Vinte Um

Ainda sobre a Bolsa Atleta de Robert Day e a conivência da CBB

Giancarlo Giampietro

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Já publiquei aqui a nota de esclarecimento da CBB a respeito de seu envolvimento, ou não, com a Bolsa Atleta de R$ 925,00 entregue ao ala Robert Day, norte-americano titular do time de Bauru. Mas vale retomar o caso depois de um pouco de ponderação.

A entidade afirma que não tem poder de veto ou indicação sobre os atletas beneficiados pelo programa, fornecendo apenas a documentação requisitada: ''A concessão do benefício segue legislação própria, a que todos estamos submetidos, e não há como a CBB indicar, facilitar, favorecer ou ajudar de qualquer forma nenhum atleta a receber o benefício''.

Por isso, não poderia dar ''uma forcinha'' ao atleta, conforme escrevi no meu primeiro artigo. Talvez o termo ''forcinha'' tenha sido um termo propositalmente ambíguo e capcioso para abordar um tema que claramente pede um tratamento bem longe do preto e branco da lei. Afinal, o que está no papel não se discute mais? É a letra fria, e pronto?

O que temos aqui é uma situação em que a CBB simplesmente lava as mãos diante de um absurdo desses. A mesma entidade que está – ou deveria estar – ciente da penúria que ainda domina o basquete brasileiro, a despeito de um celebradíssimo sexto lugar na Copa do Mundo e dos avanços promovidos exclusivamente pela Liga Nacional do seu lado. Como prova a arrecadação de fundos virtual promovida por Franca, o basquete brasileiro não está em condições de descartar os 900 e poucos reais endereçados a Robert Day.

Obviamente que o que mais causa vergonha nessa história toda é a cara-de-pau e o jeitinho brasileiro muito bem assimilado pelo atleta, além do buraco na lei federal que permite a solicitação de recursos públicos por e para a conta de um estrangeiro já muito bem pago. Mas realmente não cabia nenhuma ação da turma de Carlos Nunes nesse caso? Não havia absolutamente nada que pudessem fazer a respeito?

Sabemos bem que há um diálogo constante entre CBB e Ministério. Até porque, se não houvesse, a entidade muito provavelmente não teria condições de operar de uma forma minimamente respeitável, considerando o aporte que recebeu da Esplanada nos últimos anos e seu amontoado de dívidas.

Sem a documentação oficial, o americano não conseguiria se candidatar ao Bolsa Atleta. Aí a confederação simplesmente diz que não pode negar um pedido que, infelizmente, é legítimo.''A CBB cumpre o que lhe é imposto'', afirma em nota. ''São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas.''

Reparem que o ''infelizmente'' é um termo empregado pelo próprio blogueiro. Pois, em sua nota de es-cla-re-ci-men-to, em nenhum momento a entidade lamenta ou dá sua posição sobre o episódio. ''São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas.''

Mas, espere um pouco. Vale atentar para mais um fato. O Ministério informou ao companheiro Daniel Brito, do UOL Esporte, que ''o processo de divulgação dos contemplados também passa pela confederação de cada modalidade, que avaliza os nomes antes de serem divulgados no Diário Oficial da União''.

A CBB avalizou o nome de, hã, Roberto Dias? Talvez não pudesse, de acordo com a lei, dizer ''não''. Talvez o avalizar aqui se trate apenas de uma última checagem para ver se o Atleta X está regular, ou não. Pode ser, mesmo. Esteve aí, porém, mais uma oportunidade para apontar o desatino.

Agora, para que criar rusga com o órgão que lhe sustenta?

Politicamente, é o movimento correto.

E eticamente, como guardiã do basquete no país?

Tirem suas próprias conclusões.