NBA? Raulzinho vai de Espanha por enquanto: “É perfeito para mim”
Giancarlo Giampietro
A uma hora dessas, Raul Togni Neto, o Raulzinho, poderia estar se preparando para saber quais os movimentos preferidos de um Ty Lawson, um rival de Divisão Noroeste. Imagine? Como seria perseguir uma formiguinha atômica daquelas num contra-ataque? Será que ele prefere o corte pela direita ou para a esquerda? E o Damian Lillard? Como se manter próximo ao jogador do Portland e contestar seu perigoso arremesso?
Mas essas questões ficam, mesmo, para o Trey Burke. Entre ter de batalhar por alguns minutinhos no Utah Jazz, correndo o risco, na verdade, de estudar, sim, os movimentos dos veteranos da D-League da NBA, o brasileiro optou por aquilo que é mais seguro, mais certo: voltar ao Gipuzkoa Basket, na Espanha, e dar sequência ao seu desenvolvimento.
Aos 21 anos, ele entra em sua já terceira temporada na Liga ACB, o campeonato nacional mais forte da Europa, assimilando o que pode nos minutos preciosos contra concorrentes de alto nível. E tem de aproveitar mesmo: por pouco, sua equipe, de San Sebastián, não foi relegada ao segundo escalão, a Adecco Oro, depois de ser rebaixada na campanha passada.
Acontece que, para o bem do filho do Raul e preocupação do basquete espanhol como um todo, dois dos clubes que deveriam ter sido promovidos à elite – o CB Atapuerca (“Ford Burgos”) e o Lucentum Alicante – não conseguiram apresentar as garantias financeiras necessárias para jogar a liga principal. Já o clube basco, a despeito da crise, mas com o apoio de seus torcedores (91% dos associados renovaram seu título), se garantiu.
Confira abaixo uma rápida entrevista com o armador, falando sobre a importância dessa experiência espanhola em sua evolução, que será acompanhada de perto pelo Utah Jazz:
21: Qual a sua situação contratual no momento e o que esperar desta temporada com o Gipuzkoa Basket?
Raulzinho: Tenho mais três anos de contrato. Volto para o mesmo clube, pensando em ficar pelo menos mais um ano. Na última temporada a gente foi mal. O clube está passando por um momento difícil financeiramente, mas continuamos na ACB, esperamos fazer uma campanha melhor. Vamos tentar fazer um bom papel.
Pois é. O time chegou a ser rebaixado na temporada passada, mas, por falta de condições também de quem deveria subir, acabou ficando na liga. O que pensa sobre essa situação? Ao menos pode jogar na elite.
Acaba sendo uma situação boa para o nosso time, mas ruim para o basquete de maneira geral, né? Ruim para o basquete espanhol, com muitos times lidando com esses problemas financeiros. Mas foi bom para a equipe e acaba sendo bom para mim, para seguir jogando no nível da ACB. Então agora é aproveitar.
Sua equipe não entra na liga pensando em título. Jogar o playoff também é improvável. Por outro lado, você acaba tendo bastante espaço para jogar, ficar em quadra e mostrar serviço….
Para mim é um time perfeito, porque eu tenho a confiança do técnico e minutos de quadra. Acho que, com a idade que estou, seria ruim ficar num time em que não jogasse e que não tivesse essa experiência de estar em quadra. Não importa que não seja um time do nível de um Barcelona ou Real Madrid, mas, sim, que me dê mais oportunidades. É muito importante.
O que você destaca em sua experiência jogando na ACB? Você sempre foi conhecido na base como um armador agressivo, de forte ataque para a cesta. Aprendeu a balancear mais as coisas?
Acho que aprendi muita coisa. Já pela experiência de estar atuando no basquete internacional. Para o armador principalmente, é fundamental ter mais consciência na leitura de como jogar, saber mais o que deve fazer em quadra. Foi nisso o meu maior ganho. Acho que aprendi a controlar. Não perdi o meu poder de ataque, mas aprendi a controlar, escolher melhor as opções para atacar.
Como é o dia-a-dia nos treinos? Há alguém da comissão técnica que trabalhe com você individualmente?
Tem um trabalho individual que fazemos toda semana, uma ou duas vezes pelo menos com o técnico. Coisa de drible e passe e outros fundamentos que todo armador tem de ter. Na Espanha a gente joga uma vez por semana, então tem bastante tempo para treinar.
Você ficou um período em Los Angeles para se preparar para o Draft da NBA. Como foi esse trabalho?
É um treino mais individualizado. O pessoal vê o que você tem de melhorar, drible ou arremesso por exemplo, mais pensando ofensivamente. Mas foi muito bom passar lá por um mês com esse tipo de treinamento, me ajudou bastante.
Mas o que fica de legado desse tipo de atividade?
Acho que, para treinar, você precisa fazerem uma sequência, criar um dia-a-dia seu. Você não vai melhorar em uma semana. Mas lá a mentalidade de treinamento foi muito forte, a gente treinava bastante. Eles falam dos aspectos que precisamos melhorar mais. Falaram do meu arremesso, da minha defesa e do meu físico. É o que tiro de lá. Com certeza eu melhorei. Mas tenho de continuar me esforçando bastante para evoluir mais.
Agora o tema sobre o qual você já deve estar cansado de falar a respeito: Utah Jazz. Como será o contato com o clube a partir do Draft? O que você sentiu sobre a atual diretoria?
Pareceu um time que gosta de jogadores internacionais, que está aberto a isso, e já foram vários jogadores que já passaram por lá com mérito e não são americanos. Também é bom saber que vão estar me acompanhando, ver do que preciso para um dia ser o armador do time deles. É a minha primeira vez numa situação dessas, então não sei o que vai ser direito. Isso deixo para meu agente, para ver como vai ser esse contato.
PS: a entrevista foi feita no Brasil, antes da disputa da Copa América. Por isso, nada sobre a seleção. Timing é tudo, eu sei, eu sei. Pode reclamar. Em todo caso, aqui também vai uma entrevista do garoto ao site oficial de sua equipe. No finalzinho, sai algo sobre o torneio continental. Mas nada de outro mundo: “Treinamos muito, foram quase dois meses. Nós jogadores temos uma boa amizade fora da quadra e, ainda que os resultados não tenham sido bons, foi um bom verão com a seleção”.