Vinte Um

Golden State Warriors mostra todo o seu potencial, chutando e defendendo

Giancarlo Giampietro

O Golden State Warriors parte para a definição rápida. Se quiser, amigão, pode até chamar de ''chega e chuta'', ou ''chuta-chuta'', se preferir. Com o que Stephen Curry tem arremessado durante toda a temporada, não há o que se fazer, mesmo. Mas, depois de o time ter destroçado o Houston Rockets no Jogo 3 deste sábado, creio que não há mais como enxergar a máquina de Steve Kerr apenas como um time aríete, de tresloucados (e talentosos) gatilhos de três. Tem muito mais rolando por trás do sucesso

''Foi uma grande lição para nosso time: se defendermos como doidos e cuidarmos da bola, a gente tende a se dar bem'', afirmou o treinador em sua coletiva pós-jogo, numa das raras respostas em que não precisou falar sobre o show que seu armador deu em quadra no triunfo por 115 a 80, abrindo 3 a 0 na série, encaminhando uma varrida para cima do cabeça-de-chave número dois da Conferência Oeste.

Vitória magistral que mostra todo o potencial deste time

Vitória magistral que mostra todo o potencial deste time

Foi uma combinação de ataque e defesa que levou o Warriors a um resultado impressionante desses. Com os grandes campeões devem fazer, numa receita sempre ressaltada por Phil Jackson: a execução de uma boa marcação leva ao jogo de transição eficiente, enquanto um ataque bem realizado facilita a recomposição defensiva. Tudo em plena harmonia. Resta saber apenas se o Mestre Zen enxerga isso neste Golden State, dirigido pelo técnico que o deixou no altar antes de a temporada começar, ou se ainda se apega a uma visão conservadora e anuviada que pode tratar um timaço desses como um bando de delinquentes, que mancham a história do jogo. Pura bobagem.

Depois de duas derrotas apertadas na Califórnia, tentando dar o troco em sua casa, o Rockets deu de cara com um muro. Acertou apenas 28 de 83 arrmessos (33,7%), errando 20 de 25 chutes de longa distância (20%) e cometendo o mesmo número de turnovers e assistências (15) – comparando com médias de 44,7%, 33,7% e 22,3 x 15,1. Os 18 pontos do primeiro quarto e os 37 antes do intervalo foram suas marcas mais baixas nos playoffs.

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James Harden foi quem mais sentiu, limitado a apenas três cestas de quadra em 32 minutos e 16 chutes. Deu um jeito de bater 11 lances livres e chegar a 17 pontos, mas com sérios problemas. Não foi apenas o esforço de Barnes, Iguodala e Thompson que atrapalhou o barbudo. ''Nossa marcação de ajuda e nossa proteção do aro também'', disse Klay. ''Draymond, Andrew e Fetus fizeram um trabalho fabuloso contra ele.''

O que o Warriors faz é, na verdade, revolucionário. Uma equipe que combinou na temporada regular o ritmo de jogo mais veloz  e, ao mesmo tempo, sustentou a defesa mais eficiente. Supostamente, de acordo com a teoria de tudo, essas coisas não poderiam andar juntas. Ou você joga acelerado e abre mão da retaguarda, ou você adota um ritmo moderado para poder proteger seu garrafão de modo adequado. Vamos resgatar alguns exemplos recentes, comparando os resultados?

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Ritmo mais veloz que os outros quatro times e a melhor defesa disparada

Agora, quer saber um segredo? Durante os playoffs, o time está jogando com uma proposta mais comedida. Entre os 16 classificados, tem apenas o 11º ritmo mais rápido – ou o quinto mais lento. Obviamente que você desconta um pouco essa mudança pelo simples fato de ser uma amostra reduzida de jogo: apenas 13 comparando com os 82 da temporada, enfrentando um adversário que gosta de retardar as ações em quadra, como o Memphis Grizzlies, pelo caminho. São até agora 95,25 posses de bola por 48 minutos, muito mais perto do lanterninha Cleveland Cavaliers (92,67) do que do mais ligeirinho, o Dallas Mavericks (104,4). Se for pegar apenas a final do Oeste, contra um adversário que pede aceleração, o número sobe para 98,59 posses, ainda distante do topo.

O curioso é que, mesmo com um ataque mais lento, o Warriors tem cometido mais turnovers por 100 posses de bola do que na temporada regular (15,7 x 14,4), liderando essa estatística um tanto desagradável. Daí a preocupação de Kerr em mencionar os turnovers em sua declaração. Afinal, se cuidarem com carinho da bola, serão mais chances para Curry e Thompson chutarem. E aí…

Traduzindo em números, temos:

Sinta o estrago

Sinta o estrago. Esse é o gráfico de aproveitamento de Curry nestes mata-matas

Destacar o coletivo do Warriors não impede que a gente se delicie com o que o Chef Curry vem colocando na mesa. Tudo o que um ataque quer é que um cara desses parta para a finalização. Na mesma proporção, a defesa se desespera. Neste sábado, foi até um exagero: 40 pontos em apenas 19 arremessos para Curry, com 12-19 de quadra, 7-9 de três, 9-19 nos lances livres. Mais sete assistências, em 35 minutos. O bombardeio de longa distância é o que mais chama a atenção, mesmo, mas o estrago que o armador fez foi geral. Passeou pelo garrafão com seu drible belíssimo e fez aquelas bandejas que Steve Nash ensinou para a garotada. ''Ele vem de um campeonato brilhante. É difícil descrever seu arremesso porque acho que nunca alguém chutou dessa forma a partir do drible, ou a partir do passe'', disse Kerr.

Chef Curry, aliás, é o apelido que vem ganhando força para o astro do Warriors. O engraçado, porém, é que ele prefere ''Baby Face Assassin'', o assassino cara de bebê – ''Cruel, muito cruel'', diria o Januário. ''Entendemos que é um momento especial. Estamos envoltos nessa rotina do dia-a-dia de preparação para os jogos e ir para quadra e pôr em prática todo o esforço que precisamos para fazer essa história acontecer'', afirma o armador.

O lance mais emblemático em termos de crueldade aconteceu na metade do terceiro período, depois de um toco de Dwight Howard em Klay Thompson. A bola o procurou para isto:

Alguns minutos antes, ali do mesmo cantinho, já havia matado uma bola para silenciar – e mandar sentar – um torcedor texano mais enxerido:

''Isso que é divertido num jogo de playoff fora de casa. Você encontra esses caras que querem te perturbar, caras que pagam muita grana por esses assentos e querem fazer valer o dinheiro. Se eles querem falar, podem ouvir de volta, espero'', afirmou Curry. De fato. O torcedor do Rockets pagou uma nota e tem o direito de se chocar – ou se divertir – com uma apresentação dessas. Não só do armador, como de um todo.

Na saída do Jogo 2 em Oakland, quando James Harden teve a última bola em mãos para poder igualar a série, os atletas do Warriors em geral afirmaram que estavam se sentindo bem pelo fato de nem terem jogado tão bem assim e estarem com 2 a 0 no placar geral. Aí que o Rockets e o restante da NBA puderam ver todo o potencial da equipe em prática.  Defendendo e chutando muito. Um basquete para ser campeão e rever conceitos.