Final Four da Euroliga: os brasileiros e os candidatos à NBA
Giancarlo Giampietro
Basicamente? A grande maioria dos jogadores que vão estar em quadra neste fim de semana pelo Final Four da Euroliga teria condições de fazer parte da rotação de um time de NBA. Alguns, como titulares. Outros? Completando o banco. Mas é inegável o talento. Vamos publicar alguns posts sobre o assunto, mas falando, claro, mais sobre a liga europeia do que a norte-americana.
Os brasileiros
– Marcelinho Huertas (Barcelona)
Médias gerais: 7,9 pontos, 3,4 assistências, 2,1 rebotes, 48,5% nos arremessos, 34,4 % de três pontos e 97,1% nos lances livres
O homem de confiança de Rubén Magnano nem sempre foi titular durante a grande campanha do Barcelona, mas isso, no fim, não quer dizer muita coisa. O técnico Xavi Pascual revezava sua escalação de acordo com o que o adversário apresentava. Em duelos com times de armadores mais fortes e agressivos, geralmente ele optava por Victor Sada, que está mais equipado para este tipo de embate. No geral, porém, Huertas foi quem recebeu mais minutos em 29 partidas: 582, contra 492 do espanhol.
Mais importante: o brasileiro ganhou sinal verde de Pascual para criar mais em quadra, ficando mais tempo com a bola em mãos – numa atitude que, para os padrões de um técnico extremamente controlador e detalhista, soa como revolução. Huertas pôde jogar mais em pick-and-roll, sua especialidade, e teve liberdade para, inclusive, fazer passes por trás das costas e buscar ponte-aéreas. Se até Pascual pode mudar nesse sentido, não vá se considerar você um caso perdido, ok? E deu certo: o Barça manteve sua consistência defensiva, mas elevou o padrão de seu ataque para dominar a competição. De resto, o armador talvez tenha só desejado um pouco nos chutes de fora, já que tem potencial para chutar na casa de 40% com tranquilidade, conforme fez nos últimos dois anos.
– Rafael Hettsheimeir (Real Madrid)
Médias gerais: 3,4 pontos, 2,1 rebotes, 0,3 tocos, 52,6% nos arremessos, 33,3% e 84,6% nos lances livres.
Olha, é complicado. Nosso anti-Scola assinou tarde com o Real Madrid (final de outubro), depois de negociar com alguns times da NBA, perdeu a pré-temporada por estar se recuperando de uma cirurgia no joelho e teve sempre de remar contra o prejuízo durante a temporada, tendo de se contentar basicamente em ser o último homem da rotação de grandalhões de Pablo Laso – atrás de Mirza Begic, Nikola Mirotic, Felipe Reyes e do americano Marcus Slaughter, todos atletas de ponta na Europa. Se em Zaragoza ele era a estrela da companhia, aqui, num elenco fortíssimo e milionário, foi apenas mais um.
O pivô teve média de apenas 8 minutos por jogo, mas não quer dizer que não tenha tido chances. Entre as rodadas 14 e 21 do Top 16, ele ficou fora de apenas de um jogo. Teve boas atuações contra o Panathinaikos e contra os pangarés da Alemanha, mas não foi o suficiente para ser promovido. Quando chegaram os playoffs, o técnico precisou acertar os ponteiros, e o pivô revelado em Ribeirão Preto acabou sacrificado: nas quartas, contra o Maccabi Tel Aviv, teve apenas 4min27s no total. Muito pouco para alguém de seu talento, mas não dá para chorar injustiça. O lance agora é aproveitar o tempo com a seleção, treinar forte e chegar revigorado para o próximo ano.
Os candidatos
Seguem alguns jogadores que, com a dupla brasileira acima, nunca passaram pela liga norte-americana e mereceriam alguma atenção no caso de algum clube de lá quiser um bom e sólido reforço. Não são apenas estes, claro. Vem mais lsita por aí.. Mas, em alguns casos, é preciso pagar: um cara como Pablo Prigioni só topou receber o mínimo pelo New York Knicks este ano porque não tinha mais desafios para sua carreira na Europa e queria encarar outra coisa. Hoje é titular da segunda melhor campanha do Leste.
– Victor Sada (Barcelona): olha ele aqui de novo! Sim, o espanhol de 29 anos tem sérias dificuldades para comandar um ataque que precise de um pouquinho de criatividade, vide seu tempo de quadra reduzido contra o Panathinaikos nas quartas de final. Diante de uma defesa robusta, que lhe tirava os espaços para infiltração, seu arremesso falho ficou exposto, sua confiança foi para o buraco, e Pascual, lutando pela sobrevivência, não teve outra coisa a fazer senão enterrá-lo banco. Mas, usando-o como um armador reserva – que, na verdade, é o seu status no Barça –, qualquer equipe estaria bem servida com esse barbudo, que é uma peste na defesa. Tem excepcional movimentação lateral e braços largos, atacando o drible dos adversários, ganhando só nessas investidas alguns segundos preciosos para sua defesa. Também é explosivo e joga acima do aro.
– Joe Ingles (Barcelona): utilizado de modo pontual por Pascual, não teve a temporada que se esperava depois de suas ótimas apresentações nas Olimpíadas. Mas isso tem mais a ver com a mesma encrenca que Rafael encontrou no Real, do que por incapacidade deste canhoto australiano. Ninguém simplesmente se apresenta a um Barça e acha que vai ser premiado com titularidade, vinho e mimos que só. Tem de lutar, e Ingles encarou durante toda a temporada a concorrência de um dos melhores alas do basquete europeu nos últimos anos, o americano Pete Mickeal. Quando o veterano foi afastado na reta final por conta de uma embolia pulmonar, Pascual teve de recorrer novamente a Ingles, de 25 anos. Aqui, estamos falando de um jogador com ótimo drible, capacidade para coordenar ações no pick-and-roll e ser até mesmo um segundo armador em quadra, bom arremessador e criativo na hora de partir para a cesta. Fica devendo na defesa.
– Jaycee Carroll (Real Madrid): tem um termo em inglês que soa muito bem, mas, quando traduzido, perde o charme: “instant offense from the bench”, ataque instantâneo saindo do banco. Com Carroll, de 30 anos, é assim mesmo. Em 21min36s de média, ele anotou 12,5 pontos por jogo, matando 54,6% nos tiros de dois pontos, 43,1% de três e 87,8% nos lances livres. Em toda a sua carreira, contando a quatro temporadas pela universidade de Utah State desde 2004, passando pela Itália e há um bom tempo na Espanha, ele chutou abaixo dos 40% da linha de três pontos em apenas um ano (2009-2010, pelo Gran Canaria). Pensem assim: é como se ele fosse um Steve Kerr 2.0, com capacidade de criar espaço para seu próprio arremesso, sem perder a eficiência no chute.
– Stratos Perperoglou (Olympiakos): o sonho de qualquer treinador dentre aqueles que não são craques. Perperoglou é um ala de 28 anos que sabe muito bem o que pode e, muitas vezes o que conta mais, o que conta o que não deve fazer em quadra. Se ele não tem a ginga de um Spanoulis ou de um Navarro, para que inventar? Faz seu jogo feijão com arroz, mas muito bem feito: excelente defensor em cima da bola e coletivamente, com ótimo porte físico para um ala (2,03 m e forte), disciplinado, combativo. No ataque, passa de lado e abre espaço. Não foi bem nos disparos de longa distância este ano, convertendo apenas 28,3%, mas tem média de 38,7% na carreira na Euroliga.
Os ‘draftáveis’
Aqui, os jogadores com idade para serem escolhidos no Draft da NBA, inscritos ou não. Para esse grupo de elegíveis, só valem os jogadores nascidos até 1991 (a turma que completa ou vai completar 22 anos).
– Alejandro Abrines (Barcelona): ou Alex, como preferir. Aos 19 anos, só foi acionado por Pascual durante a temporada quando a fatura estava liquidada. Até que o Barça perdeu Mickeal, e Pascual teve de procurar outras soluções. Chamou Abrines, não teve jeito. E o que o garotão me apronta? Como se estivesse com seu jogo represado, na última rodada do Top 16 ele anotou 21 pontos em exatos 21 minutos contra o Maccabi Tel Aviv e deu o recado para o professor: “Xácomigo!” Foi uma partida incrível mesmo de um ala com muita personalidade e agressividade no ataque, tendo bom arremesso e vocação para as infiltrações, a despeito do físico magricela. Contra o Panathinaikos, ele deu uma esfriada, mas não deixa de ser uma boa opção para um clube americano que pode selecioná-lo este ano e deixá-lo mais alguns campeonatos na Catalunha para desenvolvimento. Tem chances de entrar na primeira rodada do Draft.
– Marko Todorovic (Barcelona): ala-pivô de 20 anos e 2,08m nascido em Montenegro que também não foi muito utilizado por Pascual, mas que, ainda assim, teve mais tempo que Abrines. Algo natural para os homens de garrafão, considerando o possível acúmulo de faltas dos titulares. Quando acionado, Todorovic costumava entrar ainda é muito frágil fisicamente, mas demonstra agilidade e capacidade atlética incomum para seu tamanho. Candidato a sair na segunda rodada.
O Barcelona ainda tem em seu elenco o ainda mais jovem ala Mario Hezonja, croata de 18 anoso que nem poderia se inscrever neste ano, pela idade baixa. Hezonja é considerado como o mais promissor deste trio, como um cestinha nato.
* O Canal Sports+, da Sky, transmite nesta sexta-feira e no domingo todos os quatro jogos do Final Four da Euroliga. Divido os comentários com Ricardo Bulgarelli. A naração fica por conta dos companheiros Maurício Bonato, Ricardo Bulgarelli e Marcelo do Ó, como foi durante toda a temporada.