Vinte Um

Arquivo : Luol Deng

Com mais sufoco, seleção vence a 2ª, encaminha vaga, mas ainda segue aquém de seu potencial
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Giancarlo Giampietro

Tiago Splitter comemora vitória contra Grã-Bretanha

Tiago Splitter comemora vitória contra Grã-Bretanha. Ufa

Vocês queriam Olimpíadas? Então toma.

Melhor do que lamentar a ausência da seleção brasileira masculina em Londres-2012, é sofrer com os caras até o final? Por enquanto, vai desse jeito, mesmo.

Contra a Grã-Bretanha, equipe de Magnano mais uma vez não jogou bem no ataque, não encheu os olhos de ninguém – patriotada você não acha aqui, não –, mas sobreviveu com sua forte defesa contra um adversário bem inferior tecnicamente. Os britânicos acumularam 19 erros e converteram horrendos 38,9% nos arremessos.

Então a boa notícia fica sendo esta: duas vitórias em duas rodadas e a classificação muito bem encaminhada, mesmo que no sufoco. Basta mais um triunfo em três jogos para assegurá-la.

Que mais tem nessa linha?

– Nunca vi Leandrinho defendendo com tanta entrega, determinação e inteligência assim. O ligeirinho foi muito mal no ataque no começo de jogo, mas segurou seu ímpeto nos quartos seguintes e deve estar morto agora de tanto correr atrás de Luol Deng. Repararam? O ala do Chicago Bulls, faz-tudo dos britânicos, passou diversas posses de bola sem nem participar do ataque porque o brasileiro se colocava na frente da linha de passe de maneira insistente. Foi um desempenho fundamental para suprir a ausência de Alex, afastado por faltas.

Alex segura Luol Deng no rebote

Deng teve problemas contra Alex e Leandrinho

– Marquinhos ganhou seu merecido espaço na rotação e foi uma força estabilizadora para o ataque brasileiro a partir do terceiro período. Pode ter cometido dois turnovers nos minutos finais do quarto período, pisando na linha lateral, mas o segundo deles foi mais pelo passe na fogueira de Nenê. De resto, acompanhado de Larry ou Huertas, o ala ajudou a equipe a cadenciar um pouco a partida (mesmo chutando 3/10(, passando mais a bola e também partindo para dentro para quebrar a defesa britânica. Seus números de 8 pontos, 4 rebotes e 2 assistências não contam exatamente sua importância no embate.

– Larry também conduziu bem o jogo no segundo quarto, dando um descanso providencial para Huertas. Foram nove minutos nada brilhantes, mas consistentes. E é disso que precisamos vindo de nosso armador reserva. (Raulzinho, em compensação, deve demorar para retornar.)

– Tiago Splitter teve um jogo de “sai, uruca”. Soube se posicionar bem no garrafão e foi devidamente municiado por Huertas no segundo tempo para terminar a partida como seu cestinha 21 pontos, com várias bandejas.

Essa foi a parte positiva da coisa, para se construir em cima.

Deve-se aplaudir a eficiência do time para segurar ótimos jogadores como Luol Deng e Joel Freeland. Mas que fique bem claro: eles não são os adversários mais qualificados que enfrentarão daqui para a frente se estiverem pensando realmente em pódio. Se Pops Mensah-Bonsu causou problemas em determinados momentos, que fiquemos beeeem ligados quando estiverem do outro lado Pau Gasol, Juan Carlos Navarro, Manu Ginóbili, Luis Scola, Sarunas Jasikevicius, Nicolas Batum, Andrei Kirileko, e… Ficamos por aqui, ok?

Em duas partidas, para somar duas vitórias, o Brasil enfrentou dois quintos da parte mediana da tabela. Nesse nível, ainda falta a China. Mas com uma terceira rodada diante da Rússia e a quinta contra a Espanha, o torneio vai apertar.

Contra times deste porte, não dá para marcar apenas quatro pontos num quarto. Não dá para repetir a atuação do primeiro tempo de modo algum. Haja “nervosismo” até lá para dar conta disso. Pressão existe em todo jogo olímpico? Se assim a seleção permitir.

Enterrada de Nenê

Um dos três “chutes” de Nenê no jogo

Acertar apenas três chutes em 22 tentativas de longa distância é algo que deve ser riscado de qualquer caderninho técnico. E dessa vez a sangria toda não tem o álibi chamado Marcelinho Machado, limitado a apenas dois minutos de ação.

Precisa realmente demorar mais de dez minutos de jogo, numa segunda rodada olímpica, para entender que nosso ataque funciona muito melhor quando se busca a infiltração? A partir do momento em que Huertas, Larry e Marquinhos “colocaram a bola no chão”, se assentaram em quadra, os pontos de Splitter começaram a surgir. No segundo tempo, quando este passou a ser o padrão ofensivo, marcamos 40 pontos, 13 a mais do que na primeira etapa.

Então ficamos assim momentaneamente: um ataque avariado sustentado por um empenho defensivo pouco visto na história deste país, contra adversários fortes, sólidos, mas não os mais temerosos de toda a competição.

Vamos vencendo sofrendo, valendo os mesmos pontos na classificação, mas, para cumprir qualquer que seja o nosso potencial, falta muito.


EUA atropelam Grã-Bretanha, mas cuidado com a informação
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Giancarlo Giampietro

Essa vai “para o pessoal que acompanha muito o basquete e para os que não acompanham tanto” – e para os que tiveram a chance de acompanhar pela TV fechada o amistoso entre Grã-Bretanha, nossa adversária de primeira fase nos Jogos de Londres-2012, e os Estados Unidos.

Devido a imprevistos aqui no QG 21, conseguimos pegar a transmissão apenas pela metade, do início do segundo tempo adiante. Mas foi o suficiente para colher algumas informações que merecem retificação:

Chris Mullin, Warriors

Mullin chutava demais, mas foi Bird quem venceu vários torneios de três pontos. Foi ele quem defendeu o Pacers

– o New Orleans Hornets teve a primeira escolha do Draft deste ano, mas isso não quer dizer que eles fizeram a pior campanha da temporada passada. Foram os últimos no Oeste, mas superaram Charlotte Bobcats, Washington Wizards e Cleveland Cavaliers no geral. Isto é, nem sempre o pior time do campeonato vai ficar com a melhor escolha do Draft: ele é simplesmente aquele que tem mais chances de pular para primeiro;

– Kobe Bryant não foi o primeiro do Draft em seu ano – saiu em 13º – e não foi escolhido pelo Lakers. Quem fez a seleção foi o então Charlotte Hornets, que depois o repassou para a franquia californiana em troca do pivô sérvio Vlade Divac. Ok, podemos até aceitar que já estava tudo acertando entre as franquias, mas, pelo modo que foi colocado, deu a impressão de que a poderosa franquia havia naufragado no campeonato anterior e, por isso, ganhou o espetacular ala como recompensa. Não foi isso;

– Chris Mullin era um exímio chutador de longa distância, especialmente da zona morta, mas nunca venceu sequer uma disputa do torneio de três pontos do All-Star Game da NBA. Seu companheiro de Dream Team, Larry Bird, faturou as três primeiras edições do evento;

– Christian Laettner, único jogador universitário selecionado para o Dream Team original, jogou por Minnesota Timberwolves, Atlanta Hawks, Detroit Pistons, Washington Wizards, Miami Heat e até pelo Jacksonville Giants, da ABA, mas nunca pelo Indiana Pacers. Chris(topher) Mullin, sim, atuou pelo Pacers na final de sua carreira;

– Russell Westbrook é um tremendo de um atleta, mas nunca “passou” pela posição 5 no confronto com os britânicos. Ele pode ter cruzado o garrafão diversas vezes durante a partida, mas não há um “5” marcado na zona pintada.

– Ainda dentro do mito do “cincão” do basquete, esse jogador não precisa necessariamente jogar “paradão” no garrafão. Nem Manute Bol, com 2,31m de altura, ficava estacionado ali, acreditem.

Desculpem, pode parecer arrogância do blogueiro, que nem gosta de atuar como ombudsman de nada – o trabalho produzido aqui pode estar sujeito ao maior número possível de erros também, mas ao menos os internautas estão aí, alertas, para corrigir, reclamar e achincalhar.  O mesmo blogueiro não conhece em detalhes 50% da Grã-Bretanha que está prestes a enfrentar o Brasil nas Olimpíadas – sem estudar, não vou me meter a inventar nada agora sobre o Andrew Sullivan, podem ficar tranquilos –, mas existe situações em que é melhor apenas relatar do que informar. Pensando em quem acompanha e em quem está por fora.

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Deron Williams, Team USA

Deron teve vida muito mais fácil em Manchester

Sobre o jogo em si, as bolas de longa distância dos norte-americanos caíram muito mais do que aconteceu contra os brasileiros, mas muitas delas aconteceram em transição, totalmente livres, coisa que não aconteceu na segunda-feira. Pois Magnano armou seu time de modo a limitar ao máximo os contra-ataques norte-americanos, principal trunfo deles na busca pelo bicampeonato olímpico.

O Brasil não possui os mesmos atletas que Coach K tem a seu dispor, mas vem baseando muito de seu jogo nessa fase preparatório, e no Pré-Olímpico do ano passado também, em uma defesa adiantada, botando presão em cima da bola. O ponto fraco da seleção anfitriã das Olimpíadas fica por conta justamente de seus armadores. Luol Deng, ainda mais no sacrifício, não vai poder fazer tudo pela equipe, ainda mais se Alex conseguir dar uma boa canseira nele aqui e ali – as chances de que Marcelinho e Marquinhos consigam lidar com ele no mano-a-mano são mais reduzidas.

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Os pivôs britânicos são sólidos, fortes, alguns pesados, outros mais atléticos. Joel Freeland está no meio termo e merece cuidado, tendo refinado seu jogo na mesma Espanha que formou Splitter. Já Nana Papa Yaw Dwene Mensah-Bonsu, mais conhecido simplesmente como Pops Mensah-Bonsu, primo do Kojo Mensah, agora do Flamengo, também deve de ser vigiado, fazendo parte da turma daqueles que correm bastante, atacam os rebotes ofensivos, com muita energia. Em condições CNTP, porém, não creio que representem alguma ameaça grave ao nosso trio da NBA.