A contribuição vibrante de Marquinhos para a seleção avançar
Giancarlo Giampietro
Já falamos aqui de um Leandrinho que anda mais contido, e, ao mesmo tempo, mais eficiente como pontuador nesta Copa do Mundo. Não é a única mudança notada em alguns dos personagens que tentam reconduzir a seleção brasileira a um pódio neste nível de competição. Na vitória contra a Argentina neste domingo, tão comemorada, o armador Raulzinho roubou a cena, enquanto os pivôs esmigalhavam os argentinos no garrafão. Agora, se você for reparar bem, houve outro jogador que deu contribuição importantíssima na batalha mais próxima da cesta: Marquinhos. Sim, o Marcus Vinícius Vieira de Souza, mesmo, jogador que sempre teve seu talento ressaltado por estas quadras, mas que dificilmente foi confundido por um cara vibrante.
O ala da seleção brasileira apanhou oito rebotes no triunfo pelas oitavas de final, algo bastante incomum em sua carreira. Basta olhar os números proporcionados pela Fiba para perceber isso:
O senhor Tuto Marchand que nos perdoe, mas recomenda-se nem dar bola para as linhas estatísticas de 2007 e 2011 do torneio que carrega seu nome. A Fiba pode assumi-lo como algo oficial, mas sua conotação é muito mais de amistoso, um quadrangular preparatório para a Copa América, do que um troféu internacional que os times participantes estejam doidos para conquistar. Em suma: o nível de competitividade diminui. Não conta. Posto isso, Marquinhos então chega às quartas do Mundial com sua maior média de rebotes em jogos internacionais: 4,8.
Para alguém de 2,07 m de altura, não é exatamente uma façanha, é verdade, mas representa um avanço sensível se comparado com suas outras campanhas. Ainda mais que sua quantidade de minutos no Mundial não anda tão elevada assim (apenas 21 por jogo). Numa projeção por 30 minutos por partida, seu rendimento subiria para 6,8.
No NBB, a média de sua carreira é de 4,3 rebotes por jogo, mas em praticamente 33 minutos de ação. Em seu melhor ano no fundamento, apanhou 5,5 por rodada vestindo a camisa do Pinheiros em 2008-09, mas em 38 minutos – no atual ritmo pela seleção, se tivesse esse tempo de quadra, sua média subiria para 8,6 rebotes, algo impressionante.
Até porque cabe uma diferença: Marquinhos tem altura e agilidade, mas fica muito menos próximo da cesta do que um Varejão ou um Nenê, por exemplo. Em atividade pelo Flamengo, diga-se, está quase sempre com a bola nas mãos, criando no perímetro, tentando uma avalanche de arremessos de três pontos (5,1 e 5,7 nos últimos dois campeonatos). Esse posicionamento se repete na seleção, com o ala bastante aberto. – de modo que os rebotes ofensivos são praticamente impossíveis de acontecer. O que não o impede de dar apoio aos pivôs na defesa.
Contra uma Argentina que puxava seus pivôs (ou falsos pivôs, digamos) para a cabeça do garrafão e a linha de três pontos, era imperativo que Marquinhos fizesse um bom trabalho de cobertura e na briga pelas rebarbas na tabela brasileira, ainda mais brigando com gente como Andrés Nocioni e Marcos Mata, que são ferozes e oportunistas ao atacar a tábua ofensiva. O ala brasileiro segurou o tranco, com 8 rebotes em 32 minutos, assim como havia feito na estreia contra uma França igualmente desafiadora, com Batum e Gelabale, assegurando 6 rebotes em 27 minutos.
Ter Marquinhos – e os alas em geral – mais próximos dos pivôs é uma carência constatada há tempos na seleção. Ironicamente, foi algo que um argentino, mesmo, apontou antes do clássico deste domingo. O ex-armador argentino Pepe Sánchez, hoje comentarista, via um ruído na comunicação entre a turma de fora e os pivôs. ''Em todos estes anos, o time não tem mostrado entre o jogo interior e o perímetro. Ou é perimetral, ou é interior. Talvez agora Marquinhos esteja fazendo um pouco isso'', afirmou. Bem-vindo seja o apetite.
A tendência do majoritária do torcedor brasileiro é valorizar o ataque e do ''esporte-arte'', não importando a modalidade. No basquete, isso quer dizer que os holofotes geralmente estão dedicados aos cestinhas. A enterradas de levantar a torcida, bandejas acrobáticas e, claro, arrremessos de três pontos salvadores. São lances muito bonitos, claro. Natural, então, que o jogador brasileiro em geral esteja muito mais propenso a abraçar essa causa. Jogar pelo show.
Não dá para ser chato e condenar todo e qualquer lance que se enquadre nessa linha. Nem todo mundo precisa ser Ucrânia nessa vida. Atenção também, por favor, aos termos ''majoritária'' e ''em geral''. Obviamente há diversas exceções para serem destacadas, como um Varejão, que sempre teve tino para lutar por rebotes, perseguir armadores na defesa e trazer o caos para a quadra. Alex Garcia sempre foi um exemplo. O cavalar Marcus Toledo, do Pinheiros, o Mineiro, do Paulistano, Daniel Alemão, do Mogi, e mais, e mais, e mais. Mas, bem, sabemos que a vocação de nossa base é direcionada para o aspecto ofensivo. E, ok, vence quem acerta mais bolas numa cesta, mesmo. Só não dá para achar o esporte é feito só disso, como a atual guinada vivida pela seleção na Copa do Mundo nos evidencia.
É uma equipe combativa, que vai limitando seus adversários a apenas 68 pontos por jogo. Vencendo muito mais por seu comprometimento defensivo do que por iluminação ofensiva. Para sustentar uma boa retaguarda, obviamente é importante ter princípios, coordenação, comunicação, boa análise dos adversários e muitos outros fatores. Dentre eles, porém, nada supera o empenho. Não adianta o técnico cantar tudo em treinos e ao lado da quadra durante os jogos, se os atletas não estiverem dispostos a lutar pela bola. De modo intenso, como vem sendo o gratificante caso de Marquinhos.