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Dia de Final Four pela Euroliga: perspectivas para as semis
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Giancarlo Giampietro

O centro da quadra no Palácio dos Esportes em Madri

O centro da quadra no Palácio dos Esportes em Madri

O Final Four da Euroliga tem largada nesta sexta-feira. O Real Madrid é o anfitrião, tendo Fenerbahçe, CSKA e Olympiakos como seus concorrentes na fase decisiva do campeonato europeu de clubes. Pelas semifinais, o clube merengue vai encarar o estreante Fener. Do outro lado, os moscovitas tentam se livrar da fama recente de fregueses de Vassilis Spanoulis.  Os vencedores se cruzam na final domingo. O que está em jogo nesses confrontos?

Bem… Fora o título?

(…)

Toin-oin-oin-oiiiiim.

Isso, fora o título. A ideia aqui é apresentar o contexto em torno de cada um desses pretendentes, o que cada um vai levar para a quadra, em termos de trunfos (são muitos, afinal foram os times que sobreviveram a uma dura linha de corte, acima de 28 adversários) e possíveis limitações (mantendo a lógica, poucas). É impossível apontar um favorito. Concordo absolutamente com o CEO da liga, Jordi Bertomeu: é 25% para cada um. Ou talvez 26% para o Real e 23,3% para os demais, nas contas de Andrei Kirilenko, o craque do CSKA que anunciou que vai se despedir das quadras ao final da temporada. “As chances no Final Four são basicamente iguais para os quatro times. Não posso dizer que um time seja completamente melhor que o outro, diferentemente do ano passado, quando o Maccabi parecia correr por fora. Talvez o Real Madrid ganhe 1% a mais de chance que o resto por estarem em casa, mas acho que cada equipe que chegou aqui mereceu isso, e vão ser dois duelos muito interessantes para os torcedores”, diz o russo.

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Simbora:

Real Madrid

Real, pela nona taça. Agora vai?

Real, pela nona taça. Agora vai?

O que joga a favor: joga em casa… tem dois armadores fantásticos que se chamam Sergio, dinâmicos, agressivos, que se complementam muito bem e são um terror em transição – o elenco todo é formidável, mas a chave para o sucesso recente do Real passa por essa dupla, que oferece tanto no ataque (chute, infiltração, passe) e na defesa (pressão em cima da bola o tempo todo)…  O estilo de Rodríguez e Llull se encaixa perfeitamente com o de Rudy Fernández, ala atlético, talentoso e conhecido por sua capacidade de improvisar em momentos mais apertados, desde que 100% bem fisicamente, tendo sofrido uma torção no tornozelo em 30 de abril. “Não vou falar sobre minha lesão, pois me sinto bem”, disse… A liderança de Felipe Reyes, que realizou sua melhor temporada em muito tempo, com muita consistência e produção elevada em minutos controlados… O espírito combativo de Andrés Nocioni… O pacote multiuso de Gustavo Ayón… Muitas opções no banco de reservas.

O que estaria contra? Hã… jogar em casa? Sacumé, né? Jogar em casa coloca sua torcida ao seu lado, mas sempre vai levantar o receio de que não se pode decepcioná-la. No caso dos merengues especificamente, a tensão é muito maior pelo fato de o time ter perdido as últimas duas decisões, e de virada. Para os que acompanham o futebol tão bem como basquete, vão se lembrar de toda a expectativa que cercava a decisão da Champions League passada, contra o Atlético de Madrid. Toda a expectativa pela décima. Pois no basquete temos um cenário parecido, a busca pela novena, com hashtag #APorLaNovena, e tudo – o Real é o clube que mais venceu a Euroliga, mas não levanta a taça desde 1995. “Todo mundo nos está pedindo para ganhar o Final Four. Jogamos em cas, perdemos as últimas duas finais”, afirma o capitão Felipe Reyes. O veterano pivô ainda citou o fato de os rapazes do futebol terem caído frente a Juventus pelas semis da Champions como um fator a mais de pressão.

Fenerbahçe

O Fener de Bogdan-Bogdan silenciou os campeões do Maccabi nas quartas

O Fener de Bogdan-Bogdan silenciou os campeões do Maccabi nas quartas

O que joga a favor: Zeljko Obradovic, sem dúvida nenhuma. O sérvio busca sua própria novena, e por um quinto clube. Um dos times que guiou rumo ao título roi justamente o Real. Sabe quando? Sí, sí: em 1995. Será que seus jogadores e os torcedores do Fener confiam no seu poder de liderança e conhecimentos do riscado? Com a palavra, o ala-armador Bogdan Bogdanovic, seu jovem compatriota: “O técnico deixa tudo mais fácil para que possamos nos concentrar no jogo. Ele deixa tudo mais fácil”… Aliás, ‘Zoc’ estava totalmente à vontade na coletiva de apresentação do F4 nesta quinta, transformando o evento numa apresentação só sua de standup comedy. Quando soube que Nemanja Bjelica foi eleito o MVP da temporada, tirou uma com seu craque. “Nemanja pode jogar em qualquer posição, fazer qualquer coisa em quadra… Então, Nemanja, prove isso para mim na semifinal”, exclamou, dando aquele tapinha no ombro do compatriota. Sobre o Real de Pablo Laso? “O time gosta de correr, jogadas individuais, isoladas, marcação box com um, pressão quadra toda…. Mais alguma coisa, Pablo?”, sorriu para o adversário e ex-pupilo, um dos campeões de 95. Depois, falou mais sério e com toda a confiança da Sérvia: “Vi quase todas as partidas do Real Madrid nesta temporada: estamos preparados para enfrentá-los”…. Obradovic também tem ao seu dispor um elenco caríssimo e ainda mais versátil que o do oponente, com alas-pivôs (muito) altos, (muito) ágeis e (consideravelmente) habilidosos… Entre eles o MVP Bjelica… O Fener enfim conseguiu reunir suas peças estreladas num só time, crescendo muito durante a competição até varrer o Maccabi Tel Aviv pelas quartas de final, algo dificílimo de se fazer.

O que joga contra? Claro que qualquer um dos times que entram em quadra neste final de semana estarão pressionados. Mas, se fosse fazer um ranking, colocaria o Fener em segundo, a despeito dos traumas do CSKA (mais abaixo). Pois nenhum time turco jamais conquistou a Euroliga, e o investimento do país na modalidade tem sido dos maiores, se não o maior da Europa. A competição é patrocinada pela Turkish Airlines, por exemplo. E mais: o quanto Obradovic teria de paciência para seguir com o projeto adiante no caso de uma derrota neste ano? Não é fácil alcançar essa fase… O Fener tenta levantar o caneco, mas só terá dois jogadores em seu elenco com experiência nesse tipo de situaçao: Nikos Zisis e Jan Vesely. O quanto a cancha de um treinador pode compensar a sensação de novidade para seus atletas? Não que seja um elenco jovem. Mas um clima de F4 é outra história… A rotação de armadores ficou enfraquecida depois da lesão de Ricky Hickman, justamente um cara que foi campeão pelo Maccabi no ano passado.

CSKA Moscou

Kirilenko, perto do fim

Kirilenko, perto do fim

O que joga a favor: a melhor campanha de todo o campeonato, com 25 vitórias e apenas três derrotas, tendo engatado inclusive uma sequência de 15 triunfos consecutivos… Dimitris Itoudis pode ser um treinador principal estreante num Final Four, mas conquistou cinco títulos de Euroliga sendo o braço direito de Obradovic no Panathinaikos… Andrei Kirilenko está em ótima forma física, uma notícia excepcional para o basquete como um todo, que já o tinha como um ex-jogador em atividade devido a tantos problemas físicos que teve em sua curta passagem pelo Brooklyn… E é um AK-47 motivado, já decidido a se aposentar ao final do campeonato, buscando um troféu inédito para seu grande currículo. “Ele se uniu ao time pefeitamente. É surpreendente o quão bem está jogando. É a peça que nos faltava para ganhar o Final Four. Ele merece uma Euroliga”, afirma o armador Aaron Jackson… O fato de o americano Jackson ser o terceiro armador na rotação de Itoudis também nos diz muito sobre o poderio deste elenco. Só mesmo um par Milos Teodosic/Nando De Colo para rivalizar com os Sérgios do Real. Ou até mesmo superá-los: nesta temporada, o sérvio foi eleito para o quinteto ideal, enquanto o francês descolou uma vaga na segunda equipe.

O que joga contra? As recentes decepções. Com seu orçamento invejável e um time sempre fortíssimo em quadra, o CSKA convive com um jejum de títulos desde 2008, com um troféu conquistado justamente em Madri. Desde então, só ficou fora do F4 em 2011, tendo sido vice-campeão em 2009 e 2012 e caído nas semis em 2010 e nos últimos dois anos. O revés mais dolorido sem dúvida foi contra o Olympiakos na final de 2012, com cesta de Georgios Printezis a 0s7 do fim… E eles voltam a enfrentar o Olympikaos nesta sexta, tendo de superar esse trauma psicológico agravado pela surra que tomaram do clube grego na semi de 2013… Agora, por que eles não estariam mais pressionados que o Fener, então? Simplesmente pelo fato de o clube moscovita ser gigante demais no mercado europeu, como presença constante na briga pelo título e também pelo fato de ter uma torcida bem… Morna – e, de certa forma, mimada. O Palacio de Deportes de la Comunidad de Madrid (ou Barclay Card Center, desde julho de 2014…) vai bombar, e é provável que não se ouça nenhum pio dos russos nas arquibancadas, esmagados que serão pelos torcedores gregos. A cobrança vem muio mais de uma diretoria cheia de pompa.

Olympiakos

A celebração com Printezis na série dramática contra o Barça: cesta no estouro do cronômetro pelo Jogo 5

A celebração com Printezis na série dramática contra o Barça: cesta no estouro do cronômetro pelo Jogo 5

O que joga a favor: um núcleo formado por Vassilis Spanoulis, Printezis, Vangelis Mantzaris e Kostas Sloukas, que jogam junto há muito tempo e foram bicampeões em 2012-2013. Eles sabem o que é preciso fazer para chegar lá, não há dúvida, mostrando resiliência impressionante em ambas as conquistas, para derrubar times mais caros (CSKA e Real), correndo atrás do placar em ambas as decisões… Para tanto, contaram e contam com o poder de decisão de Spanoulis, já uma lenda viva do basquete europeu… Ser um azarão? É meio estranho se referir assim a um time que já conquistou dois títulos na década, mas, se o time não é uma surpresa nessa fase decisiva – tal como foi o Maccabi no ano passado –, em termos de poderio financeiro está claramente um degrau abaixo dos demais concorrentes. Além disso, as próprias conquistas já dão ao time uma proteção para qualquer eventualidade. “É o terceiro Final Four para nós em quatro anos, e não sei como. Acho que a pressão que sentimos agora é menor do que nos anteriores”, diz Printezis, também um matador na hora H ao seu modo, depois de bater o cronômetro mais uma vez nesta temporada em uma vitória emocionante sobre o Barcelona, no quinto e derradeiro jogo das quartas de final. “Ter menos pressão não significa que não estejamos preparados e com desejo de vencer de novo”, avisa.

O que joga contra: a dependência de Spanoulis para produzir no ataque. O craque sofreu novamente com problemas no joelho durante a campanha, chegando a perder um mês de jogos. Mantzaris assegura que seu companheiro e ídolo de adolescência está tinindo: “Acho que neste ano vi seu jogo ainda mais maduro. Essa é uma das razões pelas quais estamos aqui, e ele realmente está em ótima forma”, diz o armador… A rotação de pivôs é vulnerável. Os americanos Bryant Dunston e Othello Hunter jogam pesado e tendem a acumular faltas (na temporada, tiveram média, respectivamente, de 3,0 e 2,6 por jogo). Depois deles, a terceira opção seria Vasileios Kavvadas, de 24 anos e que disputou apenas 11 jogos durante a temporada – não está preparado para um evento desses.

Os confrontos
CSKA x Olympiakos, 13 h (horário de Brasília): o aspecto psicológico já explanado acima é o componente mais intrigante da partida, não há dúvida. Cinco jogadores do CSKA (Kirilenko, Khryapa, Teodosic, Kaun e Vorontsevich) estavam em quadra durante o colapso de 2012, quando a equipe vencia a decisão por 19 pontos no terceiro período até ser derrotada por 62 a 51. Um episódio desses poderia servir para motivá-los a dar o troco, mas não dá para esquecer que logo no ano seguinte eles se reencontraram, e deu lavada do time de Pireus: 69 a 52.

Se formos reparar em ambos os placares, nota-se um escore baixo. É a receita de jogo que o Olympiakos vai tentar – e precisa – repetir nesta sexta, para poder desbancar os russos. Para tanto, ajuda o fato de terem a melhor defesa da competição. “Qualquer um pode ver por nossas estatísticas que começamos a partir da defesa, mesmo”, diz Mantzaris. No ataque, cronômetro explorado até o fim, e as combinações de pick and roll de sempre com Spanoulis, se aproveitando do corta-luz de figuras atléticas e vigorosas como Dunston e Hunter e rodeado por grandes arremessadores como Lojeski e Sloukas. Se o time grego não conseguir impor esse ritmo lento para a partida, tende a se lascar. “Acho que estamos na melhor forma possível. O Olympiakos é obviamente um dos times mais duros da Euroliga. Eles te forçam a jogar fora da sua zona de conforto, com um jogo amarrado.

O CSKA de Itoudis tem um plano tático muito mais aberto que o de Ettore Messina, para construir o melhor ataque da competição, com um jogo mortal em transição. Em meia quadra, porém, o time é igualmente eficiente, com o melhor aproveitamento de três pontos da competição (41,85%!), diversos atletas de excelente corte para a cesta (De Colo, Jackson, Weems, Hines) e toda a inteligência nos deslocamentos fora da bola de Kirilenko. Dá muito trabalho vigiar o veterano russo e ao mesmo tempo cuidar para que os chutadores não se desmarquem. Como se não fosse o bastante, é preciso cuidado com a tábua defensiva. “Algo importante para nós é o rebote, porque eles têm vários caras grandes que atacam a tabela, especialmente com Kirilenko na posição 3”, admite Hunter.

Real Madrid x Fenerbahçe: um confronto muito, mas muito intrigante. Os dois times têm capacidade de correr pela quadra toda, mas meu palpite é de que Obradovic vai querer desacelerar as coisas. Afinal, é com a transição a mil por hora que o Real pratica seu melhor basquete, e eles estarão jogando energizados pelo apoio da torcida. Então que tal forçá-los a jogar em meia quadra, numa partida de mínimos detalhes, e tentar usar a pressão do público a seu favor? Foi um estilo praticado pelo Fener  na reta final da temporada, com resultados excepcionais: 13 vitórias nos últimos 14 jogos. Detalhe: o time turco já venceu CSKA, Olympiakos e Maccabi Tel Aviv como visitante.

A grande questão para os turcos será a defesa contra Rodríguez e Llull. O garoto Kenan Sipahi, de 19 anos, pode ter grande responsabilidade para tentar parar um deles, ajudando Zisis e Andrew Goudelock. “Temos de afastá-los da linha de três pontos e também pará-los em transição. Precisamos bagunçar com a intensidade deles”, diz o cestinha americano. O melhor mesmo, é traçar uma estratégia coletiva para conter esses armadores inventivos e fogosos, com a ajuda de uma linha de frente bastante flexível, com Bjelica, Vesely, Preldzic e mesmo Erden. O que não quer dizer que os armadores do Real também não tenham preocupações defensivas. Algum deles vai ter de vigiar Goudelock de perto, mas bem de perto, mesmo. O mínimo de espaço é suficiente para o “MiniMamba” castigar do perímetro. Longe da cesta, vai ser bacana de ver o embate entre Rudy Fernández e Bogdan-Bogdanovic tabém. Isso se Obradovic não apelar a formações mais altas com Preldzic.
Esse grupo, inclusive, leva uma vantagem atlética considerável em relação aos pivôs do Real, cuja maioria é de jogo terrestre. Para combatê-los, o americano Marcus Slaughter deve ter um papel relevante. Os fundamentos de bloqueio e movimentação de pés de Reyes e Ayón serão muito exigidos para a coleta dos rebotes. Além disso, fica a questão sobre como os merengues vão reagir no momento em que Bjelica tiver a bola na cabeça do garrafão para a atacar a cesta de frente, com muito mais mobilidade. “Eles têm um jogador 4 que joga como armador. É um aspecto diferente na Europa. Não são muitos os jogadores que conseguem fazer o que o MVP faz”, diz Slaughter.


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