Vinte Um

Spurs x Clippers: tudo igual na série, mas com opções diferentes

Giancarlo Giampietro

A formiguinha atômica australiana vem para o resgate dos atuais campeões

A formiguinha atômica australiana vem para o resgate dos atuais campeões

Anthony Davis e seu New Orleans Pelicans podem até ser varridos pelo Golden State Warriors. Não dá para cravar isso ainda, mas pode acontecer. De qualquer forma, mesmo que se despeçam dos playoffs 2015 da NBA sem nenhuma vitória, ainda vão deixar um legado para a fase decisiva. Algo que vai muito além da maior visibilidade para o jovem astro e de um passo importante na sua caminhada para tomar conta da liga. Isso fica para o futuro. Por ora, o que eles nos deram foi a série Clippers x Spurs, a única que troca de cidade com os times empatados.

Em teoria, era para eles terem se resguardado e jogado apenas na segunda rodada. San Antonio basicamente trucidaria o Dallas Mavericks, enquanto o novo primo rico de Los Angeles enfrentaria mais dificuldades contra Memphis, mas ainda são favoritos. O Monocelha não permitiu isso e colocou frente a frente duas das três melhores equipes pós-All-Star Game em termos de equilíbrio ofensivo e defensivo, ou duas das quatro melhores equipes neste período em termos de aproveitamento (vitórias x derrotas).

Depois de uma vitória tranquila para o Clippers na primeira partida, com todas as suas enterradas e a Lob City bombando, o Spurs batalhou sem Tony Parker e, na prorrogação, venceu a segunda por 111 a 107, ao mesmo tempo em que rouba o mando de quadra do adversário. ''Será uma série de matar'', afirma Doc Rivers, após a derrota. Sim, Doc, tem tudo para ser.

O time californiano é o time mais atlético em quadra, e isso não vai mudar. Uma dupla como Blake Griffin e DeAndre Jordan põe muita pressão em qualquer defesa, já que qualquer passe num raio de um quilômetro do aro é uma chance de cravada – uma bola sempre bonita, mas também bastante eficiente. Fica ainda mais difícil de parar os pivôs quando eles são municiados por um armador como Chris Paul e rodeados por chutadores como JJ Redick, Jamal Crawford e Matt Barnes. É uma combinação que rende o ataque mais eficiente da NBA nas últimas duas temporadas. Na defesa, os pivôs podem até dar uma viajada no posicionamento, que sua agilidade e impulsão lhes proporcionam uma recuperação pontual para a contestação.

Agora, do outro lado, é o que Doc também diz: ''O Spurs ainda é o atual campeão, e eles vão continuar sendo os atuais campeões a cada noite''. Assim como Tim Duncan, prestes a completar 39 anos, seguirá como uma ameaça a ser respeitada até os 74, aproximadamente. É incrível. Se a gente for classificar os astros da liga por longevidade, somente Kareem Abdul-Jabbar se equipara ao orgulho das Ilhas Virgens (quer dizer, imagino que no arquipélago exista ao menos uma estátua para o ex-nadador, nem que seja num complexo aquático). Os dois foram top de linha desde a primeira temporada até a última. Com a diferença que não sabemos se Duncan está de saideira, ou não. Os repórteres que cobrem o time texano de perto juram que não há nenhum indício para isso.

''Ele foi espetacular'', disse o Coach Pop, que teve a sorte de, em sua segunda campanha como treinador da franquia, descolar na primeira rodada do Draft esse pivô formado em Wake Forest. ''Ele continua me maravilhando. Ele sabia que precisava ficar em quadra e deu um jeito. Continuou sendo agressivo, o que é realmente impressionante.''

Timmy!!!

Timmy!!!

Para quem não mergulhou madrugada a fundo, Timmy jogou os últimos quatro minutos do tempo regulamentar e toda a prorrogação pendurado com cinco faltas. São as chagas das batalhas com Jordan e Griffin. Terminou o confronto com 28 pontos, 11 rebotes, 4 assistências e 2 roubos de bola. No final, ele estava mais preocupado em pedir desculpas para o seus companheiros, já que acertou apenas uma cesta em cinco tentativas de quadra no quarto final. Que coisa, né? ''Fui péssimo. Perdi umas duas ou três bandejas, cometi dois ou três erros defensivos, saindo da minha posição para dar enterradas a DeAndre'', afirmou, todo remoído.

Fora a consistência de Duncan e sua aura de campeão, sabe o que mais que o Spurs vai continuar tendo como larga vantagem em relação ao Clippers? Banco. Opções. Muitas delas. Se o eterno All-Star conseguiu se manter no jogo pendurado, Manu Ginóbili afirmou que perdeu a conta das suas faltas e acabou excluído no quarto final. Poderia ser um baque para qualquer equipe, ainda mais que Tony Parker já havia sido retirado pelo técnico devido a dores no tendão de Aquiles. O francês, visivelmente estourado, depois de sentir a perna esquerda no primeiro embate,  jogou por 30 minutos e só fez um pontinho em lances livres. Para o Spurs, não fez diferença. ''Eles perdem Parker, entra o Mills. Manu está fora, Green entra. É o que eles fazem. Você tem de tirar o chapéu para eles'', afirmou Jamal Crawford.

Patty Mills, a formiguinha atômica australiana, marcou 18 pontos em 19 minutos. Boris Diaw foi igualmente importante, fazendo de tudo um pouco para a equipe, com 12 pontos, 9 rebotes, 6 assistências e 2 roubos de bola em 37 minutos. O cerebral ala-pivô francês vai ter de aguentar o tranco, com tempo de quadra elevado, enquanto Tiago Splitter não recupera o ritmo de jogo – o catarinense jogou por 19 minutos e, em determinados momentos, demonstrava pura falta de fôlego. E aqui já vimos um ajuste de Pop: Aron Baynes nem foi acionado, perdendo espaço para Matt Bonner.

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Ao todo, os suplentes do Spurs receberam 103 minutos de rodagem neste segundo duelo. Do outro lado, Rivers segue com sua rotação paupérrima. Não por ser teimoso. Mas, sim, pelo fato de sua versão cartola ter feito um péssimo trabalho na montagem deste elenco. Chega a um embate tão equilibrado como esse, e simplesmente não tem confiança em ninguém que não atenda pelo nome de Jamal Crawford entre os reservas. O perigoso (ainda que por vezes destrambelhado) arremessador ganhou 21 minutos numa noite em que a mão estava fria (4-13 nos arremessos, 1-7 de três pontos, um horror). Depois, contem 11 minutos para o Rivers filho e Glen Davis, velho de guerra. De resto? Hedo Turkoglu teve quatro e Danthay Jones não conseguiu nem arredondar para um minuto o instante em que entrou em quadra para espirrar.  O quarteto somou 17 pontos. Menos que Mills, se você me permite a comparação.

Haja fôlego para o quinteto titular: foram 47 minutos para Griffin e Redick, 44 para Jordan, 43 para Paul e 37 para Barnes. Como de praxe, eles jogaram demais. Griffin saiu com um triple-double (29 pontos, 12 rebotes e 11 assistências, consagrando seu companheiro de garrafão), enquanto Jordan somou 20 pontos, 15 rebotes e 3 tocos. Paul manteve esse ritmo de excelência, com 21 pontos, 7 assistências e 8 rebotes. Redick matou 4 de 9 nas bolas de longa distância. O quinteto titular do Clippers, conforme já ressaltado aqui, foi a unidade mais produtiva da temporada, em números absolutos, vencendo seus oponentes por média de 7,5 pontos.

Agora… Spencer Hawes, a principal contratação para o campeonato, recebeu um gelado ''DNP'' (não jogou). Assim como Lester Hudson, importado de última hora da China, e Epke Udoh, subutilizado em toda a campanha. Não dá para entender como um time com as pretensões elevadas do Clippers chega ao mata-mata desse jeito, ainda mais depois de seguidas decepções nos playoffs com a mesma base. Simplesmente não dá. Por mais que Rivers seja um técnico de fato brilhante, seu trabalho como dirigente acaba se tornando o maior obstáculo rumo ao título – não se esqueçam que esse núcleo já estava lá quando ele foi contratado.

O Spurs agora vê Parker se juntando a Splitter na fila dos arrebentados. Preocupa, claro. Mas, para qualquer outra equipe, perder o armador e o pivô titulares significaria desespero total, enquanto o adversário celebraria. Na rotação (quase) igualitária de Popovich, todavia, os desfalques são amenizados. Bom para Doc tomar nota a respeito. Pode mai ser mais uma cortesia do Monocelha.