Vinte Um

Guia para o espectador: no que ficar de olho quando Bulls e Wizards jogarem

Giancarlo Giampietro

Rose x Wall

Ligeirinho contra ligeirinho: Rose e Wall vão acelerar em Jacarepaguá

Para qualquer evento esportivo, muda muito a impressão que você tem ao assistir ao vivo um evento, em comparação com o que é passado pelo distanciamento de uma transmissão de TV. O sofá de casa pode ser mais confortável, os preços do que você traz do supermercado (ainda) são mais acessíveis, e tudo o mais, mas, do ponto de vista atlético (na falta de melhor termo), nada melhor do que ir para o estádio ou, neste caso, o ginásio e ver de perto como são as coisas sem edição, sem slow-motion e fotografia ajustada.

No caso do basquete, o jogo enriquece demais. É só deslocar o olho da bola para o que acontece no lado contrário, ou com mais profundidade em quadra, para valer algo parecido como um balé frenético de sujeitos de mais de 2,00 m de altura, correndo e freando sem parar, mudando de direção, com muito contato. São 24 segundos de posse. É tudo muito rápido.

Há, claro, times com uma abordagem ofensiva muito banal, de pouca movimentação, apostando principalmente nos principais jogadores de seu elenco, procurando isolá-los em quadra para que decidam no mano-a-mano, e o que se passa com a bola é o principal. Mas, em geral, o melhor conselho mesmo para o mais fanático é observar bastante o que está por trás da cortina do drible.

De qualquer forma, temos no Rio de Janeiro um candidato a título e outro, com elenco jovem, mas que aspira aos playoffs, ainda que seja difícil. Para os felizardos que forem para o ginásio neste sábado, o que tentar captar? Segue um guia de dicas básicas:

CHICAGO BULLS
Derrick Rose: o mais óbvio, né? Aí o foco é total para o que se passa com a bola. Vrrrrrrrrrruuuuuum! Já passou. Ao que tudo indica, o armador voltou da oficina com o motor ainda turbinado e marcha extra para acelerar. Fica a torcida para que ao menos um daqueles contra-ataques-de-um-homem-só, de tirar o fôlego, possam ocorrer no Rio. Não é questão de ser fominha. É que, por vezes, ele parte com em velocidade tão alucinante, que poucos vão poder acompanhá-lo.

Joakim Noah: com problemas musculares. Será que joga? Seria um pecado que não acontecesse. Noah é um dos preferidos aqui na base, um jogador que deveria ganhar medalhas e medalhas de honra ao mérito – ou, vá lá, pelo menos diversas plaquinhas de funcionário do mês. Dedicado, raçudo, inteligente, intenso. Sua facilidade para se deslocar dentro do perímetro interno impressiona, fechando espaços na defesa do Bulls e anulando tentativas de pick-and-rolls para satisfação plena de Tom Thibodeau. Além disso, tem uma visão de jogo claríssima, distribuindo passes criativos e precisos na cabeça do garrafão. Vez ou outra também pode quebrar o protocolo e correr ele, mesmo, com a bola para iniciar o contragolpe.

JoJo, o Noah

Luol Deng: arroz-com-feijão de primeira, temperadinho. Não existe uma característica específica deste ala que esteja muito acima da média da liga. Não é o cara mais explosivo, mais brilhante com a bola, o melhor arremessador, o melhor defensor ou reboteiro. Mas ele vai entregar um pouco de tudo em quadra. Não perca de vista suas parábolas fora da bola, saindo de baixo da cesta para a quina do garrafão, recebendo o passe em movimento para atacar.

Jimmy Butler: o caçulinha no quinteto titular, que ganhou o coração de Thibs depois de uma temporada em que evoluiu bastante. Outro que executa bem diversos fundamentos. Seu diferencial, para a posição, é a habilidade para apanhar rebotes ofensivos, atacando a tabela com vigor e capacidade atlética.

Taj Gibson: ala-pivô muito ágil que não faz as caras e bocas de Joakim Noah, mas também dá duro na defesa. Outro com movimentação lateral impecável, caçando armadores em pick-and-roll sem perder de vista seu jogador, recuperando-se rapidamente. Com uma impulsão vertical absurda, é candidato a ''enterrada ou toco da noite''.

Kirk Hinrich: lento, quase não pula mais um par de Reebok Pumps, mas ainda é um soldado competente para Thibs, combatendo muito, sem se importar em sacrificar um corpo relativamente frágil, batendo de frente com pivôs e alas muito mais fortes para ganhar segundos preciosos para a recuperação e rotação defensiva.

WASHINGTON WIZARDS
Nenê assistente Nenê: por todo o seu histórico, ou melhor, por toda a falta de histórico quando o assunto é seleção brasileira, algo lamentável tende a acontecer por aqui: ignorarmos o quão sofisticado o pivô brasileiro se tornou no decorrer de mais de uma década de NBA. Muito disso, aliás, vem de um talento natural do são-carlense, como sua capacidade de fazer a bola rodar, seja por enxergar bem o que acontece em quadra como pela habilidade em executar o passe na medida certa. Faz bons corta-luzes e se oferece como uma opção sólida correndo em direção ao aro, ou freando para um chute de média distância. No ano passado, com uma fascite plantar sustentad durante toda a temporada, seu aproveitamento caiu consideravelmente.

John Wall: jogou o melhor basquete de sua vida ao retornar de lesão na temporada passada, elevando sua produção em praticamente todas as métricas disponíveis. Vamos ver se já se apresentará afiado assim em uma pré-temporada. É um bom candidato a apostar corrida com Derrick Rose, aliás – no intervalo, não custaria nada eles tirarem um sprint de uma tabela para a outra. Brincadeira, ok, mas é que o jogo do armador se baseia realmente em sua explosão, ainda que, no ano passado, tenha melhorado sensivelmente no jogo de meia-quadra, com muito mais paciência e oportunismo na hora de ler as defesas. Seu arremesso em geral ainda é um ponto fraco.

Jan Vesely: com Emeka Okafor afastado por lesão, Vesely ganha mais uma chance para provar que foi uma boa sexta escolha de Draft. O tcheco jogou bem no EuroBasket e foi escalado como titular no primeiro amistoso da equipe, contra o Nets. Só marcou três pontos, mas apanhou 12 rebotes, cinco deles ofensivos, mostrando o nível de atividade que é o mínimo que o clube espera para aproveitar seu potencial. Vesely é dos homens brancos que sabem enterrar, com uma envergadura absurda e leveza para alcançar altos voos e dar no aro. O mesmo pacote atlético que serve para tocos e roubos de bola. Se concentrado e confiante, o jogador pode atazanar a vida de atacantes, embora esteja sujeito a lapsos defensivos, perdendo posição e sendo empurrado com facilidade. Na falta de um JaVale McGee, pode ser o jogador a fazer uma jogada inesquecível, para o bem ou para o mal.

Trevor Ariza: quando ele se preparar para saltar na zona morta e arriscar o chute de três pontos, ou, quando fica driblando com a bola de lá para cá, até pular para trás e atirar contra a cesta, é melhor tapar o olho da criança mais próxima. Vem coisa feia. Agora, se for o Martell Webster para o arremesso, sem problema. Dá até para gravar no celular.

PS: Não tem sido a semana mais fácil, por conta de um período de luto familiar, antecedendo a preparação para uma viagem internacional, a trabalho, que não tem a ver com o blog. O timing fica dos piores, com a NBA no Brasil e a nova temporada se aproximando, assim como Euroliga, Liga ACB e NBB. Vamos ver o que sai daí. Abs.