Espetáculo não é o bastante para o Clippers em Los Angeles
Giancarlo Giampietro
Espetáculo por espetáculo, a turma Hollywood ainda prefere ver Kobe Bryant. Então, se for para o Clippers tomar conta de Los Angeles para valer, nessa geração, eles só podem fazer isso com um resultado expressivo. No caso da metrópole californiana, meus amigos, isso só significa uma coisa: título.
Chris Paul bem sabe disso. ''Não quero nem dizer por que vamos ser o time. Nós temos de jogar, de fazer. Já tem muito falatório'', afirmou o veterano. Desde que o armador foi trocado para Los Angeles – pela segunda vez, já que não podemos esquecer o primeiro negócio vetado por David Stern, que o mandaria para o Lakers –, o ex-primo pobre da cidade foi elevado a superpotência e candidato natural ao título. Era o resultado de ter um dos melhores armadores da história da liga ao lado de uma estrela em ascensão como Blake Griffin.
Isso aconteceu em 2011. Desde então, o time teve campanhas de 60,6%, 68,3% e 69,5% de seus jogos, dando pequenos e consistentes passos rumo ao topo. As expectativas só aumentaram na temporada passada com a chegada de Doc Rivers, a evolução de DeAndre Jordan e a contratação de JJ Redick. No geral, porém, o time conseguiu apenas uma vitória a mais na temporada regular, subindo de 56 para 57 (ainda que com oito partidas a menos de CP3). Nos mata-matas, o time alcançou as semifinais da Conferência Oeste, como havia feito em 2012, perdendo para o Oklahoma City Thunder por 4 a 2.
Essa trajetória nos playoffs, porém, é bem mais complexa. Quando enfrentavam um time complicado como o Golden State Warriors na primeira rodada, Rivers e seus jogadores foram torpedeados pelo vazamento dos comentários ignóbeis e racistas, via TMZ, do ex-proprietário do clube, Donald Sterling. Houve um turbilhão de emoções, incluindo a ameaça de boicote por parte dos atletas de ambos os lados, até que o recém-empossado comissário Adam Silver agiu com firmeza. Depois, contra o Thunder, a lembrança obrigatória fica para o Jogo 5, no qual o Clippers teve uma grande chance de assumir a dianteira da série, com a oportunidade de fechá-la em casa.
Além da série de trapalhadas da arbitragem, que despertou a ira de Rivers na entrevista coletiva, aquela partida ficou marcada por uma exibição completamente desastrosa por parte de Paul, justo ele, o capitão, da mão firme com a bola. Depois de o time abrir uma bela vantagem, tomou uma virada que não poderia ser explicada por uma ou outra decisão equivocada dos homens do apito. O próprio Chris Paul fugiu disso, assumindo a culpa. ''Perdemos, e está na minha conta. Eles fizeram a cesta, e tivemos a chance de vencer na última jogada, e eu nem consegui arremessar. Foi muito tonto. Era sou supostamente o líder da equipe. Isso não pode acontecer. A liga pode divulgar algum comunicado sobre a marcação, mas quem se importa? Perdemos'', afirmou.
Acontece. Agora, a NBA é uma liga cruel, extremamente competitiva. O Clippers obviamente ainda está no páreo, produz um clipe imenso de melhores momentos a cada rodada – haja ponte aérea! –, mas o cenário pode ser alterado drasticamente e de modo rápido. Por isso o armador sabe: chegou a hora de ir longe nos playoffs. Bem longe.
O time: ataque não é problema. Com o pulso firme e talentoso de Paul, as habilidades ainda em expansão de Blake Griffin – que é muito, mas muito mais que um pôster –, e excelentes arremessadores ao redor deles, Rivers tem elementos de sobra para coordenar um dos três ataques mais eficientes da liga mais uma vez. Em termos de defesa, o impacto do treinador, porém, não foi tão dramático conseguiu elevar o time de nono para sétimo na temporada passada, e com um número maior de pontos por posse de bola. Quando questionado sobre quais pontos mais o preocupavam, o estrategista não hesitou em apontar os rebotes. ''Não sei quais seriam além do rebote. Era isso chegando a esta temporada, e permanece. Pessoalmente, achei que foi um milagre que tenhamos feito o que que fizemos no ano passado do modo como reboteamos. Estava preocupado com isso o ano todo, preocupado nos playoffs. É duro vencer jogos quando as outras pessoas continuam conseguindo arremessos extra'', disse. O Clippers foi o 20º nesse fundamento. De seus principais adversários, o Spurs foi quem ficou mais próximo, em 13º.
A pedida: sucesso nos playoffs e, quem sabe, o título. Estamos combinados.
Olho nele: Spencer Hawes. O pivô tem a oportunidade em Los Angeles de mostrar que é muito mais que o atleta da NBA mais apaixonado pelo Partido Republicano. Hawes foi o primeiro alvo de Rivers no mercado de agente livre, contratado para reforçar sua rotação de garrafão atrás de Griffin e Jordan, para oferecer arremesso de média e longa distância, passe e também reforçar justamente o rebote pedido por Rivers. Nos mata-matas do ano passado, o técnico tinha apenas Big Baby para dar um respiro aos titulares. Como ele vai responder a esse desafio? Em sua carreira, o pivô de 26 anos disputou dois playoffs, pelo Sixers. O que, veja bem, não conta para muito. Era um time café-com-leite, num Leste esvaziado. Não havia pressão alguma. Agora a coisa muda de figura.
Abre o jogo: ''Baron estava se preparando, e Sterling começou a balançar os braços, gritando para ninguém em particular.''Por que vocês estão deixando ele cobrar o lance livre? Ele é péssimo! Ele é o pior cobrador de lances livres da história!'', berrava. O Baron estava acertando algo como 87% naquela temporada. Eu estava de pé no meio da quadra, bem perto dos assentos do Sterling, olhando isso de canto, tentando não rir. Olhei para os caras do outro time, tipo, pensando que aquilo não poderia estar acontecendo'', Blake Griffin, em depoimento extenso sobre como era ser um jogador do Clippers sob o amalucado, inconsequente, mas… lucrativo controle de Sterling.
Você não perguntou, mas… o novo dono do Clippers, o bilionário Steve Ballmer, ex-CEO e ainda maior acionista da Microsoft, não vai permitir que seus técnicos e jogadores usem – ou, vá lá, que pelo menos não sejam flagrados em público usando – produtos eletrônicos da Apple. O homem pagou US$ 2 bilhões por seu novo brinquedinho. Então fica assim.
Um card do passado: Glenn ''Doc'' Rivers. Primeiro uma pergunta séria: quem aí reconhecia o ex-armador e hoje técnico do Clippers como Glenn? Dr. Glenn Rivers? Um baita ganho em estilo, gente. Mas deixemos de bobagem. O legal desse card é mostrar o jovem Rivers, claro. Mas também para falar daquela temporada: 1991-92, a primeira na qual a franquia foi aos playoffs quando baseada em Los Angeles – em sua primeira encarnação, como Buffalo Braves, com Bob McAdoo, já havia acontecido. No princípio dos anos 90, o clube viva um grande momento, com uma base bastante promissora, na qual constavam também Ron Harper (antes de estourar o joelho), Charles Smith (que migraria para o Knicks), e, principalmente, Danny Manning. O ala-pivô era bem diferente de Blake Griffin, um cara muito mais vigoroso e atlético, mas também foi uma grande aposta técnica e comercial da liga, até que seguidas lesões o derrubaram. Aos 30 anos, Rivers disputava sua primeira campanha fora de Atlanta e a única em L.A., com 10,9 pontos e 3,9 assistências em 28,1 minutos. Em 1992, seria envolvido numa troca tripla que o mandaria para o Knicks de Pat Riley, com Mark Jackson chegando ao time californiano.