Vinte Um

Spurs contém Warriors e dá o troco. A gente se vê na final do Oeste?

Giancarlo Giampietro

LaMarcus: 26 pontos e 13 rebotes em 37 minutos, capitaneando o ataque lento do Spurs

LaMarcus: 26 pontos e 13 rebotes em 37 minutos, capitaneando o ataque lento do Spurs

O placar? Foi 87 a 79 para o San Antonio Spurs. Digno da tediosa, arrastada final de 2005 contra o Detroit Pistons.

Mas de modorrento o segundo confronto dos texanos com o Golden State Warriors nesta temporada não teve nada. Quer dizer: os jogadores da casa conseguiram atender ao pedido de Gregg Popovich e desacelerar a partida, investindo em jogadas com os pivôs no garrafão, brecando Stephen Curry em qualquer momento que ele conseguisse sair em transição, se Danny Green assim permitisse. Um cenário bem diferente do que vimos há algumas semana quando os atuais campeões derrubaram OKC de modo inacreditável. Só deste modo mesmo para os caras vencerem.

Ainda assim, foi um jogo emocionante ao seu modo, com intensidade de playoffs e diversas alternativas, em que o Spurs saiu de cabeça erguida, para  compensar, um pouquinho que seja, a surra que haviam tomado no primeiro duelo. Passa a impressão de que aquela surra de 30 pontos de diferença (120 a 90) foi mais uma aberração, um resultado que não condizia com a reduzida distância entre ambos na tabela e no confronto de estatísticas. Por sinal, em termos de saldo ofensivo e defensivo, os estatísticos, sempre eles, vão apontar que os homens de espora são tão ou mais favoritos ao título, mesmo que na tabela ainda tenham três reveses a mais.

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Do outro lado, o Warriors sai frustrado, claro, pelo simples fato de terem perdido talvez a primeira partida im-por-tan-te neste campeonato e também por estar simplesmente desabituado a derrotas: agora são sete em 69 rodadas. Maaaas, dadas as condições – desfalques de Iguodala, Bogut e Ezeli –, fora de casa, na segunda noite de uma dobradinha –, certamente não será o caso de Draymond Green espernear e berrar no vestiário. ''Estava tudo voltado contra nós. Dito isso, vendo o que foi feito, foi impressionante'', disse o técnico, que deve ter ficado feliz da vida por ver sua defesa reativada, enérgica, com deslocamento lateral assustador, forçando 17 turnovers e permitindo apenas 41,0% nos arremessos de quadra.

Estivessem os dois pivôs disponíveis para Kerr, e talvez a disputa de rebotes não tivesse sido tão desfavorável, com San Antonio levando a melhor por 53 a 37, com 14 coletas ofensivas bastante preciosas, depois de excelente defesa de Golden State. Por mais que tivessem executado o bloqueio, era difícil para que Shaun Livingston, Harrison Barnes e mesmo Draymond Green afastassem alguém da estatura de LaMarcus Aldridge da tabela.  Pois Anderson Varejão parece estar com a mobilidade bastante comprometida, alguns passos mais lento na defesa, recebendo minutos limitados mesmo numa situação dessas. É… Magnano está monitorando? Mas deixemos a seleção para depois. Leva tempo. Mas não é hora de falar sobre isso. Voltemos ao jogo.

O torcedor de San Antonio, de todo modo, pode tranquilamente contestar essa afirmação sobre as baixas do rival e lembrar que Tim Duncan só ficou em quadra por oito minutinhos. Foi apenas a terceira vez em sua carreira, depois de 1.300 e poucos jogos, em que o pivô, um dos dez melhores jogadores da história da liga, saiu do banco. Deu uma corridinha no primeiro tempo e não voltou mais depois do intervalo.

Para matutar: isso faz parte do jogo de xadrez de Pop? Ou o pivô sentia algum desconforto? Sinceramente, para essa segunda hipótese, acredito que a chance é praticamente zero – se há um clube que não vai assumir risco nenhum em um jogo de temporada regular, não importando qual seja, é o Spurs. Há pelo menos mais duas opções: 1) não importando quem esteja escalado do outro lado e as condições físicas da estrela, talvez não haja espaço para ele num confronto com esse oponente em específico, lembrando que ele já havia sido preservado no primeiro embate, com supostas dores no joelho; ou 2) que, a partir do momento em que viu que Bogut não jogaria, Pop achou que não precisava usar seu craque.

É difícil apostar contra Duncan. Por mais que esteja arrastando sua perna direita ainda mais este ano, com um joelho que parece inexistir, na verdade, com minutos controlados e média de pontos abaixo da casa de 10,0 por partida, o pivô ainda é uma figura muito influente para o sistema defensivo do Spurs, que é o mais eficiente da liga, como pudemos ver tão bem hoje. Por um lado, Diaw, bundudo daquele jeito, deixa o time bem mais flexível, podendo ainda punir Harrison Barnes perto da tabela (14 pontos, 8 rebotes e 6-7 nos arremessos em 35 minutos). Por outro, a proteção de cesta fica muito mais eficaz com Duncan por ali. Houve diversos momentos em que Aldridge, Diaw ou West vinham fazer a dobra pelo centro da defesa, e a aposta aqui é de que o ex-nadador das Ilhas Virgens ainda faria pelo menos esse reduzido, mas importantíssimo papel com muito mais competência.

De qualquer forma, quando você segura o esquadrão do Warriors a apenas 79 pontos – de longe, sua menor contagem na temporada –, não há do que reclamar na defesa. O Spurs marca tão bem, mas tão bem que a única oportunidade de backdoor que foi permitida ao Golden State, com Klay Thompson no primeiro período, suscitou um pedido de tempo furioso por parte de Pop. De resto, qual quebra nos movimentos foi tão clamorosa assim? Mas mesmo Patty Mills e Tony Parker foram muito bem. Sempre com os braços para cima, em alerta. Os grandalhões fizeram o mesmo. Com disciplina, não caíram nas fintas desconcertantes de Curry.

 Foi uma defesa agressiva, mas sem cometer muitas faltas (19). Não queriam forçar turnovers, mas, sim, vigiar o mais de perto possível os chutadores oponentes, deixando sempre algum pivô por perto, sem fazer a dobra imediata, mas marcando território. Eram contestados, perseguidos, mas não dá para dizer que fosse uma abafa, uma pressão frenética. Ajuda, claro, ter dois marcadores excepcionais como Kawhi Leonard e Danny Green para isso, altos, atléticos e ágeis para se manterem por perto como uma ameaça, sem precisar morder. Green, aliás, foi um espetáculo. Se conseguir reproduzir esse tipo de atuação por quatro partidas em eventual final de conferência, nem vai importar que seu tiro de três não esteja caindo.

Popovich gosta de pegadinhas durante a temporada, não vai mostrar tudo o que tem, mas neste confronto testou para valer o quão efetiva pode ser sua defesa contra os Splash Brothers. Era necessário, depois da pancada que haviam tomado e também pelo fato de que os próximos dois jogos podem acontecer em situação bem menos competitiva, dependendo de qual será a campanha de cada um até lá. E o técnico deve ter adorado o que viu.

Os Splash Brothers acertaram apenas duas em 19 tentativas de longa distância. Mas nem mesmo quando colocaram a bola no chão foram muito melhores, terminando com 11-38 no geral, um horror. Especialmente no primeiro tempo, os dois estavam desnorteados em quadra, se precipitando em suas ações secundárias, já que a opção pelo tiro de longa distância era desencorajada por seus marcadores. E, de novo: nos momentos em que Curry escapava na transição ofensiva, era parado com falta. Em nenhum momento entrou em ritmo. O mesmo aconteceu com Thompson, cujos movimentos fora de bola são geralmente tão fluidos, naturais. Em San Antonio, saiu tudo forçado, aos soluços para a dupla. Estavam inseguros, com dúvida sobre o que fazer. É algo que Pop e seus atletas provocam, como poucos. LeBron sabe como é. 

Vamos lembrar, em argumento pró-Warriors, que era a segunda partida em duas noites para eles, enquanto o Spurs, já em casa, descansou. Mas esta derrota não teve nada que ver com o surpreendente tropeço contra o Lakers. Ali, rolou soberba e faltou energia, foi uma ressaca das mais brabas, mesmo. Dessa vez, o aproveitamento horroroso se deve muito mais ao empenho e cérebro de seus adversários.

Numa série de playoffs, com scouts, técnicos e jogadores imersos em nuvem de jogos, diversos detalhes virão à tona, sugerindo os famosos ajustes e as reações a estes. Na final do ano passado, Curry penou contra a marcação física de Matthew Dellavedova. Mas aí o Warriors começou a antecipar seus corta-luzes e liberou a quadra para seu armador jogar e criar. A diferença é que Green não precisa atacar Curry de imediato. É muito mais alto e atlético que o australiano e tem condições de, mesmo se bloqueado, se recuperar e incomodar o armador (como no vídeo acima). Se teria fôlego por toda uma série, aí é outra história.

Seriam, certamente, diversas as possibilidades com elencos tão versáteis e talentosos. Vale assistir de novo ao jogo e ver o quanto Spurs e Warriors defenderam, sem a força bruta da NBA de 11 anos atrás, mas com pés ágeis e trocas constantes de marcadores em coordenação plena. A essa altura, com exceção de Kevin Durant, Russell Westbrook, Chris Paul e Doc Rivers, a NBA inteira está torcendo para uma série melhor-de-sete entre estes times. Quando vamos chegar lá?

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A busca pelo recorde? Bom, o Warriors precisa de 11 vitórias em 13 jogos até o fim da temporada, para superar o Bulls de 1996. Com três derrotas, repetira o 72-10 de Jordan, Pippen, Rodman e Randy Brown. 🙂 Segundo o ''Basketball Power Index'' do ESPN.com, o time californiano tinha 59% de chances de alcançar a marca de 73 vitórias antes de jogar em San Antonio. Agora caiu para 49%. Arredondando, oras, ainda estamos falando de 50/50.

Serão apenas quatro jogos como visitante, mas dois deles numa segunda noite de back-to-back, contra Utah (altitude, sempre um rival chato em Salt Lake City, talvez ainda brigando por colocação no playoff) e… San Antonio.

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Por falar em recorde, e daquele Chicago, o Spurs chegou a 44 jogos de invencibilidade jogando em seus domínios, algo que aquela histórica equipe também havia conseguido. O Warriors, porém, já derrubou essa marca, somando 50 triunfos consecutivos em casa.

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Por fim, ainda falando de sequências, a única cesta de longa distância que Curry fez na noite deste sábado ao menos serviu para que ele chegue a 160 jogos seguidos com um chute desses convertido.

E o bom desse time do Warriors? Eles seguem perfeitamente um dos pontos essenciais para Gregg Popovich: saber rir das coisas. Depois de seu jogo apático, Curry soltou esta no Twitter: ''Não sei quanto a vocês, mas acho que joguei uma das minhas melhores partidas do ano (risos). Viver e aprender. Vamos para a próxima!''