Falatório olímpico: a Espanha, a ira francesa, os amados argentinos e um Ingles
Giancarlo Giampietro
“Este torneio não é nenhuma despedida”, Luis Scola, ainda vivinho da silva.
>> A próxima geração argentina não chega perto da que se acostumou a derrotar a Seleção Brasileira na última década, mas isso não quer dizer eles vão embora, de uma vez, desde já. O cabeludo, que já se virou muito bem “sozinho”, insiste que ainda joga. Valeu, Scola, amigão.
“Morro por Manu. Manu morre por mim. Sei que disse durante a temporada da NBA que seria nossa última vez, mas, se ganharmos uma medalha, estou certo de que vamos tentar mais uma vez. Isso é como as drogas. É incrível”, Andrés Nocioni, viciado em vitórias.
>> O Chapu acabou não ganhando a medalha. Mas, se o seu raciocínio valer também para correr atrás do prejuízo, esse guerreiro pode cruzar o caminho brasileiro em novas ocasiões. A ver.
“Ferida bem funda… Não vou dormir… Gosto amargo… Trabalhei por dez anos para este jogo…”, Manu Ginóbili, deprimido.
>> Palavras usadas pelo craque do Spurs para comentar a derrota na disputa do bronze para a Rússia. Aos 35 anos, esse, sim, pode ter se despedido da seleção argentina. Detalhe: os jogos da Argentina bombaram em San Antonio.
“Seria um pouco arrogante se eu dissesse que somos um modelo para a USA Basketball. Mas acho que fizemos um baita trabalho durante uma década e estou muito orgulhoso do que conquistamos. E muitas equipes começaram a manter um grupo de jogadores, uma base, para atuarem juntos”, Ginóbili.
>> Desafio de Magnano CBB agora é manter sua base, com uma troca ou outra…
“Gosto de ver a Argentina jogar. Na verdade, usamos algumas de suas jogadas ofensivas no Celtics”, Doc Rivers, observando tudo atentamente em Londres.
>> Pensando em Rajon Rondo como um Pablo Prigioni 10.0, só pode dar certo.
“Queria dar uma boa razão para ele se jogar no chão”, Nicolas Batum, num ato de fúria.
>> Pirado na derrota da França para a Espanha pelas quartas de final, o ala do Blazers deu um soco nas partes baixas de Juan Carlos Navarro nos segundos finais e, com a cabeça ainda pelando, ainda bancou a agressão nas entrevistas seguintes. Na verdade, ele usa o termo “flop” no fim, que seria o nosso “cavar falta”, fazer teatro para iludir a arbitragem. E pensar que Batum sempre foi criticado por ser um rapaz muito quietinho em quadra.
“Pergunte a Rudy Fernández o que ele fez com o Tony Parker no Eurobasket”, Vincent Collet, técnico da França.
>> Olho por olho, dente por dente (admitam, há quanto tempo vocês não ouviam essa?). O desprezo – e baita frustração, claro – dos franceses após a derrota atingiu até mesmo o treinador, que em nenhum momento censurou o soco de Batum em Navarro ou o tranco de Ronny Turiaf em Fernández, segundos antes. Rivalidade é pouco.
“Mais uma lição de vida. Pessoas honestas nem sempre vencem”, Kevin Seraphin, o prodígio da seleção francesa.
>> Mais tarde, no Twitter, foi a vez de o ala-pivô do Wizards dar sua estocada. Imagino que o garotão e Nenê terão uma coisa ou outra para fofocar quando se reencontrarem nas vizinhanças da Casa Branca.
“O que é um pouco assustador e injusto sobre os torneios europeus é que você tem todas essas táticas de jogar por um saldo de pontos ou jogos. Na NBA, como existem as séries, não há nada disso. Mas aqui as coisas estão acontecendo em tempo real, num ambiente de competição, e não gostamos de ver isso. Diria que a maioria não faz, mas existem aqueles que jogam com o regulamento. Nunca faria isso sob nenhuma circunstância. Mas alguns fazem”, David Blatt, técnico da Rússia.
>> As pitadas do experiente e vitorioso treinador, formado no basquete universitário do seu país, mas que construiu sua carreira na Europa, já calejado de resultados suspeitos.
“Vou para a cama porque me deixa triste ler alguns dos comentários. Para aqueles que acreditam em nós, OBRIGADO!”, Rudy Fernández, via Twitter.
>> Não vou disfarçar, tá? No QG 21, a combinação “Rudy” + “Fernández” caiu muito de cotação, podendo agora significar muitas vezes “chorão” ou “chato pra caraca”. Durante as Olimpíadas, no mesmo jogo, o ala Fernández variava entre vítima e valentão com uma velocidade e cara-de-pau impressionantes, com seu topete de astro pop, caras e bocas.Vejam sua atuação dramática na final contra os norte-americanos:
“Muchas gracias! Mais uma medalha de prata!”, José Calderón, armador espanhol.
>> A Espanha lutou tanto por essa medalha de prata, que vale a euforia. Calderón, na verdade, não faz parte do time dos vilões, assim como Pau Gasol. Segundo consta, por diversas fontes, é um tremendo boa praça. Os desdobramentos olímpicos não podem encobrir toda a trajetória da geração igualmente dourada do país, como defendeu o “Fantasy-maníaco” Julio Gomes Filho no domingo. Mas, para muita gente, blogueiro incluso, o que se passou entre a primeira fase e os mata-matas de Londres-2012 compõe mais que uma notinha de rodapé.
“Nunca vou esquecer de que lugar eu vim, mas estou orgulhoso de vestir o uniforme da Espanha e representar este país”, Serge Ibaka, aquele que usa a camiseta de “Air Congo” em torneio de enterradas da NBA.
>> Vamos discutir mais a respeito durante a semana. Aguardem.
“Mesmo que eu tenha crescido nos Estados Unidos, sempre estive ao lado de nigerianos. Cresci numa comunidade nigeriana. Quando estou em casa, meus pais não falam comigo em inglês. Nós comemos comida nigeriana”, Ike Diogu, cestinha do time africano.
>> De novo, mais adiante. Mas não creio que Ibaka fale em espanhol com seus familiares congoleses.
“Agora sou parte da fábrica da sociedade do basquete. Essa boa gente me deu a maior honraria para técnicos na Rússia, e nenhum estrangeiro jamais ganhou uma ordem dessas. Isso diz tudo”, David Blatt, novamente.
>> Blatt construiu um time muito interessante na Rússia, explorando ao máximo as características e talentos de seus atletas. Como publicou o jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo norte-americano, pode ser que chegue o dia em que ele ganhe sua chance na NBA.
“Acho que a NBA vai prestar atenção em Joe, especialmente depois destas Olimpíadas. Joe tem um corpo parecido com o de Tayshaum Prince. É longo, canhoto, multifacetado como um ala, evoluiu na defesa e agora tem orgulho em marcar as pessoas. Vocês viram seu espírito competitivo aqui. Ele só vai subir”, Brett Brown, técnico da Austrália e assistente do Spurs, sobre o ala Joe Ingles.
>> Ingles não chega a ser um Nemanja Bjelica, mas… Já tinha uma predisposição para gostar do ala, observando-o aqui e ali pela Liga ACB: seu estilo é muito vistoso, versátil, do tipo de cara que cai nas graças por cá. O nome ajuda também, obviamente. Mas parece claro que o futuro do australiano é jogar na NBA. Não estranharia, aliás, se fosse fazer companhia a Mills no próprio Spurs, por razões óbvias
PS: como os brasileiros não falaram após a derrota para a Argentina, não vamos peneirar nada a respeito deles. Não faria sentido ter um começo, um meio, mas sem fim nesta seção. A cobertura do Bruno Freitas em Londres e do UOL Esporte dá conta do recado.