Canadá vence Brasil com autoridade. Notas sobre o amistoso
Giancarlo Giampietro
A lógica de ontem ainda se aplica: é apenas um amistoso. Dessa vez Rafael Luz nem foi relacionado. O Brasil novamente jogou sem energia. Mas são partidas que, ainda assim, nos apontam dicas, caminhos. E, com o perdão do tom apocalíptico, os indícios que a vitória tranquila do Canadá, por 80 a 64, nesta segunda-feira nos deu são do chumbo grosso que vem por aí em futuros duelos com os americanos do extremo norte do continente.
Fica até difícil de avaliar. A seleção brasileira mais uma vez não conseguiu igualar a intensidade ou a movimentação de semanas atrás. Por outro lado, essa impressão de morosidade talvez seja mero consequência da capacidade atlética impressionante que o time de Jay Triano tem em quadra e como ela se traduziu especialmente para a defesa, complicando as linhas de passe e contestando os tiros exteriores brasileiros. Em diversos momentos, sinceramente, a impressão era de que os rapazes de Magnano pareciam um conjunto master.
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Além disso, a questão aqui também pode ser outra: a qualidade dos adversários aumentou consideravelmente em relação a Toronto, e é natural que as coisas fiquem bem mais difíceis para os campeões pan-americanos. De toda maneira, é fato de que eles ainda não estão jogando com aquela mesma alegria. Que seja algo programado e natural, por serem apenas jogos preparatórios. Quando a Copa América se iniciar, além de vagas olímpicas para a concorrência, o que estará valendo é um título. Vale a pena brigar por ele.
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Voltando a essa coisa de chumbo grosso canadense. Antes de mais nada, estou ciente de que, além de a partida não ser oficial, o Brasil poderia contar com um outro reforço em sua escalação, pensando nos Jogos Olímpicos. De qualquer forma, não é que os veteranos sobre os quais estamos falando terão vida muito longa na equipe. A base hoje em atividade deve compor o núcleo do próximo ciclo olímpico. E o mesmo vale para o Canadá, que tem apenas Carl English como um atleta que tem linha curta em sua trajetória pela equipe nacional.
Mais: além de jovens, o que o Canadá tem é quantidade, já prenunciada pela invasão que protagoniza neste momento em todos os níveis do basquete dos Estados Unidos. Colegiais, universitários e profissionais: eles estão chegando aos montes, e aí nem mesmo o mais rabugento poderá rosnar contra a grife NBA que a equipe carrega. Os cinco titulares em San Juan, por sinal, vêm de lá: Cory Joseph, Nik Stauskas, Andrew Wiggins, Andrew Nicholson e Anthony Bennett. Outros dois vieram do banco: Robert Sacre e Melvin Ejim (*este com o asterisco de contrato de training camp). Kelly Olynyk, que contundiu o joelho contra a Argentina, nem se fardou. Dois ou três desses caras podem não parecer nada demais. Mas a safra do país é vasta. Eles têm volume para compensar qualquer dúvida, e a produção da base dá a entender que não se trata de acaso.
A vitória contra o Brasil sublinha a invasão. Dwight Powell — que se mostra produtivo praticamente toda santa vez que recebe minutos, aliás — dominou o primeiro quarto. No terceiro, Anthony Bennett exibiu seu arsenal ofensivo bastante versificado, que ajuda a explicar sua seleção como número um de Draft. Depois, no quarto, com a vitória já selada, e Magnano experimentando uma zona contra a rapaziada, foi a vez de o chutador Brady Heslip queimar o barbante. Powell, um pivô muito atlético e físico, terminou com 18 pontos e 8 rebotes em 17min52s, batendo um total de 13 lances livres. Bennett anotou 16 pontos em menos de 15 minutos, sendo 11 deles na volta do intervalo, matando praticamente tudo: as duas tentativas de três, chutes em flutuação e ganchos no garrafão. Heslip guardou 15 pontos.
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Tenho uma entrevista com Kelly Olynyk para desovar aqui, nesta semana, quando poderemos refletir mais sobre o assunto. Pensando na Copa América de logo mais no México, talvez a grande esperança de Argentina, República Dominicana, Porto Rico e até mesmo dos anfitriões seja que a equipe canadense sinta a pressão. Eles são jovens, bem jovens, e realmente inexperientes nesse tipo de situação. Como a geração Nenê, mesmo, pode nos dizer, o jogo de seleções é outra realidade (até mesmo com outras regras, dãr), principalmente no caso daqueles que se importam, que entram em quadra com o coração batendo de um jeito diferente.
Se esses caras mantiverem a compostura, vai ser muito difícil de derrubá-los, até pela versatilidade de seu elenco. Num jogo mais pesado, Sacre e Powell não vão afinar. Bennett está cheio de confiança e será um problema para qualquer defesa. Nicholson abre para chutar. Artilharia de três não falta, por sinal, com Heslip, Stauskas, o armador reserva Phil Scrubb e até mesmo Joseph (31,4% em sua carreira na NBA, mas 36,4% na temporada passada, e numa distância maior). Joseph também exerce visível influência sobre os companheiros. É o líder emocional da equipe. E ainda nem falamos do garoto Wiggins, que ainda está aprendendo o jogo e vai sofrer um pouco em termos de macetes da arbitragem Fiba, mas é uma maravilha atlética, capaz de lances surpreendentes e de incomodar muito na defesa individual e nas linhas de passe.
Atleticamente, eles foram dominantes contra os brasileiros, e não há o que discutir. Nos rebotes, tiveram vantagem de 43 a 24. Um espanco, já diria o Mauricio Bonato. Assim como fez Porto Rico na véspera, não permitiram que a transição brasileira funcionasse. Sabe quantos pontos de contragolpe tomaram? Nenhum. Para fechar, limitaram o oponente a apenas 39% nos arremessos e 4-17 nos chutes de longa distância. A seleção de arremessos brasileira não foi equivocada. Não teve forçada de barra. Eles simplesmente não encontraram uma zona de conforto em quadra.
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Nos petardos de fora, faz falta o fator tático que é Hettsheimeir, sem dúvida. Mas não é só isso. Nesses amistosos, a seleção vai se dando conta de que não pode depender tanto do volume exterior para pontuar. Está muito claro que Triano e Pitino estudaram bem o time de Magnano depois do Pan e armaram suas defesas de modo que o arremesso exterior fosse varrido do mapa. Vitor Benite (0-5) é o principal alvo, logicamente, sendo sufocado em sua movimentação fora da bola.O ex-flamenguista tem recursos para criar a partir do drible, mas sua eficiência tende a diminuir nessas situações. Ainda assim, o armador foi o único a conseguir criar jogadas por conta própria contra a fortíssima retaguarda canadense ao por a bola em quadra. (13 pontos em 28 minutos, com 6-15 nos arremessos, mais 3 assistências e nenhum turnover). Marquinhos, Meindl e os armadores precisam agredir um pouco mais e, a partir do drible, fazer a bola rodar em busca de bons arremessos.
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Em termos atléticos, Augusto foi o único que pareceu não se incomodar com o que via do outro lado (17 pontos, 6 rebotes, 2 tocos e 8 lances livres batidos em 24 minutos). Dá realmente gosto de ver sua desenvoltura em quadra e o quanto cresceu nos últimos anos. O próximo passo é refinar o chute de média distância e desenvolver um movimento mais seguro quando perto da cesta, de costas.