Deu Lakers (e Huertas) no jogo de temporada regular mais improvável da NBA
Giancarlo Giampietro
Kobe Bryant chegou ao vestiário e logo soltou: ''Estou tão sem palavras como vocês, caras''.
Foi uma rara ocasião em que deu branco na cuca do Sr. Bryant, especialmente em sua última temporada de NBA, em que saiu contando causos pela América profunda. Dessa vez o astro do Los Angeles Lakers não conseguia encontrar muitas explicações para o que havia acabado de acontecer no Staples Center: seu time, o lanterninha da Conferência Oeste, derrotou o poderoso líder Golden State Warriors por 112 a 95 – apenas a sexta derrota da melhor equipe da temporada.
Mas não só isso: em termos de discrepância entre duas campanhas, essa foi a maior zebra da história da liga. Ou, se quiser uma definição mais politicamente correta e talvez mais precisa, vamos de ''o resultado mais improvável'' da história da liga, ao se levar em conta que o Warriors tinha um aproveitamento de 91,6% antes de a rodada começar, enquanto o do Lakers era de 19,0%, com um mínimo de 25 partidas disputadas. Curiosamente, nas bolsas de apostas em Vegas, esse triunfo estava pagando 19/1.
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De acordo com os cálculos da central de apostas Westgate Las Vegas Superbook, se, por alguma razão de bebedeira ou piada, você apostou US$ 10,00 nos angelinos neste domingo, foi premiado com um faturamento de U$ 190,00. Para o Warriors, antes de a bola subir, você tinha de apostar U$ 900.00 para ganhar dezinho.
Em outro fato raro da temporada do Lakers, Jack Nicholson estava no Staples Center e adorou tudo aquilo. Quando o Lakers vencia por 18 pontos a 5min53s do fim, o diretor de transmissão local colocou a imagem o astro hollywoodiano para o telão jumbo do ginásio. Aplaudindo, ele soltou um grito de apoio. Era tempo mais que suficiente para um time com Steph Curry e Klay Thompson buscar a virada. Mas não aconteceu, para confusão geral.
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Um dos personagens instrumentais na vitória do Lakers? Marcelinho Huertas.
Com o afastamento de Lou Williams por uma lesão muscular e os minutos limitados para Kobe Bryant, o brasileiro voltou a aparecer com regularidade na rotação de Byron Scott. Foi escalado nas últimas cinco rodadas, depois de ter participado de apenas um em nove jogos entre os dias 2 e 24 de fevereiro.
Pois o veterano responde com sua melhor sequência na temporada. Nos quatro últimos jogos, ele acumulou 25 assistências contra apenas cinco turnovers… Em média de 5/1, excelente, em 104 minutos de ação. Contra o Warriors, foram nove passes para cesta e apenas um desperdício de posse de bola, em 27 minutos. Para completar, anotou dez pontos, igualando seu recorde na temporada, estabelecido justamente na partida anterior, de sexta-feira, contra o Atlanta. Como prêmio, foi apontado por Scott como o ''MVP do jogo'' e também ganhou elogios de Magic Johnson, para quem, ao lado de Brandon Bass e Nick Young, teve a melhor atuação da segunda unidade nesta campanha.
Não se enganem: a opinião que mais vale aqui é a de… Scott. Magic é uma lenda viva, mas não acompanha tão bem assim o time para que seus palpites sejam levados a sério. Claro que, do ponto de vista da autoestima de um jogador e do torcedor, pesa demais. Do ponto de vista administrativo e de resultados na prática, porém, técnicos e diretores do Lakers já estão habituados a lidar com as cornetadas ou aplausos virtuais de um dos maiores jogadores da história – e proprietário minoritário da franquia.
Já Scott é quem vai realmente ditar como será o final de campeonato de Huertas, com Rubén Magnano na torcida. Depois de falar mil maravilhas sobre o brasileiro na pré-temporada, o técnico não teve muita paciência com as dificuldades defensivas apresentadas pelo jogador em seu início de adaptação a uma liga de nível atlético infinitamente superior ao que se pratica na Europa. Para piorar, vieram os vines, tweets e highlights (toco de não sei quem, crossover de fulano…), e a tiração de sarro desmedida para um esporte em que estes são lances corriqueiros.
Ok, é claro que você tem de avaliar um jogador como um todo, e a defesa representa 50% do tempo de um jogo, ou quase isso. Mas, convenhamos, quem é o grande marcado perimetral no elenco atual do Lakers, que tem a pior defesa da temporada, levando 109,5 pontos a cada 100 posses de bola e a quarta mais vazada no total, com 108,0 pontos por jogo? Ron Artest? Talvez, mesmo que ele não consiga mais tirar o pé do chão. Anthony Brown? Veio de Stanford, mas ainda está aprendendo. Só não dá para dizer Lou Williams.
É difícil de entender exatamente as motivações por trás da contratação de ''Sweet Lou'' por Mitch Kupchak/Jim Buss, nem mesmo no hipotético (e absurdo) cenário que a dupla imaginava: o de que a equipe teria alguma chance de brigar por vaga nos playoffs neste ano. O que o tampinha faz: cava muitas faltas, como ninguém na liga; cria situações no mano a mano para atacar a cesta ou se livrar para um rápido arremesso. Não muito mais que isso. Definitivamente não é um cara que, na hora de tentar brecar alguém, vai deixar sua marca.
Se for para falar em pontuação, em cestinha fogoso, Nick Young já havia sido contratado no verão anterior justamente para isso. Em sua promissora campanha de novato, Jordan Clarkson seguiu pela mesma linha. D'Angelo Russel também é muito mais definidor do que criador hoje. Para não citar o próprio Kobe Bryant, que não tem mais o pique de antes, mas, vimos bem no início, ainda se sentiu confortável em chutar 20 vezes ou mais em uma partida. Por outro lado, Huertas também sabia que o elenco do Lakers era este. O armador, lembremos, acreditava que estava indo para o Dallas Mavericks, até o negócio cair. Sobrou, no final, o time californiano, com toda essa bagunça.
Em 58 jogos, Williams recebeu 1.696 minutos e tentou 610 arremessos, com uma taxa de uso de posse de bola de 22,2%. Todos números inferiores aos de Russell e Clarkson, também em médias, mas não muito. Será que os mais jovens não se beneficiariam de um volume de jogo ainda maior?
Aí vem a questão da ''educação'': que Scott estava tentando passar especialmente a Russell a noção de que ele precisaria brigar para se impor no time, que as coisas não viriam de mão beijada na liga para alguém ainda muito imaturo – foi um termo que o treinador usou diversas vezes ao avaliar o garoto, ainda mais em comparação com Chris Paul e Kyrie Irving, ambos seus pupilos em suas temporadas de calouro.
É uma proposta que tem sua lógica, ainda mais agora que o número dois do Draft está desabrochando, para silenciar aqueles (extremamente) apressados que já o sentenciavam como um fiasco, numa comparação desesperada com Karl-Anthony Towns e Kristaps Porzingis, escolhas altas que estavam produzindo muito e brilhando, enquanto a aposta do Lakers penava. Nos últimos cinco jogos, acumula 22,6 pontos, 4,4 assistências, 3,0 rebotes, 1,4 roubo, 2,4 turnovers e 47,2% nos chutes de fora nos últimos cinco jogos, em 32,6 minutos. Mas você pode contra-argumentar facilmente também dizendo que talvez Russell pudesse estar ainda mais confiante e desenvolto no quarto final de temporada se não tivesse que se desvencilhar de tantas amarras nos primeiros meses, amarras que também envolvem o show de despedida de Kobe Bryant.
Além do mais, mesmo que a tese de Scott seja correta, é aí que a gente se pergunta se Huertas não seria melhor solução neste aprendizado de Russell. Ele pode não ter o currículo de Williams na NBA. Mas, como professor e exemplo, não poderiam ser mais diferentes, e o brasileiro colaboraria exatamente com aquilo que o jovem de 20 anos (recém-completos) mais precisa de momento: o equilíbrio entre a busca da cesta com seu belíssimo e suave arremesso, sem desperdiçar sua visão de quadra. Russell já é capaz de encontrar buracos na defesa e deixar um companheiro no jeito para pontuar. Mas pode se enamorar com a bola e segurá-la por muito tempo até partir para a definição no mano a mano – vício igualmente presente no jogo de Clarkson. Botem Lou e Kobe nessa conta, e você tem o time que menos dá assistências na temporada, não importando o critério
Por mais que o Lakers precise perder, perder e perder, para aumentar sua probabilidade no próximo Draft (lembrando sempre que, se a escolha sair do top 3, será encaminhada para Philadelphia), Scott e a diretoria insistem publicamente que o Lakers entrou na temporada querendo vencer. Vai saber. Para um time que, no domingo, tinha aproveitamento inferior a 20%, seu técnico então talvez tenha falhado em buscar outras alternativas e liberar um jogo mais solidário e criativo um pouco mais cedo no campeonato.
Huertas, de todo modo, fez nos últimos dias por merecer mais chances nas próximas partidas, com ou sem Williams. Para quem, segundo Magnano disse ao repórter Marcello Pires, do GloboEsporte.com, ''tinha muita vontade de ser trocado'', é um alívio.
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Nessa busca pelo Draft, o Lakers, no fim, deu sorte: seu perseguidor mais próximo, o Phoenix Suns, também venceu, superando o Memphis Grizzlies pela segunda vez em cinco dias. De modo que o time californiano segue com alguma folga na condição de segunda pior equipe da temporada, acima apenas do Philadelphia 76ers, que voltou a perder desenfreadamente. Quem comemorou, então, a soma desses resultados foi, neste mundo bizarro da NBA, foi Danny Ainge, que torce pela derrocada de Brooklyn.
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Sobre o Warriors, como fica a tentativa de recorde? Uma derrota para o Los Angeles Lakers certamente não estava nos planos. Agora, com 55 vitórias e 6 derrotas, o time precisa de 18-3 até o final para superar a marca histórica do Bulls de 1996, ou de 17-4 para igualá-la.
Ainda assim, o ritmo do Warriors ainda é superior ao do Bulls de 20 anos atrás. Nas projeções do ''Basketball Power Index'' do ESPN.com, a projeção de campanha do Golden State caiu justamente de 73-9 (novo recorde) para 72-10 (empate) após a surra levada em L.A. O mais curioso é que, na probabilidade de título, depois de muito tempo, o San Antonio Spurs aparece pela primeira vez com um percentual superior ao dos atuais campeões: 43,9% x 39,3%.
Na NBA, como vimos, você não pode relaxar nunca, nem mesmo contra um time dirigido por Byron Scott. Pensando na reta final de campanha, além da possibilidade de entrar para a história, o mais urgente é simplesmente se manter na primeira colocação da conferência, uma vez que o Spurs não arreda o pé dessa briga e tem apenas três derrotas a menos na classificação.
De qualquer maneira, para um time que perdeu para Milwaukee, Denver, Detroit e Pistons, não adianta contar os confrontos diretos com o time de Gregg Popovich (três!). Se juntarmos as campanhas dos seis times que conseguiram derrubar o Warriors até o momento, vamos ter 160 vitórias e 216 derrotas. E eles quase perderam para o Sixers também (abaixo). O desafio maior é manter o foco e o pique para os jogos mais fáceis, além daquelas rodadas em que Steve Kerr vai poupar alguns de seus titulares.
Mas tem um fato curioso aqui. Uma coincidência daquelas, na verdade. Exatamente no 61º jogo de sua campanha em 1996, o Chicago também foi espancado, perdendo por 32 pontos para o New York Knicks de Ewing, Mason e Oakley e já de Jeff Van Gundy, que havia acabado de ser promovido após a demissão abrupta de Don Nelson. Obviamente o Knicks tinha um elenco muito mais forte que o do Lakers de hoje. O ponto em comum das duas jornadas é que tanto o Bulls como o Warriors tiveram a noite de sábado livre nas duas maiores – e mais agitadas – cidades da liga, Nova York e Los Angeles. Engov neles.
''Nós não tivemos muita energia para começar o jogo por qualquer razão que seja'', disse Curry. ''Eles estavam errando um monte de arremessos'', se alegrou Scott. Depois dessa exibição, Kerr agendou um treino para a manhã desta segunda-feira, já em Oakland, dia de enfrentar o Orlando Magic. É o primeiro deste tipo para a equipe, numa dobradinha back-to-back.
Os Splash Brothers acertaram apenas um em 18 chutes de três pontos, com um em dez para Curry. O Lakers matou 9-24 (37,5%).
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Restam agora, em tese, 18 partidas para a carreira de Kobe chegar ao fim. Mas imagino a apreennsão de torcedores que tenham ingressos garantidos para seus últimos jogos: não existe a garantia de que ele possa entrar em quadra. SEntado no banco de reserva nos minutos finais desta incrível vitória, ele tinha o ombro direito totalmente envelopado. Aos repórteres, diz que há dias em que ele mal consegue girar o corpo para mexer no rádio do carro. Trava e dói tudo. O Lakers segue faturando com a turnê de despedida de seu craque: a franquia lançou três pares de meia em sua homenagem. Contra o Warriors, usaram a do centro:
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D'Angelo Russel dá uma de Curry e nem espera a bola cair para comemorar. Abusado. O legal é que o lance foi no primeiro tempo ainda, e, não, quando a partida estava 'definida':
Larry Nance Jr. reforça sua candidatura ao torneio de enterradas de 2017:
E Russell perde o controle:
when your son embarrasses you in public pic.twitter.com/0TsqcY6KDW
— Kenny Ducey (@KennyDucey) 7 de março de 2016