Doc Rivers conta como pretende usar Leandrinho em Boston
Giancarlo Giampietro
Leandrinho vai sair do banco do Boston Celtics, provavelmente para substituir Rajon Rondo, mas isso não quer dizer que Doc Rivers vá forçar a barra e querer transformar o brasileiro num armador. Conforme escrito aqui há alguns dias, a gente sabe muito bem no que isso ia dar. Ufa.
Na verdade, quando tiver de descansar Rondo por um tique e um taque, Rivers deve adotar a armação, condução da equipe por comitê. Vários jogadores em quadra que possam carregar a bola de modo decente e tocar o barco a partir daí. ''Eu amo sua velocidade e sua habilidade para levar a bola, mas não temos um armador reserva, o que temos é mais um carregador de bola. Nossa teoria é que, se jogarmos três carregadores de bola na quadra, alguém vai poder subir com ela – e este é o modo como vamos jogar com nossa segunda unidade'', explicou o técnico.
O bom é que Leandrinho já sabe o que o espera. Em entrevista ao Basketeria, já em Boston, ele afirma que foi informado sobre a escalação de Courtney Lee como titular e que ele jogaria ao lado de Jason Terry. ''Vai ser difícil para um time que tiver marcando a gente porque vai ter que marcar um ou marcar outro, um vai ter que ficar livre'', afirmou, confiante.
Aqui é hora de colocar um bedelho: tanto Terry como Leandrinho estão acostumados a advogar em causa própria. Os dois reservas começaram suas carreiras com a esperança de se transformarem em armadores – Terry em Atlanta, Leandrinho em Phoenix –, mas esses experimentos foram abortados um ou dois anos depois pelos clubes. Passaram a ser aproveitados essencialmente como finalizadores, como os pontuadores saindo do banco de reserva para manter o pique de seus times no ataque. Como o próprio brasileiro afirma: ''O Jason Terry tem mais ou menos o mesmo jogo que eu, eu gosto mais de ir lá dentro na cesta, ele gosta mais daquele chutinho de dois pontos. Mas eu tenho certeza que a gente vai se entender''.
Não vejo problemas de ego interferindo nesta situação. A dificuldade é assimilar apenas a química em quadra com o restante da equipe – Jeff Green e Jared Sullinger ou Brandon Bass, que não vão ficar muito contentes se alienados no ataque. Conduzir a bola é uma coisa. Fazer isso com a cabeça erguida, para criar para os outros é bem diferente.
Um ponto interessante na resposta do brasileiro sobre a dupla com Terry foi citar que o veterano jogava em Dallas ao lado de atletas semelhantes como Rodrigue Beaubois e Delonte West. ''Então ele tá acostumado a jogar nesse situação de combo-guard'', disse. Isso mostra o quão preparados os atletas da NBA são. No sentido de que, antes de se reunir para valer com os técnicos e companheiros, Leandrinho já guardava essas informações na cabeça, num reflexo do trabalho de scout e repasse de dados, vídeos e obsevações que cada clube faz com seus jogadores.
Só um porém: Terry, na verdade, dividia a quadra por mais tempo com um certo Jason Kidd, simplesmente um dos armadores mais brilhantes que a NBA já teve. Um Kidd já envelhecido, cada vez mais limitado ao passe, que só conseguia uma ou duas bandejas por temporada – se feitas no contra-ataque, isolado na banheira. A pont de Terry ter muito volume de jogo com seus arremessos de média e longa distância para compensar a retidão do parceiro. Outro detalhe desse par que funcionava bem: mais alto e muito mais forte, Kidd cobria os alas na defesa, preservando Terry, que ficava na marcação dos armadores. (Para completar e constar: Delonte West também sempre foi mais passador do que o brasileiro. Beaubois, sim, é um atleta bem parecido em termos de ligeirinho).
A combinação entre Terry e Leandrinho é só mais uma peça que Rivers vai ter de encaixar em sua ajeitada máquina. No time titular, as coisas pouco mudam. De todo modo, o treinador tem um bom número de reforços para entrosar e envolver. Então sabe que precisa de um pouco de paciência para o time render de acordo com seu potencial – e a expectativa lá é brigar, sim, pelo título.
''Espero que tenhamos um ótimo início, mas também sou realista para saber que vamos estar bem longe de nosso melhor basquete na noite de abertura comparando com o que teremos no final da temporada, porque nós temos a habilidade de usar um monte de combinações diferentes'', afirmou. ''Mesmo que possamos usá-las, elas têm de funcionar. Elas têm de se adequar. E leva tempo para a química e entrosamento. Apenas leva tempo. Considerando os diferentes grupos que podemos por em ação, acho que vai levar ainda mais tempo.''