Boston Celtics: Alguém vai atender o telefone?
Giancarlo Giampietro
30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA
Danny Ainge não vai parar, disso todos sabemos. O irrequieto chefão do Celtics é daqueles que torra dólares em contas telefônicas. A orelha de seus contatos no Skype já está cansada. E lá está ele ligando para aquele pobre gerente geral novamente, em busca de mais escolhas de Draft, de mais trunfos para poder apostar alto depois. É isto: o cartola não vai sossegar, enquanto não conseguir fechar mais uma supertroca que dê ao tradicionalíssimo time mais um grande craque, aos moldes do que obteve em 2007 com Ray Allen e Kevin Garnett.
Quando Kevin Love visitou o Fenway Park, do Red Sox, nas férias, você imagine como a cidade, doente por esportes, ficou. Em polvorosa? É pouco até, especialmente depois de David ''Big Papi'' Ortiz se empenhar no recrutamento. Um torcedor sortudo até mesmo flagrou um encontro do ala-pivô com Rajon Rondo:
Need to see these guys together @kevinlove @RajonRondo #collectingdimes #breakingbackboards pic.twitter.com/aJz1aEvEqJ
— Big Dub (@BigDub74) June 1, 2014
Acontece que o flerte durou pouco. Flip Saunders, presidente, gerente geral, técnico, roupeiro e segurança do Timberwolves, não se empolgou tanto assim, não, com o que Ainge lhe ofereceu, o contrário de Kevin McHale, todo camarada com seu ex-companheiro, tempos atrás. Obviamente LeBron James ficou bastante satisfeito com essa decisão. Já Rondo… Por mais que o armador fale em público, e que a diretoria do Celtics sublinhe cada palavra – está tudo bem, estão todos felizes –, fato é que o astro e a franquia estão em pontos diferentes da curva, neste momento. O time está em fase de reconstrução, ainda sem identidade. O atleta, em último ano de contrato, voltando de lesão no joelho e de uma fratura na mão, acostumado a lutar pelo título, a brigar nos playoffs. Vai demorar para acontecer isso em Boston. A não ser que alguém diga sim a Ainge. Sempre levando em conta que, no fim, Rondo é aquele poderá ser trocado. Senta, que lá vem história, viu?
O time: que o Celtics vai estar bem preparado, bem treinado, disso não há dúvida. Brad Stevens impressionou em seu primeiro campeonato profissional e agora chega mais experiente. O jovem técnico é elogiado por todos em sua habilidade para fraturar o jogo em pequenos detalhes, repassando-os de modo claro para seus jogadores. Esses relatórios são acompanhados de toda e qualquer estatística disponível. O problema é que, em quadra, o elenco é bem inferior ao da maioria de seus concorrentes: faltam arremessadores de primeira linha e um defensor que proteja o aro. São carências que Vitor Faverani poderia suprir, desde que consiga jogar: além de uma segunda cirurgia no joelho, o pivô ainda teve dificuldades com a língua e a cultura do basquete americano, segundo Ainge. A defesa ao menos conta com armadores ágeis e implacáveis, que podem atormentar os adversários. No geral, cabe a Stevens desenvolver os novatos Marcus Smart (badalado por onde quer que passe, até em treinos contra o Team USA) e James Young (um mês e cinco dias mais velho que Bruno Caboclo), além do segundanista Kelly Olynyk.
A pedida: se a troca por um atleta de ponta não acontecer, a direção do Celtics não vai fazer força nenhuma, nem torcer para que a equipe renda bem em quadra. Nos planos de longo prazo, mais vale uma escolha alta no próximo Draft, do que uma campanha beirando a mediocridade.
Olho nele: Jared Sullinger. No geral, o Celtics não tem muitos chutadores, mesmo, em seu plantel. Mas bem que o ala-pivô tem trabalhado para aumentar essa lista. Na pré-temporada, o rapaz de 22 anos converteu 14 de 22 disparos de longa distância nos primeiros sete jogos de pré-temporada. Vejam só. Seu apetite (sem trocadilhos, por favor) para os chutes de fora vem sendo incentivado por Stevens. Na temporada passada, ele tentou 208 arremessos em 74 partidas, mesmo que tenha convertido apenas 26,9% deles. O interessante é que Sullinger consegue combinar esse maior volume (de novo: sem trocadilhos!!) no jogo exterior com uma presença relevante na briga por rebotes: tem média de 10 por partida nesses mesmos amistosos, com direito a 19 num duelo com o Brooklyn Nets. Se o treinador preferia ter Kevin Love cumprindo esse tipo de papel? Ô. De todo modo, o jovem Sullinger ao menos vai se esforçando para deixar sua marca.
Você não perguntou, mas… o Celtics está prestes a dispensar um de seus jogadores, sendo obrigado a pagar o salário dessa figura na íntegra. O mais cotado é o armador Will Bynum, recém-adquirido em uma troca por Joel Anthony, que foi para Detroit. Cada franquia só pode levar 15 contratos garantidos para a temporada regular. Acontece que, em sua volúpia para fechar transações, a diretoria acabou juntando um plantel com com peças uma peça sobressalente. Bynum chegou de última hora, com US$ 2,9 milhões por receber – muito mais que o calouro Dwight Powell (US$ 500 mil). Mas preferiram apostar no potencial do ala-pivô canadense, mesmo arcando com a diferença: é como se estivessem assinando um cheque de US$ 2,4 milhões para nada. Pense nisso.
Abre o jogo: ''Cara, estamos assistindo a muito basquete europeu. Não… o jogo é que está crescendo, e essa é a direção que todos estão tomando'', Brandon Bass, experiente ala-pivô que também vai adicionando o chute de três pontos ao seu arsenal, sob insistência de Stevens. Para Bass, porém, o arremesso se restringe a zona morta, e só. Resta saber se a parada no meio da frase, para mudar o tom, tem a ver com ironia ou reclamação.
Um card antigo antigo: antes de entrar na NBA para ganhar dois títulos pelo histórico Celtics dos anos 80, Danny Ainge primeiro jogou na liga profissional de beisebol, a MLB, pelo Toronto Blue Jays. Ao mesmo tempo em que estudava na BYU, o segunda-base estreou pelo time canadense no dia 21 de maio de 1979 e se despediu da modalidade em setembro de 1981, optando pelo basquete. Ainda hoje, o armador tem um recorde nos campos: é o mais jovem atleta a ter conseguido um home run pelo Blue Jays, com 20 anos e 77 dias. Detalhe: nos tempos de colegial, o cara era também um craque no futebol americano, com direito a dois títulos estaduais no Oregon. Quem pode, pode, né?