Trio de estrelas do Cavs se entendeu, mas time ainda sofre para vencer
Giancarlo Giampietro
O Cleveland Cavaliers não fez uma partida perfeita ao vencer o Detroit Pistons por 106 a 101, pelo segundo dia de playoffs da NBA. Restando apenas 11 minutos, se via atrás no marcador, por sete pontos. Mas, como deve acontecer muitas vezes ainda nesta primeira rodada pela Conferência Leste, bastará que seu Big 3 tenha uma noite superprodutiva para que a vitória aconteça, independentemente do quão porosa é a sua defesa no momento.
LeBron James foi dominante, mas não do jeito que poderíamos supor, a julgar pelo que fez nas últimas semanas da temporada. Em vez de partir como uma locomotiva rumo à cesta, soube dosar as investidas. Reativou sua versão de facilitador, num movimento interessante. Terminou com 11 assistências e tentou 17 arremessos para 22 pontos em pouco menos de 41 minutos.
Se o craque teve um volume de jogo relativamente contido, isso basicamente significa que seus companheiros tiveram mais espaço para se afirmar em quadra, no início da segunda campanha deste núcleo tão pressionado, para qual vale o título ou o título. Deu certo, a princípio. Kevin Love teve uma de suas melhores atuações desde que se mudou de Minnesota, com 28 pontos, 12 rebotes e muita agressividade, algo que se cobra demais dele, em 38 minutos. Kyrie Irving chutou 24 vezes para anotar 31 pontos em 37 minutos.
Fazendo as contas aqui, temos 81 pontos para os três astros (76,4% do total), além de 18 assistências (72%) e 24 rebotes (60%). Os caras esolveram a parada. Foi a oitava vez em que a trinca atingiu os 80 pontos a serviço do Cavs e a oitava vitória nessa circunstância.
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Pois não é que todo mundo precise ser Spurs ou Hawks nesta vida. Uma divisão mais igualitária entre cestinhas não acontece nem mesmo para o Warriors, pelo qual os Splash Brothers são responsáveis por mais de 40% dos pontos. Ao montar este trio, o gerente geral David Griffin (com muitos sussurros de você sabe quem) certamente vislumbrava uma grande uma concentração de jogo. A integração entre eles, de todo modo, na segunda temporada juntos, esteve longe da ideal. Tudo isso foi devidamente registrado por diversos veículos, em diversos capítulos, e não precisamos perder tempo aqui.
Neste domingo, usando aquela famosa expressão inglesa, dá para dizer que estiveram na mesma página. Que jogaram juntos. Graças ao maravilhoso NBA.com/Stats, foi possível conferir, por exemplo, quantos passes LeBron, Love e Irving trocaram entre si. O resultado, comparando com o que os três apresentaram durante todo o campeonato, é de abrir os olhos – tanto pelo volume muito maior de tramas de um com o outro, como pelos dados da temporada regular. Vamos lá:
Bom, antes de mais nada, fica o aviso: estamos falando de apenas um jogo, comparado com o que se viu por meses e meses. A tal da amostra pequena. De qualquer forma, o torcedor do Cavs e o Coach Lue esperam que esse boom nas estatísticas de passes entre os três seja bom presságio e duradouro. Para enfrentar o arrojado jovem elenco do Pistons, soube souberam compartilhar a bola e elevar o potencial de cada um. Pois não adianta apenas escalar nomes, se, em quadra, esses caras não conseguem executar aquilo que costumeiramente fizeram de melhor em suas carreiras. Aí você tem um produto com a grife impressa, mas talvez oriundo de lugares suspeitos. O famoso ''falsiê''. Os resultados idealizados no momento em que o trio foi formado só vão acontecer se eles cooperarem. Foi o que aconteceu contra o Pistons. Se a receita se repetir, talvez a oposição não tenha muito o que fazer a respeito.
De novo: não que tenha sido uma partida perfeita. Eles podem ser muito mais eficientes. O Cavs, como um todo, acertou apenas 44,3% de seus arremessos, mesmo que, em sua linha de frente, Stan Van Gundy não tenha escalado defensores tão excepcionais assim, como Marcus Morris e Tobias Harris. LeBron e Love podem se esbaldar contra eles, se souberem se movimentar e forem abastecidos no momento certo, têm tudo para explorar as deficiências de seus marcadores. Até SVG admitiu isso, ao dizer que deveria ter usado o calouro Stanley Johnson por muito mais tempo no quarto período de virada para o time da casa. Não estranhem se Anthony Tolliver não pintar por aí também (veterano que nem saiu do banco).
A seleção de Irving ainda pode ser problemática. Não tem jeito: de tão talentoso, o armador ainda é daqueles que prefere criar suas situações de ataque por conta própria, no um contra um, em vez de se aproveitar de um sistema. Terminou com 10-24 nos arremessos, ao menos descolando oito lances livres nesse processo. No total, no domingo, ele deu apenas dois passes a menos que LeBron, para constar (63 a 61). Seu aproveitamento de arremessos também não foi tão inferior assim ao de Love, que que acertou as mesmas dez cestas, mas com dois chutes a menos.
Mas, durante o jogo, é perceptível como, por vezes, ele não deixa o jogo fluir. É saber quando passar e quando atacar. Tendo dois craques ao seu lado, não existe motivo para tentar ser Allen Iverson. Além do mais, no caso de Love, depois de se cobrar por meses e meses que ele fosse mais agressivo, seria hipocrisia reclamar de seus 22 chutes agora. E outra: foram poucas as ações forçadas da sua parte, buscando pontuar num contexto mais construtivo, ainda mais quando ele mata quatro de oito tentativas de longa distância. Outro ponto importante para se destacar é o fato de Lue, quando se viu sete pontos atrás no placar, ter arriscado a formação com Love sendo o único pivô, mesmo que Andre Drummond estivesse em quadra. O time reagiu de imediato, com Love esgarçando a defesa do Pistons e dando mais velocidade ao ataque – foi neste momento em que Richard Jefferson ressurgiu das cinzas para brilhar e no qual o quinteto finalizou uma das posses de bola mais bonitas de todo o campeonato:
Basketball porn pic.twitter.com/QQ59hwuAeZ
— Rob Perez (@World_Wide_Wob) 17 de abril de 2016
(Foram oito passes neste clipe, com os cinco atletas envolvidos, saindo da mão de Dellavedova até retornar para ele. Sim, Irving não estava em quadra neste momento…)
Dito tudo isso, a questão é se mais para a frente, daqui a algumas semanas, contra adversários muito mais complexo, se esse time vai conseguir se sustentar desta maneira. Primeiro se os caprichos serão colocados de lado e essa interação mais orgânica e intensa entre os três será mantida. O segundo ponto é se o time como um todo não der um jeito de restaurar sua defesa.
Desde que David Blatt foi deposto e Lue assumiu, a defesa do Cavs naufragou. De top 5, caiu para a 12ª posição no ranking de eficiência, numa contagem a partir de 22 de janeiro, em 41 partidas, precisamente a metade de um campeonato. Ou seja, com uma amostra justa para se criticar. A história da NBA mostra que, para ser campeão desta forma, você precisa compensar no ataque, com um sistema que produza de modo avassalador. E Lue pode muito bem nos lembrar que, neste mesmo período, sua equipe terminou em terceiro, muito perto do Oklahoma City. Se formos menos criteriosos, dá para falar em empate técnico pelo segundo lugar.
Acontece que, tal como registramos em um resumo da temporada de OKC, para chegar ao título – e é só isso que importa para Dan Gilbert, LeBron, Maverick Carter, Rick Paul e a torcida do Cavs a essa altura –, eles vão ter de passar muito provavelmente por Warriors (líder em defesa neste mesmo período e oitavo em defesa) e Spurs (respectivamente sétimo e quarto). Isso para não falar de um eventual confronto com o perigoso Miami Heat (justo quem!), que vem jogando muito desde o All-Star Game, com o sexto ataque mais eficiente e a oitava melhor defesa.
Ok, temporada regular é uma coisa. Playoff? Outra. Em sua estreia em casa, porém, o Cavs permitiu que o Pistons convertesse 50,7% de seus arremessos e 15 tiros de três, com 51,7%. É o preço que se paga para fazer de tudo para frear o pick-and-roll entre Reggie Jackson e Andre Drummond, que é o ganha-pão do ataque do Pistons, tal como SVG fazia com Hedo Turkoglu/Jameer Nelson e Dwight Howard em Orlando. Pode ter sido sorte dos visitantes, que, na temporada, converteram apenas 34,5%, ficando em 21º no ranking da liga e que, depois do All-Star, com Tobias Harris, melhorou um pouco, ficando em 14º, com 35,9%. É pouco provável que Reggie Bullock, Kentavious Caldwell-Pope e Johnson acertem, juntos, nove disparos.
A confiança de diretores e torcedores de Cleveland sempre foi a de que, chegados os mata-matas, os jogadores dariam um jeito de colocar de lado suas diferenças e se engajarem. Por um jogo, pelo menos de um lado da quadra, funcionou. Toda a sua campanha, porém, foi pautada por altos e baixos. O desafio para eles sempre foi repetir um padrão de atuação por longo tempo. O começo foi bom, pelo menos na questão mais complicada, que é o equilíbrio de egos. A Conferência Leste vai monitorar.
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