Façanha de veterano espanhol resgata época dominante de Oscar na Espanha
Giancarlo Giampietro
Oriol Junyent, aos 36 anos, teve talvez a partida de sua vida na Liga ACB. O veterano pivô do Obradoiro (vulgo ''Blu:sens Monbús'') arrebentou com o garrafão do CB Canarias neste fim de semana, chegando a um índice de eficiência de 31 pontos, devido aos 20 pontos, seis rebotes, 11 faltas recebidas e sete cestas em oito tentativas de quadra. Tudo isso em apenas 22 minutos de jogo. Afinal, ele já não é dos mais jovens em quadra e precisa de um descanso.
Mas não vamos falar aqui de Junyent, que foi revelado na base do Barcelona e viveu seus melhores anos no campeonato entre 2001 e 2005, mas nunca chegou a ser uma estrela ,com médias de 6,9 pontos e 4,4 rebotes na carreira.
É que a façanha estatística do pivô – superar a casa de 30 pontos de eficiência aos 36 anos – permite que se resgate a época em que um certo Oscar Schmidt era dominante na Espanha, com esta mesma idade.
Calma. Não vamos fazer aqui uma apologia de que só contam os cestinhas e nada mais no basquete – Carlos Jiménez, Andrei Kirilenko já ganharam seus posts para reforçarem o outro lado do jogo, menos badalado e igualmente importante –, mas isso não quer dizer também que os muitos feitos históricos do legendário ala brasileiro não sejam de embasbacar.
O site da ACB recuperou quais os jogadores que conseguiram superar essa difícil barreira estatística com 36 anos no documento. E Oscar foi o segundo que mais vezes bateu este feito, em sete ocasiões. Também foi quem estabeleceu o melhor índice, e disparado: 50 pontos de eficiência numa só partida, e disparado. São dez a mais do que conseguiu o ala Bill Varner, norte-americano que fez carreira na Europa nos anos 80.
(Para registrar: George Gervin, primeiro grande ídolo do Spurs, o ''Iceman'' da NBA, aquele que completava as bandejas mais plásticas até hoje vendidas em imagens históricas da liga norte-americana, superou a casa dos 30 pontos de eficiência dos 36 para cima em oito oportunidades.)
Existem chutadores malucos e chutadores vorazes. Entre as duas definições, pode haver um oceano todo de pontos de diferença, como no caso do Mão Santa, que justificava com facilidade o criativo e simpático apelido. Sua munheca podia ser divina, mesmo. Para um sujeito ter 50 pontos de eficiência num jogo, ele tem de ser dominante na quadra.
Por exemplo: o líder nesse quesito durante o fim de semana foi o ala canadense Carl English, que conseguiu 37 pelo Estudiantes contra o Cajasol. Foram 32 pontos, sete rebotes, duas assistências e conversão de 11 chutes 19 tentativas de quadra, sendo 7/11 na linha dos três pontos. Nada mal. Nada mal, mesmo. Só vale lembrar que English hoje tem 31 anos, cinco mais jovem do que Oscar na época – e foram 13 pontos de eficiência a menos. Tentem, imaginar, então, a linha estatística do brasileiro.
Seja por suas intempéries como cidadão, pelo papel de patropi forjado nas cabines de transmissão ou por ter jogado até idade avançada, muitos podem se confundir na hora de avaliar o que o ala fez em quadra. Esse pequeno levantamento feito pela liga espanhola, porém, ajuda a refrescar a cuca, avaliar as coisas com mais calma e distanciamento e ver o quão importante o cara já foi em quadra.
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Nas Olimpíadas de Seul-1988, Oscar marcou inacreditáveis 42,3 pontos por jogo, quase 20 a mais do que o talentosíssimo ala australiano Andrew Gaze fez (23,9). O Brasil terminou em quinto naquela edição, mesma colocação da equipe de Magnano em Londres-2012. Antes que o acusem de unidimensional, saibam que apanhou 7,8 rebotes naquela campanha.
Naquele torneio, a seleção foi eliminada nas quartas de final pela eventual campeã União Soviética, num jogo em que tiveram chance: 110 a 105, depois de terem vencido o primeiro tempo por cinco pontos. Oscar atuou por 37 minutos e marcou 46 pontos, convertendo 13 de 23 chutes de quadra (5/8 nos três pontos) e fantásticos 17 em 18 lances livres.
(Reparem na linha daquela muralha que era o pivô Israel: 22 pontos e 11 rebotes contra um garrafão poderoso formado por Arvydas Sabonis e Alexander Volkov.)
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Com 2,05 m de altura, Oscar tinha esta vantagem: podia arremessar por cima da maioria de seus marcadores, o que lhe permitiu ser essa máquina de fazer cestas com idade avançada, mesmo quando sua capacidade atlética já não lembrava em nada a daquele ala que completava pontes aéreas com Carioquinha nos primeiros anos de profissional. Grosso modo, é como funciona com Dirk Nowitzki hoje pelo Dallas Mavericks.
Só assim para explicar como, aos 38, ele conseguiu, em Atlanta-1996, marcar 26 pontos contra os Estados Unidos, sendo marcado por gente como Scottie Pippen e Grant Hill. Neste torneio, porém, ele já não tinha mais a mesma eficiência, mas eram 38 anos, oras.
Dessa época, de todo modo, podem ter ficado os resquícios que o tacham de fominha inconsequente – bem, em Seul ele deu apenas oito assistências na campanha inteira, e, mesmo que a distribuição das estatísticas não fosse, naqueles tempos, das mais generosas, é muito pouco. Difícil, não há muito como negar a ''fome''. Também não era o melhor marcador, mas é difícil de acreditar que os 25, 30 pontos que ele fazia de um lado eram todos descontados precisamente do outro. Enfim, o Mão Santa pode não ter sido um jogador perfeito, completo. Mas foi um jogador único e mortal ao seu modo.
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Oscar é o maior cestinha de campeonatos mundiais, com 843 no total e 24,1 por jogo. Também é o maior cestinha, com 1.094 e 28,8, respectivamente. Foi sete vezes o cestinha do Campeonato Italiano e uma vez da liga espanhola. Eleito em 1991 um dos 50 melhores jogadores da Fiba, ao lado de Wlamir, Ubiratan e Amaury.
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Para fechar, um duelo entre Oscar e Drazen Petrovic em uma copa europeia de 1989 (Copa dos Vencedores de Copas Europeias, tá?). O brasileiro jogando pelo Caserta, da Itália, e o croata, pelo Real Madrid. Oscar leva o jogo para a prorrogação com um chute daqueles, mas acaba excluído no tempo extra com cinco faltas e 44 pontos. Petrovic beirou os 60 pontos e na prorrogação passava por marcação dupla no perímetro. Notem como o jogo era mais leve, as defesas mais vulneráveis e que ser um defensor no mano-a-mano ruim não era um fator restrito ao maior cestinha olímpico: