Vinte Um

Já são 7 derrotas, e LeBron chega cercado ao Jogo 3

Giancarlo Giampietro

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Após uma derrota pelo Jogo 3 das finais do aaaano passaaaaado, já são sete triunfos consecutivos para o Golden state Warriors em confrontos com o Cleveland Cavaliers, com ou sem Kyrie Irving e Kevin Love em quadra. Nunca um time de LeBron James havia perdido tantas partidas em sequência para o mesmo oponente. Nos últimos dez jogos, o Cavs, um dos melhores ataques da liga, não conseguiu passar da marca de 100 pontos. Nesta temporada, em quatro partidas, a defesa dos atuais campeões também limitou o astro a 33 cestas em 80 tentativas, ou 41,5%.

''Eles nos bateram em todos os quesitos, nós não vencemos nada. Em nenhum ponto do jogo levamos a melhor. Eles nos detonaram'', afirmou o ala, logo após a surra que levaram pelo Jogo 2. É difícil para mim apontar o que não está funcionando e no que poderíamos trabalhar agora. Não dá mais para ter lapsos mentais. Esses caras vão te colocar em muitas posições desconfortáveis do ponto de vista mental, em que você vai ter de procurar entender o que fazer. E eles fazem você pagar se não entender.''

Sim, parece claro que o Warriors encontrou um modo de cercar LeBron. Por maior que tenha sido o sucesso de sua equipe nos playoffs da Conferência Leste, alcançando a segunda final em dois anos sem suar muito, a verdade é que ela não iria a lugar nenhum sem que o craque fosse dominante em quadra. No momento em que foi contido, seus companheiros também se viram contra a parede. Essa é uma conclusão a que LeBron certamente não imaginava chegar dois anos depois de ter deixado Miami para, supostamente, retornar para casa – e, claro, curtir um novo ciclo de sua carreira ao lado de duas estrelas mais jovens que tinham tudo para aliviar a pressão sobre seus ombros e articulações desgastadas, enquanto Dwyane Wade e Chris Bosh envelheceriam em South Beach.

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A torcida de Cleveland estava ansiosa para a revanche contra o Warriors, dessa vez com Irving e Love em forma. A esperança e, no caso de alguns, a aposta era de que tudo seria diferente. Que a virada sofrida em 2015 só se justificava pelo fato de o time ter jogado todo despedaçado, com o camisa 23 sobrecarregado, sem pernas ou recursos para reagir. E cá estamos: com a série encaminhada para o Ohio, e o Jogo 3 marcado para esta quarta-feira, o rival californiano tem confortável vantagem de 2 a 0, ainda mais expressiva quando o placar das duas primeiras partidas apontou um saldo de 48 pontos, sem que os reforços tenham influenciado em nada o rumo do confronto. Para ser mais preciso, Love mal jogou o segundo tempo do último duelo, vetado pelo protocolo de concussão da liga. Para ser justo, a presença do ala-pivô não teria feito diferença nenhuma.

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Goste ou não, o destino do Cavs gira em torno de LeBron, e não só em termos de negócios. Em quadra, já são dois anos completos com esse núcleo, e o time ainda não encontrou uma forma orgânica de jogar sem que as ações comecem e terminem com seu veterano astro. Contra o Detroit Pistons e, depois, detonando Atlanta Hawks e Toronto Raptors, os caras praticaram um basquete realmente empolgante, solidário, dominante. Não foi um engodo. Em todas as séries, porém, não há como negar também que LBJ não enfrentou resistência nenhuma.

Na primeira rodada, foi até bonitinho o esforço corajoso do novato Stanley Johnson, com provocação e tudo. Mas nem ele, muito menos Marcus Morris e Tobias Harris tinham condições de acompanhar a estrela adversária. Em quatro jogos, James teve médias de 22,8 pontos, 9,0 rebotes, 6,8 assistências e 48,7% nos arremessos, com 3,0 turnovers. Depois, enfrentando a segunda melhor defesa da liga, o ala também não deu bola. Por mais uma varrida, foram 24,3 pontos, 8,5 rebotes, 7,8 assistências, 50,7% de quadra e 4,3 turnovers – coletivamente, o Hawks montou um forte sistema de contenção, mas, com os chutadores de Cleveland on fire, sobrou para Kent Bazemore (muito mais baixo e mais fraco) e Paul Millsap (ainda bem mais lento) o ônus de lidar com o craque em mano a mano. Na final do Leste contra o Toronto Raptors, com um DeMarre Carroll arrebentado, o estrago foi ainda maior, com 26,0 pontos, 8,5 rebotes, 6,7 assistências e impressionantes 62,2% de acerto e apenas 2,3 turnovers, em seis partidas. Em suma: Pistons e Hawks até forçaram desperdícios de posse de bola, mas não serviu para nada.

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Já o Warriors conta com Andre Iguodala (e um pouco mais, claro). O experiente defensor obviamente não está anulando seu oponente. Isso não vai acontecer. Mas tem feito de tudo para atrapalhá-lo e diminuir sua eficiência. Em Oakland, os números de James continuaram volumosos em uma primeira vista: 21,0 pontos, 10,0 rebotes e 9,0 assistências. Mas aí você pega o seu aproveitamento nos chutes (42,1%) e o número de turnovers (5,5) e percebe como a marcação do Warriors tem surtido efeito. Mesmo quando força a troca, o astro do Cavs tem se enroscado com Klay Thompson ou mesmo Draymond Green.

O natural aqui é se concentrar em Iggy, e os números o favorecem. Nos últimos 10 duelos, LeBron acerta apenas 35,1% de seus arremessos quando o ala é o seu marcador primário. Foram apenas 32 cestas em 91 tentativas. Nesta final, especificamente, o aproveitamento é de 40%. No Jogo 2, foram 17 posses de bola em que o ala ex-Sixers o defendeu. Aí preparem-se, que os dados são ainda mais impressionantes: LBJ só tentou três cestas, acertando uma. De novo: apenas uma cesta em 17 jogadas. E sabe do que mais? Todos os sete turnovers que cometeu no jogo aconteceram com Iguodala em ação. Demais.

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Em sua coletiva, Tyronn Lue procurou não dar muita atenção ao cara. Fez os elogios básicos, de praxe, mas disse que as dificuldades de James tinham mais a ver com o sistema de Steve Kerr e seu assistente Ron Adams, do que pela atuação de um só jogador. Sim, no basquete é assim: são realmente cinco atletas de um lado e cinco do outro. Na defesa, então, nem se fala. O coletivo é muito mais influente que um só atleta, ainda que um só atleta possa fazer desse coletivo algo muito mais forte. O Golden State sabe o que fazer.

Kyrie Irving e Kevin Love despertam mais preocupação com Matthew Dellavedova e Timofey Mozgov, mas, ainda assim, o time tem conseguido fazer as dobras para importunar o craque. Em jogadas de post up, Andrew Bogut e Draymond Green têm feito ótimo trabalho de cobertura, fechando o aro. Em ataques frontais, o defensor mais próximo recua um pouco e tenta atacar seu drible.  O que pega para o Cavs é que a maior parte desses marcadores tem muita agilidade para recuperar sua posição rapidamente, sem perder de vista os chutadores. Mesmo quando supera a primeira barricada defensiva para entrar no garrafão, LeBron tem se complicado. Nas duas primeiras partidas, converteu 12 de 22 tentativas na área restrita (54,5%). Bem abaixo de sua média na carreira (72,5%) ou das últimas duas campanhas (72,2%).

Neste caso, porém, houve uma grande diferença entre os Jogos 1 e 2. No primeiro, acertou apenas 6 de 14 em suas infiltrações. No segundo, teve mais sucesso, com 6 de 8. Isto é, de suas sete cestas de quadra, apenas uma não aconteceu nas imediações do aro – mas foi uma bola de fora. O que nos leva a um problema destacado durante todo o campeonato: a penúria de LeBron como arremessador de longa distância. ele acertou apenas 30,9% de seus disparos de três nesta campanha. Desde 2013, ano de seu segundo título, seu aproveitamento vem caído consistentemente. Naquele ano, acertara 40,6%. Se for pegar apenas o rendimento dos playoffs, ele ainda teve 40,7% de conversão em 2014, mas agora tem acertado apenas 32,4%. Então ninguém vai contestar LBJ lá fora. Na temporada regular, você convive com isso. Nos playoffs, com os jogadores mais bem preparados, estudados, não.

Em seus primeiros mata-matas por Cleveland, LeBron também não representava ameaça no perímetro. Mas estamos falando de dez anos atrás. Naqueles tempos, não havia como ficar à frente do ala, que arrancava para a cesta com um primeiro passo absurdamente explosivo, acompanhado de crossover. Hoje, os defensores mais disciplinados e atléticos já podem acompanhá-lo mais de perto. Ainda mais dando espaço para o chute. Não quer dizer que seja fácil. Mas está bem menos complicado. A consequência? O Warriors consegue manter os demais marcadores grudados em seus respectivos pares. Aí Channing Frye e JR Smith têm de botar a bola no chão ou tentar arremessar por cima da ''barreira''. Tudo muda.

Assim como o Cavs deste ano mudou em relação ao do ano passado, pelo menos no papel, com Kyrie Irving e Kevin Love. Quer dizer, esperava-se qeu iria mudar. O armador, em quem se confiava tanto como um diferencial, não criou absolutamente nada em Oakland. Com 33,3% nos arremessos e mais turnovers do que assistências (6 x 5), tem feito algo que Matthew Dellavedova cobriria com tranquilidade. Em iniciativas  individuais, a partir do drible, ele converteu apenas 4 de 27 arremessos, algo estarrecedor. Quando chutou a partir de um passe, matou 8 de 9. Já o ala-pivô estava sendo abastecido, agressivo, mas buscando a melhor forma de atacar uma defesa agressiva e versátil. Até sofrer aquela cotovelada de Harrison Barnes na parte de trás da cabeça e ser afastado pelo departamento médico da liga. E não é uma questão de individualismo. No ranking dos principais passadores desses primeiros dois jogos, Draymond Green lidera de longe, com 66 de média. Irving surge em segundo, com 54,5. LeBron é o terceiro, com 54. Love é o sexto, com 29 pouco abaixo de Curry. Ainda assim, o que vimos foi um ataque travado, previsível, e a diferença se nota no número geral de passes, com 271 em média para o Cavs contra 293 para o Warriors. (O pior: com Irving em quadra, a defesa do Cavs sofre).

Houve um tempo em que não importava quem estava ao lado de LeBron, em Cleveland. Fosse Eric Snow, Daniel Gibson, Damon Jones, Sasha Pavlovic, Delonte West… O ala era imponente o bastante para carregar o seu time, mas não rumo ao título. Até que esbarrava em Celtics, Magic e Spurs. Todo mundo tem limites. Foi a mesma coisa no ano passado. O Cavs mudou sua escalação, trocou de técnico, poupou LeBron, e nada. Já são sete partidas agora contra o Warriors, e, mais velho,enfrentando uma defesa muito forte, esperando ajuda, o craque não encontrou uma saída.

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