Brooklyn Nets: grandiosidade tem limite
Giancarlo Giampietro
30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA
Quando comprou o então New Jersey Nets, o russão Mikhail Prokhorov afirmou que sua meta era a conquista de um caneco da NBA até o quinto ano. Simples assim. Cá estamos entrando nesta quinta temporada, e a sensação é a de que o time já esteve muito mais preparado para isso. E, não, isso não tem nada a ver com a saída de Jay-Z do grupo de proprietários.
O clube concluiu sua mudança para o Brooklyn com sucesso. Tem um ginásio maravilhoso, acompanhado por belos uniformes e logotipo. Em quadra, até conseguiu se recuperar de alguns anos de miséria, mas… Nunca esteve tão perto do título como a versão do time no início dos anos 2000, liderada por Jason Kidd a dois vice-campeonatos. Eles só não tinham ninguém para marcar Shaquille O’Neal e Tim Duncan. E quem tinha?
Por falar em Kidd, o ex-armador promovido a técnico imediatamente estrelou um dos causos mais interessantes das férias. Não está muito claro a gênese da tentativa de golpe, mas o cara tentou derrubar o gerente geral Billy King para assumir pleno controle das operações de basquete do clube, algo que poucos têm no momento: Popovich em San Antonio (em parceria com RC Buford, é verdade), Stan Van Gundy em Detroit e Doc Rivers com o Clippers. Muito cedo para pensar nesse tipo de coisa, né? Se bem que, em se tratando de destronar King, talvez toda iniciativa seja válida.
O cartola montou um time competente, mas sacrificou o futuro para isso. Tudo teria mudado caso tivesse fechado com Dwight Howard? Pode ser. Mas ele perdeu essa, e o que restou foi um time de veteranos que, somados, não apresentaram o suficiente nem mesmo para ganhar incomodar no Leste. A contratação de Deron Williams, pelo preço pago, se mostra uma bomba: de supetão assim, já não dá para colocá-lo nem mesmo na lista dos dez melhores armadores da liga. Joe Johnson viveu suas noites de herói na última campanha, mas é outro que não justifica o salário – e cuja negociação custou uma penca de escolhas de draft. O mesmo procedimento foi adotado na hora de fechar com Garnett e Pierce – sendo que metade da dupla de veteranos nem está mais por lá.
Brook Lopez voltou a sentir o pé já na pré-temporada – foi só uma torça, ufa! Mas ainda assim… A enfermaria já está personalizada. Kirilenko teve problemas nas costas. Então ficaram nesse ponto: se as lesões, ou a velhice permitirem, o Nets até vai chegar aos mata-matas com tranquilidade. Uma vez lá, está destinado a cair na primeira ou na segunda rodada.
A boa notícia? Em 2016, quando vencem os contratos de Johnson e Lopez, o time terá mais uma vez espaço na folha salarial para recrutar estrelas para Brooklyn. A má? É só ver no que deu a última vez que isso aconteceu.
O time: é uma incógnita. A equipe que deu mais certo no ano passado com Jason Kidd era única. Os quintetos empregados pelo treinador noviço tinham composições híbridas: você não poderia apontar exatamente que fulano era isso, ou sicrano aquilo, se aproveitando da versatilidade de caras como Shaun Livingston, Paul Pierce, Andrei Kirilenko e Andray Blatche, por exemplo. Com Hollins, a abordagem deve ser mais tradicional. Supostamente, ele teria pivôs ao seu dispor para emular o sistema de Memphis, embora nenhum deles seja tão grande ou inteligente como Marc Gasol. Só precisa ver quem ele terá para jogar de fato: quantos jogos Deron, Lopez e Garnett aguentam? Com quem ele pode contar, na certa: Mason Plumlee. O pivô campeão mundial foi criticado injustamente por sua escolha para o Team USA. Falaram que só estava lá por ter sido atleta do Coach K em Duke, que ele jogar na vaga de Andre Drummond era insano. Bobagem: para construir um time, nem sempre os melhores talentos são necessários, mas, sim, aqueles que combinam mais. E o Plumlee II se encaixa em qualquer sistema e time, devido a sua capacidade atlética (salta muito, se move com a agilidade de um ponta de vôlei e, ao mesmo tempo, é muito forte), além da leitura de jogo avançada pelos quatro anos de universidade.
A pedida: menos lesões, por favor. E playoffs. Título? Pfff. Só em caso de uma hecatombe em Cleveland e Chicago.
Olho nele: Bogdan Bogdanovic. O croata é visto pelo basquete europeu como um astro em potencial desde a adolescência. Muito antes de entrar no radar da NBA, o ala já havia assinado um contrato de cinco anos de duração com o Real Madrid, sabiam? O gigante europeu, no entanto, nunca o aproveitou para valer. Entre passagens curtas pelos times juvenis e empréstimos, Bogdanovic não desenvolveu laços na capital espanhola e rompeu o vínculo na reta final para voltar para casa. Mandou seu recado pelo Cibona Zagreb e aí fechou seu primeiro polpudo acordo com o Fenerbahçe, que defendeu por três temporadas.
Assisti a muitos jogos do ala nas últimas Euroligas, e o que posso passar é o seguinte: é, de fato, um grande cestinha. Grande arremessador e bandejeiro oportunista. Quem o viu na Copa do Mundo já sabe: o cara tem um estilo classudo. Parece que seu jogo foi moldado pelos programadores de videogame mais atenciosos, com base no Manual do Jogador de Basquete. Não é dos caras mais explosivos – ainda mais para os termos da NBA, na qual vai sofrer um pouco até saber o que pode e o que não pode fazer. A ideia é que ele vá compensar isso com seus diversos fundamentos, a boa estatura e tino para a coisa. O que falta: mais vontade de passar e servir aos companheiros. Na temporada passada, teve sua maior média de assistências no torneio europeu, e isso quis dizer 1,8 por partida. Para alguém que tinha a bola por tanto tempo em mãos e que evidentemente é inteligente com a bola, esse número chama a atenção, ainda mais quando levamos em conta que seu time estava tomado por atletas de seleção nacional. Não era uma questão de Bojan-contra-o-mundo.
Abre o jogo: “Claro. É o quarto treinador em três anos, então, tomara, que ele seja a voz certa para nós”, Deron Williams, sobre Lionel Hollins, já um tanto desiludido com mais uma franquia? Desde que chegou ao Nets, o armador foi dirigido por Avery Johnson, PJ Carlesimo e Jason Kidd.
Você não perguntou, mas… quando chegar 2016, talvez Prokhorov não seja nem mais o dono do Nets. Durante as férias já começou a especulação de que o bilionário russo teria cansado da brincadeira. Ou melhor: estaria disposto a lucrar horrores com uma eventual venda – se o Clippers vale US$ 2 bilhões, quanto custaria o time nova-iorquino? Multiplicar as verdinhas é o que esses caras mais sabem fazer, lembrando que ele pagou pela franquia US$ 223 milhões em 2010. Por ora, os aliados de Prokhorov afirmam que ele só estaria interessado em vender uma fração de suas ações – com o grupo Guggenheim já oficialmente envolvido em tratativas. Além disso, a oposição ao líder supremo russo Vladimir Putin espera que o magnata retome a linha de frente do partido Plataforma Civil, para tentar mais uma investida pelo poder no país.
Um card do passado: Drazen Petrovic completaria nesta quarta-feira, 22 de outubro, 50 anos, não tivesse morrido num acidente de carro na Alemanha em 1993, numa das mortes mais trágicas da modalidade. Depois de brilhar muito jovem na Europa, a estrela croata chegou aos Estados Unidos em 1989, para jogar pelo Blazers. Era uma equipe muito forte, brigando pelo topo no Oeste, e que não lhe deu muito espaço. Para um craque já consagrado, a situação era inadmissível. Em 1991, então, conseguiu mudar de clube, trocado para o New Jersey Nets. Na vizinhança de Nova York, o ala mostrou do que era capaz. Em sua última campanha, ele anotou 22,3 pontos por jogo, chegando aos playoffs como protagonista. Acabaram perdendo do Cleveland Cavaliers por 3 a 2 na primeira rodada. Mas era um time se desenhava promissor, contando com jovens emergentes como Kenny Anderson e Derrick Coleman, embora Petrovic, de seu canto, não se estivesse se sentindo tão confortável assim. Seu relacionamento não era dos melhores com o restante do elenco, acreditando ser alvo de inveja/preconceito, pelo fato de ser o europeu brilhando fora de casa. O futuro do croata, de 28 anos, estava novamente no ar. Ele poderia até mesmo deixar a liga americana. Nunca saberemos: no dia 7 de junho de 1993, o craque morreu num acidente de carro, na Alemanha, depois de encontrar seus companheiros de seleção na Polônia. A batida aconteceu na Autobahn 9, quando seu carro bateu em um caminhão atravessado na pista. Petrovic estava dormindo no banco de passageiro, sem cinto de segurança. Sua namorada, modelo e jogadora, Klara Szalantzy, também morreu. PS: o Nets, nos anos 80, também tentou contar com outra estrela internacional: Oscar Schmidt. A gente sabe no que deu essa história.