Aos poucos, Lucas Bebê segue com seu desenvolvimento na Espanha
Giancarlo Giampietro
Por Rafael Uehara*
A segunda temporada como profissional já tem sido bem melhor que a primeira para o jovem Lucas Nogueira. Mesmo com metade da campanha ainda por vir, o brasileiro já disputou mais jogos neste ano (nove) do que em todo o ano passado (quatro). Já é uma coisa e nos ajuda a entender o programa que o clube madrilenho Asefa Estudiantes tem para o garoto de 20 anos.
Lucas passou todo o seu primeiro ano treinando com o time principal do clube, pelo menos até ser mandando pra casa no último mês, mas em nenhum momento teve qualquer chance de ganhar sua vaga na rotação. Estava lá apenas para se desenvolver fisicamente, competindo contra marmanjos nos coletivos.
Neste ano ano, um passo adiante. Lucas tem sido o pivô reserva do time, com participação garantida em todos os jogos, sempre como o primeiro substituto do titular Lamont Barnes, jogando 11 minutos por partida em média. Pode parecer pouca coisa, mas, em comparação com os 31 minutos que ele somou em toda a temporada passada, os 107 que já têm neste campeonato mostram que o clube tem se sentido seguro em usar o garoto mesmo enquanto tenta se estabelcer como um concorrente por uma vaga nos playoffs. É um dado que traz uma refrescante confiança de que Lucas continua em um processo de desenvolvimento sadio num dia-a-dia ao qual não temos acesso ou muita informação sobre.
Seus números maximizados (9,5 pontos em 62,5% de aproveitamento de quadra, 8,7 rebotes e 3,6 tocos a cada 40 minutes jogados, segundo o site voltado a revelações DraftExpress) são impressionantes para um pivô d, mas não necessariamente significam evolução tão expressiva no jogo do jovem. Os que têm visto Lucas jogar esse ano notam rapidamente que ele ainda não tem porte físico para segurar o garrafão todo o domingo, às vezes indo contra veteranos duas vezes mais largos que ele.
Para cada posse em que ele ataca a cesta com agressividade deslizando no pick-and-roll vem uma em que ele mostra muita dificuldade em dominar um passe em movimento. Para cada posse em que ele demonstra visão de jogo com um bom passe no perímetro vem uma em que ele nem recebe a bola porque não consegue segurar posição contra alguém superior fisicamente como Vitor Faverani, por exemplo. E o pivô continua a fazer faltas a uma taxa exorbitante (6,3 a cada 40 minutos… Istoé, nem terminaria um jogo) – o que é um problema sério, ainda mais para alguém que joga tão pouco, e que eventualmente poderá afetar seu tempo de quadra quando chegar ao ponto em que for bom o suficiente para ficar em quadra.
Mas tudo isso não é motivo para aflição quando estamos falando de um jovem de 20 anos que vive basicamente seu primeiro ano de tempo habitual, consistente contra profissionais. Seus principais talentos (estatura e mobilidade) estão sempre evidentes em todo o jogo de que ele entra e sempre fornecem a chance para Lucas deixar um impacto em cada partida. Seu desenvolvimento em habilidade ainda caminha, talvez a um passo muito moderado, mas todo aquele potencial visto naquela Copa América Sub-18 de dois anos atrás, indo contra dois alas-pivôs que certamente jogarão na NBA (Patrick Young e Tony Mitchell) ainda vale.
Aliás, resgatar aquele torneio de base se faz sempre necessário na hora de avaliar os jogadores mais jovens do Brasil. A seleção liderada por Bebê e Raulzinho ficou um triplo perdido de desbancar um time americano liderado por Kyrie Irving, Austin Rivers e Quincy Miller. Porque, se jogadores como Kryie Irving e Nikola Mirotic já têm mostrado a capacidade de impactar jogos entre profissionais no mais alto nível, ás vezes nos esquecemos de que esses são fenômenos e não a norma. O progresso das demais revelações que em um ponto ou outro mostraram o mesmo potencial nas categorias de base não pode ou deve ser comparado em relação a dois atletas diferenciados como esses, por exemplo.
Por isso não devemos ler muito no fato de Lucas não ter impressionado muito os scouts americanos no EuroCamp da Adidas em Treviso do ano passado, por exemplo. Qualquer opinião que tentar se provar definitiva sobre um jogador de sua idade neste momento corre o risco de não apenas ser precipitada, mas como extremanente datada em questão de meses. É totalmente OK aceitar que ele não estava pronto pra aquele processo naquele ponto, dentro e fora de quadra.
Não sei dizer se aquela experiência e um ano mais devagar em sua evolução o ajudou de alguma forma. Mas é claro que Lucas, independentemente de percepções ou expectativas, tem seguido em frente com seu desenvolvimento. E, considerando sua envergadura e impulsão, o céu realmente continua o seu limite.
*Editor do blog ''The Basketball Post'' e convidado do Vinte Um para este mês. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.