Raulzinho põe pressão em calouro badalado do Utah, mas diz que só fica na NBA se for para jogar
Giancarlo Giampietro
Depois que Trey Burke foi selecionado na posição número nove do Draft, Raulzinho, ou Raul Neto, como dizem lá, precisou esperar um tempão. Mais 37 atletas fossem chamados até que ouviu o seu nome, como a 47º da lista, para o Utah Jazz, via Atlanta Hawks.
Então, na hora de juntar as peças, tentando entender quais os planos da franquia de Salt Lake City para a próxima temporada, o natural era pensar que tdoa a prioridade do mundo seria de Burke. Afinal, estamos falando do jogador do ano no basquete universitário, vice-campeão por Michigan, e pelo qual eles pagaram duas escolhas de Draft para poder subir cinco postos e asseugrá-lo.
Raulzinho? Bem, saindo apenas na segunda rodada, ele não teria direito a um vínculo garantido. Além disso, tem um contrato em vigência na Espanha. E… Será que a franquia toparia entrar no campeonato com dois armadores novatos em sua rotação? Quer dizer, o cenário não era muito animador para que o brasileiro seja aproveitado já na próxima temporada. Até que…
Nesta quarta-feira, depois de ficar fora das duas primeiras rodadas enquanto a burocracia da Fiba não liberava sua papelada, o armador foi para quadra na liga de verão de Orlando, teve uma ótima atuação em fácil vitória sobre o Brooklyn Nets por 98 a 69 e colocou um pouco de pimenta nessa história toda.
Raulzinho jogou por pouco mais de 18 minutos, saindo do banco, e terminou com sete pontos, três assistências e quatro rebotes. Mais que os números, porém, o que causou melhor impressão foi o modo como se comportou em quadra, tranquilo, sereno, sem se deixar levar por nenhum tipo de nervosismo. Ajuda o fato, claro, de ter atuado no segundo principal campeonato nacional do mundo nos últimos dois anos. “Estava mais nervoso ontem porque não sabia se iria jogar, mas hoje eu me senti bem demais”, disse o atleta.
Sem colocar muita fé no brasileiro, o técnico Jason Kidd (ainda soa muito estranho isso, aliás) colocou seus jogadores para pressionar o oponente na quadra inteira. Quem ficou mais no seu pé foi Chris Wright, jogador da D-League. No final, Tyshaun Taylor também foi para o abafa. O filho do Raul não deu a menor bola. Soube lidar com essa marcação, controlando bem seu drible e partiu para cima.
Em um lance no terceiro quarto, ficou muito perto de um turnover até que recuperou a compostura, sacudiu Wright com um crossover da direita para a esquerda, e limpou espaço para fazer o corte. Foi até a cesta e fez a bandeja na cobertura de chocolate, por cima do bração estendido do pivô. Uma de suas belas jogadas que deixaram todos os envolvidos bastante impressionados. Veja no vídeo abaixo este lance e uma assistência dele para ponte aérea, com muita categoria, a partir dos 50 segundos:
Apenas nos minutos finais do quarto período que o queridinho de Magnano afrouxou um pouco, evidentemente cansado, cometendo alguns turnovers ao tentar inventar demais, com passes por trás das costas e tal. Na defesa, teve alguma dificuldade para conter, se colocar à frente do atlético Wright, especialmente no primeiro tempo. De um modo geral, ele parecia um pouco pequeno perto de tanta gente atlética e vigorosa. Mas, após o intervalo, provavelmente mais adaptado ao nível de competição e ao caos geral que tende a ser uma destas partidas de verão, fez um trabalho muito melhor lidando com essas investidas e causou alguns desperdícios de bola e contestou arremessos.
No geral, foi uma tremenda atuação, ainda mais considerando o fato de que nem treinar direito com os novos companheiros ele pôde – e era visível o desentrosamento da equipe, com um bando de jogadores reunidos há poucos dias, muitos dos quais nunca atuaram em conjunto. ''Você não precisa treinar com o time. Todo mundo joga o mesmo jogo'', afirmou o brasileiro, confiante que só.
“Ele fez um ótimo trabalho. Levando em conta que ele nem treinou conosco, isso mostra um pouco sobre sua mentalidade”, afirmou o assistente técnico Sidney Lowe, que comanda o time de verão do Jazz, que se derramou em elogios – e o melhor foi notar que o técnico principal, Tyronne Corbin, observa tudo atentamente na lateral da quadra, ao lado do legendário Jerry Sloan, agora um consultor da franquia. “Ele sabia cada jogada. Ele sabia o que queríamos, nossas ações. Ele sabia aonde os caras deveriam estar. Sabia o ritmo. Isso fala muito (sobre seu talento).”
A equipe de transmissão da NBA TV não parava de citar seu nome. Era “Raul Neto” para lá e “Raul Neto para cá” – pareciam ter prazer de falar essas palavras, também. Beeeem diferente de quando precisavam narrar o nome do esloveno Rašid Mahalbašić, hehe.
Os setoristas dos diários de Utah também fizeram sua parte em elogiar o brasileiro. E, jornalista que são, já começaram a ficar irrequietos e a desenvolver uma trama que deve dominar a seção de esportes do Salt Lake Tribune e do Desert News nesta quinta-feira. A carreira de Trey Burke na NBA não tem nem uma semana e ele já se vê pressionado.
O armador revelado por Michigan não foi nada bem nas duas primeiras partidas em Orlando, a ponto de a comissão técnica ter decidido preservá-lo contra o Nets. Seus números após confrontos com Miami Heat e Houston Rockets: 9,5 pontos, 3,5 assistências, 4,5 rebotes e três desperdícios de bola. Seria algo até regular não fosse o horrendo aproveitamento de 22,2% arremessos e os 10% na linha de três pontos. No total, ele acertou apenas seis chutes em 27 tentativas. Argh.
Então…
“Será interessante ver como Trey Burke reage depois de ter sentado no banco e observar o jogo depois do modo como Raul Neto respondeu”, escreveu Jody Genessy, do DN. “Muito foi falado sobre como Burke vai precisar de tempo para aprender o ataque (algo verdadeiro), e então Net aparece e mostra que sabe, friamente”, escreveu Bill Oram, do Tribune.
Deu para sacar o clima, né?
Da sua parte, quando questionado sobre o que o futuro (imeadiato) lhe reserva, Raulzinho manteve a linha: é preciso esperar que seu agente, o ex-ala-pivô Aylton Tesch, vai resolver com o Jazz e com o Lagun Aro GBC, seu clube na Espanha. Mas mandou seu recado também, dizendo que só fecharia com a franquia da NBA se tivesse garantias de que seria aproveitado em quadra – seria pouco inteligente, mesmo, trocar uma situação confortável numa liga fortíssima com a ACB, na qual vem evoluindo consideravelmente, para virar um esquenta-banco nos Estados Unidos.
“Claro que, se eu tiver que escolher, quero jogar na NBA, mas isso não cabe a mim”, afirmou ao DN. “Tenho de falar com meu agente e ver o que será melhor para mim. Porque não quero ficar aqui sem jogar. Eu quero jogar.”
Está certo que foi apenas uma partida, numa liga de segundo escalão, e que há muito mais o que fazer durante a semana. Mas, se a primeira impressão é a que fica, vai ser difícil o Utah Jazz não deixá-lo jogar. Goste Trey Burke, ou não.