Vinte Um

Teria Rafael Luz feito o bastante para se garantir na armação da seleção?

Giancarlo Giampietro

O Brasil fez grande campanha no Pan-Americano, jogando seu melhor basquete desde que o técnico Rubén Magnano assumiu a seleção. Um jogo que aliou a marcação agressiva de temporadas anteriores em cima da bola, mas com excelente cobertura e o garrafão trancado. Foi no ataque, porém, que as coisas fluíram de um modo bastante salutar — e há muito esperado –, com solidariedade, explorando os recursos individuais de um elenco que pode não ter tanta grife, mas mostrou que tem um potencial interessantíssimo. Entre os destaques, está Rafael Luz, um armador que nos deu no Pan indícios de seu constante progresso em quadras espanholas. Uma evolução que vem com tempo de jogo, e no mais alto nível da Europa. Rafael deixou o Obradoiro após dois anos, e saiu aplaudido pela torcida, como capitão. O que ele fez de especial rumo ao ouro em Toronto e no que o ainda jovem jogador pode trabalhar? Vejamos:

Scout por Rafael Uehara, especial para o VinteUm

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Contexto
Titular absoluto na Era Magnano,  Marcelinho Huertas descansou para poder priorizar o Pré-Olímpico, enquanto  Raulzinho foi vetado pelo Utah Jazz durante a fase de preparação. Com isso, Rafa Luz foi ganhou mais espaço e pôde comandar a seleção no Pan Americano. Se havia alguma apreensão em torno dessa situação, o que vimos foi um armador guiando o time a cinco vitórias em cinco jogos e à medalha de ouro.

Criação
Rafael ainda tem dificuldade em penetrar o garrafão em situações de meia-quadra, contra a defesa armada, pois lhe falta aceleração pra cortar para dentro quando o oponente o força para os lados. Isso lhe implica problemas, então, para criar separação do marcador quando ataca em linha reta para a cesta. Ele também não é o tipo de driblador que costuma levar vantagem no um contra um.

Porém, Rafa é excelente ao movimentar a bola e fazer o com que a bola ataque continue andando. Está constantemente passando a bola para a frente no contra-ataque e rodando a bola rapidamente ao redor do perímetro, dando ritmo ao time. Logo, embora sua capacidade para infiltração não seja ameaçadora, Luz cria para os seus companheiros ao antecipar as rotações da defesa rival e com passes bem calibrados. Ele deu assistências em 31,7% das cestas que o Obradoiro marcou enquanto estava em quadra na temporada passada e registrou 17 assistências em cinco partidas no Pan. Não é pouco. Além disso, sua predisposição ao passe pode influenciar um ataque de um modo que os números não computem.

Rafael não ganha o garrafão com facilidade, mas influencia o jogo de outras maneiras

Rafael não ganha o garrafão com facilidade, mas influencia o jogo de outras maneiras

Por outro lado, armadores que são bem ativos com esse tipo de estratégia correm bastante risco com relação à perdas de posse, e com o Rafael não é diferente. Ele perdeu a bola em 28,7% das posses do Obradoiro em seu tempo de quadra.

Tiros de longe
Na semana passada, Rafa tentou a maioria dos seus tiros de longa distância. Ele joga sob controle e não é superagressivo arriscando tiros criados por ele mesmo e também não é o tipo de arremessador que dá um pique no fundo de quadra, recebe o corta-luz e consegue armar o seu tiro rapidamente. Mas Rafael é mais um arremessador bom o suficiente para acertar seus disparos sem marcação, o que faz o oponente hesitar ao deixá-lo livre. Isso gera mais espaço para o restante do ataque.

Ele acertou quarto dos 11 tiros de três pontos que tentou no Pan e 35,5% de seus 62 disparos de três pontos na liga espanhola na temporada passada, o que já representou uma evolução após ele ter convertido apenas 27% de 196 tentativas nos três anos anteriores.

Rafael é agressivo na defesa

Rafael é agressivo na defesa

Defesa
Rafael é um defensor mediano, podemos dizer. Ele tem bom porte físico para a posição e se esforça bastante, quase sempre pressionando o armador adversário a quadra toda, mas não tem a condição atlética pra fazer uma grande diferença nesse lado da quadra, contra adversários de primeiro time. Falta envergadura para contestar tiros de meia distância efetivamente e cortar passes com frequência.

Em geral, ele consegue enfrentar bem o corta-luz, o contornando por cima, mas falta aceleração para se recuperar na jogada e limitar a ajuda do pivô quando o adversário corta pra dentro e ataca o garrafão. Armadores mais velozes como Juan José Barea e Jose Acosta constantemente o tiraram  da jogada e partiram pra cima de um Augusto, ou de um Hettsheimeir totalmente expostos.

Conclusões
Rafael Luz ainda não está no time dos grandes e inquestionáveis jogadores, mas, após uma sólida temporada no Obradoiro da Espanha e sua exibição em Toronto, ele deve ter ganhado mais algum crédito com a comissão técnica do Ruben Magnano.  Sua participação foi bem segura no Pan. Mais: talvez tenha se estabelecido como a segunda opção mais confiável da posição após Huertas, o que já é um grande avanço para um atleta que esteve quase sempre perto da nota de corte da seleção durante a gestão do técnico argentino.