Vinte Um

Uma saudável entrevista para tentar decifrar Nenê

Giancarlo Giampietro

Nenê meio que abre o jogo em entrevista nos EUA

Nenê meio que abre o jogo em entrevista nos EUA

Numa cortesia do jornalista que faz a melhor cobertura da NBA nestes dias (Zach Lowe, do Grantland) –, temos a melhor entrevista de Nenê em muito tempo. Isso se não for a melhor de todas – até porque o acesso ao pivô do Washington Wizards nunca foi dos mais fáceis para quem tenta daqui do Brasil.

Corra para ler.

(…)

Já voltou?

Bem, são vários os pontos para serem destacados:

Nenê x Magnano, Washingotn, CBB, seleção

Seleção: Segundo o jornalista, Nenê supostamente afirma que a CBB não imagina o que seja disputar uma temporada da NBA e do desgaste que isso gera. Digo ''supostamente'' porque as palavras não estão precisamente saindo da boca do pivô, mas, sim, num complemento do próprio Lowe.

''Você vai disputar a Copa do Mundo da FIBA em 2014 se o Brasil ganhar um convite?'' – esta foi a pergunta.

Ao que o grandão responde: ''Não sei. Tive lesões no passado, e isso deu a oportunidade para que outros jogassem, para que pudessem se desenvolver um pouco e ganhar experiência. A temporada aqui, na NBA, tem quase 115 jogos se você vai para os playoffs. (A Confederação Brasileira de Basquete) não tem ideia do que é isso. Ao final da temporada, você precisa de descanso. Te de parar e acalmar um pouco''.

Dá para ler este trecho e já fazer a manchete chocante, não? ''Nenê ataca a CBB: 'Não tem noção sobre o que é a NBA'''.

Fica a tentação. Mas, a partir do momento em que a entidade não é mencionada na pergunta e a referência sai do jornalista, não parece correto. Após as lamentáveis vaias que tomou no Rio de Janeiro, é bem provável que o pivô esteja falando sobre o país como um todo, sobre a falta de compreensão do que se passa numa campanha na liga.

Ele admite que os clubes (Nuggets e Wizards) fazem pressão para que os jogadores recusem as convocações. ''Mas quando você está lidando com a seleção nacional, não dá para controlar muito. Você sabe como é. Espero que eles mudem a cabeça sobre jogadores que estão na NBA. Temos muitos jogos, muita pancadaria aqui.''

– Mentor: O papel de liderança, de exemplo que o paulista de São Carlos desempenha no time. Saíram dois exemplos interessantes sobre os quais os brasileiros em geral não têm acesso, sem poder acompanhar de perto o cotidiano do Washington Wizards – a não ser que você, torcedor sofredor do ex-Bullets, abra o Post e blogs locais religiosamente:

Nenê e o ex-companheiro Danilo Gallinari: figura respeitada no vestiário

Nenê e o ex-companheiro Danilo Gallinari: figura respeitada no vestiário

1) De acordo com os relatos de gente de dentro do clube, Nenê é desses raros caras que dizem não liga para estatísticas e que realmente age desta maneira, sem se importar com sua produção em quadra. ''Só olho mais quando perdemos, para ver o que posso fazer melhor'', diz o jogador.Esse tipo de postura, numa liga tomada pelos mais diversos egomaníacos, faz um bem danado em qualquer vestiário. Envergonha os mais aparecidos e estabelece uma boa referência aos mais jovens.

2) O ala-armador Bradley Beal, segundanista, revelou que, quando algum de seus companheiros falha no posicionamento em quadra, no ângulo ou no timing de um corte para a cesta, ele pode se preparar: lá vem berro do pivô. ''Ah, mano, não grito tão duro assim'', defende-se Nenê.

O brasileiro, então, discorre sobr seu entendimento do jogo e afirma que ter jogado futebol na infância o ajudou nisso. ''Tem a ver com a visualização das jogadas. Quando um jogador corre em campo, e você quer passar a bola, é preciso enxergar dois pontos (a trajetória). Você tem de enxergar a conexão. É a mesma coisa no basquete''.

Simples assim: o famoso ponto futuro de Cláudio Coutinho!

E, para constar, o francês Kevin Seraphin é quem fica de orelha mais quente. ''Ah, sim! Ele pode ser um pouco lento. Aí vou gritar!'', sorri

Lesões: Sem se incomodar em ter fama de bichado, Nenê fala dos diversos problemas físicos que teve na carreira. ''Aprendi sobre meu corpo. Sei que alguma coisa vai acontecer. Mas tem vezes que você não consegue controlar. Tem vezes que você precisa jogar e você vai lá e faz. Tento pensar de modos como evitar as lesões, mas estou recebendo um salário alto''. Aí o pivô diz que tudo isso aconteceria por uma razão, num determinismo religioso. ''Não está no meu controle, tudo acontece por uma razão'', diz. Ok, não sou o maior fã desse tipo de discurso, mas cada um se guia pelo que quer. Depois, ele dá a entender que os planos de se aposentar em 2016 podem ser revistos. Mas tudo dependendo dos planos de uma entidade suprema.

Rebotes: Para alguém com sua agilidade, tamanho, envergadura e inteligência de quadra, Nenê tem uma média um tanto ridícula de 6,9 rebotes na carreira. Mas Lowe destaca em uma de suas questões que, quando o brasileiro está jogando, seus times tendem a ter um dos melhores aproveitamentos na coleta de arremessos errados. O atleta explica: ''Se eu não fizer o bloqueio de rebote, se tentar roubar a bola de meus companheiros, poderia ter média de 13 ou 14 por jogo. Mas eu aprendi do jeito certo. Aprendi a bloquear, respeitar cada lado da cesta. Há uma razão para termos um rebote melhor quando jogo, porque sei os fundamentos. Você precisa bloquear não só perto da cesta, mas no garrafão inteiro. Os caras de fora também, para que os baixinhos não nos surpreendam lá embaixo''. Para os que veem o brasileiro jogar há tempos, não há o que se questionar aqui: estes pequenos detalhes são evidentes.

Wizards x playoffs: no finalzinho da entrevista, Nenê evita em prometer qualquer coisa aos torcedores. Mas todo mundo sabe que é playoff ou nada para a equipe da capital neste ano. ''Se eu for dizer que vamos terminar em tal lugar e não acontecer, então será tudo contra minhas palavras. Mas nosso time é muito, muito bom quando jogamos do jeito certo, quando exploramos nosso talento. O céu é o limite. As pessoas sempre perguntam se podemos ir para os playoffs. E eu digo que que sim. Essa é a resposta honesta. Mas temos de trabalhar.''

O problema: Nenê já perdeu sete partidas este ano, das 24 que o time fez até aqui. E o Wizards depende muito de suas habilidades e de seu jogo estabilizador. Segundo Lowe, o time venceu apenas 7 de 39 partidas sem o brasileiro. Com ele, são 42 triunfos e 46 derrotas.