Vinte Um

Saída de Howard deixa caldeirão de Mike D’Antoni borbulhando em Los Angeles

Giancarlo Giampietro

D'Antoni, LA Confidential

D'Antoni vai ter trabalho para colocar um Lakers coeso em quadra. Howard, o 12, caiu fora

É, Mike D'Antoni, e a gente pensando que 2012-2013 já havia sido complicado…

Com a saída de Dwight Howard rumo a Houston, o treinador que já dirigiu um dos times mais divertidos da história da NBA vai ter de ser bastante criativo se quiser voltar a sorrir – uma vez que seja – no próximo campeonato. Se ele já havia enfrentado enorme pressão nos últimos meses, a coisa pode ficar feia, mesmo, é a partir de agora.

Aliás, faz tempo que ele tem prazer de verdade na profissão.

Desde que viveu temporadas mágicas pelo Phoenix Suns em 2008, o técnico conseguiu apenas duas campanhas vitoriosas na liga. Vitoriosas no sentido de ter um aproveitamento superior a 50%, pelo menos. Em 2011, venceu 42 e perdeu 40 pelo Knicks (51,2%). Em 2013, venceu 40 e perdeu 32 pelo Lakers (55,6%).

Nash & D'Antoni

D'Antoni e o ''jovem'' Nash: será?

Dá para entender também: nos dois primeiros anos em Nova York, ele herdou um elenco que precisava ser fraturado e regenerado por Donnie Walsh, o homem incumbido de limpar toda a sujeirada que Isiah Thomas havia feito durante a década. O Knicks estava jogando, dolorosamente, para perder, mesmo. O objetivo era abrir espaço para a contratação de LeBron James e mais uma estrela em 2010. Acabou que chegou apenas Amar'e Stoudemire – que se reuniu com seu mentor do Phoenix Suns e ao menos conduziu o clube de volta aos playoffs.

Quanto ao Lakers? Bem, o aproveitamento esteve bem longe do esperado, a despeito de toda a turbulência que o clube enfrentou no último campeonato. Ainda assim, também se garantiram nos playoffs, mesmo que não tivessem chance alguma contra o Spurs sem Kobe, Nash e, glup!, Steve Blake, no fim.

Agora… Se as lesões certamente foram um fator decisivo em uma temporada que chacoalhou Los Angeles, boa parte do drama todo em volta de um elenco estelar que não teve liga alguma também foi causado pela incapacidade do treinador em controlar a situação. Ele simplesmente não teve personalidade para apaziguar os ânimos.

Só não dá para dizer que era tudo sua responsabilidade também. Com o afastamento e, depois, a triste morte de Jerry Buss, o KAkers foi tomado pela instabilidade. Seus filhos travavam uma guerra fria há anos pela sucessão, e essa disputa abalou consideravelmente a capacidade administrativa de Mitch Kupchak, que operou durante todo o ano sem um assistente e com um número reduzidíssimo de scouts, numa época em que a maioria dos concorrentes investiu mais e mais.

Também não foi D'Antoni quem telefonou para Phil Jackson e levou a negociação a público logo após a demissão de Mike Brown. A diretoria – Jim Buss, nêmesis de Jackson, e Kupchak, na verdade – atiçou uma das torcidas mais exigentes do esporte americano e, depois, decidiu inovar na contratação do substituto. Sobrou para quem?

O pior efeito deste flerte foi sobre Dwight Howard. Em suas primeiras entrevistas desde que escolheu o Rockets, o pivô, ao seu modo evasivo, expressou sua frustração com o treinador do Lakers. ''Acho que tivemos nossos bons momentos, mas acho que seu estilo de jogo era um pouco diferente daquele ao qual estava acostumado'', disse – e isso que é de matar em Howard… Ele simplesmente não consegue ir direto ao ponto nunca. Depois, lamentou também o fato de não ter podido trabalhar com o Mestre Zen: ''Bem, eu pedi para tê-lo como técnico no começo do ano''.

Para o torcedor do Lakers mais fanático, essa combinação de frases pode ser mortal quanto a D'Antoni – a não ser que este mesmo torcedor esteja puto o suficiente com o próprio pivô e todos seus caprichos, que possa dar um desconto ao técnico. De todo modo, bastará um início de campanha com acúmulo de derrotas para que o caldeirão borbulhe.

E como fazer para controlar isso e ter sucesso em quadra?

Ryan Kelly, inglês

Ryan Kelly é o único reforço até agora

Kobe Bryant ainda é uma incógnita. Voltar bem (mas bem mesmo, de acordo com seus padrões) de uma ruptura de tendão de Aquiles aos 35 anos seria algo inédito na NBA. Steve Nash? Completará 40 anos durante a temporada, um ano mais velho e um ano a mais distante dos curandeiros do Phoenix Suns. Pau Gasol? Mesmo que tenha reclamado horrores também de D'Antoni, seu maior problema foi mesmo o excesso de lesões – só disputou 49 partidas e, na verdade, nenhum jogador do time esteve em quadra por toda a temporada, cumprindo as 82 rodadas.

Entre os operários, Earl Clark, o mais atlético num plantel de jogadores enferrujados, saiu. Jordan Hill, outro que podia revigorar a equipe, mal parou em pé. Jodie Meeks esteve distante dos 40% na linha de três pontos (35,7%). Darius Morris, único novinho da turma, não foi desenvolvido. Draft? Chega apenas o ala-pivô Ryan Kelly, talentoso britânico de Duke – bom atirador de longa distância, bom passador –, mas que não defende quase nada.

Difícil.

Para o time poder prosperar, o técnico vai ter de fazer um dos melhores trabalhos de sua vida e, ao mesmo tempo, torcer para que algumas – ou todas? – questões tenham soluções positivas: 1) que Kobe desafie qualquer prognóstico e esteja pronto feito Kobe em novembro; 2) que Gasol possa ficar saudável (mesmo com mais responsabilidades sem Howard); 3) o mesmo vale para Nash; e 4) que a diretoria acerte nas contratações periféricas e parem se apaziguem nos bastidores.

Por outro lado, se dois desses quatro tópicos tiverem resposta negativa, independentemente de quais, aí pode ter certeza que, no Staples Center, haverá mais um a gritar por Phil Jackson: o próprio Mike D'Antoni.