Vinte Um

Magnano “digere” desencontros com Faverani e convoca pivô para o #Rio2016

Giancarlo Giampietro

Faverani fez boa Liga ACB pelo Murcia. Agora vai?

Faverani fez boa Liga ACB pelo Murcia. Agora vai?

Considerando todas as declarações e farpas que o Rubén Magnano soltou nos últimos anos, é com surpresa que recebemos a inclusão de Vitor Faverani nesta sexta-feira num grupo de 14 candidatos a disputar as Olimpíadas do #Rio2016 pela seleção brasileira. O pivô é a grande surpresa numa lista, digamos, conservadora elaborada pelo argentino, com os nomes de sempre. Huertas, Raul, Rafa Luz, Larry, Benite, Leandro, Alex, Marquinhos, Giovannoni, Varejão, Nenê, Hettsheimeir e Augusto o acompanham. Dois desses terão de ser cortados.

Magnano flerta com a convocação do pivô há um bom tempo tempo, mas até agora não teve sucesso em fazer com ele se apresentasse. Foram idas e vindas neste namoro, incluindo o famigerado episódio de 2011, antes da Copa América, em que o treinador levou um 'cano' do atleta durante uma viagem à Espanha. Os dois supostamente iriam se reunir em um hotel de Murcia. O técnico foi. O jogador, não – depois, alegou que e teve um problema pessoal de última hora e que não conseguiu se comunicar com o argentino. Obviamente esse 'causo' deu o que falar. Dois anos depois, o atleta voltou a ser listado para mais uma Copa América. Os dois, enfim, se encontraram, e Vitor topava jogar. Mas aí veio um acerto com o Boston Celtics para travar o processo. Desde então, o argentino não perdeu a chance de alfinetar o atleta durante uma série de entrevistas.

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Acontece que agora a gente está falando de Olimpíada. De tentar reunir os melhores atletas, mesmo, e lutar por uma medalha em casa. Acho que era motivo o bastante para Magnano superar qualquer ressentimento que restasse e desse mais uma chance a Faverani. ''Sempre quis que ele jogasse pela seleção. Houve no passado uma situação muito curiosa, desagradável. Digo curiosa, porque não posso dizer que tenha sido engraçada. Consegui digerir isso'', afirmou o técnico, com a acidez típica. ''Depois, ele teve muito problema de lesão, que atrapalhava sua preparação. Hoje, como já tinha visto há muito tempo, acho que ele está jogando muito bem. Tenho gostado muito dele, é um grande jogador. Ele tem muita vontade de vir, estamos em contato direto com ele e, por isso, está de novo na convocação. Espero não ter mais nenhuma surpresa. Se vai ficar ou não, depois vemos.''

Que Magnano tenha ''digerido'' essas questões só mostra o quanto admira as características de Faverani, que de fato são raras para um pivô e estão em voga. Recuperado de uma cirurgia no joelho que o atrapalhou muito nos últimos dois anos e forçou sua demissão pelo Boston Celtics e pelo Maccabi Tel Aviv, o jogador oferece arremesso de média para longa distância e também é um excelente protetor de aro. Isto é, pode jogar aberto no ataque tranquilamente, espaçando a quadra quando necessário, e estabelecer uma presença defensiva importante no garrafão. Pelo fato de nunca ter se apresentado antes, porém, dá para dizer que corre por fora, mesmo que tenha feito boas apresentações pelo Murcia na segunda metade da temporada espanhola. Afinal, este é o modus operandi do argentino.

Ninguém vai olhar a lista de Magnano e apontar uma incoerência. Na verdade, o treinador se mantém fiel até demais aos atletas que convocou durante anos e anos. Pesa muito mais na cabeça do argentino a noção de conjunto da obra do que necessariamente a produção apresentada na última temporada – no caso de Bruno Caboclo e Lucas Bebê, aliás, para constar, nenhum desses fatores os favoreciam. Não havia muito espaço para novidades. Ou isso, ou o treinador julgou que nada de muito interessante tenha surgido no último NBB.

Da liga brasileira, para o grupo principal, foram chamados seis jogadores – todos eles figuras mais que habituais em suas listas e que também tiveram experiência no exterior antes de se estabelecerem como referências em quadras nacionais. Magnano dá muito valor a isso. De resto, sobrou uma composição de veteranos e mais jovens para a disputa do Sul-Americano (valorizada este ano pelo fato de já valer para o novo calendário de seleções da Fiba).

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O outro nome mais comentado do dia foi o de Cristiano Felício. O pivô seria convocado, mas pediu dispensa para seguir treinando com o Chicago Bulls. Lendo assim, a frase parece absurda, não? Magnano, mesmo, se frustrou. ''Claro que fico chateado. São razões pessoais. Temos que entender. Não significa aceitar'', disse Magnano.

Mas é preciso entender a dinâmica que envolve jovens atletas e clubes da NBA. É improvável que a recusa tenha partidoexclusivamente de Felício. Há sempre outro lado nesse tipo de questão. Em seu comunicado, tentando explicar o que se passava, dá para dizer que o pivô foi no mínimo ambíguo, claramente tentando evitar pisar nos calos de muita gente.   ''Estou vindo de um bom fim de temporada pelo Chicago Bulls, e, como todo brasileiro, vivendo também essa expectativa pelas Olimpíadas no Brasil. Mas não posso pensar com a paixão, preciso e devo agir com a razão. Não foi nada fácil. Sei da importância, do que significa vestir a camisa do meu país, mas tenho a consciência de que tenho que trabalhar ainda mais duro, me dedicar e evoluir para conquistar o meu espaço, pensar no meu futuro. Infelizmente, aconteceu tudo ao mesmo tempo'', afirmou.

O que acontece? O jovem pivô foi uma das poucas boas notícias que o Bulls teve em uma campanha que foi um tremendo fiasco. Aproveitou as chances que teve nas últimas semanas da temporada, mostrou serviço e subiu de cotação internamente. É provável que o chefão John Paxson e o técnico Fred Hoiberg tenham planos mais ousados para ele, ainda mais com as incertezas em torno de Pau Gasol e Joakim Noah, agentes livres. De modo que o clube prefere manter o pivô por perto, dar sequência ao seu desenvolvimento e eventualmente disputar uma segunda liga de verão.

Taí mais uma frase que parece despropositada, já que estamos falando de uma Olimpíada em casa. Mas o que prevalece aqui é a lógica da diretoria do Bulls, que cuida de seu investimento do modo que achar  melhor. E não havia muito como atleta e empresário baterem o pé aqui, ao contrário do que Giannis Antetokounmpo fez com o Milwaukee Bucks, por exemplo. A franquia de Winsconsing não vai querer irritar  seu jovem prodígio. Por outro lado, em Chicago, por melhor que tenha ido em sua temporada de novato, Felício ainda não teria tantos trunfos para barganhar. Seu contrato nem deve estar garantido.

Além do mais, se viesse, iria se meter em uma disputa acirrada por um lugar final no grupo olímpico. Ao meu gosto, não só entraria no grupo dos 12, como chegaria para jogar. Mas a cabeça de Magnano não funciona assim, e o pivô revelado pelo Minas Tênis teria de se superar para desbancar nomes mais badalados e de veteranos que bateram cartão nos últimos torneios. Não seria fácil. Assim como não será para Faverani, independentemente da digestão do argentino.

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