As estrelas alternativas do Draft
Giancarlo Giampietro
No Draft da NBA, os blueseiros de Nova Orleans só querem saber do Anthony Davis, também conhecido como Monocelha, ala-pivô de Kentucky garantido como a escolha número um. Para os brasileiros, mais que natural voltar as atenções para a dupla Fabrício Melo, pivô mineiro de Juiz de Fora, que fez o ensino médio e dois anos de universidade nos Estados Unidos, e Scott Machado, norte-americano filho de pais brasileiros imigrantes na América e que se define como um gaúcho de Porto Alegre em perfil de redes sociais.
Aqui no QG 21, porém, há espaço para todo mundo. Sofre de transtorno de ansiedade e prefere embarcar num avião? É apenas dois anos mais novo que o nosso Tiago Splitter e está prestes a fazer um contrato de seis dígitos, no mínimo, depois de ter servido no Iraque? Então sinta-se em casa.
Os scouts e cartolas da liga norte-americana viajaram o mundo, fizeram entrevistas com adolescentes nas quais usaram de perguntas básicas e outras um tanto descabidas – do tipo “entre ser uma máquina de lavar roupa ou um liquidificador, qual você preferiria?” –, se enfurnaram em ginásios (boa parte deles climatizados, é verdade), gastaram o controle remoto do DVD e o mouse do computador e, ufa!, neste momento, devem estar flertando com a insanidade. Faltam poucas horas para eles tomarem uma decisão que pode lhe custar a cabeça ou render alguns tapinhas no ombro por parte do bilionário que controla sua franquia.
Todo mundo queria Davis, o Monocelha, mas só tem um desse disponível neste ano. Não é fácil fazer o restante das escolhas. Não quando você tem uma gama de jogadores disponíveis como estes aqui:
– Royce White, de Iowa State
O ala-pivô deve ser o prospecto a dizer que se sente conectado com John Lennon ''por inspiração e filosoficamente''. Tupac, Eminem, Dr. Dre, Jay-Z que abram caminho para White passar. Ele afirma que tem interesse em tocar piano no futuro. Isso não assusta os cartolas. Na verdade, até desperta simpatia.
- O que desperta precaução no rapaz é seu medicamente comprovado transtorno de ansiedade, identificado apenas aos 18 anos. Por vezes lhe cria dificuldades na hora de subir em um avião. Ele diz que, uma vez decolado, não se sente aterrorizado no ar. Difícil, nos piores dias, são as horas antecedentes ao voo. No torneio dos mata-matas universitários, viajou de carro com o avô por mais de nove horas para um jogo em Louisville. Mas o jogador garante que viajou de avião diversas vezes com os Cyclones durante a temporada. Outras questões delicadas que ele precisou responder durante o contato com os clubes foi sobre a acusação de roubo a uma loja em um shopping em Minneapolis.
Em quadra, White é um dos jogadores mais intrigantes dessa leva. Um ala-pivô como visão de armador, capaz de ter linhas como dez pontos, 18 rebotes e dez assistências em uma partida.
Seu técnico, Fred Hoiberg, que jogou no Indiana Pacers de Reggie Miller nos anos 90, fala que ele é como um “trem de carga descendo a quadra”. Também tem as mãos mais largas de todos os jogadores inscritos no Draft, do dedão ao dedinho, esticados, são 29,21 cm. No caso de você estar se perguntando.
Quem topa?
– Bernard James, pivô de Florida State
Pivô forte e atlético, de 2,08 m de altura, que tem média superior a dois tocos por partida em sua carreira universitária e evoluiu em muitas categorias de sua terceira para a quarta temporada. O tipo de prospecto pelos quais os dirigentes se atraem com facilidade. Não tivesse ele 27 anos de idade. Nascido no dia 7 de fevereiro, ele é apenas um ano mais velho que nosso rodado Tiago Splitter. E o que esse senhor fazia na universidade a essa altura da vida, sendo oito anos mais velho que Davis, por exemplo?
A resposta tem a ver com “I Want You To Join The US Army”.
Ele passou seis anos a serviço da Aeronáutica norte-americana, viajando por cinco continentes, passando inclusive pelo Iarque. Ele se alistou depois de ser expulso do colegial. Quando mais novo, não tinha o menor interesse em jogar basquete. Acabou se iniciando no esporte para valer apenas quando um comandante o avistou em um campo de treinamento na Califórnia e o convocou para um “racha” na mesma noite: “Ele perguntou seu eu jogava, disse que não, mas aí ele falou que a partir de então eu jogaria”. Ordens são ordens. Em seis anos, ganhou quatro medalhas de ouro nos Jogos Militares. Em 2008, começou sua carreira universitária em um Junior College de Tallahassee. Dois anos depois, chegou a Forida State, onde entrou no radar. Da NBA, claro.
Esses são os dois casos mais curiosos, segundo o bisbilhotado. Mas tem mais:
– Austin Rivers, ala-armador de Duke, filho de Doc Rivers, técnico do Boston e uma das mentes mais respeitadas da liga. Quando saiu do colegial, era considerado um dos melhores talentos de sua geração. Na universidade, não foi todo esse estouro. Por outro lado, não se atreva a dizer isso ao sujeito, nem ao seu pai. Rivers, o Austin, se comporta como o maioral e tem um certo complexo de Kobe Bryant – sem pular, sem ser tão forte, ou sem ser tão alto como o astro do Lakers. Ah, tá..
– Jared Sullinger também saiu do colegial badalado e brilhou em sua temporada de calouro em Ohio State e, contrariando o protocolo, decidiu voltar para a universidade para viver a vida de um segundanista. Os puristas todos aplaudiram: o pivô estaria valorizando seus estudos, dando um exemplo para muitos garotos etc. Um ano depois, evoluiu pouco em quadra e, pior, despertou a preocupação dos médicos do mundo cruel da NBA com um problema em suas costas. Hoje, vê sua cotação despencar. Baita prêmio para um bom menino, hein?
– O ala Evan Fournier, francês, é um dos poucos estrangeiros deste ano bem cotado para a primeira rodada do Draft – sem contar aqui o “Fab Melo”, que entra na cota de universitários, embora brasileiro. Não fala uma vírgula de inglês, chegou de última hora aos Estados Unidos e está batalhando sua escolha contra os prodígios da casa. O ala grego Kostas Papanikolau, campeão da Euroliga pelo Olympiakos e jogando nesta semana pela seleção de seu país em São Carlos, corre por fora.
– Tem também o Ryan Allen, que é irmão do Tony Allen, pitbull do Memphis Grizzlies, que já jogou com o Ray Allen pelo Boston Celtics. Um anônimo no Draft, Ryan, um ala, treinou duas vezes pelo Milwaukee Bucks nos últimos dias, a franquia que escolheu nos anos 90 o próprio Ray Allen. Confuso? Também ficamos.
PS: Clique aqui para ver o que o blogueiro publicou sobre o Draft da NBA em sua encarnação passada