Vinte Um

O efeito Durant: quem ganha e quem perde com essa notícia bombástica

Giancarlo Giampietro

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Quando um Kevin Durant, um LeBron James, um Stephen Curry muda de clube, a NBA chacoalha toda, mesmo. A tremedeira imediata deixa a liga toda atordoada, com o mundo acreditando, a princípio, que será impossível derrotar o Golden State Warriors na próxima temporada. Até que baixa a poeira, e a gente entra nessa onda reflexiva, com ou sem zoeira. Então, tá. Na cabeça de um blogueiro distante brasileiro, qual o impacto da ida de Durant para Oakland para alguns personagens e entidades da liga?

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Stephen Curry, Klay Thompson, Draymond Green e Andre Iguodala: por razões óbvias. Se o quarteto, que foi até a região dos Hamptons, em Nova York, para recrutar o astro, realmente não tiver preocupação nenhuma em dividir a bola e perder em números e elogios, não há com o que se preocupar aqui. A vida de cada um deles vai ficar mais tranquila em quadra, com menos obrigações e pressão, mesmo que as primeiras semanas de convívio em quadra pressuponham um período de ajuste provavelmente complicado. Basta lembrar a dificuldade inicial que esta base teve, mesmo, para assimilar o sistema de Steve Kerr, cometendo um monte de turnovers na abertura da temporada 2014-15. Durant vem de um time pelo qual, em 98% do tempo, atacava no mano a mano, mesmo, alternando posses de bola com Russell Westbrook. A diferença de movimentação do OKC para o Golden State é das maiores que você vai ver por aí. Mas, se for para assinar com o time, KD obviamente está ciente disso, e não haveria razão para travar as coisas. Segundo os diversos relatos em off sobre a reunião com os representantes da franquia, o astro está empolgadíssimo para participar desta ciranda. Não é só a chance do título, a maior visibilidade, mas também se divertir em quadra.

Joe Lacob: agora o acionista majoritário do Warriors pode novamente se gabar de que seu clube está anos-luz à frente da concorrência, como havia feito numa entrevista controversa à revista do New York Times, meses antes da derrota para os LeBrons na decisão.

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West não é o logo da NBA só porque sabia driblar e arremessar

West não é o logo da NBA só porque sabia driblar e arremessar

– Jerry West: o consultor do clube e acionista minoritário, de acordo com diversos relatos, foi aquele que selou o acordo, quando Durant ainda estava em dúvida. São coisas que West faz, como levar Shaq ao Lakers e apostar firmemente num jovem adolescente chamado Kobe Bryant. É por isso que ele é o Logo da NBA.

– Zaza Pachulia também deve ser um cara bem feliz no momento, como a primeira contratação do Warriors num mundo pós-Durant. Ele curtiu bastante a experiência de jogar ao lado de Dirk Nowitzki e sob a orientação de Rick Carlisle em Dallas, e tal, mas não dá para comparar isso com o que vai viver em Oakland. O georgiano percebeu a lacuna aberta no garrafão da equipe e não hesitou em dar um belo desconto em seu salário para assumir a sétima vaga de sua rotação – contando aqui também o reserva multiuso Shaun Livingston. Se vai embolsar apenas US$ 2,9 milhões (pense que o Lakers vai dar a Timo Mozgov um cheque de US$ 16 milhões ), não importa.

Pelo Warriors, sua carga de trabalho não será tão exigente e seus minutos voltarão a ser controlados, para que ele possa executar aquilo que faz bem do início ao fim do campeonato, depois de uma queda de produção acentuada pelo Mavs. Em relação a Bogut, o pivô pode cumprir muito bem pelo menos 75% das funções de que o australiano cuidava: corta-luzes esmagadores no ataque e visão de jogo para o passe, duas características fundamentais para o ataque de Kerr, além de ser um ótimo reboteiro. Só fica faltando mesmo a proteção de aro. Pachulia joga com os pés plantados na quadra e não intimida tanto na contestação individual. Por outro lado, se desloca com inteligência e sabe fechar espaços. Por esse preço, com muitos pivôs já apalavrados com outros times, foi um baita negócio.

Harrison Barnes: sim, ele foi descartado por um timaço. Agora, verá testado seu repertório ofensivo verdadeiramente testado. Dirk Nowitzki ainda é um grande chutador e desperta preocupações táticas para qualquer defesa, mas não no nível de Steph Curry e Klay Thompson, claro. Tudo isso está sendo considerado. De todo modo, veja bem: o ala acaba de acertar um contrato de US$ 95 milhões com o Dallas Mavericks. Dinheiro não é tudo nessa vida, não compra toda a felicidade do mundo… Mas são mais de R$ 300 milhões gente por apenas quatro anos de serviço. Se Durant não tivesse aceitado a oferta do Warriors, ele muito provavelmente ganharia a mesma bolada com seus bons e velhos companheiros. E talvez essa não fosse a opção mais saudável. Imagine a pressão a que Barnes seria submetido no próximo campeonato depois de seu desempenho sofrível nas finais. Qualquer coisa que desse errado, pode ter certeza de que a torcida do Golden State, no geral toda amorosa, estaria pronta para detoná-lo.

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– LeBron James: é, pois é. Convenhamos que, depois do que ele fez na decisão da liga, não há mais como cornetar o superastro do Cavs. O terceiro título de sua carreira foi o mais significativo, já funcionaria como um final perfeito para a sua carreira, de volta ao clube de seu estado natal. Tudo isso era muito agradável. Agora acontece que, depois de muuuuito tempo (talvez desde 2008), LeBron tem a chance de se tornar o super-herói adorado da NBA, em vez de um supervilão questionado. Dependendo da escalada nas críticas a Durant e de uma mudança de concepção sobre o Warriors, pode ser que o título de ''Queridinho da América'' se desloque rapidamente da baía de San Francisco para o Meio-Oeste do país. LBJ e os Cavs seriam a grande esperança contra o mais novo supertime-que-só-faria-mal-ao-esporte. Uma besteirada, claro. Mas vocês sabem que pode ocorrer. As narrativas estão aí para isso.

– Russell Westbrook: do ponto de vista competitivo, claro que ele leva a pior. Sem Durant, o Thunder não pode ser visto como ameaça a Cavs, Warriors e, vá lá, Spurs pelo topo da liga.  Individualmente, porém, podemos esperar um Westbrook de arromba, quem sabe atingindo um triple-double de média. Além do mais, o fato é que a saída do ala também facilita sua decisão para o próximo ano, quando também vai virar um agente livre. Resta saber como será o contato de Presti com o armador nas próximas semanas. Será que o dirigente vai exigir uma posição antecipada da estrela que lhe sobrou? Se Wess não disser com firmeza de que pretende seguir na franquia, seria a hora de trocá-lo, para não se correr o risco de perdê-lo também sem receber nada em troca? Independentemente das respostas aqui,  a gente já pode imaginar um atleta obcecado, com o modo Devorador de Aros ativado.

– Doc Rivers: a incapacidade do presidente/técnico do Clippers de montar um bom elenco ao redor de Chris Paul, Blake Griffin e DeAndre Jordan ganha agora mais um álibi.

Quem sai perdendo?

Melhor tirar fotos antes que Durant suma de vez de OKC

Melhor tirar fotos antes que Durant suma de vez de OKC

– Oklahoma City, a cidade: é um baque, não há como. Durant ajudava a impulsionar a economia local, não só como um embaixador. Do ponto de vista sentimental, então, o estrago é enorme. Dá até para sentir um pouco de empatia com a dor deles. Mas, caras, esse é o mundo dos negócios da liga. Seattle não esqueceu o modo como lhe arrancaram seu tradicionalíssimo clube em 2008.

– OKC, o clube: dãr. (Mas aproveito o espaço aqui para escrever sobre o gerente geral Sam Presti. Fiquei na dúvida sobre colocá-lo na lista de cima ou nesta aqui, então fazemos extraoficialmente, entre parênteses: o cartola perde muito sem o astro, mas tem uma grande chance para afirmar seu faro para negócios. Se ele por acaso encontrar uma forma de reconstruir a equipe, pensando em título, mesmo, poderá pedir um baita aumento a Bennett, como um dos executivos mais respeitados da história da liga.)

Clubes da NBA de cidades menores: desde que Clay Bennett tirou a franquia e Seattle para OKC,  Presti fez um trabalho quase irretocável para construir uma grande equipe e desenvolvê-la em um ambiente sustentável. A troca de James Harden foi um duro golpe, eles tiveram azar com lesões de Durant e Westbrook, mas não custa lembrar que eles ficaram a cinco minutos de eliminar o Warriors no mês passado. É difícil imaginar um cenário mais positivo que este. Ainda assim, lá se foi Durant para um mercado muito maior. A decisão do ala não pode ser entendida só do ponto de vista esportivo, gente. Não sejamos ingênuos a este ponto. Meses antes de se reunir com o jogador, a diretoria do Warriors já sinalizava que o histórico de Joe Lacob no Vale do Silício era bastante atraente para Durant, pensando nos negócios e investimentos vindouros. (Mencionar que LeBron está em Cleveland neste momento, não vale: é uma situação toda particular.)

Sem Durant (e sem Seattle), Bennett vai querer um novo lo(u)caute para a NBA?

Sem Durant (e sem Seattle), Bennett vai querer um novo lo(u)caute para a NBA?

– Proprietários: só do ponto de vista do orgulho, claro, pois, em termos financeiros, a NBA vai bombar ainda mais com essa transação. Considerando que eles já ganham bem mais que os atletas em relação a receitas da liga, não há motivo para choradeira. Para muitos desses caras, porém, não basta lucrar horrores – eles querem controlar tudo também. Foi deste modo que fizeram fortunas. Quando o assunto é o mercado de agentes livres, porém, não adianta teimar, minha gente: os melhores jogadores vão assinar com quem eles bem entendem, não importando quantas amarras eles possam criar no próximo acordo trabalhista, agora muito provavelmente com um locaute em 2017.

Clippers, Lakers, Kings e Suns: para os companheiros do Warriors na Divisão do Pacífico, a vida será especialmente dura. Cada um terá de jogar quatro vezes contra esse supertime.

– Gregg Popovich: muitos dizem que, no que dependesse só de sua vontade, o técnico já teria se aposentado. Mas ele foi ficando, enquanto durava a carreira de Tim Duncan também. Quando convenceu LaMarcus Aldridge a se mudar para San Antonio, também teria feito um pacto com o pivô de que cumpriria seu contrato. Devem ser mais uns três anos, então, para encontrar uma forma de bater o Warriors. Ele pode encarar essa tarefa como um desafio instigante ou depressivo. Vai depender da safra do vinho de cada ano, acho, ainda mais com o zum-zum-zum de que a Era Duncan possa realmente ter chegado ao fim.

– Kevin Love: se bobear. Porque assim: o Cavs curte pacas o primeiro título de sua história e o primeiro da cidade após 50 anos, mas é natural que queiram mais. Enquanto LeBron estiver zanzando por lá, terão essa chance. Então não requer muita imaginação para vislumbrar David Griffin reunido com seus comparsas para pensar qual cartada o Cleveland pode dar para como resposta ao reforço estrondoso da equipe com a qual disputou as últimas duas finais. E aí, meus amigos, a gente volta a especular sobre o futuro de Love com o clube. Dias depois da conquista, Griffin disse que ninguém iria sair de seu time. (Pelo menos aqueles sob contrato, já que Mozgov é do Lakers e Matthew Dellavedova recebeu uma oferta de US$ 38,4 milhões do Milwaukee Bucks e, antes mesmo de o clube se pronunciar oficialmente, LeBron já o desejou boa sorte e o parabenizou pela bolada.) De lá para cá, no entanto, a NBA balançou. Vai ter um contra-ataque?

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