Guia olímpico 21: Sérvia e Lituânia, num segundo escalão
Giancarlo Giampietro
Devido ao adiantado da hora, não dá para escrever tanto sobre cada um dos 12 participantes do torneio masculino do #Rio2016, pelo menos não da forma como foi feito com o Brasil e os Estados Unidos, comentando jogador por jogador, ou mesmo como Argentina, Espanha e França. Por que a atenção maior dada a estes times? Bem, os dois primeiros têm razões óbvias. O trio seguinte eu tento explicar assim: Espanha e França são, devido aos resultados recentes, aqueles mais cotados para subir ao pódio ao lado dos norte-americanos. A Argentina não está nesse patamar, mas tem velhos conhecidos nossos e fez parte da trajetória da seleção brasileira.
Pergunta: Vamos agrupar cada equipe olímpica em diferentes escalões, de acordo com seu potencial (na opinião de um só blogueiro enxerido)?
Reposta: Sim, vaaaaamos!
Então aqui estão:
1) EUA
2) Espanha e França
3) Sérvia e Lituânia
4) Argentina, Austrália, Brasil e Croácia
5) Nigéria e Venezuela
6) China
Que fique claro: não é que essas castas sejam imóveis e que haja um abismo de uma para outra – excluindo os Estados Unidos como óbvios indicados ao ouro. Entre os segundo, terceiro e quarto andares, a diferença não é muito grande. São todos candidatos ao pódio. Basta lembrar que a seleção brasileira venceu França e Sérvia pela última Copa do Mundo e também bateu a Espanha em Londres 2012, num jogo muito estranho, mas paciência. E talvez até mesmo a Nigéria possa subir um piso, dependendo de sua lista final.
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Festa essa ressalva, a ideia agora é publicar um post abordando os times restantes em cada um desses grupos, botando nigerianos, venezuelanos e chineses no mesmo balaio final. Aqui, chegou a vez de sérvios e lituanos:
SÉRVIA
Armadores: Milost Teodosic, Stefan Markovic, Stefan Jovic e Nemanja Nedovic.
Alas: Bogdan Bogdanovic, Nikola Kalinic e Marko Simonovic.
Pivôs: Nikola Jokic, Miroslav Raduljica, Milan Macvan, Vladimir Stimac e Stefan Bircevic.
– O grupo: Entre os elencos mais fortes dos Jogos do Rio, a Sérvia é a que tem menos jogadores de NBA. Apenas um, na verdade: o pivô Nikola Jokic, que, pela maturidade e fundamentos que mostra em quadra, jamais poderíamos supor que tenha apenas 21 anos. Poderiam ser três, com Nemanja Bjelica e Boban Marjanovic. Se tivesse montado esse trio, o técnico Aleksandar Djordjevic teria uma linha de frente assustadora. Mas diferentes motivos os tiraram do evento.
Boban virou um agente livre em julho e estava na categoria dos ''restritos'', ainda vinculado de certa forma ao Spurs, que poderia cobrir qualquer oferta. O problema é que isso impediu que o gigantesco e carismático atleta resolvesse rapidamente sua situação. Estava fora de sua alçada. De modo que pediu dispensa, algo que desagradou, e muito, o durão Djordjevic. Passado o pré-olímpico mundial em Belgrado, Boban, já de contrato fechado com o Detroit Pistons, se colocou à disposição da seleção. Foi recusado, mesmo que seja 20 vezes mais jogador que o limitado Vladimir Stimac.
Já a baixa de Bjelica deixou o treinador sérvio bastante chateado e frustrado, e foi por conta da inflamação num nervo do pé direito. A previsão do departamento médico do Minnesota Timberwolves é a de que o ala-pivô só se recuperaria durante as Olimpíadas. Estaria sem ritmo nenhum de jogo. É uma perda enorme para a seleção balcânica, devido a toda a sua versatilidade. Bjelica é dos grandalhões mais flexíveis que você vai encontrar por aí. Na bem-sucedida campanha pela Copa do Mundo, nós o vimos colaborar com rebotes, chute, passe e até mesmo com a articulação da equipe e a partida em transição. Desconfio, inclusive, que, se fosse para escolher, Djordjevic até mesmo o priorizaria a Jokic, por mais que o jovem pivô tenha feito uma excepcional primeira temporada pelo Denver e tenha enorme potencial.
– Rodagem: é uma seleção bastante jovem, mas que com diversos atletas que estão acostumada a jogar junto há um bom tempo, desde a base; os jogadores também têm muita cancha de Euroliga, habituados a grandes partidas; no Pré-Olímpico em casa, atropelou, ajudada por um sorteio bastante camarada.
– Para acreditar: o conjunto de armadores sérvios é muito forte. Só perde para o espanhol neste torneio, com o genial (e genioso) Milos Teodosic sendo a referência. A presença de Stefan Markovic e Stefan Jovic lhes dão mais liberdade em quadra para olhar para a cesta, enquanto ambos também teriam a incumbência de marcar o jogador de perímetro mais agressivo do outro lado; Jokic é um jovem craque; Bogdan Bogdanovic é uma das estrelas da jovem geração europeia, sem medo nenhum de tentar o arremesso da vitória, evoluindo bastante sob a orientação do mítico Obradovic pelo Fenerbahçe – até recusou o Phoenix Suns neste ano para seguir nessa trilha; Miroslav Raduljica, um verdadeiro bisnagão, não deixará o time seguir tanta falta de Boban, ocupando já muito espaço dentro do garrafão na defesa, enquanto, no ataque, precisa converter seus semiganchos e atacar a tábua.
– Questões: na Copa do Mundo, surpreendeu e conquistou a prata (digo ''surpreender'' pelo fato de ser uma base jovem e de o país ter vindo de resultados muito fracos nas competições). Um ano depois, já como favoritos, quando valia a vaga, sentiram a pressão na semifinal contra a Lituânia. Além disso, não há ninguém no elenco capaz de dar conta nem de 50% das tarefas que cabiam a Bjelica. Milan Macvan herdou sua vaga. Ele é um tremendo reboteiro, mas é pesadão e só acha que pode chutar de longa distância. Se o time estiver desesperado por arremesso de fora, Stefan Bircevic será chamado, a despeito de sua fragilidade física e irregularidade. Dependendo do adversário, contra equipes mais baixas, Nikola Kalinic até pode assumir suas funções.
Guia olímpico 21
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LITUÂNIA
Armadores: Mantas Kalnietis, Adas Juskevicius e Renaldas Seibutis.
Alas: Jonas Maciulis, Mindaugas Kuzminskas, Marius Grigonis e Edgaras Ulanovas.
Pivôs: Jonas Valanciunas, Paulius Jankunas, Domantas Sabonis, Robertas Javtokas e Antanas Kavaliauskas.
– O grupo: um ano atrás, entre a elite europeia, a Lituânia poderia ser considerada aquela seleção com menos, hã, grife. Só o trator Valanciunas estava na NBA. Boa parte de seu elenco jogava em clubes locais, do país em que o basquete é uma religião. Conseguiram, ainda assim, a prata no EuroBasket e a classificação direta, evitando qualquer possível armadilha nos pré-olímpicos mundiais. Agora, eles chegam com uma trinca de profissionais da liga americana, com Sabonis, draftado por OKC, e Kuzminskas, contratdo pelo Knicks, fazendo companhia ao pivozão. E sabe do que mais? Não muda nada isso. Com ou sem este selo, a Lituânia seria o mesmo time a ser respeitado.
O técnico Jonas Kazlauskas tem um elenco muito limitado atleticamente. Um torneio de enterradas interno seria tão emocionante quanto uma partida de xadrez. Mas sua experiente base sabe muito bem dessas limitações e dá um duro danado em quadra para compensá-las com muita força física, garra, senso de posicionamento e inteligência em geral. Eles vão ralar na defesa e esperar que Valanciunas resolva as coisas no ataque.
Enquanto isso, Kazlauskas vai formando um novo núcleo em torno de Valanciunas, contando com cinco jogadores estreantes em Jogos Olímpicos, adicionando alas voluntariosos como Ulanovas e Grigonis, que não terão prioridade em termos de rotação, mas já vão viver uma grande experiência.
Entre os mais jovens, de todo modo, fica a expectativa para ver como vai se comportar o jovem Saboninhos, que soube aproveitar bem a passagem pelo basquete universitário americano para expandir seu jogo – deixando o Unicaja Málaga, clube de forte base, mas que nem sempre aproveita bem sua revelações. Ele tem tudo para formar uma grande dupla com Valanciunas por anos e anos e já deve ser produtivo no Rio.
– Rodagem: veja abaixo.
– Para acreditar: talvez não haja grupo mais entrosado que o lituano. Kalnietis, Seibutis, Maciulis, Kuzminkas, Jankunas, Valanciunas e Javtokas jogam juntos há muito tempo e estiveram presentes praticamente em todos os torneios deste ciclo olímpico. Isso lhes dá uma vantagem imensa. Se for pensar em consistência, esse é o seu time também: o jogo dos caras não empolga, como nos bons tempos, mas eles não largam o osso. A prata no último EuroBasket foi uma repetição de seu resultado em 2013. Entre um torneio continental e o outro, ficaram em quarto no Mundial. O núcleo central da equipe tem muita experiência. Mais: é difícil demais remover Valanciunas dos arredores do garrafão e da tabela, e, uma vez posicionado ali, o pivô, muito forte e técnico, vai castigar a maioria de seus adversários.
– Questões: a Lituânia depende demais de Valanciunas. O pivô é referência para tudo. Quando o assunto é Lituânia, parece até heresia perguntar, mas lá vai: eles vão acertar o suficiente nos tiros de três pontos para seu grandalhão ter espaço no garrafão e ativar seus movimentos um tanto mecânicos?
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