Análise: Brasília vence jogo tresloucado com defesa sufocante de Alex sobre Marquinhos
Giancarlo Giampietro
Algumas notas sobre o clássico entre Flamengo e Brasília, aparentemente as duas melhores equipes do basquete brasileiro. Uma vitória dos candangos por 82 a 70, impondo a segunda derrota do rubro-negros na atual edição da liga nacional:
– É claro que vai irritar muita gente, mas não dá para evitar a sugestão: se isso é o que há de melhor hoje no basquete brasileiro, então a coisa está feia, mesmo. Ficando evidente que os times participantes do NBB não conseguem dar aquele salto técnico tão aguardado.
(Pausa para que se digira essa colocação por alguns cucos…)
(Pronto.)
Que o ginásio borbulhando influencia no comportamento dos atletas decididamente – afinal, eles, por mais experientes que sejam, não estão nada habituados a entrar em quadra com tanta gente assim na plateia, mesmo que haja todo aquele espaço azul nas laterais da quadra para separá-los.
Que a rivalidade também contribui para tanto nervosismo. Havia muita tensão no ar, claro.
Mas chega uma hora que você espera que as coisas se assentem em quadra. Que os atletas tenham se aclimatado e passado a se concentrar tão somente no que precisavam executar em quadra, canalizando toda a energia do confronto de modo positivo.
Não foi o que aconteceu, e o que vimos foi um jogo sem ritmo algum: é de atordoar a facilidade para se alternar entre sequências infindáveis de ataques e contra-ataques tresloucados, com um festival de decisões equivocadas, e um jogo travado pelo excesso de faltas duplas, reclamações e tantas explanações didáticas (bem didáticas, tudo explicadinho, direitinho, em prol do basquete, sabe? Bem direitinho mesmo e didático, tintim por tintim, não se enganem). Foram muitos erros de bandeja e em finalizações no garrafão.
– Na NBA, já é recorrente a discussão sobre a eficiência do famigerado “hero ball”: quando o sujeito põe a bola debaixo do braço nos segundos finais, pede para limpar a quadra e parte para o abraço, para as glórias. É ele contra a rapa. Já não é realmente o cenário mais indicado. No confronto desta quinta, vimos isso acontecer muitas vezes: individualismo exacerbado. Com uma diferença: muitas vezes apenas no início de uma posse de bola qualquer no segundo quarto. Ou no primeiro. Ou no fim do terceiro. Enfim…
– O resultando de tanto nervosismo e tentativa de heroísmo na frieza dos números: um aproveitamento muito baixo nos arremessos de quadra. O Brasília matou 30 em 70 tentativas de cesta (42,8%). O Flamengo foi de 22 em 66, o clássico 33,3%. Ugh. E não me venham dizer que foi por causa de duas muralhas defensivas. Muralha, mesmo, tem um nome. Vamos a ele…
– Também não chega a ser novidade, mas é preciso reconhecer mais um esforço louvável de Alex para conter seu companheiro de seleção brasileira, Marquinhos. Não dá para dizer que existe uma rivalidade pessoal entre os dois. Mas ambos sabem que é um duelo diferente, envolvendo dois jogadores de ponta, de seleção. E nós sabemos que esse é o tipo de jogo que Alex adora também. Pois o “Brabo” usou todo o seu vigor físico, aplicação e fundamento para anular um dos jogadores mais talentosos ofensivamente do campeonato.
Alex ainda terminou com 11 pontos, boa parte deles anotados no quarto final, mas a grande influência que ele exerceu sobre a partida foi na marcação, mesmo, se dedicando a arrancar o flamenguista de sua zona de conforto.
– Sobre Marquinhos, realmente foi um jogo bastante decepcionante. O ala não conseguiu reagir contra a defesa sufocante de Alex, se perdendo em quadra. Em vez de encarar o desafio, buscar mais infiltrações – já que o tiro de fora não caía… –, o ala fez o contrário: sucumbiu, recuou em quadra e insistiu em chutes de probabilidade muito menor de acerto. Encerrou sua participação com apenas uma cesta de quadra em dez tentativas.
Quando não brecava para buscar o arremesso, procurava rodar a bola. Mas, aturdido, cometeu uma série de erros. Foram cinco desperdícios no total, sem contar outros passes forçados quase interceptados pelos oponentes. Seria um jogo para esquecer, não fosse a necessidade de rever seu desempenho e tentar tirar uma lição disso.
– Fica a expectativa para que o pivô Paulão consiga dar um jeito em seu físico. Porque do jeito que está não dá. Naturalmente, vocês vão achar que o blogueiro ficou maluco, já que o rapaz somou 17 pontos e 10 rebotes no triunfo, sendo o jogador com melhor índice de eficiência da partida. Agora, tivesse o Flamengo um pivô mais ágil, como ficaria Paulo Prestes em quadra?
– Aliás, esse é um ponto constantemente destacado pelo professor Paulo Murilo em suas análises no Basquete Brasil (leitura obrigatória para avaliar o que se passa, ou não, com a tática no NBB) e que ficou evidente: lentos, Caio e Paulão ficam bastante deslocados em seus elencos, com um estilo que não combina com a vocação do restante dos companheiros. E, por falar em Paulo Murilo, fica uma dica para os basqueteiros cariocas de plantão, ou aqueles que possam dar um pulinho no Rio de Janeiro: o professor vai coordenar uma oficina imperdível de 28 a 31 de março.
– Nezinho: 4 acertos em 11 tentativas de três pontos. Onze. Algumas delas horrorosos, daquelas de tirar as crianças da sala.
– Impressão, ou Alex está saltando ainda mais? O mesmo vale para Giovannoni, que, nos segundos finais, saiu com bastante facilidade do chão para dar duas raras cravadas.
– Sobre a transmissão: ponto para o SporTV por ter enviado sua equipe para o ginásio, dando a chance para que os telespectadores pudessem captar toda a pressão exercida pela torcida. Só uma observação: será que não dava para caprichar mais no cronômetro apresentado na tela? Dependendo do tempo de jogo, a visualização é extremamente difícil – e, sim, meus óculos estão com a lente correta. 🙂
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