Louisville e um dos momentos mais marcantes do ano esportivo desde já
Giancarlo Giampietro
Depois de uma das cenas mais graves, horríveis do ano, vale mesmo ficar com uma das mais bonitas e emocionantes.Pena que, no YouTube, não houvesse nenhum vídeo mostrando os garotos de Louisville erguendo o troféu da NCAA de campeões da região do Meio-Oeste do torneio da NCAA. Que não houvesse a imagem deles segurando a camisa de Kevin Ware em quadra, orgulhosos de mostrar sua número 5, realmente como se fosse a taça mais importante que poderiam ganhar neste domingo.
Agora… A da fratura? Está lá, em todos os ângulos.
Que coisa.
O ala-armador Ware sofreu uma absurda fratura na perna quando tentava fazer o que sabe melhor: defender, tentando contestar um arremesso de três pontos de Duke. Desabou em quadra.
No movimento da câmera, você acompanhava o jovem Tyler Thornton, de Duke, que havia convertido o arremesso, colocar a mão na testa, com uma expressão extremamente desconfortável. A edição, então, mostra, do outro lado da quadra Ware e mais três companheiros caídos. A primeira impressão foi a de que alguma coisa poderia ter caído no ginásio, algum produto ou detrito. Estavam quase todos com a mão no rosto. E aí, enfim, o olho repara no que aconteceu de falta, e os replays seguintes não deixariam nenhuma dúvida.
Fica aquele mal-estar danado e, aos poucos, você vai assimilando o que está acontecendo, comovido junto com os garotos de Rick Pitino, que não conseguiam acreditar, assimilar que um deles passasse por um acidente daquele.
''Não lembro a última vez que chorei. Mas fiquei soluçando. Sem palavras, fiquei sem palavras. Fiquei me perguntando o porquê daquilo. Apenas caí no chão. Chorei, era apenas isso que conseguia fazer. Eu o vi deitado e apenas chorei'', disse o ala Chase Behanan, o amigo mais próximo de Ware e quem correu, depois, com o uniforme do companheiro por toda a quadra em Indianápolis.
''Quando ele pisou no chão, eu ouvi. Ouvi e logo vi o que aconteceu e, imediatamente, apenas percebi que não conseguia mais sentir nada, e que foi realmente difícil para mim me recompor, porque não achava que veria algo assim em um milhão de anos'', afirmou o ultraveloz armador Russ Smith, cestinha do time e que foi para a partida combatendo uma febre daquelas de derrubar.
A reação dos garotos foi impressionante.
Todos eles, incluindo o casca-grossa Rick Pitino, foram surpreendidos, então, quando Ware, ainda estirado em quadra, pediu para seu técnico chamar os demais Cardinals de Lousville. E, apesar de toda a dor que estava sentindo, ainda conseguiu simplesmente pedir para que eles não deixassem, de modo algum, de ganhar aquela partida. O jogo, aliás, estava duríssimo naquela altura, na metade final do primeiro tempo. ''Ele estava com tanta, mas tanta dor. Mas eles nos chamou e nos disse para não nos preocuparmos com ele. Ele nem ligava para a perna, ele se impostava conosco. Não sei como ele fez aquilo'', disse Behanan.
Quando Ware foi removido, foi oferecida aos jogadores de Pitino a chance de fazer um novo aquecimento. Eles estavam muito abalados, claro. Mas negaram e foram para a quadra segurando as lágrimas.
Ficou aquele suspense no ar. Como reagiriam? Seguiram disputando cesta a cesta com Duke até o intervalo e, na volta, simplesmente demoliram o time do Coach K, que chegou a ficar mais de 12 minutos sem conseguir uma cesta de quadra.Venceram por 85 para o a 63 e conseguiram a classificação. ''O que importa é como você responde no momento. E eles responderam de um modo inacreditável porque eles tiveram de superar um sério problema com faltas marcadas. Tiveram de superar uma grande equipe. Tiveram de superar a perda de alguém que eles amavam'', disse Pitino.
Em momentos como esse, as frases que, isoladas, poderiam parecer um dramalhão barato e exagerado para o esporte, mas, quando você vê estas fotos aqui em conjunto, fica tudo muito bem compreensível.
E ficamos só nas fotos, mesmo. Por que o vídeo? Mais de um dia depois, seguimos esperando um que mostre a reação, a comemoração de Louisville – digo, realmente um vídeo apenas da comemoração.