Milwaukee Bucks, um time de futuro. Mas para quem?
Giancarlo Giampietro
30 times, 30 notas para a NBA 2014-2015
Enquanto o Philadelphia 76ers não escondia de ninguém que mais queria perder do que qualquer outra coisa na temporada passada, o Milwaukee Bucks conseguiu superá-los nesse sentido, mesmo quando sua intenção era ser competitivo. Com muitas contratações redundantes e/ou furadas, o gerente geral John Hammond se viu obrigado a entrar na dança do entrega-entrega, desencanando dos playoffs no meio do caminho e mergulhando profundamente rumo ao Draft. Deu… hã… certo. Terminaram com a pior campanha.
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Para uma torcida que teve de aturar uma temporada deprimente dessas, porém, só fica um alerta: enquanto a franquia e a cidade não chegarem a um acordo para construir um novo ginásio, é melhor não se apegar muito a esta base de jogadores extremamente promissores. Quando Wes Edens e Marc Lasry compraram o clube no ano passado por US$ 550 milhões, a NBA impôs uma cláusula no contrato: se em 2017 não houvesse um avanço significativo na construção da arena, a liga teria o direito de comprá-lo de volta para realocação. Isto é: mudança de caixa postal.
Recentes reportagens de Milwaukee, embora sem nenhuma fonte citada, dão a entender que Edens e Lasry estariam bem perto de comprar um quarteirão inteiro de prédios no centro para demoli-los e abrir espaço para a prometida obra. Seria um indício de que os novos proprietários falavam sério quando fecharam o negócio e anunciaram que haviam chegado para ficar.
Enquanto o martelo não for batido, qualquer desconfiança se justifica, gente. Foi assim com Michael Heisley e o Vancouver Memphis Grizzlies e com Clay Bennett e o Seattle SuperSonics Oklahoma City Thunder. Os dois magnatas fizeram juras de amor para as cidades originais e não demoraram nem um ano para lhes tirar a franquia.
No caso de Milwaukee, o golpe poderia ser tão duro como aquele que sofreu Seattle. O torcedor da metrópole do noroeste americano viu seu time ser campeão nos anos 70 e alternar bons e maus momentos até adquirir um jovem Kevin Durant no Draft de 2007, vê-lo em ação por apenas uma temporada e depois entrar em fase de reclusão quando o astro e a equipe foram levados para bem longe dali. Seria um roteiro bem semelhante no Winsconsin.
Os fãs do Bucks podem ter aturado 67 derrotas na campanha passada, mas ao menos puderam se divertir com as estripulias de Giannis Antetokounmpo, o menino de 19 anos que estava na segunda divisão grega em 2013 e encanta a todos que o observam em ação, até mesmo os adversários. Para este ano, ganharam de presente um Jabari Parker, ainda em fase de adaptação, mas cotado como um cestinha versátil e futuro All-Star. O armador Brandon Knight vai progredindo a passos largos, tendo ainda apenas 22 anos. Seriam as três principais apostas, mas a verdade é que o elenco tem uma extensa lista de atletas interessantes para acompanhar – de preferência in loco.
O time: a contratação de Jason Kidd foi surpreendente, mas parece bastante apropriada. Um treinador igualmente jovem e que vai se testando na liga. Em seu primeiro ano na profissão, começou bem mal pelo Nets, mas desenvolveu um estilo de jogo criativo que elevou o potencial das peças que tinha em mãos e rendeu bons resultados a partir de janeiro. Paul Pierce, Mirza Teletovic, Andrei Kirilenko, Joe Johnson, Andray Blatche… Eram muitos atletas que podiam executar diversas funções para ficarem presos a ''posições''. Seu plantel em Milwaukee sugere a mesma abordagem.
É o que ele mesmo afirma ao comentar sobre o potencial de Jabari Parker numa rara longa entrevista: ''Ele é um jogador de basquete, então podemos jogar fora estes números todos: 3, 4… O que importa é colocar seus cinco melhores jogadores na quadra e encontrar um meio para vencer''. Depois, ao falar sobre a recente desaparição do ala Kris Middleton de sua rotação, deu mais pistas de que todos ali podem ser intercambiáveis: ''Vamos ver o que o jogo pede. Temos muitos caras no perímetro e entre os guards. O Nate (Wolters) provavelmente já mostrou que pode jogar por nós também. Estamos usando 11 e quase 12 atletas por partida. Vamos usar os caras que sintamos que se encaixam em determinado momento e placar do jogo''. Isso para não falar de Antetokounmpo: é impossível defini-lo como jogador neste momento.
Uma escalação com Knight, Antetokounmpo, Parker, Ilyasova e Sanders, por exemplo, seria das mais atléticas e de maior envergadura da liga. A aparente recuperação de Sanders, aliás, vem em ótima hora: o pivô é dos mais ágeis e explosivos que se vai achar por aí. O mesmo vale para John Henson, que merece mais tempo de quadra, a despeito do físico franzino.
Só fica a dúvida se o treinador pretende realmente caminhar na temporada com 11 atletas firmes na rotação, como aconteceu nas primeiras sete partidas. Mesmo os mais jovens não estão habituados a uma divisão de minutos assim na NBA, o que pode gerar alguma fricção entre eles, chiadeira com técnico e direção etc.
Olho nele: OJ Mayo. Não tem muito jeito. OJ já vai ficar marcado em sua carreira por pelo menos dois pontos: 1) na época de colegial, foi badalado de um jeito em que os scouts americanos acreditavam estar diante do próximo grande astro pós-LeBron; 2) foi o cara pelo qual o Memphis Grizzlies abriu mão de Kevin Love no draft de 2008. Ouch. Mesmo não tendo virado o jogador que muitos esperavam, Mayo ainda pode ser um minimamente decente ao lado dos garotos de Milwaukee. Depois de uma campanha razoável pelo Dallas Mavericks em 2012-2013, ele foi contratado pelo Bucks como um eventual substituto para Monta Ellis, mas fez uma campanha horrorosa, se apresentando muito acima do peso. Neste ano, com alguns quilos a menos e mais motivado, teve boas partidas na pré-temporada, prometendo deixar o passado para trás. A ver.
Abre o jogo: ''Para nós, é um processo de entender o que é necessário para vencer, e os caras já começaram esse processo ao chegar mais cedo, trabalhando durante o dia e depois voltando de noite para trabalhar mais um pouco. Quando você olha ao redor da liga para os times que fazem isso, vai ver que as equipes que venceram consistentemente 50 jogos por ano são as que fazem disso um trabalho, que evoluem em seu ofício e se tornam consistente. Quanto maior tempo que você passa no ginásio, maiores as chances de isso acontecer'', Kidd, sobre a diferença de trabalhar com um elenco noviço, muito mais inexperiente se comparado com o do Nets.
Você não perguntou, mas… a chegada de Kidd a Milwaukee não foi das mais tranquilas e deixou muita gente atônita. O que aconteceu foi que o treinador simplesmente tentou dar um golpe em Brooklyn para destronar o gerente geral Billy King e assumir toda a gestão do departamento de basquete. Pois o russo Mikhail Prokhorov e seus homens de confiança se mantiveram leais a King, recusando as investidas de o pretenso usurpador. Sem clima, o ex-armador buscou alternativas e logo encontrou o Milwaukee de Marc Lasry, que já foi seu conselheiro em investimentos financeiros. Tsc, tsc. Parecia claro que Kidd já tinha o Bucks como um plano B. Mesmo que Larry Drew ainda estivesse sob contrato. Esse, sim, ele conseguiu derrubar. O cartola John Hammond que se cuide.
Um card do passado: Glenn Robinson. O Cachorrão fez parte de um núcleo também jovem-promissor-e-tal que o Bucks montou em meados dos anos 90. O cara foi, inclusive, a primeira escolha do Draft de 1994, logo acima de Jason Kidd (e Grant Hill, para constar) – o que, na história revisada, vale como um baita de um erro. Robinson foi um cestinha profícuo, com média de 20 pontos por jogo na carreira, mas pouco eficiente. De qualquer forma, quando ganhou a companhia de um jovem Ray Allen e do já tarimbado Sam Cassell, sob a orientação de George Karl, disputou três playoffs em sequência entre 1999 e 2001, tendo alcançado inclusive as finais de conferência no último ano. Além disso, o ala é daqueles que faz o blogueiro se sentir velho, uma vez que seu filho, Glenn Robinson III, acabou de ser draftado pelo Minnesota Timberwolves, aos 20 anos. Para acomodá-lo no elenco, o time dispensou José Juan Barea, com um contrato de US$ 4 milhões garantidos.