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Arquivo : Andre Miller

Jukebox NBA 2015-16: Enquanto o Spurs ainda puder ver a luz
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Long as I Can See the Light”, por Creedence Clearwater Revival

Para falar de um clássico da NBA, nada como ouvir outro. Que, enquanto a luz estiver acesa, visível, não parece que o San Antonio Spurs vá embora tão cedo.

Seja pela possibilidade real de quebra do recorde histórico de vitórias do Bulls de 1996, ou pelos lances inacreditáveis de Stephen Curry, uma coqueluche mundial, é natural que o noticiário, que o apelo popular e que, por consequência, o marketing se concentre no Golden State Warriors nestes dias. Mas basta uma consulta na tabela – e em uma ou outra seção estatística importante – para o povo em geral se dar conta de que a rapaziada de Gregg Popovich está logo ali, pertinho, à espreita, pensando seriamente num sexto título para a franquia.

Quatro derrotas separam o líder do vice-líder do Oeste. Para um time com o padrão do Warriors, pode parecer uma vantagem razoável. Acontece que os dois times ainda vão duelar mais três vezes nesta temporada. Aliás, na lista de argumentos para se crer em um recorde para os californianos, a consistente perseguição do Spurs tem de estar lá no topo, pelo fato de o Warriors (ainda!) precisar lutar para assegurar o mando de quadra nos playoffs. Ainda vai levar alguns dias para que Steve Kerr se sinta tranquilo e confiante em poupar jogadores que não estejam contundidos ou lesionados. Vide a escalação de Draymond Green nesta segunda, contra um enfraquecido Orlando Magic, mesmo que o pivô, figura essencial ao seu esquema, estivesse doente e tenha tomado uma injeção durante o dia.

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Além dos confrontos diretos, há outro ponto para Pop considerar: desde o intervalo do All-Star, o Golden State se mostra relativamente vulnerável. Seja por cansaço, pressão pela busca do recorde, ou, no outro extremo, por relaxamento e “complacência” (nas palavras de Kerr) por acreditar flertar com a invencibilidade, o atual campeão deixou sua antiga fortaleza defensiva ruir nas últimas semanas. Em 10 jogos, só segurou um time abaixo dos 100 pontos: o Atlanta Hawks. Por outro lado, são sete partidas em que os oponentes passaram dos 110 pontos. Seu técnico está ligeiramente preocupado, com toda a razão.

Muita coisa já aconteceu desde as finais. Kawhi assumiu o controle do time

Muita coisa já aconteceu desde as finais. Kawhi assumiu o controle do time

Em San Antonio, proteger a cesta não é problema. A equipe tem a defesa mais eficiente da temporada, com muita folga.  Os 3,8 pontos que a separa do Alanta Hawks, cobrem a distância entre o terceiro colocado (Indiana Pacers) e o 16º (Orlando Magic). Ao contrário da maioria das equipes de Chicago dirigidas por Tom Thibodeau ou dos Pacers de Frank Vogel, a equipe também tem um ataque muito perigoso, sendo o terceiro mais qualificado da liga, abaixo de Warriors e Thunder. Esse equilíbrio deixa o Spurs com o maior saldo por 100 posses de bola (13,2), acima novamente do Warriors (11,7). Os dois times estão numa categoria à parte nesse quesito. O Thunder, para termos uma ideia, vem em terceiro, com 6,7. O Cavs, em quarto, com 5,9.

Está certo: precisamos lembrar que, no único duelo entre os líderes até aqui, o Spurs não teve nenhuma chance. O jogo já havia acabado no segundo período. O que atestou a superioridade naquele momento, mas, ao mesmo tempo, indica que foi um confronto atípico, sem que os visitantes texanos tivessem incentivo para correr atrás do prejuízo e, no caminho, dar algumas dicas do que pretendem fazer em uma eventual final de conferência.

No longo prazo, os indicativos do Spurs são tão ou mais relevantes que este primeiro jogo, assim como as recentes dificuldades encontradas por seu adversário. Não por acaso, existem projeções estatísticas que já apontam hoje o time de Kawhi Leonard (top 5 na votação para MVP, por favor) como o maior favorito ao título. Há divergências entre diferentes modelos, e todos eles obviamente não se equivalem a ciência exata, mas é algo a ser levado em conta: os números põem ambas superpotências num mesmo nível, bem distante da concorrência.

Então é isso: a luz parece nunca apagar para Duncan, Ginóbili e Parker, mesmo que mesmo que, para os dois mais veteranos (Timmy está com 39, Manu, 38), os minutos estejam mais controlados do que nunca. O tempo de quadra do pivô está na casa de 25 minutos em média, enquanto o do argentino não passa nem dos 20. Em minutos totais, seja por lesão ou precaução, os dois são, respectivamente, apenas os sexto e nono no ranking do time na temporada, abaixo de Patty Mills.

LaMarcus faz um estágio avançado com Timmy

LaMarcus faz um estágio avançado com Timmy

A receita é mesma: preservá-los para os jogos que mais importam e, ao mesmo tempo, turbinar a confiança dos mais jovens, encontrar o espaço certo de LaMarcus Aldridge e oficialmente entregar as chaves do reino a Kawhi Leonard. Com a frieza e clareza de sempre, Pop faz tudo funcionar de modo harmonioso. Encontrou oportunidades até para Boban Marjanovic virar um herói cult nos Estados Unidos (alastrando sua cruzada científica para provar que, sim, há lugar para dinossauros no basquete, contrariando a teoria da evolução).

Agora, nas últimas semanas de temporada, uma das tarefas do técnico será integrar os contratados no mercado de “buyouts”, Kevin Martin e Andre Miller, um alvo surpreendente. Para fechar com o veterano armador, o clube dispensou um jogador mais jovem, de futuro, como Ray McCallum. Martin, desde que aprovado em exame médico, deve forçar a saída de Rasual Butler. Ou Matt Bonner? Imagino que Butler, até por ser da mesma posição e por questões de química.

Não é a primeira vez que a gestão Popovich/R.C. Buford opta por esse tipo de negociação. Boris Diaw chegou ao clube durante a temporada 2011-12 desta forma, depois de irritar Michael Jordan até não poder mais. Lembro de mais dois casos abaixo, na seção dos “cards”. Tem mais.

A contratação de Martin não se questiona. A ele deve caber o papel desempenhado por Gary Neal e Marco Belinelli em campanhas passadas, dando ao ataque mais um letal arremessador. Essa vaga na rotação perimetral hoje é ocupada pelos promissor Kyle Anderson, que progrediu muito durante a campanha, e Jonathon Simmons, desses achados dos scouts de San Antonio. É um novato viajado, de 26 anos, que tem uma história incrível até chegar ao basquete profissional. Os dois são talentosos, bastante diferentes entre si, mas crus ainda e, principalmente, não têm chute.

Miller: Popovich afirma que sempre quis tê-lo no time. Mas tarde assim?

Miller: Popovich afirma que sempre quis tê-lo no time. Mas tarde assim?

Quanto a Miller…  O cara foi um dos armadores mais regulares das últimas duas décadas, causando impacto no ataque com sua criatividade para abastecer os companheiros e a habilidade no post up contra oponentes pouco habituados a esse tipo de ataque. Só faz muito tempo que ele não consegue frear ninguém que o ataque frontalmente ao aro. Tampouco representa uma ameaça nos arremessos de longa distância, com aproveitamento a de 21,7% na carreira. Com Parker e Mills, não há espaço na rotação. Será mais  uma voz experiente no vestiário do que qualquer coisa – é o jogador mais velho da NBA, com 37 dias a mais que Duncan, vejam só. Mas precisava, num time tão tranquilo, seguro e viajado? Numa hipotética situação de emergência nos playoffs, ele poderia receber boa carga de minutos? É mais difícil de entender. Mesmo se McCallum não tenha agradado a Pop e Buford, não havia uma alternativa mais interessante na D-League para assumir essa vaga?

Antes de Miller, vale lembrar que o Spurs também fez sondagens a Anderson Varejão, e as dúvidas que surgiram a partir desse interesse foram as mesmas: qual seria o papel do brasileiro, ainda mais com um pivô tão qualificado como Marjanovic e o atirador Bonner fora de quadra, aguardando escassas oportunidades?

O que se sabe é que o clube texano, com esses movimentos, decidiu ir com tudo, de “all in” ao mercado de veteranos. Especulação da minha parte: será por entenderem que chegou, enfim, o momento de despedida, de saideira para Duncan e Ginóbili (e seus detalhes contratuais também dão indícios)? Para tentar se cercar, então, com o máximo possível de veteranos, aqueles que, em tese, erram menos durante um jogo e despertam mais confiança dos técnicos.

Na letra do genial John Fogerty, o narrador pede uma vela acesa na janela, que estava preparado para seguir em frente e caminhar por aí, à deriva, mas preparado para voltar e se sentindo protegido, desde que a luz ainda esteja lá. Enfim. Talvez seja essa a última temporada ou não dessa histórica dupla? Talvez, para eles, tenha chegado a hora de apagá-la. Não sem antes tentar o título novamente.

Buford e Pop vão abastecendo o elenco do Spurs. Com criatividade e pré-requisitos

Buford e Pop vão abastecendo o elenco do Spurs. Com criatividade e pré-requisitos

A pedida? O sexto título da era Duncan-Pop. Era tudo o que Kobe Bryant queria: levar a conta de anéis de campeão da liga à outra mão, igualando Michael Jordan. Desde que se despediu de Phil Jackson, porém, o ala nunca chegou nem perto disso. Duncan, bem mais discreto, tem sua (última?) chance. Para Ginóbili e Parker, a conta chegaria a cinco. Matt Bonner, três. 🙂 Kawhi e Green, dois. Excelência é isso.

A gestão: acho que não precisamos nos estender muito aqui, né? Todo mundo já escreveu a respeito. A prévia do ano passado bateu novamente nessa tecla, para tentar entender esse prolongado sucesso. Aqui, um texto que mostra como esses caras conseguem construir timaços mesmo estando num mercado insignificante do ponto de vista financeiro e de badalação. Basta fazer scout e ter a cabeça no lugar.

Então vamos recuperar uma das aspas que mais fez sucesso nesta temporada, numa cortesia de Popovich, ao falar pela trigésima vez sobre o que eles valorizam num processo seletivo, seja para técnicos, jogadores ou jardineiros:

Boban é gigante, joga muito e tem senso de humor

Boban é gigante, joga muito e tem senso de humor

“Para nós, é fácil. Estamos procurando caráter, mas o que diabos isso significa? Estamos procurando por pessoas – e já disse isso muitas vezes – que já passaram da fase de se acharem mais importantes que tudo, e isso você consegue sacar bem rápido. Você pode falar com alguém por quatro ou cinco minutos, e dizer se eles só pensam em si, ou se eles entendem que são uma peça no quebra-cabeça. Senso de humor é algo muito importante para nós. Você tem ser capaz de rir. Tem de saber brincar e ouvir brincadeira. E precisa entender que não tem todas as respostas. Queremos pessoas que são participativas. Os caras na análise de vídeo podem me dizer o que acham do nosso jogo da noite passada. (O ex-assistente e agora novo gerente geral do Brooklyn Nets) O Sean Marks se sentava nas reuniões dos técnicos quando estávamos discutindo sobre como defender o pick-and-roll e quem jogaria ou ficaria no banco.”

“Precisamos de pessoas que consigam absorver informação e não levar isso pelo lado pessoal porque na maioria dos clubes você pode ver que há uma grande divisão. De repente, constrói-se um muro entre a diretoria e os técnicos, e todos ficam prontos para culpar uns aos outros. Essa é a regra em vez da exceção. Acontece. Mas isso tem a ver com as pessoas. Tentamos encontrar pessoas que possuam todas essas qualidades. Fazemos nosso melhor nesse sentido e, quando alguém chega, vai entender na hora.”

Olho nele: Danny Green

Spurs precisa de Green confiante

Spurs precisa de Green confiante

O Spurs tem o terceiro ataque mais eficiente da temporada, atrás de Warriors e Thunder, e Green, fundamental para espaçar a quadra, nem está jogando o que pode. Para vermos o quão forte é o elenco de Pop. Depois de assinar uma extensão contratual de US$ 40 milhões, dando um desconto ao clube, o ala não encontra seu ritmo nos arremessos de três. Seu aproveitamento de 35% não é ruim, em relação ao que se pratica na liga, mas é muito baixo quando comparado ao que ele atingiu em sua carreira. É o menor percentual desde a temporada de calouro em Cleveland (27,3%), há seis anos, quando ainda estava em formação, em tempos que admitia não treinar tanto assim, se achando o maioral ao sair de uma universidade como a de North Carolina, tão tradicional. Em fevereiro, ele chegou a 49,1% em 53 arremessos. Nos últimos três jogos já em março, porém, acertou só um arremesso em 12. O especialista Chip Engelland, que ajudou Splitter a reconstruir seu lance livre, só espera que a pequena amostra recente seja só um soluço.

Nos playoffs, Green tem média de 42,9% nos tiros exteriores durante a carreira. O interessante é notar que seu aproveitamento acaba servindo como um dos termômetros de campanha do Spurs pela fase decisiva. Em 2013 e 2014, acertou, respectivamente, 48,2% e 47,5%. Por pouco, muito pouco (leia-se: uma bola milagrosa de Ray Allen), o time não levou o caneco duas vezes.  Para comparar, em 2012 e no ano passado, ficou na faixa de 34,5% e 30%. Obviamente que esse não é o único fator que possa derrubar o time. Mas o ala tem sua importância. Quando seu chute cai com elevada frequência, Popovich tem o luxo de contar com uma dupla de atletas que contribuem dos dois lados da quadra o tempo todo, algo que faz diferença. Você não precisa abrir mão da defesa para azucrinar o adversário.

glenn-robinson-card-2006Um card do passado: Glenn Robinson. Reparem que o ala veste um uniforme preto, mas não o do Spurs, e, sim, o do Philadelphia 76ers, pelo qual iniciou a temporada 2004-05. Era só mais uma das muitas tentativas fracassadas do clube de emparelhar com uma segunda (suposta, ou não) estrela com Allen Iverson – Keith Van Horn, Chris Webber, Derrick Coleman, Jerry Stackhouse, Toni Kukoc, entre outros foram testados sem sucesso. Só Dikembe Mutombo, totalmente voltado para a defesa, funcionou de verdade.

Naquele ano, Robinson foi trocado no dia 24 de fevereiro para o New Orleans Hornets, que apenas queria se livrar dos salários de Jamal Mashburn e Rodney Rogers. No início de março, já foi dispensado, ficando livre, então, para assinar com qualquer time. Escolheu o Spurs, numa contratação, pensando hoje, estranha para os padrões da franquia. Escolha número um do Draft de 1994, superando Jason Kidd e Grant Hill, Robinson foi um produtivo cestinha em sua carreira, mas nunca se confundiu como um passador, como alguém que priorizasse o sucesso de seu time em detrimento de seus números.

Em San Antonio, teve tempo de fazer nove partidas pela temporada regular e mais 13 pelos playoffs, saindo do banco com papel reduzido, só para completar a rotação com Manu Ginóbili, Bruce Bowen e Brent Barry. Ficou fora de oito jogos pelos mata-matas e teve média de 8,7 minutos. Pouco, mas valeu o único título de sua carreira, antes de se aposentar. Tracy McGrady, que passou pelo mesmo expediente em 2013, não teve tanta sorte. São as vantagens de se ter um time de ponta, sempre. Os veteranos carentes de título querem participar também.


Mo Williams e o clube improvável dos 50
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Giancarlo Giampietro

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Wilt Chamberlain era uma aberração tamanha que, com a camisa do Philadelphia Warriors, marcou 100 pontos numa só partida, contra o New York Knicks, no dia 2 de março de 1962. Ninguém jamais chegou perto dessa quantia centenária – a não ser que dê para considerar o déficit de 19 pontos do recorde pessoal de Kobe Bryant, atingido contra o Toronto Raptors em 22 de janeiro de 2006, como algo mínimo.

Aspirar a 100 pontos num jogo de NBA hoje, sabemos, é algo quimérico. Se for para atingir a metade disso, porém, muda o cenário, não? OK: ninguém vai falar que é fácil terminar um jogo com cinquentinha. Mas em diversas ocasiões a marca já foi batida, a ponto de ter se tornado uma “meta clássica”. Uma soma que define um clube famoso, do qual participam grandes cestinhas como Wilt, Jordan, Baylor, Kobe, Iverson, Wilkins, Malone, Carmelo, entre outros.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Mas, de acordo com a lei do randômico, do sonhar-é-possível, numa liga que filtra os melhores atletas do mundo, recursos não faltam para um ou outro penetra entrar nesse grupo. Como acabou de fazer o armador Mo Williams, ao anotar 52 pontos na tão esperada vitória do Minnesota Timberwolves sobre o Indiana Pacers, terça-feira.  Quem poderia esperar por um evento desses? Ricky Rubio certamente, não. Muito menos LeBron, que teve em Williams seu principal parceiro de ataque em sua primeira passagem por Cleveland.

Quebrando um galho no revezamento com o jovem Zach Lavine desde a lesão de Rubio, Williams tinha média de 11 pontos por partida na temporada. Hoje tem 12,4. Aos 32, ele se tornou o quarto mais velho da história a se tornar um outro tipo de cinquentão.

O mais legal: a maior fonte de pontos para o armador na partida contra o Pacers foi justamente aquela bola que é julgada como a mais ineficiente da NBA nestes tempos, o tiro de média distância. Para deixar claro, no jargão da liga, o arremesso de média é todo aquele que não sai dentro do garrafão ou além da linha de três pontos. Nesta zona intermediária expandida, ele converteu 11 de 19 arremessos. Foi o máximo que um jogador conseguiu converter durante todo o campeonato, e bem acima de sua própria média de apenas dois cestas dali por partida.

O jogador natural de Jackson, no Mississipi, viveu seu auge entre 2005 e 2009, ano no qual, escoltando LeBron, foi eleito para o All-Star Game. Nas três campanhas, teve média superior a 17 pontos por partida (naquela temporada, chegou a marcar 44 e 43 pontos em vitórias, respectivamente, sobre Phoenix e Sacramento). Desde então, porém, sua cotação só caiu, lhe restando um papel que realmente é o mais indicado para suas características: um armador fogoso vindo do banco de reserva. Função que executou tão bem pelo Blazers no campeonato passado. Em Minnesota, numa jovem equipe, parece deslocado. Ao menos sua jornada inesquecível valeu para encerrar uma sequência de 15 reveses do time de Andrew Wiggins.

No geral, Maurice converteu 19 de 33 arremessos de quadra. Quando viu que era dia, brincou com os orgulhosos defensores de Indiana de que não adiantaria marcá-lo, já que ele estava com a sensação de que a cesta tinha a largura do Oceano Pacífico. Com essa confiança toda, não só ele estabeleceu seu recorde pessoal e o recorde de pontos da temporada 2014-2015, como também garantiu ingresso no clubinho alternativo dos 50 pontos, se juntando a mais algumas figuras que jamais apareceriam como favoritos numa casa de apostas.

Vejamos:

Terrence Ross, 51 pontos, 2014: o ala do Raptors foi a referência automática para completar as notas sobre Mo Williams, já que havia sido o caso improvável mais recente, depois de ter marcado 51 pontos contra o Los Angeles Clippers na temporada passada, igualando o recorde da franquia, antes pertencente a Vince Carter. Ele era o jogador com a menor média de pontos até se tornar um cinquentão, com 9,3 pontos  – sendo que sua principal marca havia sido de 26 pontos. Muitos consideram a explosão de Ross como a mais bizarra, por isso. Abaixo, vejo casos mais estranhos, especialmente pelo fato de Ross ser tão jovem (hoje tem 23, mas eram 22 anos quando realizou a melhor partida de sua vida). Ainda não sabemos aonde vai parar a carreira do talentoso ala, desses raros caras que poderia vencer tanto um torneio de 3 pontos como de enterradas. Ah, uma coisa: seu time perdeu mesmo assim, por 126 a 118. Ao final da partida, ele ouviu de Jamal Crawford: “Bem-vindo ao clube dos 50 pontos”. O ala-armador chegou a fazer 52 contra o Miami Heat em 2007 – mas não entra nessa lista, já que é um cestinha prestigiado em toda a liga.

Andre Miller, 52 pontos, 2010: o armador é um baita jogador, não há dúvida. Mas nunca foi reconhecido como um perigoso pontuador de mão cheia, né? Sua fama é muito maior como a de organizador de jogadas (chegou a liderar a NBA em assistências em 2001-02, com 10,9), o que, aos 38, ainda lhe rende um bom emprego como reserva de John Wall em Washington. Pois com a camisa do Portland Trail Blazers, clube no qual não agradou tanto assim, aliás, aos 33 anos, ele destroçou a defesa do Dallas Mavericks, aproveitando seu tamanho, força e inteligência no jogo de pés de costas para a cesta, para liderar uma vitória bastante apertada: 114 a 112, com prorrogação. Foram 25 pontos entre o quarto final e o tempo extra, para ele ficar a dois pontos do recorde da franquia estabelecido por Damon Stoudamire. Sua média era de 12,6 pontos até então. No duelo com os texanos, Miller deu apenas duas assistências.

Brandon Jennings, 55 pontos, 2009: o armador já havia causado sensação nos Estados Unidos ao abrir mão do basquete universitário para jogar uma temporada na Itália, antes de entrar na NBA. Quando chegou ao Milwaukee Bucks, empolgado e tentando mostrar serviço (já era muito questionado pelos scouts naquela época…), causou estragos imediatos, marcando um mínimo de 24 pontos em sete de seus primeiros 11 jogos. O melhor deles foi contra o Golden State Warriors em 14 de novembro de 2009, na mesma temporada de Miller. Foram 21 cestas de quadra em 34 tentativas, incluindo 7-8 nas bolas de longa distância. Ele também deu cinco assistências. Em sua carreira, porém, ele nunca passou da média de 40% nos arremessos de quadra numa temporada e converte 35,1% nos tiros de três. Agora é Stan Van Gundy quem tenta canalizar o potencial do irregular armador em sua arrancada em busca dos playoffs com o Detroit Pistons.

Tony Delk, 53 pontos, 2001: num Phoenix Suns dirigido por Scott Skiles, com Jason Kidd e Penny Hardaway no elenco, foi Tony Delk, de 27 anos e campeão universitário por Kentucky nos anos 90, quem arrebentou com a boca no balão contra o emergente Sacramento Kings no dia 2 de janeiro, começando o ano novo com tudo. Dos 27 arremessos que tentou, errou apenas sete  (74% de aproveitamento) – e nenhum deles foi de longa distância. Matou também 13 de 15 lances livres, para compensar. Ainda assim, o Suns foi derrotado na capital californiana, na prorrogação, com ótima atuação da dupla sérvia Stojakovic e Divac, que somaram 77 pontos. Um ano depois, ainda com a fama de cestinha vindo do banco, Delk seria trocado para um impaciente Boston Celtics, que mandou um jovem ala chamado Joe Johnson para o Arizona… O veterano deixaria a histórica franquia em 2003, tendo ao menos ajudado o time de Paul Pierce e Antoine Walker a alcançar dois playoffs – em 2002, perderam a final do Leste para o Nets. Aos 32, ele viu sua carreira se encerrar, pelo Detroit Pistons, anotando 182 pontos, no total, na campanha 2005-06.

Clifford Robinson, 50, 2000: Robinson comandou o Phoenix Suns num triunfo sobre o Denver Nuggets, por 113 a 100, convertendo 17 de 26 arremessos em 43 minutos. Isto é, sozinho, anotou metade dos pontos do time adversário, que contava com Antonio McDyess em seu auge atlético, mais Raef LaFrentz, Popey Jones e Keon Clark na sua rotação de grandalhões. Robinson fez uma grande campanha em 1999-2000, passando da casa de 20 pontos em 28 ocasiões. Não foi uma jornada isolada: numa carreira que durou 17 anos, ele teve médias de 14,2 pontos por jogo e foi eleito para o All-Star e ganhou o prêmio de 6º homem da liga em 1993, com a camisa do Blazers, clube pelo qual foi vice-campeão da NBA em duas ocasiões. Nessa época, teve média superior a 20 pontos por quatro temporadas. E o que está fazendo aqui, então? É que, pelo Suns, o ala-pivô já estava bem longe de seu auge e se tornou o segundo jogador mais velho na história a marcar 50 pontos num jogo, aos 33 anos e 31 dias, atrás apenas de Andre Miller. Quando se aposentou em 2007, tinha 1.380 partidas de temporada regular em seu currículo, a nona maior rodagem da liga.

Tracy Murray, 50, 1998: com um nome comum desses, é bem capaz de Murray ter passado despercebido para o fã casual de NBA na década de 90. Até se esbaldar contra a fraquíssima defesa do Golden State Warriors em fevereiro de 1998, o arremessador talvez fosse mais famoso por ter sido incluído numa troca entre Blazers e Rockets que o mandou, em fevereiro de 1995, para Houston ao lado de Clyde Drexler, para ser campeão pela franquia texana. Reservão na turma de Tomjanovich, se tornou na temporada seguinte um membro fundador do Toronto Raptors. Num time fraco, conseguiu a maior média de sua carreira, com 16,2 pontos por partida. Com moral, assinou com o Washington Bullets em 1997, como agente livre. Aproveitando-se da ausência de Chris Webber e Juwan Howard, chamou a responsabilidade no ataque do técnico Bernie Bickerstaff e, em 43 minutos, converteu 18 de 29 arremessos contra um Warriors – que, vejam só, tinha Tony Delk no time titular. Murray jogou sua última partida de NBA em 2003, de volta ao Blazers, aos 32 anos, se despedindo com aproveitamento de 38,8% nas bolas de três e 9,0 pontos.

Dana Barros, 50 pontos, 1995: num decadente Philadelphia 76ers, o baixinho de 1,80 m (oficialmente, claro), viveu, de longe, seu melhor campeonato em 1994-95, sendo eleito de modo surpreendente até mesmo para um All-Star Game, com médias de 20,6 pontos e 7,5 assistências. Era seu segundo ano na Filadélfia, depois de ter passado quatro anos como reserva de Gary Payton e Nate McMillan no Seattle SuperSonics. Sua grande atuação aconteceu contra o Houston Rockets, justamente o campeão, torturando Kenny Smith e Sam Cassell –  e de nada adiantou, já que seu time foi surrado por 136 a 107. Outro que se valorizou bastante com a marca clássica em seu currículo, integrante da comunidade de ascendência cabo-verdiana de forte presença em Massachusetts, assinou, então, um belo contrato com o Boston Celtics, clube no qual ficou até 2000, sem, no entanto, repetir o sucesso. Depois de duas temporada pelo Pistons, voltou ao Celtics em 2003 para se aposentar da liga americana aos 36, com um único jogo.

– Willie Burton, 53 pontos, 1994:  o ala foi mais um a se aproveitar do elenco fraquíssimo do Sixers naquela temporada, ganhando um volume ofensivo impensável. Quando foi selecionado pelo Miami Heat na nona colocação do Draft de 1990, vindo da Universidade de Minnesota, prometia mais, mas acabou jogando por apenas oito temporadas na NBA, com média de 10,3 pontos e 42,4% de aproveitamento nos arremessos, em 21,1 minutos. Como segundo cestinha da equipe de Philly, terminou o campeonato 1994-95 com 15,3 pontos por jogo, sendo o auge os 53 que anotou justamente numa vitória contra sua ex-equipe, com 12 de 19 nos arremessos (5 de 8 em três pontos) e absurdos 24 de 28 nos lances livres, em 43 minutos, dando um banho em Glen Rice. O curioso é que, enquanto Barros conseguiu um megacontrato do Boston, Burton não recebeu nem mesmo uma proposta do 76ers. O máximo que o time lhe propôs foi um contrato sem garantias. O ala decidiu, então, jogar na Itália. Retornou em 1996 aos EUA, via Atlanta Hawks, mas com pouco prestígio. No dia 8 de março de 1999, foi dispensado pelo Charlotte Hornets, sendo obrigado a deixar o país novamente para estender sua carreira. Passou por Grécia, Rússia, em ligas menores americanas e se aposentou em 2004 no Líbano.


Com ou sem estrela? Carmelo e Nuggets abrem playoffs da NBA com vitória
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Giancarlo Giampietro

Carmelo Anthony x Avery Bradley

O Carmelo vencedor dá as caras, enfim

Há sempre a ideia de que, na NBA, não se avança nos playoffs sem uma superestrela no elenco. Que o Detroit Pistons de 2004 seria apenas uma exceção para confirmar essa regra.

Bem, para os que não duvidam dessa máxima, se o Knicks for contar regularmente com o Carmelo Anthony que marcou 36 pontos neste sábado no primeiro confronto contra o Celtics, fica a impressão, sim, de que equipe de Manhattan pode, depois de muito tempo, desfrutar de uma longa campanha nos mata-matas.

Melo não se cansa de mencionar em entrevistas que venceu a vida inteira como jogador de basquete. Títulos no colegial, título no universitário em sua primeira e única temporada por Syracuse. Duas medalhas de ouro olímpicas. “I’m a winner, I’m a winner, I’m a winner”, foi o seu mote por muito tempo.

Na NBA, porém, resultado que é bom?

Nada.

O ala passou da primeira fase dos playoffs apenas uma vez (2009) desde entrou na liga, em 2003. É isso mesmo: só ma vez. Mesmo que tivesse ao seu lado gente como Chauncey Billups, Andre Miller, Allen Iverson, Amar’e Stoudemire, Nenê, Tyson Chandler, Kenyon Martin, Marcus Camby, Arron Afflalo, Al Harrington, JR Smith, Reggie Evans e outros atletas competentes, terminou por forçar sua saída por julgar que, em Denver, jamais conseguiria ir longe.

Esse discurso, para ser sincero, é o que me tira do sério nos esportes coletivos: quando a estrela reclama de não conseguir ir longe, ignorando que talvez, não custa dizer, caiba justamente a ela a condução de seu time. E, ok, claro que é difícil ser o capitão de um Bobcats ou Wizards – mas o Nuggets sempre teve elencos no mínimo decentes durante sua carreira por lá.

Mas tem isso também sobre Melo. Ele se comporta feito uma estrela, mesmo, sendo moldado para isso. Esperando um grande palco para brilhar. Em Nova York, ganhou todas as luzes, para tristeza de Stoudemire. Só demorou um pouco a corresponder a tanta atenção. Agora em sua terceira temporada, depois da conquista do segundo ouro com o Team USA, aos 28 anos, o décimo na liga, ele diz que, enfim, entendia as coisas, o que precisava ser feito para ter sucesso real e, não, virtual, em quadra.

Dessa vez não foi falácia. Apareceu em forma, mais concentrado em envolver seus companheiros, aceitando jogar como ala-pivô – e arcar com as consequências físicas dessa mudança –, e conduziu o Knicks a uma tão aguarda campanha de elite. O clube conquistou seu primeiro título de Divisão desde a era Pat Riley.

Na abertura dos playoffs, extremamente confiante, teve mais uma grande atuação, com 36 pontos – foi responsável por 42,3% da produção total da equipe –, torturando um cansado Jeff Green no final da partida. Acertou 44,8% de seus tiros de quadra, o que, friamente, não representaria o melhor rendimento. Porém, tal como já aconteceu muitas vezes com Kobe, é preciso ver o nível de dificuldade dos arremessos que Melo arriscou.

Nem sempre são as melhores tentativas, mas nem sempre também é por sua culpa. O ataque do Knicks não conseguiu criar espaços e situações em que seu cestinha pudesse operar com mais facilidade – tirando Anthony, só 5 em 19 tentativas. Mérito também de um time que defende bem há tempos. Então, numa posse de bola emperrada, acaba sobrando a bola na mão em situações de pressão. Dos últimos 11 pontos da equipe, ele marcou seis e fez a assistência para a cesta final de Kenyon Martin a 40 segundos fim. Foi dessa forma que terminou o embate, e o ala produziu – e venceu.

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Por outro lado, no segundo jogo do dia, lá estava o Denver Nuggets, órfão de um destes cahamados astros desde a saída de Anthony, também vai encontrando sua própria maneira de atingir o sucesso, com um jogo coletivo e diversas armas que possam decidir um jogo, sem que nenhuma delas chega a ser badalada, nem nada. Ty Lawson até começa a se despontar, mas sempre tem espaço pra Danilo Gallinari, Kenneth Faried, Wilson Chandler e outros serem protagonistas.

No primeiro embate com o Warriors, em vitória por 97 a 95, foi a vez de o veterano Andre Miller, 37 anos, brilhar, marcando 28 pontos, incluindo a cesta da vitória a pouco mais de um segundo par ao fim da partida. Ao final da partida, o armador estava pasmo: disse que foi a primeira cesta de sua carreira nos últimos instantes para definir uma vitória. Teve seu momento de estrela.


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