Alguém precisa se candidatar a herói olímpico?
Giancarlo Giampietro
Imagino que muita gente que frequenta estes aposentos um tanto esculhambados – o Vinte Um, que fique claro, e não a casa maior, sempre azeitada – deva também dar suas bandas por vizinhanças muito mais glamorosas, como o ESPN.com americano. Lá, a galera deve ter tido contato com o blogueiro Henry Abbott, do True Hoop, que já fez a alegria e a fúria de muitos leitores com uma cruzada particular contra Kobe Bryant.
Não é exatamente um ataque pessoal contra o astro do Lakers, mas ele não deixa de dar suas estocadas no ala quando critica a cultura do que chama de ''hero ball' na NBA. Aquela coisa de, nos minutos finais de uma partida, abrir mão de qualquer sistema para que a bola fique isolada em um canto da quadra com a superestrela de cada equipe, que teria carta branca para decidir e matar o confronto – ou não.
Abbott resolveu fazer um extenso levantamento sobre o aproveitamento de Kobe nos minutos finais em lances decisivos para, supostamente, desconstruir o mito em torno do cestinha, que seria considerado o principal predador da liga nesse tipo de ocasião. De acordo com seus números, ele não seria nem o melhor, nem um dos cinco melhores, nem um dos 20 melhores. Sinceramente, dá preguiça de ir além no assunto: acho que as coisas não são podem ser julgadas só pelo mero aproveitamento de qualquer atleta. Precisa ver como foi cada chute e em que contexto ele aconteceu. A discussão vai longe – por que o capitão do Lakers seria, então, ainda, um dos jogadores mais temidos da liga, por atletas, técnicos e cartolas?
Mas todo esse preâmbulo serve para nós falarmos de seleção brasileira. E se o tema é ''hero ball'' e a equipe nacional, já dá para sacar aonde estamos chegando, né?
Leandrinho e os minutos decisivos da estreia contra a Austrália.
Com cerca de dois minutos para o fim, por duas posses de bola seguidas, o Brasil se contentou em entregar a bola nas mãos de Leandrinho para deixar que o ala resolvesse a parada. Leandrinho seria o herói da vez. E não dá para concordar com isso.
Se há gente que conteste esse tipo de armação até mesmo para um Kobe – ou um Ginóbili, um Gasol, um Tony Parker –, não posso nem arriscar os impropérios que o Mr. Abbott soltaria diante da ocasião em que o até agora desempregado Leandrinho decide/é colocado para jogar contra a rapa.
Não que ele não tenha condição de criar algo: o ala tem um bom chute de três pontos e ainda parte para a cesta com um primeiro passo explosivo acima da média. O problema é o que acontece no meio do caminho. Invariavelmente, o ligeirinho toma decisões equivocadas com a bola, esbarrando em postes no garrafão ou queimando bolas de três pontos absurdas de forçadas, como fez neste domingo, com pouco menos de 50 segundos para o fim e sua equipe vencendo o jogo por quatro pontos. Foi um chute que me remeteu na hora para 2007, em um daqueles fatídicos duelos Brasil x Argentina no Pré-Olímpico de Las Vegas, no qual ele ignorou o corta-luz de Nenê para chutar a uns bons oito metros de distância. Saiu uma tijolada desgovernada.
Então, se não for ele, vai quem?
Acho que não há resposta para essa pergunta. Na real, ela nem deveria ser feita.
A equipe brasileira tem um ótimo elenco, com muitos jogadores competentes para executar diversas tarefas, mas o que não temos é este sério candidato ao ''hero ball''. Então, em vez de contar com anomalias, o recomendável talvez seja partir para quadra com um cenário em que Huertas e Magnano pudessem determinar qual a melhor opção para aquele momento. Tudo vai depender do rival, sua quantidade de faltas individuais e coletivas, quem do seu lado está com a mão quente e outras tantas alternativas. Tudo de acordo com o que o jogo propõe, mas baseado em ações em conjunto.
É muito mais razoável do que tentar glorificar ou crucificar um só atleta.
Leandrinho, no caso.
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O mercado da NBA já deu uma bela esfriada, e até agora não há sequer um rumor lá fora que envolva Leandrinho. Muitos jogadores de sua posição já se arrumaram. Caras como Ray Allen, Eric Gordon, Shannon Brown, OJ Mayo, Courtney Lee, Jason Terry, Randy Foye, Lou Williams, Ronnie Brewer, Nick Young etc.
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Batendo na mesma tecla: o veloz ala rende muito mais quando envolvido em movimentações em que receba a bola em boas posições para dar o bote. Depois de um corta-luz, um corte por trás o marcador etc., a coisa funciona muito melhor do que simplesmente isolá-lo na quadra para que crie algo por conta. Recebendo a bola em movimento, a caminhoa da cesta, ele pode usar sua explosão com muito mais eficácia, para passar pela defesa como um legítimo ''Vulto Brasileiro'' (seu apelido na liga em 2006, 2007 e agora esquecido). Próximo da cesta, seu aproveitamento é bem superior ao de média para longa distância.