Vinte Um

O Lakers está preparado para ser um saco de pancada?

Giancarlo Giampietro

Kobe sob fogo cruzado nos EUA

Kobe sob fogo cruzado nos EUA

Numa liga que vem pregando – e brigando pela – paridade, boa parte dos concorrentes não vê a hora que se confirme a tese: a temporada 2014-2015 pode ser aquela em que o poderoso e invejado Los Angeles Lakers vá de se acostumar a ser um saco de pancadas.

Soa muito errado ler uma frase dessas, eu sei. No vácuo, parece maluquice. Mas é só olhar o elenco ao redor de um Kobe Bryant que não era tão questionado assim desde os lamentáveis meses de investigação e audiências por conta de uma acusação de estupro no Colorado que acabou desqualificada, e 2013.  Depois de romper o tendão de Aquiles no final da temporada 2012-2013, o ala retornou no campeonato passado, mas só disputou seis partidas, até ser afastado novamente por conta de uma fratura no joelho. Depois de ter assinado um contrato polêmico, que lhe  mantém como o atleta mais bem pago da liga, enquanto Duncan e Nowitzki dão desconto a Spurs e Mavericks, respectivamente.

Foi um ano para a franquia esquecer por esses e outros motivos. Dwight Howard disse não ao clube, num ato raríssimo – o normal era que os astros fizessem de tudo para jogar sob as luzes de L.A. Pau Gasol se cansou de discutir publicamente com Mike D'Antoni e, mesmo com a garantia de que o treinador não ficaria no time, decidiu partir para Chicago, magoado com uma diretoria que não o apoiou, como esperava. Alguns operários até jogaram bem, excederam as expectativas, mas nada que se animasse muito Jack Nicholson. Resultado: 27 derrotas e 55 derrotas (aproveitamento de 32,9%), a pior marca da franquia desde que a liga adotou o formato de 82 partidas na temporada regular. Em termos de rendimento, apenas os 26,4% de 1957-58, em 72 jogos, no crepúsculo da carreira do ídolo George Mikan. Sinta o drama.

Kobe e Scott, velhos amigos. E quando as derrotas se acumularem?

Kobe e Scott, velhos amigos. E quando as derrotas se acumularem?

Ah, mas nada como um dia após o outro, né?

No caso do Lakers? ''Hmmmmm… não'', diria o Homem-Aranha ataíde.

Para o campeonato que vai começar nesta semana, não há otimismo que se sustente. A contratação de Byron Scott pode ter ressonância com seu passado glorioso,  por ser aprendiz de Pat Riley e chapa de Magic Johnson, mas não diz nada sobre o futuro. Ele já foi duas vezes vice-campeão com o Nets na década passada, é verdade, mas não comanda uma campanha vitoriosa desde 2009, em Nova Orleans. Quando tinha Chris Paul, David West, Tyson Chandler e Peja Stojakovic no time titular. Em Cleveland, como sucessor de Mike Brown, foi um completo fiasco. Se o elenco pós-(e-pré)-LeBron era trágico, o treinador falhou gravemente em desenvolver os jovens talentos, especialmente em aspectos defensivos. E ninguém vai poder dizer que o atual elenco angelino inspire o temor nesse sentido.

A última vez em que o clube ficou fora dos playoffs por dois anos seguidos aconteceu há quase 40 anos, entre 1974 e 1976, com 70 vitórias e 94 derrotas acumuladas (aproveitamento de 42,6%). Era o final de gestão do técnico Bill Sharman, e nem mesmo a chegada do mítico Kareem Abdul-Jabbar impediu o vexame. Poderia um Kobe de 36 anos anos evitar o repeteco?

O time: O Lakers foi praticamente ignorado por LeBron James, que nem permitiu que a negociação avançasse além de conversas preliminares com seu agente. Carmelo até levou adiante o namoro, fez sua visita, mas ficou em Nova York, mesmo. Chris Bosh nem ouvidos deu. O gerente geral Mitch Kupchak, então, optou pelo plano B, modesto que só.  Renovou com Jordan Hill por bizarros US$ 9 milhões anuais e com Nick Young. Recolheu Carlos Boozer depois de o veterano ser dispensado por Chicago. Assinou um acordo camarada com ainda promissor Ed Davis, que tem o mesmo agente de Kobe, Rob Pelinka. Descolou Jeremy Lin e uma escolha de draft numa troca marota com o Houston Rockets, que precisava limpar salário na tentativa de fechar com Bosh. Wesley Johnson, Ryan Kelly, Ronnie Price, Wayne Ellington. Ficou nisso. O elenco não só está muito aquém do padrão com o qual uma exigente e mimada torcida se acostumou como apresenta peças redundantes e, no geral, deficientes na defesa.

A pedida: o Lakers fala em playoff, gente. O melhor seria terminar entre os cinco piores da temporada. Só assim teriam chance de manter sua escolha de draft. Do contrário, ela vai para Phoenix. Até isso.

Olho nele: Jeremy Lin. A lesão de Steve Nash abre todo o espaço na armação do Lakers para o armador que levou Manhattan à loucura em 2012. Se, por infeliz acaso, Kobe tiver mais alguma lesão, o ex-jogador do Houston Rockets teria de assumir ainda mais carga criativa no ataque da equipe angelina. Desde que Nick Young aceitasse. Estariam Hollywood (e Scott) preparados para ver a sequência da Linsanidade? Agora, bem de pertinho? Em breve, no League Pass.

Linsanidade II: mais uma sequência hollywoodiana?

Linsanidade II: mais uma sequência hollywoodiana?

Abre o jogo: ''Eu não quero ser o próximo Shaq. Quero ser o próximo Kobe. Estava dizendo isso para minha mãe esses dias. Não quero ser só um jogador de garrafão'', Julius Randle, o ala-pivô selecionado pela equipe na sétima posição do último Draft, vindo de Kentucky.

Ainda que não tenha comovido ninguém por seu desempenho por Kenucky, nos tempos de colegial, Randle era ainda mais bem cotado. Num momento difícil como esse, o desenvolvimento do calouro pode ser importantíssimo para o futuro da franquia. Com essa interessante declaração, o rapaz deixa claro que confia na expansão de seu jogo, em sua versatilidade. Ele tem drible, velocidade e disposição para correr com a bola, se mover pela quadra.  Agora, com Carlos Boozer, Ed Davis e Jordan Hill no elenco, Byron Scott, que costuma ser duro com os novatos, vai lhe dar o tempo de quadra necessário, mesmo que o jovem atleta cometa alguns erros básicos? Seria inteligente que sim.

Você não perguntou, mas… não dá para dizer que Kobe Bryant e a ESPN americana vivam uma lua de mel. O astro primeiro se irritou ao ver que o painel de jornalistas da emissora o elegeu como o 40º melhor jogador da liga a caminho desta temporada, logo atrás de Dwyane Wade, Rajon Rondo, Klay Thompson e Andre Iguodala. Se você for reparar, nesse grupo de atletas, temos três craques que lidaram com graves lesões nos últimos anos… Mas, para o ala do Lakers, essa coincidência não era o suficiente para amansar seu ego. ''Já sei há bastante tempo que esses caras são um bando de idiotas'', disparou. Os fãs do jogador se revoltaram e afirmaram que o 40º lugar era um desrespeito. Coordenador do núcleo estatístico do ESPN.com, o jornalista Royce Webb atirou lenha na fogueira ao dizer que, na verdade, o número 40 parecia até mesmo superestimado para o atleta, considerando todos os seus problemas físicos e a produção pífia que teve em seis partidas na campanha anterior.

Para piorar, a revista do conglomerado midiático publicou um artigo bombástico no qual Henry Abbott cita uma dúzia de fontes anônimas que detonam o craque. ''Ele é provavelmente o maior jogador da história da franquia. Ele também a está destruindo por dentro'', diz o texto. Ouch. A ideia é a de que o ala teria feito de tudo para sobrar como o único astro da equipe, alienando e/ou assustando possíveis reforços. Obviamente o texto teve enorme repercussão. Muitos atletas e ex-Lakers saíram em defesa de Kobe, além da vice-presidente Jeanie Buss, que disse que investigaria qual seria um dos funcionários do clube que teria falado sem se identificar, para demiti-lo. ''Quem não quiser jogar com Kobe é um covarde'', resumiu.

PS: sabe quem não gostou também do ranking da ESPN? Nick Young, claro, o número 150. ''Posso garantir que não há 149 pessoas melhores que eu nesta liga'', afirmou. : )

byron-scott-fleer-lakers-cardUm card do passado: Byron Scott. O ala-armador jogou 11 temporadas pelo Lakers, sendo dez delas em sequência, de 1983 a 1993. Depois de passar por Indiana e Vancouver (no primeiro ano da removida franquia canadense), voltou a Los Angeles para se despedir da NBA em 1996-97, ano em que foi um mentor para Kobe, calouro e adolescente. Scott nunca foi eleito para o All-Star Game, mas teve grande participação nos títulos do clube dos anos 80, tendo média de 18 pontos por jogo. O card ao lado é da temporada 1988-89, na qual a equipe tentou o tricampeonato, mas acabou varrida pelos Bad Boys de Detroit na decisão. Bastante atlético, ele decolava rumo ao aro para grandes cravadas, mas também acrescentava ao superataque do showtime o tiro de três pontos, sendo um dos primeiros atletas da liga a ser temido neste fundamento. Hoje, ironicamente, se posiciona de modo contrário ao movimento estatístico que prega o chute de longa distância como instrumento essencial para o sucesso. ''Isso só te leva até os playoffs'', afirmou, ignorando o sucesso de Spurs, Heat e Mavs durante a década.

PS: nesta terça-feira, a temporada da NBA já começa com transmissão no canal Sports+, da SKY. Estou nessa transmissão ao lado do Dr. Ricardo Bulgarelli e do chapa Marcelo do Ó. E começamos com quem? O Lakers, mesmo, enfrentando o Houston Rockets.