Vinte Um

Guia olímpico 21: os EUA estão desfalcados. E importa?

Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira nesta quarta-feira, iniciamos uma série sobre as equipes do torneio masculino das Olimpíadas do #Rio2016. Não vai dar para escrever tanto sobre os demais 11 times como foi feito com o Brasil, por razões óbvias, mas vamos lá.

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A Argentina viu em primeira mão nesta sexta-feira que um dos ouros 99,9% certos do #Rio2016 é o do basquete masculino para os Estados Unidos. Por educação e pela precaução mais pueril, é melhor não cravar nada. A Espanha e a França têm equipes muito experientes, entrosadas e um elenco muito mais talentoso que o Argentino para, no dia certo, tentar desafiá-los. Mas seria preciso que jogassem muito, mesmo, que o Team USA enfrentasse problemas inesperados.

O grupo
LeBron James, Stephen Curry, Chris Paul, Russell Westbrook, James Harden, Anthony Davis, Blake Griffin, LaMarcus Aldridge, John Wall, Damian Lillard, Andre Iguodala, entre outros… Pelos mais diversos motivos, Jerry Colangelo viu um grupo enorme de jogadores talentosos que abriram mão da viagem ao Rio de Janeiro. E adivinha só? Não faz diferença nenhuma. Com Kyrie Irving, Kyle Lowry, DeMar DeRozan, Klay Thompson, Jimmy Butler, Paul George, Carmelo Anthony, Kevin Durant, Draymond Green, DeMarcus Cousins e DeAndre Jordan a bordo, o Coach K poderia convocar até mesmo o Harrison Barnes que não teria problema. Foi o que ele fez, inclusive.

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Quando você tem uma espinha dorsal com Durant, Melo, George e Draymond, tudo fica mais fácil de se modelar. A princípio, você até poderia estranhar a presença de apenas dois armadores na convocação. Mas aí basta lembrar o que esses quatro versáteis atletas fizeram por suas respectivas nos últimos anos, colocando nessa conta aí também DeRozan e Butler, e temos oito jogadores capazes de carregar a bola numa boa contra qualquer defesa mais pressionada. Boa sorte, Rubio e Sergios, Parkers e Batums.

E aí tem o outro lado da moeda: Paul George pode marcar tranquilamente um Marcelinho Huertas, um Milos Teodosic ou um Greivis Vasquez. Mas esses caras poderiam marcá-lo também? Hmm…. No mano a mano? Não. Ah, então seria melhor colocá-los contra outro atleta. Isso, mesmo. Só me diga quem. Se nenhum dos baixinhos, Irving ou Lowry, estiverem em quadra, não tem o que fazer com o seu armador além de apelar para a zona. Ou isso, ou ele poderá sobrar com Klay Thompson. Com Jimmy Butler. Ou com… Entendeu, né?

Atleticamente, não há como fazer frente a esses caras – só os armadores têm menos de 1,98m de altura, e eles vão ser infernais pressionando a bola e rompendo as linhas de passe para sair em contra-ataques letais. Há quintetos que permitirão a Coach K a ordem de troca geral na defesa. O pacote de fundamentos, versatilidade e até mesmo tamanho é demais.

Em meia quadra, mesmo a França com Gobert, Diaw, Lauvergne e Pietrus vai ter de se esforçar para não tomar uma surra nos rebotes. Porque tem isso: por via das dúvidas, Krzyzewski não está contando 'apenas' com seus alas-pivôs multifuncionais. Ele também chamou dois mamutes como Cousins e Jordan como integrantes da tropa de choque, muito provavelmente pensando em Gobert e Marc Gasol (que não se recuperou de sua fratura no pé e está fora). Basta lembrar o que Boogie fez contra a Sérvia na final da Copa do Mundo em 2014. Saiu do banco no primeiro período e garantiu a vitória em dois ou três minutos de soberania no garrafão.

Rodagem
Em relação ao grupo de Londres 2012, são dez atletas novos. Só ficaram Durant e Carmelo, na real. Isso também poderia ser um fator preocupante, não fosse o plano simples e brilhante que Colangelo botou em prática desde que assumiu a gestão da USA Basketball. A cada verão (setentrional), ele não se preocupou apenas em recrutar os principais caras do momento, convidando também jovens promessas para inseri-los no programa da federação pelo menos como sparrings. Deste modo, alargou a gama de convocáveis para o Coach K e manteve também um senso de competição entre os astros, com a ideia de que participar da equipe é para se cobiçar e conquistar, em vez de ser um fardo. Então se os EUA têm dez estreantes olímpicos, isso não quer dizer que eles sejam novatos para a seleção. Além do mais, outros quatro atletas do grupo (Irving, DeRozan, Thompson e Boogie) já estavam presentes na conquista do Mundial há dois anos. Por fim, tirando Boogie, todos os 11 jogadores têm vasta experiência em confrontos pelos playoffs da NBA.

Para acreditar
Precisa escrever mais aqui? Então tudo bem: também desfalcado, o time americano venceu suas nove partidas pela Copa do Mundo França 2014 com uma média de 33,0 pontos de saldo.

Questões
Risos.

(…)

Mais risos.

(…)

Tudo bem, vamos lá. Se é para apontar uma coisa, seria, em tese, o ultrafavoritismo do time. Se, por alguma acaso, qualquer oponente conseguir fazer frente a esses caras por 30 e poucos minutos, eles vão saber encarar essa adversidade? Aí a suposta inexperiência pelo mundo Fiba pode abalá-los? A torcida brasileira assumiria o lado dos mais fracos e oprimidos?

Acho que fico só nisso. De resto, insisto: Irving e Lowry não estarão sobrecarregados na condução do time quando Draymond, Butler, George, Durant e até mesmo Boogie (!!!) estiverem em quadra.

***OS ELEITOS***

Kyrie Irving
Armador, Cleveland Cavaliers
Torneios Fiba: Copa do Mundo 2014.

Para ganhar o prêmio de MVP da Copa, Irving marcou 26 pontos em 24 minutos na final contra a Sérvia, acertando todas as suas seis tentativas de longa distância, algumas delas a partir do drible, marcado. No torneio, de um modo geral, ele acertou 60,9% de seus disparos de fora e 56,2% dos arremessos no geral. Como eles dizem por lá: ''piece of cake''. Molezinha. Para alguém tão habilidoso com a bola, driblando e chutando, a linha de três reduzida da Fiba é uma maravilha.

Kyle Lowry
Armador, Toronto Raptors
Torneios Fiba: estreante de tudo, nem competições de base base jogou

Lowry vai descolar alguns lances livres para a seleção americana e também curtir essa história de linha mais curta. Se estiver com vontade, pode pressionar bastante o armador adversário por toda a quadra, como fazia nos primeiros anos de liga. Desde que ele não pense que está jogando pelos playoffs da Conferência Leste, está tudo bem.

DeMar DeRozan
Ala-armador, Toronto Raptors
Torneios Fiba: Copa do Mundo 2014.

DeRozan trabalhou bastante para se tornar um jogador de US$ 139 milhões, que é o valor do contrato que acabou de assinar, com duração de cinco anos. Ele desenvolveu demais sua técnica de drible e, depois de James Harden, virou aquele que mais bate lances livres na liga. O chute de média distância funciona, e sua capacidade atlética lhe ajuda a convertê-los mesmo quando contestado ou em ângulos improváveis, assim como acontecia com Kobe. Em transição, vai sobrar no Rio. Pode usar suas ferramentas atléticas também para marcar bem a maioria de seus oponentes. Também só não pode acreditar que esteja jogando mata-matas pelo Raptors.

Klay Thompson
Ala, Golden State Warriors
Torneios Fiba: Copa do Mundo 2014.

Thompson não quis saber de descanso após mais uma looonga temporada, a despeito da frustrante derrota para o Cavs. Talvez a melhor forma para esquecer as finais seja fazer terapia em quadra, mesmo. Em 2014, o ala já havia se firmado como grande personagem da seleção, devido a sua combinação de chute e marcação firme, compenetrada. Com ele em quadra, os técnicos adversários vão ter de pensar seriamente em como montar uma defesa por zona.

Se deixar chutar...

Se deixar chutar…

Jimmy Butler
Ala, Chicago Bulls
Torneios Fiba: estreante de tudo.

A experiência com o Team USA pode fazer bem a Butler, para amansar um pouco seu ego. De menino exemplar de Marquette, superando inúmeros obstáculos durante sua adolescência até se tornar um jogador de NBA – algo que no High School seria considerado bastante improvável –, o ala deu um trabalhão danado aos técnicos e dirigentes do Bulls no ano passado. A condição de estrela da equipe subiu à cabeça segundo diversos relatos. Quem sabe a companhia de diversos jogadores mais qualificados não lhe devolvam a humildade? Em quadra, Butler pode ser um marcador implacável, contra jogadores mais baixos ou mais altos. No ataque, pode ser um segundo armador e uma força em transição.

Paul George
Ala, Indiana Pacers
Torneios Fiba: estreante.

Era para George ter disputado a Copa há dois anos. Mas foi quando ele sofreu aquela lesão aterrorizante, que deixou a NBA inteira chocada – e o mundo Fiba preocupado com eventuais consequências na cessão dos atletas. Isso tudo ficou no passado, ainda bem, e aqui está o polivalente ala afastando de ver seus fantasmas, pronto para ajudar Coach K no que der e vier. Precisa de alguém para carregar a bola? Para defender? Para se dedicar aos rebotes? Para chutar? Para atacar a cesta? Aqui está o seu cara.

Um grande susto em 2014

Um grande susto em 2014

Harrison Barnes
Ala, Golden State Warriors
Torneios Fiba: estreante.

A convocação que ninguém entendeu direito. Mesmo que seu desempenho pelas finais não tivesse sido um absoluto desastre, seria muito difícil de justificar sua presença entre 12 olímpicos. Ainda assim, depois do ''não'' de última hora de Bradley Beal, Colangelo fechou com o ala de jogo mecânico, mas que deve funcionar bem pela seleção, em raros minutos que for chamado. Pode marcar a maioria dos alas-pivôs adversários numa boa e abrir para o chute. Se estiver empenhado ou acordado, também contribui com rebotes. Só fico imaginando o quão estranho deve ser para ele treinar e jogar ao lado de Draymond e Klay sabendo que será a última vez que os terá como companheiros, antes de se juntar a Dirk Nowitzki em Dallas. Mais: com Kevin Durant ali pertinho lhe ofuscando novamente.

Kevin Durant
Ala-pivô, Golden State Warriors
Torneios Fiba: Olimpíadas 2012, Copa do Mundo 2010.

Depois do que ele fez nos últimos dois torneios pela seleção, acho que podemos dizer que Durant é, hoje, o melhor jogador do mundo Fiba, quando ele se apresenta a Coach K. Seu desempenho no Mundial de 2010 foi antológico. Não há um jogador em seleção nenhuma do mundo que possua características física que possam ao menos lhe incomodar. Ele é bem mais alto que todos os alas da concorrência e muito mais rápido do que qualquer ala-pivô que tente ficar à sua frente. Ainda mais quando dá partida do perímetro, onde precisa ser marcado a cada instante. Ah, sim: e ele passa a bola, pegou gosto pela defesa, vai proteger o aro vindo do lado contrário e, como bônus, já poderá acelerar seu entrosamento com Draymond e Klay. Desculpe aí, Harrison.

Aquecimento para o Warriors

Aquecimento para o Warriors

Carmelo Anthony
Ala-pivô, New York Knicks
Torneios Fiba: Olimpíadas 2004, 08, 12. Copa do Mundo 2006. Copa América 2007.

Está aqui o Capitão Fiba da USA Basketball. Melo joga há tanto tempo pela seleção que já testemunhou até mesmo aqueles tempos mais difíceis, com três derrotas nos Jogos de Atenas e mais uma derrota, na semifinal para a Grécia, pelo Mundial do Japão. Desde aquele tropeço em 2006, porém, o time está invicto. Contra equipes internacionais, Anthony pode se afirmar como um grande reboteiro. E seu arremesso de longa distância se torna um pesadelo para os marcadores. Um dos lances prediletos da carreira do cestinha? É frear em transição para arremessar de três pontos. A serviço da seleção, com inúmeros contragolpes disponíveis, ele se esbalda com isso.

Draymond Green
Ala-pivô, Golden State Warriors
Torneios Fiba: estreante.

Seria Draymond Green o Charles Barkley desse time? Em Barcelona 1992, o Chuckster aprontou e falou horrores, desbocado que só. Dá para esperar um ou outro entrevero ou chiste por parte do temperamental, mas ultraversátil líder do Golden State. Com ele, Coach K pode investir ainda mais no small ball sem receio nem mesmo de perder a disputa por rebotes ou de abrir o garrafão para a galera.s

DeMarcus Cousins
Pivô, Sacramento Kings
Torneios Fiba: Copa do Mundo 2014.

Se tem uma coisa que já tem sido bastante engraçada nos últimos dias é a cobertura que o Sacramento Kings faz de Boogie Cousins em suas redes sociais. É Boogie por todos os lados e para todos os gostos. Quase como um reality show. O risco, para o clube, é, na volta para casa, ele sofrer com aquele choque térmico: sair de Draymond Green como parceiro na linha de frente para Georgios Papagiannis não é para qualquer um. Mas, sério: dependendo do relacionamento com o técnico Dave Joerger e do desempenho em geral de seu time, o flerte com superastros da liga pode enfim levar o pivô ao há-muito-tempo-esperado-pedido-de-troca. Pela última Copa do Mundo, Cousins foi um soldado exemplar, constantemente elogiado por diretores e técnicos.

DeAndre Jordan
Pivô, Los Angeles Clippers
Torneios Fiba: estreante.

A gente espera tudo, mas tudo mesmo no #Rio2016. Menos um hack-a-Jordan. Por favor: tuuuuudo menos isso.

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