Vinte Um

Wizards domina Bauru desde o início. Notas sobre o amistoso

Giancarlo Giampietro

Robert Day certamente volta para Bauru feliz da vida

Robert Day certamente volta para Bauru feliz da vida

Desta vez o Bauru não conseguiu nem incomodar o gigante do outro lado. Na conclusão de sua excursão pela Costa Leste americana, o time brasileiro foi derrotado por 134 a 100, no quintal do Obama. Agora a equipe volta para casa, descansa um pouco e volta a se concentrar no NBB.

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O Bauru sentiu o impacto de enfrentar uma das melhores defesas da NBA, estando entre as dez mais eficientes da grande liga nas últimas três temporadas. É um time com atletas de primeiro nível em todas as posições, e a pressão já começa com o exuberante John Wall a partir do momento em que a bola cruza a quadra, forçando um caminhão de turnovers (19), incomodando até mesmo um armador habilidoso como Ricardo Fischer (5).

O abafa continua a partir do início das jogadas de pick-and-roll na cabeça do garrafão, marcando em cima a linha de passe e também a própria fonte. Os brasileiros não conseguiam dar continuidade a seus movimentos, quase sempre desestabilizados. O time da casa soube proteger seu garrafão – e não é que os bauruenses fossem procurar muito o jogo lá dentro… –, mas também não deu liberdade aos chutadores.

Bauru arriscou 39 arremessos de longa distância e converteu 13, para 33,3%. Agora, se for descontar a munheca certeira de Robert Day (5-7), que se esbaldou nestes dois amistosos, obviamente realizando um sonho de encarar seus melhores compatriotas, cairia para 8-32 (25%). Mesmo quando estiveram livres, não funcionou. Hettsheimeir foi para 2-10, enquanto Jefferson passou em branco (0-5).

Contra Knicks e Wizards, Day marcou 36 pontos e acertou 10 de 16 arremessos de longa distância.

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Uma vez recuperada a bola, seja pelo rebote ou desarme, o Wizards voou em quadra, com uma transição muito veloz, batendo os adversários do armador ao pivô. Não foi apenas John Wall a apostar corrida e ganhar com facilidade, o que seria mais que normal. Marcing Gortat (19 pontos em 22 minutos, em 12 arremessos) e Nenê (11 pontos em 7 arremessos, em 16 minutos) também conseguiram, e já no primeiro tempo, antes mesmo que o desgaste que a maior carga de minutos que um jogo nas regras da NBA pode gerar. Foram 38 pontos em contra-ataque para os anfitriões, contra apenas seis dos visitantes. Ao final do primeiro período, com 34 a  19, já não havia mais jogo.

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Quer dizer, pelo menos teve jogo para Wesley Sena, sim. O garoto de 19 anos teve uma ótima oportunidade de se testar contra um Marcin Gortat, Nenê e os veteranos Drew Gooden e Kris Humphries. Não é todo dia que acontece, mesmo que no segundo tempo a partida tenha ganhado contornos de rachão. Em 28 minutos, o caçula foi muito mais produtivo que Jefferson dessa feita, com 11 pontos, 5 rebotes, 2 assistências, matando 5 em 8 arremessos, incluindo seu único chute de longa distância. Em alguns momentos, o jovem pivô deixou rebotes e passes escaparem dado o evidente nervosismo, que resultou numa atuação totalmente pilhada no primeiro tempo. Mais que natural, e até por isso estava mal posicionado em algumas situações defensivas, faltando comunicação com os outros pivôs. O tempo foi passando e ele, se assentando, até que pôde fechar a partida contra a turma do garbage time do Wizards.

Wesley também foi indiretamente protagonista do momento mais eufórico do jogo, para o torcedor do Wizards que estava no ginásio, quando a organização da partida resolveu fazer uma aposta sacana. Colocaram no telão do ginásio que, se o brasileiro errasse dois lances livres, a galera toda teria direito a um x-salada com frango. Fizeram uma algazarra, o pivô cumpriu com sua parte, e aí era a hora de encher a pança depois da partida. Fico imaginando o que estaria passando pela cabeça de Wesley, sem entender nada do que se passava – por que teriam escolhido justo ele para atormentar?! –, até ser informado pelo pessoal do banco de reservas.

De qualquer forma, é isso: uma experiência valiosa para o jovem atleta, que já fez um bom Campeonato Paulista para alguém de sua idade e certamente vai constar na rotação de Guerrinha durante a temporada brasileira, ainda mais com Rafael Mineiro se mandando agora para o Flamengo.

Sei de pelo menos um time da Conferência Oeste que esteve no ginásio com o intuito exclusivo de avaliar Wesley, tendo acompanhado também os treinos de Bauru durante a semana. É bem provável que outros times tenham comparecido ao jogo também.

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Para fechar, uma nota um tanto chata sobre Nenê. O pivô não aceitou falar com a reportagem do SporTV antes do jogo ou na saída de quadra durante o intervalo. Fosse uma final de campeonato, ainda que o protocolo da NBA não diga nada a respeito, não faça nenhuma diferença a respeito, até daria para entender o silêncio. Mas num jogo de pré-temporada? Em casa? Com uma emissora brasileira? No dia de enfrentar uma equipe nacional, com transmissão para cá? É bem difícil de entender, e trata-se de um episódio acidentado de relações públicas que não ajuda em nada sua imagem já arranhada no país, como as vaias no amistoso entre Wizards e Bulls, no Rio de Janeiro, há dois anos, mostraram.

O paulista de São Carlos sempre foi um cara muito reservado diante de microfones, de falar pouco, mas não me lembro de vê-lo tomar uma atitude dessas. No máximo, quando contrariado, tinha o costume de ser monossilábico ou evasivo em respostas. Consta que ele tem uma mágoa com o jornalismo brasileiro. Tudo em decorrência de supostas críticas ao seus pedidos de dispensa da seleção. Não é questão de corporativismo, mas sinceramente nunca notei uma campanha declarada e ferrenha contra Nenê para gerar um desconforto desses. Até porque, convenhamos, qual o tamanho da imprensa segmentada no país? Por isso, suponho (ênfase em suposição, por favor, não é informação) que a mágoa não seja restrita ao jornalismo, mas ao basqueteiro brasileiro em geral, até por conta das vaias no Rio. Mas, enfim, cada um vai enxergar a situação de uma forma. Só me parece que existe um baita ruído nessa relação e, do lado do pivô, talvez já não haja mais a mínima vontade de se remediar. Uma pena.