20 minutos jogados em média e cinco arremessos tentados por partida, e se surpreenda: o ala-pivô vai aparecer em terceiro na lista, permitindo apenas 42,4%% de aproveitamento a seus adversários quando debaixo da cesta. Acima dele estão apenas Gobert (bingo, com 39,8%) e Serge Ibaka (42,2%). Com a diferença de que Green é listado generosamente com 2,01m de altura. Que tal? Esse é o tipo de fator imensurável para uma equipe. Para se ter uma ideia, quando o ala-pivô vai para o banco, o Warriors leva em média 11,4 pontos a mais por 100 posses de bola. Uma diferença absurda. Vai de 98,8, que valeria como a segunda mais eficiente da liga, com ele em quadra para 110,2 sem, o que seria a pior de todas, pior até mesmo, creiam, que a do Lakers. Ao contrário do que acontece em San Antonio, em que as perdas e ganhos praticamente se sustentam com quer em que esteja em quadra, para o Warriors, só um jogador acompanha Green em termos de impacto defensivo: curiosamente, Stephen Curry. Lembrando que, das quatro derrotas sofridas pela equipe até o momento, Curry não jogou em uma e Green, em outra.

De qualquer forma, perguntem amanhã, e a moeda pode cair do outro lado. Dureza.
Outros candidatos: aqueles aqui já citados e Tim Duncan, invalidado por minutos limitados.

Melhor novato: Karl-Anthony Towns
Ele é tão bom, mas tão bom que, mesmo se tivesse sido draftado pelo Lakers, nem mesmo Scott ou Kobe poderiam atrapalhá-lo. Towns vai ser um All-Star por anos e anos e torna um talento raro como Andrew Wiggins como uma peça secundária até. Só precisa que o Timberwolves acerte na formação do elenco ao seu redor.

Para alguém que não ficava tanto tempo com a bola em mãos no supertime que Calipari montou em Kentucky no ano passado, o jovem pivô se mostra confortável demais em quadra. Com um arsenal daqueles, todavia, fica fácil de entender. Ele tem o chute de média para longa distância. Finaliza com força e categoria perto da cesta. Se os números de 16,1 pontos, 9,8 rebotes e 1,8 toco já impressionam, esperem só até Sam Mitchell permitir que jogue por mais que 29,4 minutos (em de poupar o veterano para os playoffs, né?!?!). Em 36 minutos, subiria para 19,7, 12,0 e 2,2, respectivamente. O quesito em que o garoto tem de ser trabalhado ainda é a hora de saber se livrar da bola. Se não tiver a chance de ir para a cesta, não é o fim do mundo: que tal olhar para os companheiros? Por enquanto, comete mais turnovers do que dá passes para cesta. Mas ele tem apenas 20 anos, com tempo para trabalhar isso nas próximas férias.
Outros candidatos: Nikola Jokic foi um tremendo de um achado dos olheiros internacionais do Denver, via segundo round. Também foi contratado no momento certo, esperando mais um ano na Sérvia para crescer. . Devin Booker vai terminar o ano em alta, com elogios de todas as partes. Demorou um pouco para George Karl lhe dar o devido espaço, mas Willie Cauley-Stein vai ajudar Sacramento na briga pela oitava posição do Oeste. Aqui, porém, é o mesmo caso da disputa pelo prêmio de MVP. Só incluímos essa moçada  por educação.

Melhor reserva: Will Barton
Aliás, fui me dar conta só agora de que faltou este no Leste. O post atualizado vai ser atualizado com… Lance Thomas, acho. Ou Jeremy Lin. Aqui, no Oeste, vamos com o surpreendente ala do Denver Nuggets, que veio de Portland na troca por Arron Afflalo – uma negociação que se mostra ultraproveitosa para o time do Colorado. Barton é o equivalente a Ty Lawson no Denver de tempos atrás, saindo do banco para botar fogo em quadra, correndo feito um presidiário em fuga no alto das Montanhas Rochosas, para marcar 15,1 pontos por jogo, a segunda melhor média entre atletas que tenham saído do banco pelo menos por 20 partidas, empatado com Jrue Holiday. Em pontos por jogo em transição, ele é o 11º da liga. No geral, na verdade, está entre os mais qualificados em qualquer medição ofensiva de contra-ataque. Em meia quadra, se transformou no chutador mais confiável do time em longa distância, sem comprometer na defesa. A combinação de perímetro com Gary Harris é muito promissora.


Outros candidatos: Enes Kanter é, disparado, o reserva com o melhor índice de eficiência da NBA, se intrometendo num grupo de caras como Kyle Lowry, Blake Griffin e Chris Bosh. Agora, como bem escreveu o mestre Marc Stein, do ESPN.com, um dia desses, existe um motivo para que um atleta tão produtivo como esse fique limitado ao banco e a 20 minutos por jogo: com salário de US$ 16 milhões, ele só joga de um lado da quadra. Por mais que a turma em OKC se esforce para dizer que o turco já não é mais um desastre defensivo, os números ainda não jogam a seu favor. Na lista do Real Plus Minus, ela aparece em penúltimo entre todos os pivôs da liga. Injusto? Nem tanto. Com ele em quadra, o Thunder leva 7,9 pontos a mais a cada 100 posses de bola. E não é que ele só jogue com reservas. Das dez escalações em que é mais utilizado, em quatro delas Kanter tem pelo menos a companhia de dois entre Westbrook, Durant e Ibaka. Sobre a questão ataque x defesa, o mesmo raciocínio vale para o unabomber Ryan Anderson, que atira muito e com precisão (39,4% dos três) de um lado e é metralhado do outro. Por coincidência, ou não, Anderson também é o penúltimo aqui. Com mais de 30 minutos em média, além do mais, é como se fosse um titular.

O que mais evoluiu: esse faz mais sentido esperarmos até o final da temporada, né? Steph Curry (glup!), Barton, CJ McCollum e Dwight Powell são algumas das possibilidades.

Melhor executivo: a mesma coisa. Melhor avaliar o conjunto da obra ao final. O combo Gregg Popovich/RC Buford, o gerente geral do Warriors, Bob Myers, do Warriors, e Neil Olshey, do Blazers, parecem os candidatos.

All-Stars: Curry, Westbrook, Kawhi, Durant e Draymond. Mais: Chris Paul, James Harden (a despeito de suas patéticas partidas iniciais), Klay Thompson, Gordon Hayward (sem Gobert, sem Favors, mantendo o time na luta), Dirk Nowitzki (sua regularidade pesa para assumir a vaga do lesionado Blake Griffin), Anthony Davis (não deu mais um salto, é cobrado pelo próprio técnico, mas ainda faz a diferença) e DeMarcus Cousins, o insano.
(Aos fãs de Damian Lillard, JJ Redick, DeAndre Jordan, Danilo Gallinari, Tim Duncan e LaMarcus Aldridge, desculpe.)


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