Cobiçado pela elite, Varejão chega ao Warriors e quer jogo
Giancarlo Giampietro
É curioso que Anderson Varejão tenha se reunido com o Golden State Warriors e já ido para o banco de reservas em partida contra o Atlanta Hawks. Pois o time do técnico Mike Budenholzer era visto com o ''candidato natural'' aos serviços do pivô, segundo diversas fontes da NBA consultadas pelo blog, até pelo afastamento de Tiago Splitter.
Mas os atuais campeões se anteciparam. Foram sedentos, de modo surpreendente, confesso, em direção ao capixaba para fazer uma dobradinha brasileira em Oakland. Que um clube de elenco altamente qualificado o tenha procurado, topando pagar, no mínimo, US$ 3,1 milhões (ou mais de R$ 10 milhões) para contar com o atleta por cerca de quatro meses.
Para explicar o cálculo: ao contrário do Atlanta, o Golden State não tinha uma vaga em seu elenco para fazer nova contratação. Para poder contar com Varejão, teve de dispensar, então, o pivô Jason Thompson. Até aí tudo bem: em 28 partidas na temporada, teve média de apenas 6,4 minutos. Acontece que o jogador ex-Sacramento Kings tem US$ 2,6 milhões garantidos em salário para 2016-17. O clube dificilmente manteria Thompson em seu plantel na próxima campanha, mas, em vez de arcar com a despesa, poderia tentar uma troca para se livrar do pagamento. Além disso, o salário mínimo do brasileiro adicionado pode custar de US$ 500 mil a US$ 1 milhão em multas por excesso do teto salarial, dependendo de um bônus contratual para Andrew Bogut ao final do campeonato.
Para uma franquia que fatura alto em bilheteria, merchandising e em qualquer outro negócio ultimamente, devido à febre em torno de Stephen Curry e seus chapas, é um montante que não vai fazer tanta diferença. Agora, não quer dizer que eles topariam gastar mais em sua folha salarial por um jogador qualquer. Que tenham decidido investir, e rapidamente, em Varejão só nos mostra o quanto a carreira do cabeleira é respeitada nos Estados Unidos. E mais: outros candidatos revelados pela mídia americana foram San Antonio Spurs e Oklahoma City Thunder. Quer dizer, os três líderes do Oeste. Que tal?
Admito que, em 23 de fevereiro de 2016, não imaginava ser necessário argumentar a favor de Anderson. Mas andei vendo muitos comentários (aiaiai, os comentários…) por aí negativos a seu respeito. Leitores brasileiros menosprezando o que o pivô construiu desde que chegou a Cleveland em 2004 – e para não falar de seu título de Euroliga pelo Barcelona etc.
A despeito das diversas lesões e problemas de saúde que o brasileiro teve em 12 anos de liga e de ter sido despachado, no mesmo dia, por Cleveland e Portland, a opinião de scouts e dirigentes da NBA que consultei durante o final de semana era a de que ele encontraria um novo clube rapidamente. Que sua reputação e currículo de sobrepõem a eventuais questões sobre físico e jogo. Ainda mais quando ele vale o salário mínimo. No caso do Warriors, a conta saiu um pouco mais cara por fatores já explicados. Basicamente o que ouvi: ''Ele tem uma boa presença de vestiário, é um jogador valioso. Como solução a curto prazo, sem custar nada, por que não contratar. Não há o que perder aqui''.
Em seu auge, Varejão foi um pivô de mobilidade e coordenação incomuns para alguém de 2,11m de altura. Inteligentíssimo e muito dedicado em quadra, fez uso ao máximo dessas características, como excelente reboteiro e marcador, sendo capaz de incomodar caras mais altos e fortes no garrafão e de atrapalhar baixinhos no perímetro quando se executa uma troca defensiva. No ataque, desenvolveu seu arremesso de média distância e sempre ajudou a movimentar a bola.
Que Steve Kerr resuma a história: ''É difícil não gostar dele. Ele é o cara que não para de se esforçar a cada posse de bola e compete a cada seguro. Pelo entusiasmo com que ele joga e, pelo que entendo, sua personalidade no vestiário, sim, ele vai se tornar um dos favoritos da torcida em Golden State assim como era em Cleveland'', diz. ''Pensamos que ele é o tipo de cara que vai aprender as coisas rapidamente. Por sorte, ele é um cara que tem um instinto natural para o jogo. Nosso ataque é bastante livre, de todo modo, com o pivô recebendo a bola e o restante fazendo nossos cortes (para a devolução). É nisso que ele é melhor.''
O que o treinador vai ter de conferir nas próximas semanas é se, em minutos reduzidos, o brasileiro ainda é capaz de executar aquilo que a cabeça pede, o que se habituou a fazer como profissional. As dúvidas são naturais do ponto de vista atlético e físico, já que ele sofreu uma delicada cirurgia no tendão de Aquiles em 2015 e tem jogado muito poucoC.
Neste ano, Varejão participou de 31 de 55 jogos do Cavs, com 10 minutos em média. Pouco. Nesse tempo reduzido, somou 2,6 pontos, pegou 2,9 rebotes e acertou apenas 42,1% de seus tiros de quadra. Antes de levantar mais números, só vale dizer que o pivô foi para a quadra quase sempre com a partida definida, com um papel coadjuvante bastante reduzido, como nunca antes havia acontecido em sua carreira. Então é um contexto todo particular. Em geral, o pivô esteve ao lado do jovem Tristan Thompson, o que o empurrou para longe da cesta. Em sua carreira, 53,9% de seus arremessos foram realizados dentro da área restrita do garrafão. Nesta temporada, foram 28,9%. De todo modo, falando nas estatísticas regulares, a projeção por minutos acompanha basicamente os números de sua carreira.
Se o nível de atividade de Varejão vai mudar muito de Cleveland para Oakland, não sabemos. Kerr afirma que pretende usá-lo o quanto antes. ''Planejo usá-lo para que ele ganhe um pouco de ritmo. Ele não jogou muito neste ano, mas diz que está saudável, que vem treinando e se sentindo bem. Então do que ele precisa é de ritmo, e vamos dar esses minutos para ele o mais rápido que podemos'', afirma. Será que esse tempo de quadra já virá nesta extensa viagem pela América? A próxima parada é Miami, na quarta-feira. Na quinta, Orlando. Sábado, OKC.
Em teoria, o cabeleira pode cobrir o tempo de quadra deixado por Festus Ezeli, ou pelo menos parte dele. Em constante evolução, o pivô nigeriano dava conta de 17,8 minutos por jogo (o oitavo na rotação), mas teve de passar por uma cirurgia no joelho. Seu retorno ainda não tem data definida, mas especula-se que possa voltar à ativa na penúltima ou na última semana da temporada. Fica uma lacuna no garrafão, para proteção de cesta, fechamento de espaços e cobertura.
Sem Ezeli, Kerr não vai querer o risco de aumentar a carga de Andrew Bogut, outro que também sofreu com muitas lesões no decorrer da carreira. Marreese Speights não ajuda nesse departamento. Suas principais características estão voltadas para o ataque, mas nem isso está funcionando tão bem, sem confiança. O atlético James Michael McAdoo e, principalmente, o calouro Kevon Looney não estão prontos para o nível de jogo que o líder da temporada regular pede.
Em qualquer outro time, essa talvez fosse uma questão grave para se solucionar. Mas o Warriors é um caso especial, por contar com Draymond Green. A NBA toda sabe que, na verdade, o quinteto mais temível de Golden State tem uma formação baixa com Green ao centro, rodeado por Curry, Klay Thompson, Andre Iguodala e Harrison Barnes – a chamada ''escalação da morte'', que arrebentou com a concorrência nos playoffs do ano passado e que é a terceira mais utilizada na atual campanha. O ideal, porém, também é resguardar o ala-pivô e limitar seu desgaste físico até os mata-matas.
Aí entra Varejão, que acabou desafiando a física e a língua portuguesa ao cair para cima. Tem a expectativa de jogar mais e se divertir numa equipe fantástica.