Duas promessas brasileiras seguem trilha de desenvolvimento na Espanha
Giancarlo Giampietro
Escrever sobre garotos sub-18 é uma tarefa complicada no jornalismo esportivo. O registro do surgimento e evolução de novos talentos já faz parte da indústria. Ao mesmo tempo você tem de tomar todo o cuidado do mundo para não armar arapucas, tanto para si, como, principalmente, para os jovens atletas. Que o diga Lucas Dias, agora uma realidade produtiva pelo Pinheiros, mas um caso emblemático de jogador que já foi incensado como salvador aos 16 anos, para, duas temporadas depois, ser avaliado como um fiasco, mesmo antes de chegar aos 20, até dar a volta por cima, superando alguns testes traiçoeiros.
Então, vamos deixar uma coisa bem clara?
Aqui não é para pensar de modo algum no Rio de Janeiro 2016, mais conhecido como ''logo-mais''. Talvez nem mesmo Tóquio 2020 esteja em jogo. Também faz bem tomar nota de que ''promissor'' definitivamente não significa ''futuro certo'' e evitar mais adjetivos.
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Mas, sim, há dois garotos *promissores* encaminhando seu desenvolvimento em clubes tradicionais da Espanha e que também mandaram boas notícias para o basquete nacional, disputando o prestigiado torneio de L'Hospitalet, que foi inteligentemente integrado ao circuito juvenil da Euroliga (adidas Next Generation Torunament, #AdidasNGT): Felipe dos Anjos, pivô do Real Madrid, e Pedro Nunes, armador do Joventut Badalona. Ambos constam na lista de tarefa dos scouts internacionais para os próximos anos de viagens.
Sobre Felipe, 17, já contamos um pouco de sua trajetória. Ele faz parte de um esquadrão Sub-18 do Real que ganha tudo sem parar no basquete europeu e faturou o bicampeonato da competição na semana passada, mesmo sem o prodígio Luka Doncic, agora peça integral do time adulto, aprontando das suas. A novidade é que o pivô de 2,18m ganhou o prêmio de MVP do torneio.
Os números foram de 9,8 pontos, 6,6 rebotes e 1,6 toco, mais 76,9% no aproveitamento de quadra, em apenas 21 minutos. A projeção por minuto já é bacana, mas o que contou mais foi o impacto defensivo que ele causou com sua envergadura para liderar a garotada merengue a uma campanha invicta em cinco partidas, com o bônus de terem batido o Barcelona na final. Também se comportou como um líder do grupo.
''Ele estava um pouco melhor em relação ao último torneio em que o vi. Ele, na verdade, está melhorando a cada vez que o vejo. Mas ainda tem um longo caminho pela frente. São passos de bebê. Ainda é muito cedo para saber que tipo de jogador ele vai virar'', afirmou um scout internacional da NBA (''A''), que esteve por lá. Outro olheiro (''B'') da liga americana in loco disse ao blog que gosta do potencial a longo prazo do jogador, destacando que ele é ''atlético e coordenado'' para o seu tamanho, identificando o cabo-verdiano Walter Tavares, gigantão do Atlanta Hawks, como um possível paralelo.
Aqui, um clipe editado pela equipe da Euroliga, que mostra a quantas anda seus reflexos e mobilidade nas imediações do garrafão:
Sobre Pedro, ou Pedrinho, capixaba de Vitória que saiu muito cedo do país, assim como Felipe, o que temos a dizer? Simplesmente que nasceu em 2000 e só vai fazer 16 anos no próximo dia 23 de agosto. Ah, e tem 1,96m de altura. Glup. Ele era o mais jovem em todo o torneio e, ainda assim, foi colocado em quadra pelo Joventut para competir com rapazes até dois anos e meio mais velhos, numa fase em que qualquer bimestre deveria fazer a diferença.
A tenra idade obviamente já chamou a atenção dos olheiros. Que, quando iniciado o torneio, ficariam surpresos pelo simples fato de ele ter sido acionado constantemente pelo seu treinado, começando inclusive como titular em dois dois quatro jogos do time catalão (foram três derrotas e uma vitória). O armador ficou em quadra em média por 21 minutos, somando 9,5 pontos, 5,3 rebotes, 1,8 assistência e 2,5 turnovers, com 35,1% nos arremessos de quadra, 52,9% nos lances livres e apenas duas bolas de três tentadas.
Para quem estava no ginásio, Pedro impressionou pela maturidade física e pela confiança demonstrada, mesmo sendo o caçula. ''Para alguém tão jovem, foi bacana de ver. Ele tem bom tamanho para um armador'', disse o scout ''A''. O scout ''B'' o vê como um ala no futuro. ''Ele jogou como armador em alguns momentos, mas não me pareceu alguém natural da posição. Mas realmente gostei dele. Ele teve alguns momentos impressionantes, mas também foi inconsistente, o que é mais que normal por ser dois anos mais jovens'', disse.
Em sua categoria, o brasileiro, que participou de maaaais uma campanha malfadada da base nacional na Copa América Sub-16 no ano passado, está acostumado a se impor fisicamente, ganhando o garrafão com facilidade, e também encanta por sua visão de quadra. Para o futuro, todavia, vai precisar desenvolver, e muito, seu arremesso. Um pouco na linha do que já foi – e ainda é – dito sobre o precoce Doncic. Com 15 anos, todavia, ele tem todo o tempo do mundo para aprimorar sua técnica. Alguns belos lances dele:
Está feito aqui o registro, e vale conferir o progresso de ambos aos poucos. Não esperem atualizações constantes a respeito, já que é o tipo de história que só faz sentido a longo prazo, mesmo.