São José é o primeiro clube brasileiro eliminado na Liga Sul-Americana
Giancarlo Giampietro
A sequência de dobradinhas entre brasileiros e argentinos nos playoffs da Liga Sul-Americana foi quebrada nesta sexta-feira com a eliminação do São José, depois do revés por 88 a 82 diante do Tiburones de Vargas, clube venezuelano anfitrião do grupo D. Foi a segunda derrota em dois jogos para os vice-campeões do NBB, que haviam perdido na véspera para o Libertad Sunchales, também classificado.
O time de Régis Marrelli começou a partida na frente, abriu sete pontos na primeira metade do primeiro quarto. Mas os anfitriões zeraram esse prejuízo rapidamente e, uma vez assumida a dianteira no placar, nunca mais olharam para trás, chegando a ter uma vantagem de 16 pontos. No quarto final, finalmente com uma defesa minimamente combativa, os brasileiros conseguiram reduzir o déficit para seis pontos (78 a 72, restando 6min13s).
A partir daí, porém, São José passou praticamente quatro minutos zerado, combinando desperdícios de posse de bola e chutes de longe fora do alvo e permitindo uma nova folguinha no placar para os Tiburones. Duas bolas seguidas de três pontos, então, de Fúlvio e Álvaro, deixaram os visitantes a cinco pontos (80 a 85, restando 39 segundos).
Aí você pode dizer que o time foi valente, que não desistiu nunca, que tiveram uma chance. Considerando a exaustiva viagem, os três importantes desfalques e tal, essa narrativa não pode ser descartada de prontidão.
Por outro lado, até mesmo considerando todas essas dificuldades, faltou a São José maior cadência na partida, mais inteligência na hora de selecionar seus arremessos diante de um adversário muito mais forte fisicamente e também bem superior atleticamente.
Embora Fúlvio e Laws conseguissem quebrar a primeira linha de defesa venezuelana em diversas ocasiões, o time brasileiro falhou em (pouco) buscar os chutes mais próximos ao aro, ao garrafão, procurando quase sempre pelo “kick-out”, o passe para trás. Uma jogada muito previsível que contribuiu bastante nos 14 erros cometidos – contra apenas nove dos rivais. Entre as diversas comparações estatísticas entre os dois times, então, uma chama bem a atenção: os tubarões conseguiram 18 pontos e um saldo de +14 depois de desperdícios.
Pior: quando não estava repassando a bola de graça para o oponente, a equipe brasileira, claro, se apegava aos tiros de três pontos. Foram 28 disparos de longe contra apenas 40 de dois pontos. De novo: faz muito, mas muito tempo que algum conjunto venceu um jogo internacional baseando seu ataque nesse tipo de (des)equilíbrio. O aproveitamento de 39% dessas bola não justifica essa insistência, especialmente diante dos 42% do Tiburones. No fim, mesmo apostando alto nos chutes de longe, São José conseguiu apenas nove pontos a mais neste fundamento do que seu opositor. Uma diferença que não serviu para cobrir o saldo de +11 que os venezuelanos conseguiram nos lances livres.
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O espanhol Álvaro arriscou o mesmo número de bolas de três pontos que Murilo teve de dois: 12. No geral, o ala foi acionado 20 vezes para arremessos contra 14 do pivô, um jogador muito mais eficiente ofensivamente.
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Os mata-matas do torneio continental serão compostos por quatro times da Argentinas (Libertad, Peñarol, Obras Sanitarias e Águas Corrientes), três do Brasil (Brasília, Flamengo e Pinheiros) e pelo time venezuelano.
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Confesso que ainda não havia visto o jovem Chandler, 20 anos, em ação por Araraquara. Quem acompanha o ala treinar todos os dias tem muito mais informação para julgar como e quando ele deve ser usado. De todo modo, chamou a atenção sua atuação nesta sexta, de certo modo numa fogueira. Foram nove pontos com 66% de acerto nos arremessos, sem aparentar nada de nervosismo. Sua presença, porém, fazia ainda mais sentido em quadra para propósitos defensivos em um time carente de defensores altos e atléticos (um quinteto de Ícaro, Fúlvio, Luiz Felipe, Álvaro e Deivisson é muito vulnerável, por exemplo).