Vinte Um

Campeonato Paulista faz de tudo para afastar o torcedor mesmo durante as finais

Giancarlo Giampietro

De todos os campeonatos estaduais de basquete do Brasil, o Paulista é o único que se sustenta com diversos clubes de elite na disputa. É hoje basicamente o único vendável para a TV, sendo disputado em sua grande maioria por jogadores profissionais, atletas com passagens por seleção brasileira e muitos, mas muitos estrangeiros mesmo.

Posto isso, o que testemunhamos nesta temporada foi preocupante. Ainda mais quando nos concentramos apenas nos mata-matas, sua fase de definição e, por isso, sua fase mais importante. Se isso é o melhor que podemos fazer no momento, imagine…

Vamos lá. As duas primeiras partidas da final tiveram um nível técnico muito abaixo, algo desencorajador. Não tem como aliviar muito depois de considerar estes dados aqui: em 80 minutos de basquete, tivemos 65 desperdícios de posse de bola e 94 arremessos de três pontos por parte de Pinheiros e São José. E, tal como a série empatada por 1 a 1, a divisão desses quesitos também foi bem equilibrada entre as partes.

São números estarrecedores, gente: 0,8 erro e 1,15 chute de longa distância por minuto de jogo.

Aí chega a hora de assumir um desafio imenso, aquela hora de botar a cuca (do blogueiro) para funcionar. Tentem me acompanhar enquanto a máquina não funde. 🙂

Se, hipoteticamente, toda posse de bola fosse usada até o fim, usando os 24 segundos na íntegra, teríamos a média de duas posses e meia por minuto ou cinco a cada dois minutos. Mas claro que não é desta maneira que acontece. Existem contra-ataques que não levam nem dez segundos para ter sua conclusão, há aquelas investidas abreviadas por uma falta mais cedo resultando em lances livres e muitas outras variáveis. Então demos um desconto: que cada minuto tenha quatro posses de bola, num ritmo frenético (cada posse, aqui, levaria 15 segundos). Mesmo com esse ritmo acelerado, chegaríamos a uma conclusão de que metade delas (1,95) terminaria de modo previsível – ou com um chute de três, ou com a bola nas mãos do árbitro/torcedor/gandula/treinador/mesário/locutor… Em qualquer lugar, menos na cesta.

Pode procurar, mas vai ser difícil encontrar uma liga ou um torneio de elite em que esses números sejam um padrão. Ainda mais quando sabemos que, dos 94 disparos efetuados de fora, apenas 33 foram convertidos (35,1%). E nem importa: o padrão de jogo não muda, ganha quem erra um pouco menos, quem for um pouco menos tresloucado, e segue a vida.

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Não só como supervisora do estado em que hoje é mais profícuo na produção de clubes e, por consequência, jogadores, a FPB também tem uma boa parecela de responsabilidade nisso com seu calendário completamente desregulado. Estamos no dia 24, e sabe quantos jogos dos playoffs foram realizados em novembro? Quatro. Contando o terceiro jogo deste domingo, serão cinco partidas no mês. Que ritmo as equipes podem adquirir desta forma? E, mais importante, como educar e/ou cativar o torcedor quando você assiste a um jogo que já não é o melhor e você não sabe nem quando é o próximo?

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O presidente da CBB, Carlos Nunes, estava, digamos, escoltado por Rubén Magnano nesta segunda partida em São Paulo. Nada mais coerente.