Vinte Um

Bargnani x Novak? Knicks confia em reforço italiano para sonhar com título

Giancarlo Giampietro

Andrea Bargnani x mídia de NYC

Andrea Bargnani e Steve Novak entraram juntos na NBA, no Draft de 2006.

Badalado na Itália, o italiano, ''Il Mago'', foi o primeiro da lista de recrutamento de novatos, algo inédito para um europeu. Após sete temporadas, ganhou mais de US$ 48 milhões e ainda tem mais, no mínimo, US$ 11,8 milhões encomendados – ou US$ 23 mi, dependendo do que o New York Knicks optar. Até 10 de julho de 2013, conhecia apenas um só time da liga norte-americana, o Toronto Raptors.

O americano já ficou para lá de contente em ser o número 32 daquela relação, algo de certo modo surpreendente para o ex-companheiro de Dwyane Wade em Marquette. De lá para cá, embolsou US$ 8 milhões em sete anos, três milhões a menos que ''Bargs'' faturou na última temporada. De qualquer forma, tem mais de US$ 10 milhões garantidos para os próximos três anos. O ala foi selecionado pelo Rockets e trocado para o Clippers em 2008. Assinou como agente livre com o Dallas Mavericks em setembro de 2010. Acabou dispensado em janeiro de 2011. Em fevereiro do mesmo ano, completou a trinca texana ao fechar com o San Antonio Spurs. Foi chutado mais uma vez em dezembro. Dois dias depois, acertou com o New York Knicks. Foi aí que aconteceu a ''Linsanidade'', na qual surfou com toda a empolgação possível, mandando bala do perímetro a partir das infiltrações do armador.

Os dois são conhecidos como jogadores altos com ótimo arremesso de três pontos, mas têm status bem distintos, como fica evidente nessa comparação. Até que seus caminhos voltaram a se cruzar há alguns meses, quando Knicks e Raptors fecharam uma transação. A equipe nova-iorquina teve de ceder Novak, Marcus Camby, Quentin Richardson, uma escolha de primeiro round e mais duas de segundo para fechar o negócio.

Por esse preço, julga-se o prestígio de Bargnani como o de uma estrela, não? Foi um superpacote, digno de um antigo número um do Draft. Que muita gente tenha feito troça dos Bockers e louvado mais uma limpa de mão cheia promovida por Masai Ujiri, o novo manda-chuva do time canadense é o problema.

Para o mercado da NBA, o italiano já era visto como um fiasco total, um símbolo de jogador com um salário muito acima do merecido, considerado como o grande motivo para a queda de Bryan Colangelo, antecessor de Ujiri. Colangelo havia fechado uma renovação contratual de mais de US$ 50 milhões por cinco temporadas com seu atleta em 2009, ainda que o jogador de 2,13 m de altura ainda não tivesse apanhado mais de 6 rebotes em média em três campanhas na liga.

Mas Bargnani ainda era novo, apenas com 23 anos. Dá para entender a dificuldade se desvencilhar de uma aposta pessoal dessas, ainda mais pela faceta intrigante de seu basquete. Ele foi um dos muitos possíveis futuros ''Dirk Nowitzkis'', daqueles grandalhões com munheca para converter os arremessos de longa distância e a coordenação para driblar arrancando em direção ao aro. Uma versatilidade que encanta, mas que nem sempre se traduz em quadra. O astro alemão é um workaholic. Sua habilidade e dedicação contumaz são únicas, difíceis de se equiparar.

Já Novak não tem nada de potencial para se explorar nesse sentido. Tem uma e só qualidade que lhe sustenta na liga: o tiro de longa distância, na qual é um sniper, com média de 43,3% na carreira e quatro temporadas com um mínimo de 41,6%. O italiano, por sua vez, chegou a converter 40,9% em 2009, mas só vem caindo desde, então, terminando os últimos dois anos com uma pontaria abaixo de medíocre – 29,6% e 30,9%. O tipo de arremesso que sobra para um é diferente do que resta para outro, diga-se.

Seria a pressão por encabeçar um Draft? A falta de fome? As constantes lesões? Ter começado num time com Chris Bosh, um jogador de certa forma semelhante e que pode ter tolhido seu desenvolvimento na entrada na liga? A falta de estrutura na comissão técnica ou clube? Ou simplesmente ele não era bom o bastante? Não há uma só resposta definitiva para entender o que deu errado na jornada do italiano acima do lago Michigan. Fato é que as médias de 15,2 pontos, paupérrimos 4,8 rebotes, 0,9 tocos e 43,7% nos arremessos valeram como uma enorme decepção.

E o que fazer com uma peça rara dessas em Nova York? Justamente na cidade com a mídia mais implacável, com tabloides diversos prontinhos para estorvar? Para ponderar: o Brooklyn Nets conseguiu Kevin Garnett, Paul Pierce e Andrei Kirilenko. O Knicks, se corroendo de inveja, tem um ''Bargs'' para apresentar – além do #mettaworldpeace, claro, que é uma oooooutra história.

Vai encarar?

De um jeito outro, o italiano é obrigado a. E o técnico Mike Woodson acredita que pode ajudá-lo neste sentido, confiante depois do trabalho que fez com JR Smith e Raymond Felton no ano passado. ''Não acho que você pode desperdiçar a oportunidade de contar com uma peça como Bargnani'', disse. ''Ele é um desses jogadores talentosos que acho que posso influenciar. Já o assisti muitas vezes de longe, treinando contra ele em Toronto. Acho que ele pode fazer uma série de coisas. Só tenho de deixá-lo aclimatado ao que estamos fazendo, se sentindo bem, porque ele realmente pode ajudar este clube.''

Já Carmelo Anthony fala de um jeito mais desbocado. ''Não tem pressão para cima dele'', afirmou. ''Você tem de vir aqui e jogar bola. Toda a pressão está em mim. Deve ser uma transição fácil para ele, se ajustar a isso. Apenas faça as coisas certas, e o resto deveria ser fácil.''

Melo até que tem razão. Se as coisas não derem certo para o Knicks, pode ter certeza de que ele, Amar'e, Chandler e Smith, além de Woodson, da diretoria e do proprietário James Dolan, vão aparecer na frente na lista dos críticos. Com o volume de cobertura, porém, de que o time desfruta, sempre dá para sobrar uma farpa para um ragazzo.

Tendo que se preocupar não apenas com o Nets, mas também com Pacers, Bulls e, claro, Heat, para cumprir as expectativas (irreais?) de um tão cobrado título, o Knicks vai precisar de tudo o que Bargnani puder entregar. Nem que seja – pelo menos e quem diria? – simular o rendimento de um Novak na linha de três pontos. Nessa hora, não é mais o prestígio que conta. Mas, sim, a produção.